JAIR, PELÉ, TOSTÃO E RIVELLINO ( O MELHOR ERA GÉRSON )

A maior alegria que tenho é a de fazer parte de uma geração que ainda sabia o que era ingenuidade. Não sei se por falta de informação, não sei se por causa do monte de tempo livre para ser bobo e bobear a toa, o que sei é que os pais da minha geração tinham ainda um ou dois pés no campo, e então eu e todos os caras da rua crescemos acreditando em heróis, semi-deuses e iluminados. Esse tesouro, a luz da ignorância, é o que mais valorizo em mim.
Porque é preciso ser um pouco tolo para poder criar. Se voce sabe tudo e pode explicar todas as coisas que acontecem, se voce joga luz em todo porão, voce nada consegue criar. Ter fé em coisas inexplicáveis, crer naquilo que é porque é, sem isso voce não consegue inventar uma história, uma lenda, uma saga.
Tive a sorte de ainda ser de um tempo em que a gente tinha a certeza de que todo astro do rock era um ser de outro planeta e de que todo diretor de cinema era um guru versado em segredos ancestrais. E eu sabia que todo amor era pra sempre e toda amizade era divina.
Mas eu estou escrevendo tudo isto só pra dizer que essa época fez com que um grupo de brasileiros se tornassem heróis. Que era uma emoção absurda ( ainda é ) ver alinhados Clodoaldo, Gérson, Jairzinho, Pelé, Tostão e Rivellino. A gente tinha a certeza de que eles eram perfeitos. De que eles eram genuínos, de que eram "para sempre".
Voce pode amar Ronaldo hoje. Ou Romário. Mas é diferente. Naqueles caras de 70 voce via apenas jogadores de futebol. Nada de modelos famosas, de festas glamurosas, de campanhas de midia. Nem Ferraris, nem BMWs. Voce sabia que eles eram simples, amáveis, nada arrogantes, que gostavam de uma caipirinha, um sambinha, um feijão. Cada um tinha sua marca pessoal, mas era marca feita sem jeito, sem acessor, sem grife.
Clodoaldo era o tímido, Gerson o briguento falastrão, Jair o ídolo das crianças, Pelé o melhor do mundo, Tostão o inteligente e Rivellino era o menino. Ninguém ligava muito pra cabelo, sobrancelha ou cor de chuteira. O negócio era jogar bola. Jogar e cavalheirescamente manter uma certa ética: se voce joga eu jogo.
Na última copa, a melhor das últimas três, e mesmo assim tão pobre, tive um pensamento: Tanta produção, imagens tão lindas, gramados impecáveis, para jogos tão feios. O quarto gol contra a Itália em 70 merecia esse monte de ângulos e slows e tira-teimas.
Hoje vi Rivellino. Meu coração foi pra boca. Herói pessoal é aquele que faz o máximo usando o mínimo. É o que vai ao topo e VOLTA A SUA ORIGEM. O que faz de crianças como eu ( em 70 eu tinha seis anos e nunca esqueci do que vi ) eternos apaixonados.
1970 foi um ano de heróis. E os maiores moravam aqui ao lado. E eram um bando de não-loucos, de não-bolas de ouro e de não-capas de Capricho. Que bom!