Durrell foi um daqueles ingleses que odiavam a Inglaterra. E fugiam do país em busca de se encontrar. No caso dele, seus lugares eram Egito, Provence, India e Veneza. Amigo de Henry Miller, ele vai mais longe que Miller em seu texto cheio de palavras bem urdidas e gostos amargos. O que Durrell realmente pensava é dificil saber. O que podemos é imaginar o que ele não foi. Conformista.
Este livro teria problemas se escrito hoje. Voce logo saberá porque.
Um homem viaja num trem rumo à Avignon. Lá, ele tentará saber do porque do suicidio de seu amante, Piers. Piers tem uma irmã, Silvie, que está num hospício. Ela também é amante do narrador. Um triângulo feliz, apesar dos pesares. Então vamos na memória do narrador. Ele recorda uma viagem ao Egito. No deserto eles conhecem Akkad, mestre em gnosticismo. Navegam pelo Nilo. O livro dá um salto a Veneza e lá ficamos sabendo que agora quem narra é o verdadeiro autor, um muito solitário veterano cuja esposa o abandonou por uma mulher. Em mais um salto, vamos brevemente a Viena e depois de volta a Provence, onde quem narra é um autor de best-sellers. Bem...acredite-me, Durrell consegue orquestar todos esses pontos de vista sem nunca parecer confuso. Porque ele faz isso? Mero capricho? Não, a mudança de narrador, de estilo, de ponto de vista é o próprio livro, já que seu tema é a ilusão, o real e o irreal, o que somos e o que não somos.
Aprendi em linguistica que na verdade todos os livros ( e filmes ) têm sempre o mesmo tema: vida e morte. Durrell tenta ter uma unidade, ele fala da morte e não da vida. O livro pode ser entendido como a tentativa de se entender o que seja morrer. Não há uma resposta. Ainda bem...mas várias tentativas se fazem, e todas são terríveis. ( Um adendo: eu juro que o livro é alegre ).
Durrell teria problemas hoje por se arriscar a ser chamado de anti-semita. Akkad, o gnóstico, diz que Deus foi destronado e o mundo que conhecemos tem apenas um criador e mestre, o Diabo. Toda a realidade é obra dele e isso é fácil de perceber, pois a vida nada mais é que guerra, fome, dor e morte. E uma grande ilusão, as religiões. E a mais ilusória seria o judaísmo e tudo o que ela trouxe: catolicismo, protestantismo, islamismo, e até mesmo Marx e Freud que nada mais são que filhos da velha Biblia hebraica. Tudo isso sendo um mundo de materialismo, usura, ouro, falo, sede, repressão e dogmas.
Confesso ser dificil ler essa parte. Principalmente quando Akkad diz que ir contra essa obra do mal é não obedecer a vida. Não ter filhos, não lutar por nada, e morrer com alegria e de forma consciente. Perceber a ilusão que há nessa vida criada pelo mal e só pelo mal. Weeelllll..... Depois o livro dá seu golpe de classe. Ele próprio vai contra tudo o que falou. O novo narrador não pode crer nessa, segundo ele, "besteirada", ( mas deixa uma dúvida no ar ) e foge dessas questões. O que ele expõe é o massacre ocorrido no dia 13 de novembro de 1345, em que 5000 gnósticos da Europa foram presos, julgados e queimados, por ordem de Filipe, o Belo. Porque?
Apesar de tema tão dificil ( todas as cerimônias são cheias de drogas alucinógenas ), o livro é solar. Durrell descreve o mundo, nosso, condenado a destruição e dominado pelo mal absoluto, e ao mesmo tempo dá descrições soberbas da Lua, do Sol, dos animais e das estradas. O texto é belo, vitalista, há prazer em ler. Esse seu grande mérito, ele fala de coisas terríveis, mas jamais se faz um peso.
Após a leitura ficamos confusos. Qual a verdade? Quem nos controla? Deus, Jesus, os Santos...ilusões do mal? Ou Jesus seria alguém que tentou lutar contra as trevas ( sabendo serem elas invencíveis, e portanto sendo um gnóstico ao escolher sua morte ). Não há solução e nunca haverá. O que fica é a sensação do ridiculo da presunção científica ( respondem sem responder nada ) e um gosto de Matrix na boca, azedo.
