Para Marvin Gaye, sexo é vida e viver é transar. Todo o resto é sombra e pó. Se em WHAT'S GOIN' ON, disco anterior, Gaye analisava a luta das ruas, aqui ele prega a paz do sexo. Em tempo, nos anos 80 WHAT'S foi considerado pelos ingleses o maior disco já gravado.
LET'S GET IT ON é sedução do começo ao fim. Lembro de um crítico que disse em 1995 que ainda não nascera uma mulher que resistisse ao apelo sexual de Marvin Gaye neste disco. A voz, sempre no cio, se enrola no corpo da mulher, a embala em camas de violinos, guitarras, baixos sinuosos, percussão, gemidos e multidões de notas. Música de motel? Muito mais que isso. Gaye leva a música ao sexo e sabe que isso é mais que cama e lençol, é questão existencial. Ele tem o talento para isso.
Bryan Ferry, Rod Stewart, David Bowie, Rolling Stones... todos tentaram ser Marvin Gaye. Todos erraram o alvo, mas conseguiram no processo refrescar seu som. Ferry criou aquele tipo de som cheio de detalhes, miríades de instrumentos transitando pela canção e correndo ao redor da voz, Rod se pacificou e se fez um tipo de sedutor insaciável, Bowie se enamorou da dance music e rearranjou sua carreira e os Stones ficaram ainda mais negros com Jagger incorporando o falsete a sua voz. Nenhum deles conseguiu ser Marvin Gaye. Ferry não tem voz pra isso, Rod não tem finésse, Bowie é frio demais e Jagger se exalta onde deveria ser elegante. Mas tiveram todos a percepção de entender que em Gaye havia, mais uma vez, um caminho a ser seguido. A geração dos anos 80 também se apaixonou por seu som. De Paul Weller á George Michael, uma legião de branquelos ingleses sonhou em ser Marvin Gaye.
A maravilhosa beleza do som negro.... As pessoas, inconscientemente centradas em sua raça ( não é bem racismo, é algo muito mais profundo ), ficam falando bobagens do tipo "qual o melhor cantor", "qual o cara mais influente" etc e tal. E se esquecem de que o melhor cantor nunca foi Plant ou Rod ou Paul ou Roger ou Van. Sempre foram os negros Ray Charles, Otis Redding, Wilson Pickett e Marvin Gaye. E que o cara mais influente é James Brown, mas poderia também ser Sly Stone ou George Clinton. A coisa é lógica, a opinião de um critico que se "esquece" dos artistas negros não tem valor. Perto do poder transformador que o Rap possuiu, coisas como Brit-Pop e Grunge são apenas surtos de saudades. E nada é menos saudosista que o som dos blacks. Eles não têm do que ter saudade.
As pessoas inclusive erram ao dizer que os rivais dos Beatles eram os Beach Boys ou os Stones. Paul MacCartney já disse em "N" entrevistas que os discos que os "assustavam" eram aqueles que a Motown produzia às toneladas. Eles ficavam bestificados com os arranjos, os vocais, e Paul cita James Jamerson como o melhor baixo do planeta ( James é o cara do som de Gaye ). Mas tendemos a esquecer disso, e voltamos a falar a ladainha de Beatles X Beach Boys.
A Motown tinha além de Marvin, Aretha Franklyn, Stevie Wonder, Temptations, Supremes, Miracles, Smokey Robinson, e quando os caras de Liverpool terminaram soltaram um tal de Jackson Five. Comandada por negros, era uma gravadora hollywoodiana, luxuriante, chique, e muito sensual. Nela, Gaye, casado com a filha do dono, era o Rei. Desde 1962 lançava hit sobre hit e era regravado por Van Morrison, Who e Stones. Aliás, o primeiro disco dos Beatles tem faixa da Motown.
Acabei me alongando e deixei de falar do disco em si. LET'S é da fase cabeça da Motown, de quando os artistas da casa se lançaram em aventuras mais autorais, tocados que foram pelo clima barra pesada do começo dos anos 70. Após este disco Gaye começaria uma lenta decadência. Cocaína, depressão e falência financeira. Seu público descobriria Al Green como o novo Marvin Gaye ( Green era excelente, mas nunca foi Gaye ). Em 1984, de volta ao sucesso e prestes a ser feito o gurú da nova geração inglesa, Marvin Gaye foi morto pelo próprio pai...
Em 1986, num número da revista Bizz, citava-se uma matéria britânica em que se dizia que o pop havia deixado apenas seis coisas que viveriam para sempre. Marvin Gaye era um dos seis. Ouvir seus discos é ser feliz.
PS: Cometi um erro nesta postagem que faço questão de não apagar. Aretha Franklyn e Otis Redding NÃO eram da Motown!!!! Eles eram da Stax, gravadora do sul dos EUA que foi o outro lado da música negra da época. Se a Motown era Hollywood ( luxuosa, sexy, glamourosa ), a Stax era mais "crua". O som da Motown tem como marca registrada os arranjos "ricos". A Stax dava ênfase maior a bateria e guitarra. O engraçado da história é que esse som "crú" da Stax, que a princípio parece mais "negro", era na verdade feito por alguns músicos brancos com origens country ( gênios como Steve Cropper e Duck Dunn ). Já o som da Motown, que poderia parecer mais pop, é 100% black.
