Tom Smucker dá uma versão perfeita do porque de a disco music ter sido a mais odiada das formas musicais. Sim meu menino inocente, voce pode odiar rock progressivo, country, axé ou funk do Rio, mas saiba que em 1978 as pessoas faziam cerimônias para a queima de vinis de discoteque. Num estádio de beisebol, em Cleveland, milhares de fâs do The Who levaram toneladas de discos e os destruíram. Odiar disco music era uma atitude politica, voce era o tanto de ódio que tinha.
Entrando na adolescência, comigo acontecia algo de muito esquizo. Eu amava rock como jamais amei de novo. Vivia para ele. Mas ao mesmo tempo, e morrendo de vergonha, eu adorava SATURDAY NIGHT FEVER, aprendia passos de disco e me sentia feliz ao escutar YOU AND I ou DISCO INFERNO. Vergonha, vergonha, vergonha...
A versão de Tom Smucker a tanto ódio é certeira.
Primeiro: Disco é o primeiro tipo de música, surgida desde o nascimento do rock, que nada tem a ver com o meio rural. Não tem nenhuma raiz aparente em blues ou country, é urbana, tem cheiro de asfalto, neon e calçadas.
Segundo: Tudo no rock e derivados sempre teve a marca do sofrimento e da raiva. Nada no disco é triste ou raivoso. A alegria no rock sempre tem um jeito de "paz após a tempestade", na disco essa alegria se parece com puro hedonismo. É uma alegria desde sempre. Quanto a raiva, até as canções de amor no rock têm algo de superação do ódio, na disco não existe ódio, o amor é apenas sexo e sexo é celebração. Essa alegria da disco music é insuportável para o rocknroll.
Terceiro e mais importante: A disco nasce do gueto urbano, num meio que mistura negros, chicanos e gays. O rock sempre foi negro, mas o que os brancos amavam é que eram negros revoltados, sofridos, segregados, aqui, como no funk de Sly Stone, há uma negritude feliz, sem raiva, e mais estranho, misturada. A disco music é a primeira música a misturar raças e sexos, a pregar a promiscuidade total. Isso para o rigido e crispado mundo do rock era inaceitável.
Quarto: Smucker diz que a atitude básica do rock é sempre a do macho selvagem. É um comedor enlouquecido ou um macho impotente, mas a visão é sempre centrada na potência. Vikings, cowboys e poetas boêmios, não importa a máscara, a atitude diante das mulheres é sempre a do conquistador. Na disco isso não existe. É surpreendente, mas aqui o homem se feminiliza e tenta seduzir sem conquistar. Ele nunca pega uma mulher, ele a envolve.
Em 1980 comemoraram o aparente fim da disco e não perceberam que ela era pra sempre. Os discos com versões de meia hora se tornaram os remix de sempre, o euro-disco se transformou em Madonna e suas clones, a ênfase na dança e na boate se fez o mundo das raves, e a mistura de raças e sexos fez nascer o pop de agora e de sempre.
Se o punk acelerou e fez simplificar o rock ( mas sendo ainda rock ), a discoteque ignorou todo o rock e deu vida a um novo mundo. Lembrou a todos que música é pra dançar e pra celebrar. Lembrou que ela é festa da taba, da aldeia, é voodoo. Dando toda a ênfase em baixo e arranjos, ela se fez inimiga dos cintura dura e dos cabeças pensantes. Só podia ser eleita inimiga.
Como tudo que vende muito e se faz sempre presente, toneladas de lixo foram produzidas. Mas em meio a todo aquele material insuportável, existe muita coisa genial e que dura desde então, é música de altíssimo nivel. O que me faz lembrar de uma história.
Em 1977, Eno e Bowie viviam em Berlin onde começavam a pensar em gravar. Um dia Eno liga para Bowie e pede para ele sintonizar a rádio .... Bowie sintoniza e Eno lhe diz: "-Preste atenção nisso...esse é o som do futuro". O que Eno e Bowie ouviam era I FEEL LOVE de Giorgio Moroder com Donna Summer.
Nunca um músico teve um palpite tão certeiro.
Entrando na adolescência, comigo acontecia algo de muito esquizo. Eu amava rock como jamais amei de novo. Vivia para ele. Mas ao mesmo tempo, e morrendo de vergonha, eu adorava SATURDAY NIGHT FEVER, aprendia passos de disco e me sentia feliz ao escutar YOU AND I ou DISCO INFERNO. Vergonha, vergonha, vergonha...
A versão de Tom Smucker a tanto ódio é certeira.
Primeiro: Disco é o primeiro tipo de música, surgida desde o nascimento do rock, que nada tem a ver com o meio rural. Não tem nenhuma raiz aparente em blues ou country, é urbana, tem cheiro de asfalto, neon e calçadas.
Segundo: Tudo no rock e derivados sempre teve a marca do sofrimento e da raiva. Nada no disco é triste ou raivoso. A alegria no rock sempre tem um jeito de "paz após a tempestade", na disco essa alegria se parece com puro hedonismo. É uma alegria desde sempre. Quanto a raiva, até as canções de amor no rock têm algo de superação do ódio, na disco não existe ódio, o amor é apenas sexo e sexo é celebração. Essa alegria da disco music é insuportável para o rocknroll.
Terceiro e mais importante: A disco nasce do gueto urbano, num meio que mistura negros, chicanos e gays. O rock sempre foi negro, mas o que os brancos amavam é que eram negros revoltados, sofridos, segregados, aqui, como no funk de Sly Stone, há uma negritude feliz, sem raiva, e mais estranho, misturada. A disco music é a primeira música a misturar raças e sexos, a pregar a promiscuidade total. Isso para o rigido e crispado mundo do rock era inaceitável.
Quarto: Smucker diz que a atitude básica do rock é sempre a do macho selvagem. É um comedor enlouquecido ou um macho impotente, mas a visão é sempre centrada na potência. Vikings, cowboys e poetas boêmios, não importa a máscara, a atitude diante das mulheres é sempre a do conquistador. Na disco isso não existe. É surpreendente, mas aqui o homem se feminiliza e tenta seduzir sem conquistar. Ele nunca pega uma mulher, ele a envolve.
Em 1980 comemoraram o aparente fim da disco e não perceberam que ela era pra sempre. Os discos com versões de meia hora se tornaram os remix de sempre, o euro-disco se transformou em Madonna e suas clones, a ênfase na dança e na boate se fez o mundo das raves, e a mistura de raças e sexos fez nascer o pop de agora e de sempre.
Se o punk acelerou e fez simplificar o rock ( mas sendo ainda rock ), a discoteque ignorou todo o rock e deu vida a um novo mundo. Lembrou a todos que música é pra dançar e pra celebrar. Lembrou que ela é festa da taba, da aldeia, é voodoo. Dando toda a ênfase em baixo e arranjos, ela se fez inimiga dos cintura dura e dos cabeças pensantes. Só podia ser eleita inimiga.
Como tudo que vende muito e se faz sempre presente, toneladas de lixo foram produzidas. Mas em meio a todo aquele material insuportável, existe muita coisa genial e que dura desde então, é música de altíssimo nivel. O que me faz lembrar de uma história.
Em 1977, Eno e Bowie viviam em Berlin onde começavam a pensar em gravar. Um dia Eno liga para Bowie e pede para ele sintonizar a rádio .... Bowie sintoniza e Eno lhe diz: "-Preste atenção nisso...esse é o som do futuro". O que Eno e Bowie ouviam era I FEEL LOVE de Giorgio Moroder com Donna Summer.
Nunca um músico teve um palpite tão certeiro.