Este livro teria problemas se escrito hoje. Voce logo saberá porque.
Um homem viaja num trem rumo à Avignon. Lá, ele tentará saber do porque do suicidio de seu amante, Piers. Piers tem uma irmã, Silvie, que está num hospício. Ela também é amante do narrador. Um triângulo feliz, apesar dos pesares. Então vamos na memória do narrador. Ele recorda uma viagem ao Egito. No deserto eles conhecem Akkad, mestre em gnosticismo. Navegam pelo Nilo. O livro dá um salto a Veneza e lá ficamos sabendo que agora quem narra é o verdadeiro autor, um muito solitário veterano cuja esposa o abandonou por uma mulher. Em mais um salto, vamos brevemente a Viena e depois de volta a Provence, onde quem narra é um autor de best-sellers. Bem...acredite-me, Durrell consegue orquestar todos esses pontos de vista sem nunca parecer confuso. Porque ele faz isso? Mero capricho? Não, a mudança de narrador, de estilo, de ponto de vista é o próprio livro, já que seu tema é a ilusão, o real e o irreal, o que somos e o que não somos.
Aprendi em linguistica que na verdade todos os livros ( e filmes ) têm sempre o mesmo tema: vida e morte. Durrell tenta ter uma unidade, ele fala da morte e não da vida. O livro pode ser entendido como a tentativa de se entender o que seja morrer. Não há uma resposta. Ainda bem...mas várias tentativas se fazem, e todas são terríveis. ( Um adendo: eu juro que o livro é alegre ).
Durrell teria problemas hoje por se arriscar a ser chamado de anti-semita. Akkad, o gnóstico, diz que Deus foi destronado e o mundo que conhecemos tem apenas um criador e mestre, o Diabo. Toda a realidade é obra dele e isso é fácil de perceber, pois a vida nada mais é que guerra, fome, dor e morte. E uma grande ilusão, as religiões. E a mais ilusória seria o judaísmo e tudo o que ela trouxe: catolicismo, protestantismo, islamismo, e até mesmo Marx e Freud que nada mais são que filhos da velha Biblia hebraica. Tudo isso sendo um mundo de materialismo, usura, ouro, falo, sede, repressão e dogmas.
Confesso ser dificil ler essa parte. Principalmente quando Akkad diz que ir contra essa obra do mal é não obedecer a vida. Não ter filhos, não lutar por nada, e morrer com alegria e de forma consciente. Perceber a ilusão que há nessa vida criada pelo mal e só pelo mal. Weeelllll..... Depois o livro dá seu golpe de classe. Ele próprio vai contra tudo o que falou. O novo narrador não pode crer nessa, segundo ele, "besteirada", ( mas deixa uma dúvida no ar ) e foge dessas questões. O que ele expõe é o massacre ocorrido no dia 13 de novembro de 1345, em que 5000 gnósticos da Europa foram presos, julgados e queimados, por ordem de Filipe, o Belo. Porque?
Apesar de tema tão dificil ( todas as cerimônias são cheias de drogas alucinógenas ), o livro é solar. Durrell descreve o mundo, nosso, condenado a destruição e dominado pelo mal absoluto, e ao mesmo tempo dá descrições soberbas da Lua, do Sol, dos animais e das estradas. O texto é belo, vitalista, há prazer em ler. Esse seu grande mérito, ele fala de coisas terríveis, mas jamais se faz um peso.
Após a leitura ficamos confusos. Qual a verdade? Quem nos controla? Deus, Jesus, os Santos...ilusões do mal? Ou Jesus seria alguém que tentou lutar contra as trevas ( sabendo serem elas invencíveis, e portanto sendo um gnóstico ao escolher sua morte ). Não há solução e nunca haverá. O que fica é a sensação do ridiculo da presunção científica ( respondem sem responder nada ) e um gosto de Matrix na boca, azedo.