Rodrigo Petronio é professor de filosofia e poeta. Na revista Filosofia Ciência e Vida, ele escreve texto hiper-pessimista sobre aquele que deverá ser o futuro do homem. Não darei minha opinião. Apenas cito-o. Vamos a ele:
Como disse Villém Flusser, genial filósofo da linguagem e da tecnologia, o sentimento religioso em nosso tempo finalmente se tornou geral. Todos partilham a mesma fé, a absoluta crença no vazio. O nada se torna o valor dominante e geral. Religiosamente, cultivamos essa absoluta falta de sentido, de finalidade e de fundo. Tudo pode ser tentado, pois tudo é sem qualquer sentido.
Estamos no porvir da era do pós-humano. Assim como aconteceu a transição do macaco ao humano, teremos a transição do humano ao pós-humano. Se um dia um macaco se olhou na água e criou uma consciência, o homem olhará a sequencia biológica e se tornará pós-humano. A nova espécie será aquela dos homens feitos biologicamente. Nosso modo de nascer, fecundação ao acaso, em que sorte e deuses dão seu veredito, será considerada arcaica, simiesca. O pós-humano nasce em laboratório, sem acasos, sem falhas, perfeito, sem fados e deuses. Após o mundo teológico, em que espirito e arte mandavam, e o mundo antropológico, do engenho e da cidade, teremos o mundo biológico, onde tudo será visto não na perspectiva de Deus ou do homem, mas na visão de células e proteínas.
Nesse mundo pós-humano, o primeiro a ser sacrificado será o cristianismo. E logo a seguir a filosofia e a arte. Ora, é exatamente o cristianismo que operou a amputação de um dos mais fortes apetites humanos: o canibalismo. Se homens podem comer seus primos macacos, pós-humanos comerão homens. Eis nosso destino. Tudo o que for "humano" será risível, tolo, infantil. O pós-humano se verá como o cume da evolução: a ameba, o ser que não mais tem vontades, não mais tem dor e velhice, que se alimenta e se reproduz sem traumas. Ele romperá a história que nos liga a Homero e Platão. Será indiferente, passivo, produtivo e bonito. E muito envergonhado de seu passado humano.
No mundo do século XX a morte foi a plena realização da inteligência. A guerra e o campo de extermínio foram o apogeu da razão e da eficiência. No mundo do século XXI a técnica e o progresso produzem a neurose de massa. A tecnologia de guerra já se fez obsoleta, ela hoje só traz prejuízos, mas a doença mental não, ela é necessária para mover o trabalho, o consumo, a produção. Escravos da neurose, como já fomos da guerra, obedecemos a sociedade na esperança de nos livrarmos do medo, da solidão e da dor. Não percebemos que ela é que nos dá essa doença. Se faz o círculo.
No mundo pós-humano não haverá mais a produção de neurose. O que manterá a sociedade em movimento será o canibalismo. Amebas se alimentarão de homens. Único modo de salvar a vida na Terra. Os humanistas poderão se queixar...que humanistas? Na visão de um cientista a vida humana tem valor idêntico a qualquer outra vida.´Somos todos filhos do acaso evolutivo. Que mal pode haver no canibalismo?
Tudo no mundo moderno nos prepara para esse futuro canibal. A partir do momento em que vemos o homem como mera máquina biológica, em que tiramos dele tudo o que possa existir de único, de transcendente e de "humano", abrimos as portas para um futuro em que o homem passa a ser menos que pós-humano, alimento, como são os macacos, os coelhos ou os bois.
Afinal, o pensamento "religioso" atual nos diz que somos uma poeira na poeira da poeira....que mal pode haver em comer poeira?
Como disse Villém Flusser, genial filósofo da linguagem e da tecnologia, o sentimento religioso em nosso tempo finalmente se tornou geral. Todos partilham a mesma fé, a absoluta crença no vazio. O nada se torna o valor dominante e geral. Religiosamente, cultivamos essa absoluta falta de sentido, de finalidade e de fundo. Tudo pode ser tentado, pois tudo é sem qualquer sentido.
Estamos no porvir da era do pós-humano. Assim como aconteceu a transição do macaco ao humano, teremos a transição do humano ao pós-humano. Se um dia um macaco se olhou na água e criou uma consciência, o homem olhará a sequencia biológica e se tornará pós-humano. A nova espécie será aquela dos homens feitos biologicamente. Nosso modo de nascer, fecundação ao acaso, em que sorte e deuses dão seu veredito, será considerada arcaica, simiesca. O pós-humano nasce em laboratório, sem acasos, sem falhas, perfeito, sem fados e deuses. Após o mundo teológico, em que espirito e arte mandavam, e o mundo antropológico, do engenho e da cidade, teremos o mundo biológico, onde tudo será visto não na perspectiva de Deus ou do homem, mas na visão de células e proteínas.
Nesse mundo pós-humano, o primeiro a ser sacrificado será o cristianismo. E logo a seguir a filosofia e a arte. Ora, é exatamente o cristianismo que operou a amputação de um dos mais fortes apetites humanos: o canibalismo. Se homens podem comer seus primos macacos, pós-humanos comerão homens. Eis nosso destino. Tudo o que for "humano" será risível, tolo, infantil. O pós-humano se verá como o cume da evolução: a ameba, o ser que não mais tem vontades, não mais tem dor e velhice, que se alimenta e se reproduz sem traumas. Ele romperá a história que nos liga a Homero e Platão. Será indiferente, passivo, produtivo e bonito. E muito envergonhado de seu passado humano.
No mundo do século XX a morte foi a plena realização da inteligência. A guerra e o campo de extermínio foram o apogeu da razão e da eficiência. No mundo do século XXI a técnica e o progresso produzem a neurose de massa. A tecnologia de guerra já se fez obsoleta, ela hoje só traz prejuízos, mas a doença mental não, ela é necessária para mover o trabalho, o consumo, a produção. Escravos da neurose, como já fomos da guerra, obedecemos a sociedade na esperança de nos livrarmos do medo, da solidão e da dor. Não percebemos que ela é que nos dá essa doença. Se faz o círculo.
No mundo pós-humano não haverá mais a produção de neurose. O que manterá a sociedade em movimento será o canibalismo. Amebas se alimentarão de homens. Único modo de salvar a vida na Terra. Os humanistas poderão se queixar...que humanistas? Na visão de um cientista a vida humana tem valor idêntico a qualquer outra vida.´Somos todos filhos do acaso evolutivo. Que mal pode haver no canibalismo?
Tudo no mundo moderno nos prepara para esse futuro canibal. A partir do momento em que vemos o homem como mera máquina biológica, em que tiramos dele tudo o que possa existir de único, de transcendente e de "humano", abrimos as portas para um futuro em que o homem passa a ser menos que pós-humano, alimento, como são os macacos, os coelhos ou os bois.
Afinal, o pensamento "religioso" atual nos diz que somos uma poeira na poeira da poeira....que mal pode haver em comer poeira?