NA COMPANHIA DOS LOBOS

Houve uma bela geração britânica surgida nos 70/80: Ridley Scott, Alan Parker, Ken Loach, Jim Sheridan, Mike Leigh, e o melhor deles, Stephen Frears.
Neil Jordan dirigiu este filme em 1984, e raramente um filme foi mais sensual. ( sem mostrar nada de sexo ou nudez ).
Estamos, no filme, dentro da mente de uma menina. É o momento em que seus impulsos sexuais es´tão palpitando, é o final da infancia. Ela, corajosamente, enfrenta a floresta, toma contato com o lobo e abandona seus brinquedos.
Tudo isso contado com um maravilhoso clima onírico, sinuoso, rodeante. Lembra um Tim Burton mais adulto, mais sensual. Um delicioso filme que não assusta, seduz.
Quando criança eu acreditava nesse mundo. Minha mãe me falava dos lobos que seu pai enfrentara nas montanhas de Espanha/Portugal, nos invernos em que ele conduzia as ovelhas sózinho. Ela me falava das bruxas que ele espionava na mata, bruxas dançando nuas em clareiras de inverno. Minha mãe contava de corujas-humanizadas e olhares fulminantes de gatos do demo.
Eu acreditava em tudo. E as fábulas que ela me contava ( sempre em manhãs de chuva, antes da escola ) eram as histórias de Cinderela, Branca de Neve, Chapéuzinho Vermelho, mas em suas versões pré- Disney, ou seja, tenebrosas, sujas, assustadoras.
Creio que tudo que amo nasceu desse clima. Creio que minha Ireland nasceu aí.
Este filme mostra um pouco disso.