Na verdade se trata de um filme de divulgação. Scorsese cria toda uma "moldura" para apresentar a quem nunca viu, as imagens dos filmes de Georges Méliés. Contextualizando as películas que nos restaram desse mágico/poeta francês, Martin torna Méliés palatável`aos não-cinéfilos. Eu adoraria que ele fizesse isso com Michael Powell também...
Recordo de ter assisitido "Viagem à Lua" em 2000, deitado no chão da Oca, no Ibirapuera. Era uma exposição sobre Picasso e eles projetavam o filme de Méliés no teto da construção. Deitados em almofadas, eu e mais 60 pessoas nos deixávamos sonhar. Foi bacana.
Vamos ao filme.
Ele é chatinho, e é maravilhoso. É chatinho em todo seu miolo. Se insiste demais em repetitivas cenas do policial atrás do menino e há uma lentidão exagerada em muitas ações. Martin se aproxima perigosamente do pior de Spielberg, parece se deixar envolver pela obra que faz e se apaixona por seu set e por seus personagens. Mas... dito esse "mal", vamos ao "bem".
Todas as cenas com Ben Kingsley são ótimas e gostaríamos que fossem em maior número. Notamos então que o problema é de escalação. O ator que faz o menino é fraco. Nunca nos deixamos levar por ele. De qualquer modo, os primeiros vinte minutos do filme, sem diálogos, são excelentes, e toda parte final é irretocável. Emociona. De verdade. E acredite, este filme é quase "silencioso".
Ninguém poderia prever que 2012 seria um ano "francês" para o Oscar. Temos Woody Allen, este filme e Jean Dujardim com O ARTISTA. Mais que isso, um ano de saudades da década de 1920. Mas Martin, espertamente, usa a mais moderna tecnologia para nos levar ao passado. O filme tem um visual rebuscado. É bom de se olhar.
Harold Lloyd tem um trecho de filme mostrado. E há uma sequencia soberba com cenas de Buster Keaton, Douglas Fairbanks e Chaplin. Scorsese é um educador. Nos faz ver a mágica alegria dos filmes desses gênios.
Na história do orfão que deseja consertar um boneco para entender sua vida, temos muito do próprio diretor deste filme. Martin Scorsese tem passado os últimos trinta anos consertando filmes que se estragaram. Salvando películas de se transformarem em vassouras ou saltos de sapato. E como o menino, foi seu pai que lhe deixou a semente da cinefilia. Scorsese tem tirado do limbo autores geniais, tem revitalizado carreiras, tem nos revelado memórias. Exatamente como Hugo faz com Georges.
Quando o cinema surgiu ( e estamos falando de 1900 ), duas vertentes logo se apresentaram. Aqueles que viam no cinema um modo de exibir "o real", e os mágicos, que viam na tela um caminho para o sonho. Méliés foi o rei da magia. Para ele uma câmera não era um instrumento de reportagem, era uma máquina que produzia alucinações. Seus filmes são loucos, festivos, inquietos. Com a guerra ( 1914 ), seu tipo de cinema saiu de moda, foi taxado de alienado. Morreu pobre e esquecido. Ao lhe prestar tributo, Scorsese homenageia o veículo, a origem francesa do cinema, o ambiente onde ele foi gerado, o poder da magia. Não nos esqueçamos: o cinema nasce no mesmo meio que nos deu Proust e Renoir. A Belle-Époque.
Há no filme uma fascinação pelo mecânico, pela engrenagem, há a despedida, o adeus a um tipo de técnica, ao filme do século XX, mecânico/químico. Martin Scorsese diz adeus ao velho filme, e adentra o cinema digital do nosso tempo.
É um belo e muito imperfeito filme. O ARTISTA é bem mais ousado e em sua proposta muito mais "perfeito". Mas Hugo, mesmo com sua chatice, fica em nossa memória como algo de bonito e de nobre. Para tempos de cinema tão cínico e vazio, não é pouca coisa.
Recordo de ter assisitido "Viagem à Lua" em 2000, deitado no chão da Oca, no Ibirapuera. Era uma exposição sobre Picasso e eles projetavam o filme de Méliés no teto da construção. Deitados em almofadas, eu e mais 60 pessoas nos deixávamos sonhar. Foi bacana.
Vamos ao filme.
Ele é chatinho, e é maravilhoso. É chatinho em todo seu miolo. Se insiste demais em repetitivas cenas do policial atrás do menino e há uma lentidão exagerada em muitas ações. Martin se aproxima perigosamente do pior de Spielberg, parece se deixar envolver pela obra que faz e se apaixona por seu set e por seus personagens. Mas... dito esse "mal", vamos ao "bem".
Todas as cenas com Ben Kingsley são ótimas e gostaríamos que fossem em maior número. Notamos então que o problema é de escalação. O ator que faz o menino é fraco. Nunca nos deixamos levar por ele. De qualquer modo, os primeiros vinte minutos do filme, sem diálogos, são excelentes, e toda parte final é irretocável. Emociona. De verdade. E acredite, este filme é quase "silencioso".
Ninguém poderia prever que 2012 seria um ano "francês" para o Oscar. Temos Woody Allen, este filme e Jean Dujardim com O ARTISTA. Mais que isso, um ano de saudades da década de 1920. Mas Martin, espertamente, usa a mais moderna tecnologia para nos levar ao passado. O filme tem um visual rebuscado. É bom de se olhar.
Harold Lloyd tem um trecho de filme mostrado. E há uma sequencia soberba com cenas de Buster Keaton, Douglas Fairbanks e Chaplin. Scorsese é um educador. Nos faz ver a mágica alegria dos filmes desses gênios.
Na história do orfão que deseja consertar um boneco para entender sua vida, temos muito do próprio diretor deste filme. Martin Scorsese tem passado os últimos trinta anos consertando filmes que se estragaram. Salvando películas de se transformarem em vassouras ou saltos de sapato. E como o menino, foi seu pai que lhe deixou a semente da cinefilia. Scorsese tem tirado do limbo autores geniais, tem revitalizado carreiras, tem nos revelado memórias. Exatamente como Hugo faz com Georges.
Quando o cinema surgiu ( e estamos falando de 1900 ), duas vertentes logo se apresentaram. Aqueles que viam no cinema um modo de exibir "o real", e os mágicos, que viam na tela um caminho para o sonho. Méliés foi o rei da magia. Para ele uma câmera não era um instrumento de reportagem, era uma máquina que produzia alucinações. Seus filmes são loucos, festivos, inquietos. Com a guerra ( 1914 ), seu tipo de cinema saiu de moda, foi taxado de alienado. Morreu pobre e esquecido. Ao lhe prestar tributo, Scorsese homenageia o veículo, a origem francesa do cinema, o ambiente onde ele foi gerado, o poder da magia. Não nos esqueçamos: o cinema nasce no mesmo meio que nos deu Proust e Renoir. A Belle-Époque.
Há no filme uma fascinação pelo mecânico, pela engrenagem, há a despedida, o adeus a um tipo de técnica, ao filme do século XX, mecânico/químico. Martin Scorsese diz adeus ao velho filme, e adentra o cinema digital do nosso tempo.
É um belo e muito imperfeito filme. O ARTISTA é bem mais ousado e em sua proposta muito mais "perfeito". Mas Hugo, mesmo com sua chatice, fica em nossa memória como algo de bonito e de nobre. Para tempos de cinema tão cínico e vazio, não é pouca coisa.