UM FILME FEITO DE JAZZ

SHORT CUTS foi homenageado pelo cristão PT Anderson no infinitamente inferior Magnólia.
Mas Short Cuts é puro e genuíno jazz. As cenas correm e se embaralham como quartetos que viram big-bands e viram solos e viram trios.
Histórias numa LA cheia de calor e de sexo. Personagens que se cruzam e se ignoram ou se agridem. Mas Altman é mais, muito mais inteligente que PT e portanto seu filme tem ironia.
Pessoas esforçadas mas de pouco brilho, tendem a ritualizar a arte. Não percebem humor onde há. Levam tudo a sério. Acham que o valor só existe na cara de compenetrado. Isso é que destruiu o tal CLUBE DA LUTA, um roteiro hilário que o fracote diretor levou a sério. Isso é que dá genialidade a Altman, que leva Short Cuts no sorriso, na malandragem, no jazz.
Neste filme ninguém se redime, não há arrependimento, nem perdão. Não caem sapos do céu, vem um terremoto do fundo da Terra. E ninguém muda por isso.
Short Cuts também tem sua morte, mas ao invés de um velho, é uma criança. E Altman evita choros, ajoelhamentos, magia. Ele mostra, exibe, festeja, e nunca se perde.
Tom Waits tem o papel da sua vida e rí e nos faz gargalhar durante o terremoto, numa cena toda improvisada. Lily Tomlin resplandece de vida e vigor. Tim Robbins nos conquista num papel difícil e Frances McDormand está ao nível alto que esta atriz magnífica sempre exibe. E temos ainda Julianne Moore, Madeleine Stowe, Robert Downey, e muito mais.
Annie Ross é quem canta e por Deus, como canta !!!!!!
Minha crítica favorita Pauline Kael, diz que Altman é uma lição de sanidade. Seus bons filmes mostram como ser são num mundo enlouquecido. Pois eu digo que Short Cuts ensina tudo sobre fazer filmes, escrever roteiros e atuar.
E viver também.