DENNIS HOPPER E OS MUITO LOUCO !

Não gosto de caras que são "muito louco!" Tem um público ( que se acha "bem louco" ) que hiper-valoriza tudo que é, aparentemente, doidão. O que gosto é do talentoso, apesar de, louco.
Dennis Hopper foi hiper-valorizado. Como ator ele era apenas esquisito. Como diretor fez apenas dois filmes legais. E só. Mas eu li gente chamando-o de gênio. Como há quem pense ser Ginsberg ou Kerouac geniais.
Antes de Hopper houve Kate Hepburn e John Garfield que foram mais rebeldes contra Hollywood e eram atores de verdade. Antes de Hopper houve Robert Mitchum que era bem maconheiro e ator de carisma real. Hopper foi apenas um doidão que viajou de ácido por vinte anos.
Porém......
Não posso negar que o rosto dele era legal de ver. Ele era engraçado e poderia ter sido um super comediante. Não posso negar que ele é, para sempre, um dos mais fortes símbolos hippies. E que mesmo que voce odeie hippies, acredite menino, sem eles voce não estaria hoje dormindo com sua namorada em paz ou vestindo sandálias havaianas e bermuda. Nosso mundo é herança hippie. O mundo antes deles era mundo de chapéu e paletó. E Hopper será sempre parte desse novo mundo. Mundo que trouxe muito mal e muito bem. Mas o principal : como acontece com Keith Richards; Dennis Hopper ( e Jack Nicholson ) não imitaram ninguém.
É fácil ser Johnny Depp ou Robert Downey. Existem antecedentes de excentricidade para seguir. Existe Keith Richards para guiar roqueiros doidos e estilosos, existe Bowie para ser molde de artistas pop irriquietos e dubios. Antes deles havia nada.
Se voce fosse esquisito voce tinha de ser esquisito de seu modo. E solitariamente. Era um mundo de ternos cinzas e cabelos engomados. Recordo, quando era bem criança, de como era ruim para alguém ter cabelo comprido. Te chamavam de bicha e de comuna. Riam de voce. E ser bicha e comuna era correr risco de apanhar. Mas tinha gente que ia adiante. Keith, Mick, Marianne Faithfull e Hopper estavam pouco se lixando. Eles abriram as portas para voce e eu podermos ser esquisitos em paz.
Subir num palco e rebolar ou berrar ou se estropiar ou ser preso é agora fácil. Todo mundo faz isso. Ser Depp ou Penn é fácil. Seu vizinho é como eles. Mas penso em como era dificil ser Mick Jagger na Londres caretíssima de 1964. E penso também, é lógico, que ser Jagger ou Keith hoje não tem a menor graça. É ser mais um.
Dennis Hopper morreu no dia de meu birth e penso que nesta década próxima teremos de ver a morte de Clint Eastwood, de Woody Allen, dos últimos Beatles e provávelmente de Iggy de Mick e Dylan. Jack, De Niro e Coppolla....
Se com as mortes de Tolstoi e depois de Joyce o mundo perdia seus últimos gigantes, aquele tipo de cara que é do tamanho do universo, tipo Freud ou Eliot, o homem de ambição sem fim; com as mortes desses heróis doidos libertários, veremos a morte dos últimos originais, os últimos a crescerem e se moldarem a sí-mesmos, sem a linha de montagem da hiper-informação e do eterno-passado-presente de hoje. Os últimos a serem originais por não terem em quem se moldar.
Fica o tiro que Hopper leva no fim de Easy Rider. Fica o eco daquele tiro. E o resto é Lady Gaga....