A VERDADEIRA VIDA DE SEBASTIAN KNIGHT- VLADIMIR NABOKOV

Nada é pior que um livro frustrante. Podemos perdoar um livro ruim, afinal, a expectativa que tínhamos não foi jogada ao lixo; mas um livro frustrante é uma brochada. É o caso deste livro do grande Nabokov, autor que é um dos maiores do século XX e que tem LOLITA e FOGO PÁLIDO entre os monumentos das letras universais. O que acontece com este livro é trágico, principalemte porque ele começa em muito alto nível e então despenca para o nada.
O irmão mais novo de um refugiado russo, nobre, procura escrever uma biografia fiel sobre esse irmão, irmão que foi um escritor de talento. Uma biografia mentirosa, rancorosa, recém lançada, é que o motiva a essa empreitada. Até aí tudo funciona. Nabokov esparrama prosa saborosa em cada sentença. Há uma complexidade de múltiplos espelhos e melhor: toques de humor cáustico em frases inesperadas. O livro cresce e voce fica absorvido pela busca de pistas desse irmão misterioso. Mas de súbito o humor se torna drama pesado, pior, inconvincente. Quanto mais o irmão, que jamais é nomeado, se aproxima da verdade, mais o livro naufraga. As coisas se atropelam, os novos personagens parecem ocos, Nabokov se esvai em nada.
Uma pena, pois o assunto é fascinante. O irmão poderia ser o próprio autor e o livro que lemos pode ser a própria biografia, que assim se faria uma auto-biografia. Mas o que parece é que Nabokov perde a mão, talvez o interesse em seu livro, perde o amor ao personagem central.
Vladimir Nabokov foi filho daquelas famílias nobres russas que fugiram ao ocidente com a revolução de 1917. Ele acabou adquirindo um inglês perfeito e se tornou um mestre das letras americanas. Lolita é eleito desde que saiu ( 1955 ) um dos melhores livros do século XX. E é, sem dúvida. Hoje Nabokov está um pouco fora de moda, não só por seus temas amorais, mas principalmente por sua escrita quase barroca. Ele escreve muito, fala bastante, tem o que dizer e não se censura. Embeleza, enriquece, é um anti-minimalista.
PS: Um dos charmes da década de 20 eram os refugiados russos. Em Paris era normal ser servido em cafés por garçons que foram condes em St. Petersburgo, e contratar um chauffeur que fora um rico proprietário de terras na Ucrânia. Nabokov não passou necessidades, seu pai as passou por ele. Sua prosa sempre tem um jeito snob, refinado, bastante conservador. Ou seja, não é para hoje, não é?