AUDREY HEPBURN, UMA BIOGRAFIA- WARREN G. HARRIS

   Quando estreou no cinema americano em 1953, com A PRINCESA E O PLEBEU, Audrey havia feito apenas pontas em filmes europeus e uma peça de teatro. Nessa estréia, subitamente ela se torna a estrela mais amada da América e leva o Oscar de melhor atriz. Começo melhor que esse, até hoje, ninguém conseguiu ter. Mas foi fácil?
   A origem de Audrey Hepburn é nobre. Nascida na Bélgica, criada na Holanda, por parte de pai e de mãe, Audrey tem sangue azul e uma linhagem que chega até 1530. Foi criada em palácio de 50 quartos e desde sempre teve como característica a educação esmerada e gestos de quem sempre dormiu em dosséis de seda. Estudou ballet, e de repente as coisas começaram a ficar muito esquisitas. Os pais se filiaram a partidos fascistas, a mãe principalmente, tinha orgulho de suas ligações com Hitler. Mudaram-se na década de 30 para a Inglaterra, o pai era grande executivo de empresa mercantil, e lá se uniram ao odiado partido fascista inglês. Audrey era então uma criança, mas o mundo em que ela vivia lhe cobraria um preço. A guerra começa, e num erro de cálculo, a mãe resolve que a Holanda seria mais segura. Voltam e vêem a miséria da guerra de perto. Perdem propriedades, passam fome ( como toda a Holanda de então ), sentem frio, ficam doentes. É então, aos 11, 12 anos que Audrey adquire a silhueta que a faria famosa e que mudaria o conceito feminino de beleza. Ela se torna muito magra, por fome, não por opção.
   O pai ficara na Inglaterra, e Audrey ficaria 25 anos sem saber dele. Ele é preso por suas ligações com o fascismo, e depois da guerra passa a viver na Irlanda, em condições ruins. Na Holanda Audrey vê trens levando judeus e sua mãe começa a cair na real. Talvez Hitler não fosse a melhor escolha para nobres com medo do comunismo.
   A guerra acaba e a adolescnte Audrey ainda estuda ballet. A familia volta a ter conforto, mas nunca mais o exagero de antes da guerra. Nessa Europa devastada, a mãe, uma baronesa, trabalha em loja, e Audrey vende flores em floricultura. Recebe convites para desfiles e pequenas participações em peças e filmes. Daí os deuses da sorte interferem. A grande escritora Colette estava a dois anos procurando uma atriz para ser a Gigi de sua peça. Ao olhar Audrey pela primeira vez exclamou: -Eis minha Gigi!!!
   Audrey fugia de todo o conceito de glamour da época. Não usava peles, cabelões, piteiras ou decotes. Por ser muito magra e alta, ela se apresentava em entrevistas de sandálias sem salto, saia simples, e blusa comum. Cabelo curto e sem jóias ou adereços. Mas segundo Colette, o efeito era o de se estar diante de uma princesa. Veio Hollywood, e o mito nascia.
   Depois de A Princesa e o Plebeu, vieram Sabrina, Cinderela em Paris, Charada, My Fair Lady...eu nunca havia notado, mas Audrey tem apenas 5 filmes que eu realmente adoro. E para a história do cinema, se incluem apenas mais uns três. São oito filmes. Oito que são chamados de clássicos de Audrey Hepburn. Na carreira inteira são 20. O cinema tem apenas vinte filmes com Audrey...um quase nada em quinze anos de carreira. Uma pena.
   O livro expõe o longo casamento com o medíocre ator Mel Ferrer, ator que se pensava um novo Orson Welles, e que se ressentia do sucesso de sua esposa ( Audrey era a atriz mais bem paga de então ). Ela viveu casos em sets de filmagem, com William Holden, Peter O'Toole, Albert Finney. E são revelados os bastidores de My Fair Lady, o filme mais luxuoso já feito, onde Cecil Beaton e o diretor George Cukor brigavam sem parar. A ligação de Audrey com Givenchy é mostrada em tons nobres de amizade sem interesse, e temos bastidores de Oscar e de estréias. E na parte final de sua vida, o trabalho com a Unicef, na África. Para quem como eu, aprendeu a amar Audrey em filmes como o soberbo Charada e o encantador Cinderela em Paris, o livro é obrigatório. Harris não inventa, escreve simples, correto e corrido. Tem alguma elegância, é sóbrio e nada maldoso. Digno de seu tema.
   Livro da Nova Fronteira. Procure que é bom presente de Natal.