Quando o personagem de Owen Wilson procura aceitar sua condição temporal, tudo o que ele faz é recordar seus antibióticos. Vivemos a época do medo e é interessante que sempre que tentamos valorizar nosso tempo em relação aos "good old times", tudo o que conseguimos lembrar são nossos medicamentos e as condições de higiene. Woody, neste bom filme, errou em seu final. Ele acomoda as coisas e faz um final Disney. Muito mais interessante seria se o escritor se perdesse para sempre em seu devaneio. De qualquer modo ele encontra uma alma romântica como a dele, que se emociona com Cole Porter e ainda vê a "Paris" na Paris.
Todo amante de arte tem seu tempo mítico. Para quem ama a pintura ( como a personagem de Marion Cotillard ) esse seria a Paris de Gauguin e de Degas. Para um pintor, seria a renascença de Michelangelo. Um filósofo provávelmente iria desejar viver na Grécia de Platão e um músico na era de Mozart e Haydn. Como típico escritor americano, o personagem de Wilson ama a época de Heminguay e Fitzgerald. Woody Allen, que sempre viveu de certa forma nesse mundo de jazz e music hall, faz com que Cole Porter cante ao piano dando as boas vindas à Wilson no paraíso. Zelda e Scott Fitzgerald são seus anfitriões e nada poderia ser melhor. Ao contrário de Arnaldo Jabor, minha maior emoção não foi ver Cole ao piano ( e eu adoro Cole Porter ), mas sim a hora em que Dali, Bunuel e Man Ray sentam-se à mesa ( faltou Lorca ). Adrien Brody faz uma participação hilária ( '- Dali! Sou Dali!!!"), e Man Ray ( Voces que me lêem precisam ver seus curtas ) está lá, com seu olhar duro e curioso. Bunuel permanece silencioso, e é nessa hora que me emociono. Em mim surge uma vontade poderosa, um desejo de estar lá, sentado naquele lugar, desejo de ficar para sempre ali, rodeado por meus mitos.
O filme é exemplar nisso. Wilson, por mais inadaptado que seja, tem em si a possibilidade de ser feliz. Porque ele crê em algo, ele crê na Paris de 1926. Quando ele viaja para lá, tudo o que ele sente é maravilhamento, nunca medo. Mergulha em seu sonho, entra em contato com seus deuses e se encontra, pronto para o necessário retorno. Comparado a sua noiva, ele é vivo, grande, interessante e interessado. Aliás é sintomático observar como sua noiva está o tempo todo comprando coisas ou indo a algum lugar. Ela jamais usufrui, reflete ou espera. Combina com as ruas assépticas de Paris, em oposição as ruas enevoadas e escuras da "Paris".
Tudo fica mais belo com o jazz à Grapelli e Django, e ouvir o veemente Heminguay falar é para mim como encontrar um irmão mais velho. Não sei qual seria meu tempo ideal. Eu adoraria viver nessa Paris de 1926, como amaria a Londres de 1890. A vantagem de meu tempo é o de poder ler sobre Paris e Londres e ver este muito romântico filme. Mas acho dificil que alguém em 2094 sonhe em conhecer a época de Johnathan Frazen e Philip Roth. De Saramago e Llosa.
Mas talvez exista então, em um mundo que será provávelmente mais controlado e frio, o desejo de se visitar a época de Woody Allen.
Todo amante de arte tem seu tempo mítico. Para quem ama a pintura ( como a personagem de Marion Cotillard ) esse seria a Paris de Gauguin e de Degas. Para um pintor, seria a renascença de Michelangelo. Um filósofo provávelmente iria desejar viver na Grécia de Platão e um músico na era de Mozart e Haydn. Como típico escritor americano, o personagem de Wilson ama a época de Heminguay e Fitzgerald. Woody Allen, que sempre viveu de certa forma nesse mundo de jazz e music hall, faz com que Cole Porter cante ao piano dando as boas vindas à Wilson no paraíso. Zelda e Scott Fitzgerald são seus anfitriões e nada poderia ser melhor. Ao contrário de Arnaldo Jabor, minha maior emoção não foi ver Cole ao piano ( e eu adoro Cole Porter ), mas sim a hora em que Dali, Bunuel e Man Ray sentam-se à mesa ( faltou Lorca ). Adrien Brody faz uma participação hilária ( '- Dali! Sou Dali!!!"), e Man Ray ( Voces que me lêem precisam ver seus curtas ) está lá, com seu olhar duro e curioso. Bunuel permanece silencioso, e é nessa hora que me emociono. Em mim surge uma vontade poderosa, um desejo de estar lá, sentado naquele lugar, desejo de ficar para sempre ali, rodeado por meus mitos.
O filme é exemplar nisso. Wilson, por mais inadaptado que seja, tem em si a possibilidade de ser feliz. Porque ele crê em algo, ele crê na Paris de 1926. Quando ele viaja para lá, tudo o que ele sente é maravilhamento, nunca medo. Mergulha em seu sonho, entra em contato com seus deuses e se encontra, pronto para o necessário retorno. Comparado a sua noiva, ele é vivo, grande, interessante e interessado. Aliás é sintomático observar como sua noiva está o tempo todo comprando coisas ou indo a algum lugar. Ela jamais usufrui, reflete ou espera. Combina com as ruas assépticas de Paris, em oposição as ruas enevoadas e escuras da "Paris".
Tudo fica mais belo com o jazz à Grapelli e Django, e ouvir o veemente Heminguay falar é para mim como encontrar um irmão mais velho. Não sei qual seria meu tempo ideal. Eu adoraria viver nessa Paris de 1926, como amaria a Londres de 1890. A vantagem de meu tempo é o de poder ler sobre Paris e Londres e ver este muito romântico filme. Mas acho dificil que alguém em 2094 sonhe em conhecer a época de Johnathan Frazen e Philip Roth. De Saramago e Llosa.
Mas talvez exista então, em um mundo que será provávelmente mais controlado e frio, o desejo de se visitar a época de Woody Allen.