RONNIE VON É UM CARA MUITO INTERESSANTE

   Uma bio sobre Ronnie Von seria muito interessante. Ele nasceu no Rio, em berço de ouro e viveu várias etapas de uma vida complexa. Aviador, ator, cantor e compositor, apresentador de Tv, brega e chique, doido e andrógino. E sempre um gentleman. Bonito como Alain Delon, namorou várias e encontrou uma no caminho que quase o matou ( e é a única de quem ele não fala o nome ). Mas resolvo escrever isto porque ontem um amigo me mostrou o disco psicodélico que ele lançou nos 60's. Cheio de surpresas, inclusive uma vinheta de rádio e uma conversa ao telefone, as músicas têm influências de Beach Boys, Love, Who e claro, Beatles. Guitarras ácidas e baixos estourados, é um grande disco. Com a voz de Ronnie, que em meio a toda aquela zoeira soa sempre sob controle, distanciada, um Bowie antes de Bowie ser Bowie.
  Ouço falar de Ronnie a exatamente 46 anos. Quando eu tinha dois anos, minha mãe é quem fala, eu já cantava "Meu Bem", a versão dele de "Girl" dos Beatles, um hiper sucesso por aqui. Fui uma criança que cantava, os vizinhos vinham em casa me ouvir cantar. Eu ficava cantando o dia todo e pra mim sempre foi natural me exibir. Com a entrada na puberdade perdi a voz e a confiança. Bem.... E lá estava Ronnie Von na TV, com seu cabelo Chanel e terninho justo "feminino". Eu o achava intrigante e meu pai o detestava. Sei hoje que ele foi um dos primeiros caras no Brasil a escutar Hendrix e Doors. Ele tinha acesso a importações, numa época em que coisas importadas no país eram mais raras que ladrão em Ipanema.
   Depois, nos anos 70, ele entrou numa viagem de ser ator e começou a gravar músicas muito adocicadas. Mas mesmo assim existem coisas de interesse, como a faixa que posto acima, que é de 1974. Eu a escutava na rádio Difusora e gostava pacas. Mas cheio de vergonha, pois ouvir Ronnie Von em 74 já era uma vergonha. Na virada pros anos 80 ele tinha um programa de Tv e lançava músicas à Roberto Carlos, como o hit "Tranquei a Vida". Ficou doente, paralisado na cama, e quase se foi. Deu a volta, e me acredite, o cara é um sobrevivente.
   Hoje ele é um digno representante de sua geração. Conseguiu não ser um tio-doidão e nem um saudosista chato. Se empolga com Bossa Nova e Soul Music, Beatles e Blues. Seu programa de TV é uma coisa totalmente alienigena, tentativa de ser sóbrio e familiar num meio que é hoje histérico e individualista. Ele leva as coisas com seu jeito de bom filho e bom marido, sem baixarias e sem apelações. O ibope é ignorado.
   Caraca! 46 anos ouvindo falar do cara! 46 anos vendo o tempo passar nele e em mim. Falar mais o que? Respeitem o homem. Ele não é pouca coisa.