Como seria o grego que produziu esta obra ? Possuidor de mente jovem, onde, ele sabia, todas as possibilidades se apresentavam. Tudo por descobrir, tudo para ser feito, cada recanto intocado. Virgindade.
Teria ele a certeza absoluta da eternidade. Os deuses assistiam seu trabalho, os deuses velavam seu sono, a solidão lhe era inimaginável. Que mãos foram essas que modelaram essa face ? O que lhe passava na mente ao trabalho ? Mente jovem onde não existia a idéia de genialidade, onde não havia nenhum código a guardar e onde nada lhe distraía daquilo que importa. Jovem homem que vivia sem matar o tempo. Ele pensava na cabra fugida, na guerra iminente, nos deuses contentes, no próximo festival e na peça de Sófocles. Ele vivia todo o tempo no mundo jovem, puro, real. Cada momento lhe era como um abrir de olhos. Nascia.
E que rosto é esse com suas barbas viris, seu olhar implacável e seu cabelo que trai feminilidade ? Que homem é esse que não tem idade, não é jovem e longe está de ser um velho. Pleno de harmonia, cheio de energia, como se descobrisse tudo num suspiro. Novo para sempre.
Grego que fez esta obra imorredoura, nem o amor o distraía, nem as seduções de uma tela, nem mesmo um rádio. Olhava a vida todo o tempo, rio, deuses, lutas, praça pública, sexo, tudo inteiro e novo, ele estava lá sempre, no agora e no aqui, sem passado e sem medo do futuro, sempre e completamente : já.
Teria ele consciência do quanto era feliz ? Possuir a liberdade de campos sem dono, crer em sacrifícios e amar Atenas... e ser abençoado por Afrodite, por Zeus e por Apolo...
Depois.....
Todo momento do ocidente, desde então, seja renascença, seja romantismo, a revolução americana e francesa, e até maio de 68, todo momento onde o mundo tenta voltar a ser jovem, onde se fala em liberdade, recomeço, quebra de hábitos, harmonia, todo momento que vale à pena, é sempre uma tentativa, cada vez mais cansada, de se reviver o homem puro da Grécia ancestral. Unir Apolo e Dionisio.
Estamos velhos. Somos velhos. Com muletas. Precisamos de muletas para tudo. Um carro para viajar, drogas para suportar a vida, drogas para poder se divertir e até para sentir desejo. Precisamos de muletas. Telas para conseguir ver a vida, fotos e vídeos para poder recordar, vitaminas para se sentir forte, plásticas para tentar ser belo. Fugimos da realidade com nossas muletas porque temos a certeza de que O MUNDO ESTÁ EM AGONIA. Desde a revolução industrial, quando assistimos o fim de um tipo de mundo ( lento, sem stress, familiar, natural ) temos essa assombração de que todo o mundo está terminando. Toda nossa arte, desde então, toda nossa forma de vida e de fé, se tornou fatalista, niilista, e principalmente, se fez negação da vida real, do aqui e agora. Meninos assustados, vivem no futuro inexistente, ou no passado, idealizado. São todos românticos sem a coragem do real romantismo.
Nosso mundo está velho. As crianças estão nascendo já anciãs. Cheias de cuidados, horários e medos. Os garotos já crescem com o cinismo da desesperança, sem ingenuidade. Nascem deflorados, não conhecem a vigindade. E são dócilmente conduzidos pelas muletas de distrações senís, reanimadores e relaxantes, aparelhinhos que os confortam enquanto esperam pelo fim. Pois nunca se temeu tanto a morte. Filmes e games com braços decepados e cérebros explodidos são desesperada tentativa de banalizar a morte. A morte não é assim. É deixar de ser. É silenciosa, muda, asfixiante e invencível. Sua telinha não poderá torná-la virtual. Mas bem que voce tenta.
Tudo isso é sintoma de velhice.
Querer sempre o novo ( desde que se pareça com o que já se conhece ). Ter cara e corpo de adolescente. Não crer em coisas originais. Esquecer coisas desagradáveis. Achar que se sabe tudo. Zombar do idealismo. Descrer de política. Temer o futuro. Se apoiar com desespero em novas fés e soluções pseudo-científicas. Precisar todo o tempo de consolos e de cuidados. Idealizar a adolescencia é sintoma de velhice !
Mas aquele grego....
Vivendo ao lado daquele mar, onde ele tinha certeza viver um monstro. Pensando ter visto um deus voar entre as nuvens. Com um bosque só dele. E podendo fazer as primeiras perguntas, novas e vitais : Quem sou eu ? De onde vim ? Para onde vou ? Porque a semente se torna árvore e não um animal ? E tantas outras mais...
Tendo apenas uma cama, uma cadeira e seu prato. Nada temendo perder, nada sendo uma âncora. Sendo seu lar sua cidade, sua família seu co-cidadão, o sentido de sua vida seus deuses, e seu destino estando escrito. Onde o stress ? Onde o nada ? Vazio......
É claro que logo surgiriam gregos niilistas, gregos amargos, gregos materialistas. Mas é um EXERCÍCIO DE RACIOCÍNIO, não um niilismo de alma, um materialismo visceral. Eles estavam muito longe do viver-virtualmente.
Fica a obra. A nos lembrar de nossa infância. Do verde primeiro olhar. Uma mensagem de alegria, feita sem pretensão, quase por brincadeira, com pensamento leve, sensações reais e em meio a sol e ar de primeira primavera.
