THE FLYING BURRITO BROTHERS, UM SONHO TRISTE DE CURTO OUTONO

   Eu ouvia falar de Flying Burrito fazia séculos. O tipo da banda cult que não fez sucesso algum em seu tempo ( apesar de ser uma banda pop ). O povo da época não aceitava esse tipo de grupo. Se tivesse surgido dez anos mais tarde teria estourado. Se fosse o tempo dos clips estouraria AINDA mais facilmente.
   Mas em 1969 ninguém do rock dito sério gostava de bandas que não eram "bem loucas". As opções eram longos solos de guitarra ou mensagens de revolução. Os Burritos não se enquadravam em nenhum dos dois casos. A outra opção era o pop do Creedence ou dos Beatles. Mas aí havia o problema Gram Parsons.
   Hoje, em que nos acostumamos com Eagles ou John Mellencamp, parece estranho, mas o público do rock em 69 abominava country. Um chapéu de cowboy ou o som de um banjo deixava seus longos cabelos em pé. Country era música de conservadores, de racistas e de velhos religiosos. Hank Willians, Johnny Cash ou Willie Nelson eram escutados por uns poucos hippies como pecado vergonhoso, e o povão do centro dos EUA, lugares como Iowa ou Arkansas não contava. Gram Parsons, apesar de nascido na Florida, de familia rica e moderna, mudou a coisa.
   Entrando nos Byrds em 1968, ele transformou uma banda que era folk-elétrico em country-elétrico. Fora dos EUA as pessoas colocam folk e country no mesmo saco. Nada a ver. Folk é esquerda, country era direita. Folk é Woody Guthrie e Dylan, violão e letras gigantes, country é banjo, rabeca e dobro, letras sobre familia, campo e Jesus. O que Gram fez foi pegar a musica country e botar maconha nela. As letras falam de herois da estrada, de gente perdida em encruzilhadas, de amores desesperados e de muita solidão. Tudo regado a marijuana e tequila. E vestindo seu famoso paletó,  folhas de erva desenhadas sobre fundo branco.
   Os Byrds resolveram ir tocar na Africa do Sul. Gram se recusou, apartheid ainda vivo. Fundou os Flying Burrito Brothers.  O disco de estréia é lindo como a Lua. Mas nada vendeu.
   Como acontece com várias bandas, apesar de não estourar foram escutados pelas pessoas influentes. Um monte de gente começou a gravar country não-careta. E logo Keith Richards se fez fã e amigo. Gram e Keith passaram a andar juntos e a influência de Parsons sobre o som dos Stones de então é imensa. Dead Flowers ou Sweet Virginia são puro Parsons e Wild Horses foi composta tendo Gram em mente. Indo para a carreira solo, onde sua proposta country foi ainda mais radicalizada, Parson ainda teve o tempo de lançar dois discos. Mas em 1973 foi encontrado morto. Overdose de heroína.
   Há aqui uma história típica da época, que poderia estar em filme dos Coen. Os amigos, sabendo que Gram queria ser cremado, pegaram o corpo do velório e o levaram pro deserto. Lá tentaram cremá-lo com gasolina e não conseguiram. O corpo não virava cinza, virava churrasco...
   Os dois discos solo são pra chorar. Tristes como fim de caso ou fim de tarde solitária. Alguns momentos dão a certeza de que Parsons era um super poeta, um artista superior. Estava pronto para tomar as paradas do mundo. Não houve tempo pra isso. Morreu com 24 anos.
   Os Flying são uma bela alternativa para estes tempos posudos. Eles são naturais. O fato de não terem estourado demonstra a riquesa de sua época. Ou a cegueira de um sistema. No clip que postei abaixo, que é uma gozação e Não demonstra o tipico som de Parsons, ele faz gozação a Mick Jagger. Imita os trejeitos de Jagger e cria uma cumplicidade com Keith Richards. Eu, assim como tantos outros neste século que já nasce velho, adoro Gram Parsons.