BLAISE CENDRARS, IMPRESSÓES SOBRE SÃO PAULO EM 1922 ( O QUE MUDOU? )

   Em 1922 o Brasil tinha grandes intelectuais. Gente que transformou o nada absoluto das mentes tupis em alguma coisa, uma promessa. Paulo Prado foi um dos maiores, e em 22 foi à França. De lá trouxe o muito moderno, muito aventureiro e muito exótico Blaise Cendrars.
   No momento estou a ler a bio que Antonio Bivar ( um autor muuuito bom ), escreveu sobre Yolanda Penteado. O livro é tão delicioso que é dificil parar de ler. Transcrevo aqui o que Blaise escreveu sobre a São Paulo de então...
   "Estou verdadeiramente espantado! Este país é espetacular demais! A terra é vermelha, o céu é azul e o calor é dantesco! Aqui não há tradição, não há preconceito. É o país das loucuras! Os politicos são totalmente corruptos, a economia não funciona... A arquitetura é ridicula e grotesca... São Paulo constrói mil casas por dia. Adoro viajar por este país...Minha curiosidade não tem limites. Os mestiços indolentes nas estações. Buzinas, buzinas, buzinas azucrinando os ouvidos! Aqui não se respeita o silêncio. E o café? Alguns homens vieram e tacaram fogo na mata. Não deixaram uma árvore de pé. Exterminaram os peixes. Expulsaram os índios e plantaram milhões de mudas de café. E pra que tanto café? Será que a humanidade não pode prescindir dessa toxina? Mas é essa toxina que tráz da Europa o luxo e o progresso! ( ... ) Na fazenda de Paulo Prado era meio-dia. Nada se mexia, nenhum ruído, nenhum pássaro. Tudo devastado pelo café. Ninguém imagina um país assim..."
   Se trocarmos o café pela cana de açucar ou pelos bois de corte, temos um retrato exato do Brasil de 2012. Em 90 anos perdemos a beleza art-nouveau de SP e a urbanidade chic do Rio. E o que ganhamos?