LET'S GET IT ON é sedução do começo ao fim. Lembro de um crítico que disse em 1995 que ainda não nascera uma mulher que resistisse ao apelo sexual de Marvin Gaye neste disco. A voz, sempre no cio, se enrola no corpo da mulher, a embala em camas de violinos, guitarras, baixos sinuosos, percussão, gemidos e multidões de notas. Música de motel? Muito mais que isso. Gaye leva a música ao sexo e sabe que isso é mais que cama e lençol, é questão existencial. Ele tem o talento para isso.
Bryan Ferry, Rod Stewart, David Bowie, Rolling Stones... todos tentaram ser Marvin Gaye. Todos erraram o alvo, mas conseguiram no processo refrescar seu som. Ferry criou aquele tipo de som cheio de detalhes, miríades de instrumentos transitando pela canção e correndo ao redor da voz, Rod se pacificou e se fez um tipo de sedutor insaciável, Bowie se enamorou da dance music e rearranjou sua carreira e os Stones ficaram ainda mais negros com Jagger incorporando o falsete a sua voz. Nenhum deles conseguiu ser Marvin Gaye. Ferry não tem voz pra isso, Rod não tem finésse, Bowie é frio demais e Jagger se exalta onde deveria ser elegante. Mas tiveram todos a percepção de entender que em Gaye havia, mais uma vez, um caminho a ser seguido. A geração dos anos 80 também se apaixonou por seu som. De Paul Weller á George Michael, uma legião de branquelos ingleses sonhou em ser Marvin Gaye.
A maravilhosa beleza do som negro.... As pessoas, inconscientemente centradas em sua raça ( não é bem racismo, é algo muito mais profundo ), ficam falando bobagens do tipo "qual o melhor cantor", "qual o cara mais influente" etc e tal. E se esquecem de que o melhor cantor nunca foi Plant ou Rod ou Paul ou Roger ou Van. Sempre foram os negros Ray Charles, Otis Redding, Wilson Pickett e Marvin Gaye. E que o cara mais influente é James Brown, mas poderia também ser Sly Stone ou George Clinton. A coisa é lógica, a opinião de um critico que se "esquece" dos artistas negros não tem valor. Perto do poder transformador que o Rap possuiu, coisas como Brit-Pop e Grunge são apenas surtos de saudades. E nada é menos saudosista que o som dos blacks. Eles não têm do que ter saudade.
As pessoas inclusive erram ao dizer que os rivais dos Beatles eram os Beach Boys ou os Stones. Paul MacCartney já disse em "N" entrevistas que os discos que os "assustavam" eram aqueles que a Motown produzia às toneladas. Eles ficavam bestificados com os arranjos, os vocais, e Paul cita James Jamerson como o melhor baixo do planeta ( James é o cara do som de Gaye ). Mas tendemos a esquecer disso, e voltamos a falar a ladainha de Beatles X Beach Boys.
A Motown tinha além de Marvin, Aretha Franklyn, Stevie Wonder, Temptations, Supremes, Miracles, Smokey Robinson, e quando os caras de Liverpool terminaram soltaram um tal de Jackson Five. Comandada por negros, era uma gravadora hollywoodiana, luxuriante, chique, e muito sensual. Nela, Gaye, casado com a filha do dono, era o Rei. Desde 1962 lançava hit sobre hit e era regravado por Van Morrison, Who e Stones. Aliás, o primeiro disco dos Beatles tem faixa da Motown.
Acabei me alongando e deixei de falar do disco em si. LET'S é da fase cabeça da Motown, de quando os artistas da casa se lançaram em aventuras mais autorais, tocados que foram pelo clima barra pesada do começo dos anos 70. Após este disco Gaye começaria uma lenta decadência. Cocaína, depressão e falência financeira. Seu público descobriria Al Green como o novo Marvin Gaye ( Green era excelente, mas nunca foi Gaye ). Em 1984, de volta ao sucesso e prestes a ser feito o gurú da nova geração inglesa, Marvin Gaye foi morto pelo próprio pai...
Em 1986, num número da revista Bizz, citava-se uma matéria britânica em que se dizia que o pop havia deixado apenas seis coisas que viveriam para sempre. Marvin Gaye era um dos seis. Ouvir seus discos é ser feliz.
PS: Cometi um erro nesta postagem que faço questão de não apagar. Aretha Franklyn e Otis Redding NÃO eram da Motown!!!! Eles eram da Stax, gravadora do sul dos EUA que foi o outro lado da música negra da época. Se a Motown era Hollywood ( luxuosa, sexy, glamourosa ), a Stax era mais "crua". O som da Motown tem como marca registrada os arranjos "ricos". A Stax dava ênfase maior a bateria e guitarra. O engraçado da história é que esse som "crú" da Stax, que a princípio parece mais "negro", era na verdade feito por alguns músicos brancos com origens country ( gênios como Steve Cropper e Duck Dunn ). Já o som da Motown, que poderia parecer mais pop, é 100% black.