CLINT EASTWOOD, O MORALISTA

Tudo em Clint Eastwood sempre foi uma afirmação moral. Ele jamais seguiu a corrente ( e isso te surpreende né? ) sempre manteve, inalterada, sua rota de descrença e de individualidade fria. O tempo, único crítico que nunca erra, mostrou seu acerto.
Ele é o astro de tv que mais deu certo na transição para o cinema. Sim, ele foi astro de tv nos anos 50. Rawhide era a série. Quando a última temporada chegou, ele partiu para a Itália e lá fez 3 westerns. Eis o primeiro ato contra a corrente de Clint: não tentou o western decadente americano dos anos 60. Rumou para Roma e trabalhou com o novato Sergio Leone. Acertou. Os 3 filmes mudaram o faroeste para sempre.
Em seguida ele volta à América e descobre que os tais westerns haviam feito sucesso em todo o mundo menos em seu país. Nos USA eles eram apenas cult. Mas vem Don Siegel e com ele faz Meu Nome é Coogan. Clint estoura aos 38 anos na América. E nesse filme ele já é Clint Eastwood, um solitário moralista.
Há uma cena no filme que revela quem é esse cowboy. Estamos na New York de 1968. O auge da contra-cultura. Numa festa onde todos se drogam, mulheres nuas dançam, gays se beijam e o rock lisérgico ecoa, Clint Eastwood passa em meio aos hippies indiferente, frio, distante. Olha tudo com evidente desprezo, vê naqueles moleques o que eles são: pseudo-rebeldes de araque. Estaria ele certo? Eu não sei, mas o que importa é que Clint marca posição, esposa uma moral e a mantém. Os críticos, no auge do cinema doidão, logo o chamam de fascista.
Country e jazz. Eastwood sempre foi desse mundo. Nos anos 70 seus filmes seriam os mais rentáveis e na era de Nicholson, Paul Newman e Steve McQueen ( e ainda Redford e Beatty ) era Clint o astro mais rentável. O povão caipira o amava. Uns poucos o levavam a sério. Esses poucos notavam aquilo que os outros só perceberiam a partir dos anos 90: que Clint fazia sucesso mas nunca flertava com o glamour. Jamais procurava parecer um autor. Seu amor estava nos filmes de Hawks, Huston e Ford. Os diretores invisiveis, os modestos geniais. Blasés.
Clint Eastwood começou a ser levado a sério não por ter mudado, mas quando o meio mudou. Cinema de arte e hippies sumiram do mapa, os filmes rebeldes dos anos 70 foram extintos e a droga destruiu toneladas de carreiras. O cowboy se manteve. Ficou de pé, fazendo os mesmos filmes simples e sem afetação. Grunhindo e vendo que todo cara moderninho é apenas um mero "punk".
Eu adoro seus filmes e adoro sua imagem. Me ensina o valor do tempo, a transitoriedade dos modismos e o fato de que um homem tem de escolher um caminho e se manter nele até o fim.
É a moral dos cowboys. Não há melhor.
PS: O principal: Ele me mostrou, e provei na vida real, o fato de que toda mulher procura uma rocha. Ele é o cara entre os caras.