Todo grego, cada um deles, vestindo sua simples toga e indo à praça discutir o destino da cidade, foi absolutamente feliz. A felicidade de se descobrir a vida. A alegria de nascer.
Teria ele a certeza absoluta da eternidade. Os deuses assistiam seu trabalho, os deuses velavam seu sono, a solidão lhe era inimaginável. Que mãos foram essas que modelaram essa face ? O que lhe passava na mente ao trabalho ? Mente jovem onde não existia a idéia de genialidade, onde não havia nenhum código a guardar e onde nada lhe distraía daquilo que importa. Jovem homem que vivia sem matar o tempo. Ele pensava na cabra fugida, na guerra iminente, nos deuses contentes, no próximo festival e na peça de Sófocles. Ele vivia todo o tempo no mundo jovem, puro, real. Cada momento lhe era como um abrir de olhos. Nascia.
E que rosto é esse com suas barbas viris, seu olhar implacável e seu cabelo que trai feminilidade ? Que homem é esse que não tem idade, não é jovem e longe está de ser um velho. Pleno de harmonia, cheio de energia, como se descobrisse tudo num suspiro. Novo para sempre.
Grego que fez esta obra imorredoura, nem o amor o distraía, nem as seduções de uma tela, nem mesmo um rádio. Olhava a vida todo o tempo, rio, deuses, lutas, praça pública, sexo, tudo inteiro e novo, ele estava lá sempre, no agora e no aqui, sem passado e sem medo do futuro, sempre e completamente : já.
Teria ele consciência do quanto era feliz ? Possuir a liberdade de campos sem dono, crer em sacrifícios e amar Atenas... e ser abençoado por Afrodite, por Zeus e por Apolo...
Depois.....
Todo momento do ocidente, desde então, seja renascença, seja romantismo, a revolução americana e francesa, e até maio de 68, todo momento onde o mundo tenta voltar a ser jovem, onde se fala em liberdade, recomeço, quebra de hábitos, harmonia, todo momento que vale à pena, é sempre uma tentativa, cada vez mais cansada, de se reviver o homem puro da Grécia ancestral. Unir Apolo e Dionisio.
Estamos velhos. Somos velhos. Com muletas. Precisamos de muletas para tudo. Um carro para viajar, drogas para suportar a vida, drogas para poder se divertir e até para sentir desejo. Precisamos de muletas. Telas para conseguir ver a vida, fotos e vídeos para poder recordar, vitaminas para se sentir forte, plásticas para tentar ser belo. Fugimos da realidade com nossas muletas porque temos a certeza de que O MUNDO ESTÁ EM AGONIA. Desde a revolução industrial, quando assistimos o fim de um tipo de mundo ( lento, sem stress, familiar, natural ) temos essa assombração de que todo o mundo está terminando. Toda nossa arte, desde então, toda nossa forma de vida e de fé, se tornou fatalista, niilista, e principalmente, se fez negação da vida real, do aqui e agora. Meninos assustados, vivem no futuro inexistente, ou no passado, idealizado. São todos românticos sem a coragem do real romantismo.
Nosso mundo está velho. As crianças estão nascendo já anciãs. Cheias de cuidados, horários e medos. Os garotos já crescem com o cinismo da desesperança, sem ingenuidade. Nascem deflorados, não conhecem a vigindade. E são dócilmente conduzidos pelas muletas de distrações senís, reanimadores e relaxantes, aparelhinhos que os confortam enquanto esperam pelo fim. Pois nunca se temeu tanto a morte. Filmes e games com braços decepados e cérebros explodidos são desesperada tentativa de banalizar a morte. A morte não é assim. É deixar de ser. É silenciosa, muda, asfixiante e invencível. Sua telinha não poderá torná-la virtual. Mas bem que voce tenta.
Tudo isso é sintoma de velhice.
Querer sempre o novo ( desde que se pareça com o que já se conhece ). Ter cara e corpo de adolescente. Não crer em coisas originais. Esquecer coisas desagradáveis. Achar que se sabe tudo. Zombar do idealismo. Descrer de política. Temer o futuro. Se apoiar com desespero em novas fés e soluções pseudo-científicas. Precisar todo o tempo de consolos e de cuidados. Idealizar a adolescencia é sintoma de velhice !
Mas aquele grego....
Vivendo ao lado daquele mar, onde ele tinha certeza viver um monstro. Pensando ter visto um deus voar entre as nuvens. Com um bosque só dele. E podendo fazer as primeiras perguntas, novas e vitais : Quem sou eu ? De onde vim ? Para onde vou ? Porque a semente se torna árvore e não um animal ? E tantas outras mais...
Tendo apenas uma cama, uma cadeira e seu prato. Nada temendo perder, nada sendo uma âncora. Sendo seu lar sua cidade, sua família seu co-cidadão, o sentido de sua vida seus deuses, e seu destino estando escrito. Onde o stress ? Onde o nada ? Vazio......
É claro que logo surgiriam gregos niilistas, gregos amargos, gregos materialistas. Mas é um EXERCÍCIO DE RACIOCÍNIO, não um niilismo de alma, um materialismo visceral. Eles estavam muito longe do viver-virtualmente.
Fica a obra. A nos lembrar de nossa infância. Do verde primeiro olhar. Uma mensagem de alegria, feita sem pretensão, quase por brincadeira, com pensamento leve, sensações reais e em meio a sol e ar de primeira primavera.
Todo grego, cada um deles, vestindo sua simples toga e indo à praça discutir o destino da cidade, foi absolutamente feliz. A felicidade de se descobrir a vida. A alegria de nascer.