MEDITAÇÕES - JOHN DONNE

Nasce rico e católico. Torna-se um dos mais famosos poetas metafísicos ingleses. Rompe com a igreja, viaja pelo mar, estuda muito, escreve poemas eróticos. E na parte final da vida, torna-se deão da igreja anglicana. Politicamente ativo. Morre em 1631. Inglaterra de Marlowe, Shakespeare, Ben Johnson, do rei James e de Elizabeth. O momento decisivo da criação de um império. Criação dada pela ousadia, pelo arrojo e principalmente pela união. União de pirataria e comércio, união de monarquia e parlamento, união de religião e pragmatismo.
John Donne escreve estas meditações doente, muito doente. Doença da qual ele se recuperaria. Todos os seus pensamentos fazem então um paralelo entre a doença do homem e a doença da Terra, entre o funcionamento da vida individual e o equilibrio do mundo. Equilibrio que não há, pois Donne diz que viver, estar de pé, é estar pronto para cair. A vida é um estar com medo de adoecer e um estar doente, e o planeta é um corpo infeccioso.
Mas não pense que ler Donne é um sofrimento. Sua escrita é clara, poética, e em seus pensamentos sempre há um outro lado. É nos outros que podemos nos curar. A saúde só pode ser encontrada no cuidado dado pelo outro, a vida só é vida em comunhão. Se no semelhante existe o pecado, é também no próximo que se dá a vitória e a absolvição da dor. É impossível ao homem ser só.
Tolos humanos que nada controlam, incapazes de saber o que virá amanhã, incapazes sequer de saber se irão acordar após dormir. Terra que é o que somos, nosso corpo que funciona e adoece como o planeta funciona e adoece. Vida, que na carne do homem, na natureza ou no céu é sempre a mesma: toda a vida funciona e é constituída em mesma arquitetura e ciência. Nosso corpo é um espelho do cosmos.
Impressiona o modo como a escrita metafísica de John Donne antecipa fatos da ciência. O mais relevante são os pontos no céu que engolem a luz e a vida ( buracos negros? ). Donne diz ainda que nosso corpo é nossa fazenda, que a arrendamos e trabalhamos nela e por ela. Terra que é nossa por algum tempo, mas jamais saberemos se irá nevar ou estiar. Escravos do tempo, segundo Donne, tempo que se constitui de 3 partes que não existem ( o passado morreu, o futuro não existe, o presente passa ao ser percebido ) , mas que mesmo nessa inexistência ele, o tempo, nos faz escravos e nos derrota, sempre.
No mais, várias frases de Donne se tornaram citações conhecidas na cultura inglesa. Frases que encerram muito de fatalismo e muito de ensinamento. Metáforas que sobrevivem.
Afinal, todos sabemos hoje, que cada um que morre, morre em nós, e que todo sino que anuncia uma morte, lembra-nos de nossa mortalidade. Sim, John Donne fala todo o tempo da morte, mas eu juro: não dói o ler.