SERGE GAINSBOURG- DU JAZZ DANS LE RAVIN ( SEX, GALOISE ET JAZZ )

   Serge era o cara que todo mundo na França adorava....odiar. Para a esquerda ( e na França de 60/70 essa dualidade fazia todo o sentido ), ele era um americanizado inconsequente, e para a direita ele era um tipo de vampiro imoral e perigoso. Bem...para mulheres interessantes ele era um desafio e para a molecada anárquica um provocador. Serge entra no século XXI sobrevivendo muito bem. Hoje ele é mais vivo que em seus últimos anos de vida.
   Como pessoa, ele estava em todas. Musicalmente foi jazz, foi chanson, fez rock e fez reggae. No cinema só fez bobagem, mas são sempre bobagens curiosas. Escreveu, fez TV, não parava nunca de inventar. E tinha um jeito hiper-mega-super cool. Serge é da linha de Robert Mitchum, parece sempre ausente, sonado, derrubado, indiferente. Mas quando voce se distrai ele surpreende, porque ele faz tudo sem esforço, sem drama de trabalho, parece fazer "sem querer". Isso é o cool moderno.
   Sua abordagem com as mulheres era a mesma, querer sem querer.
   Então, tudo o que ele fez, teve esse jeitão. Fazia um filme "sem querer" e um disco "sem muito jeito". E pegava todo mundo desprevenido.
   Veja este disco. Voce bota pra tocar e ouve piston e trombone. É jazz. Ele ouviu muito Gerry Mulligan. É cool jazz. Mas é mais cool que o cool jazz. É Le Cool Jazz.
   Ele coloca várias palavras em inglês nas letras. E as declama meio sonâmbulo e depois canta meio drunk. Tem bafo de sexo e de álcool. Cheiro de axila sem desodorante. Boteco com umidade. É sujo. Baforento.
   E voce se vê estalando os dedos no ritmo das músicas. Ele faz exatamente o que voce faria. Pega aquele cool jazz e o mistura com uma coisa muito dele mesmo, muito francesa. Uma coisa meio Rimbaud e meio Cocteau. Não é o jazz de whisky e negros alinhados de Chicago ou Orleans. É jazz com Pernod e jovens de boina e blusa listrada de St. German e Marseille. Os americanos odiavam. Era pra eles como ouvir rock feito por alemães. Pra nós, latinos, faz todo o sentido. Une dois mundos. Une o ótimo e o soberbo.
  E Serge vai então sem medo. No trombone que boceja e na bateria que sacoleja. E dá quase pra ver a fumaça do Gitanes ( ou será Galoise? ), sair do cd e entrar nos teus olhos. Dá quase pra sentir o cheiro da calcinha da menina bonita de cabelos à la garçonne. E daí voce pensa: Que bom! E depois acha: Quero ser Serge! E então conclui:
  É bom pra caramba!