O agente 86 espelha de forma exemplar toda a ruindade que insiste em atacar o cinema feito nestes tempos acéfalos. Mostro alguns dos motivos.
Um crítico fez uma exaustiva pesquisa e chegou a seguinte conclusão : quando num filme, uma tomada dura menos que 8 segundos, nosso cérebro não consegue articular conceitos sobre tal cena. Com menos de 4 segundos, não conseguimos sequer pensar sobre o que está sendo mostrado.
Em seguida ele cronometrou cada tomada, cada corte, de vários filmes. Em média, o tempo entre os cortes, hoje, é de 4 segundos. Armagedon chega aos 3 segundos e Pearl Harbour aos 2,5 segundos. Os filmes de Woody Allen chegam a ter 15 segundos...
Porque isso ? Dois são os motivos principais : Primeiro o fato de que os produtores acham que o público é idiota. Acham que não suportaremos ver duas pessoas conversando sem que aconteça um corte, outro corte, um zoom, uma tremida de camera, um efeito de som. Segundo, a insegurança dos diretores. Eles não confiam em sua própria habilidade ( e na de seus atores ) e maquiam qualquer cena com todo tipo de adereço que distraia o público do que possa dar errado.
Agente 86 é uma comédia tola. Uma comédia onde não há uma só frase memorável. Um filme que chega ao cúmulo de enfeitar um diálogo com 4 posições diferentes de camera ( sem que haja nenhum motivo para isso ).
Há uma cena de briga entre o 86 e um tal de Dwayne ( um ator que faz Arnold parecer Olivier ). O que é mostrado ? Uma parede, uma face, mãos, chão, algo caindo, um olho, um tombo. Voce viu a briga ser encenada ? Observou a habilidade dos stunts ? Voce não viu nada. E engoliu passivamente, sem tempo de pensar sobre o que aconteceu.
Qual a interação entre os dois agentes ? Uma relação que poderia ter dois ( só dois, please!!! ) diálogos, tem apenas momentos abortados que nunca vão adiante ( e que fazem o romance entre Fred Flintstone e Wilma parecer adulto e profundo ). Anne Hathaway, uma atriz elegante e bonita, que consegue parecer inteligente ( o que é raro ), passa todo o filme com um ar de : help me!
Quanto ao tão elogiado Steve... por favor! Basta assistir aos extras para se ver o quanto ele é ruim!! Nos extras ele "imita" sotaques e modos de se comunicar. A maneira como ele faz um italiano é tão ruim, tão sem graça, tão idesculpável que chega a ser cruel com o próprio ator. Dá vergonha.
Ao final, o filme tem uma interminável sequencia de ação toda picotada para parecer ágil. Não interessa mais. O filme já se perdeu.
As pessoas precisam ir ao cinema.
Em seu tédio e sua aversão a ler ou caminhar pela cidade; elas necessitam de duas anestesiantes horas no escuro. Elas vão ao cinema para comer pipoca, beber Coca e sentir que "fizeram algo". O que o cinema lhes dá ? Imagens que acompanham a pipoca, que complementam a bebida e um torpor- tolo que as envia de volta para casa com a sensação de que "estiveram em algum lugar".
È muito pouco o que elas pedem. E mesmo assim, os produtores lhes dão menos.