carta a um amigo

Eu cresci acreditando que Carajás faria do Brasil uma nação rica.
Acreditei que venderíamos soja pro mundo, e isso daria saúde e escola boa para todos.
O mundo precisa de carne, logo, obedecemos e criamos boi. E daí ?
A Amazônia é nossa, o mundo precisa dela.
Notou que tudo é voltado para o que o mundo quer, nunca o que nós precisamos ?
Agora é a cana. Ou o petróleo. Porque eles vão precisar. E daí ?
A história nos diz que o provável é que vinte senhores ficarão bilionários vendendo cana e que a nação continue com velhos morrendo nas filas ou mendingando um salário mínimo.
Agro-boys não são confiáveis. Derrubarão safras de alimentos ( sem valor lá fora ) para sustentar o que o primeiro mundo necessita.
E espere...não é triste que em pleno século vinte e um ainda somos um país agrícola. Não é hora de se tornar um país de tecnologia, informática, indústria química ?
Claro que o Brasil está crescendo. Como cresceu com Vargas, Juscelino, Médici, Fernando Henrique...mas para as carências que temos, o tempo que perdemos, cresce devagar demais.
Quando voce pisa num país rico o choque é imenso!
Pessoas relaxadas, andando pela rua sem se preocupar com comida, aluguel, crime, estupro. Ruas sem buracos, polícia bem equipada, escolas bem conservadas. Os alunos aprendem ! Os hospitais atendem ! Praças às dúzias, rios razoavelmente limpos, pessoas bem vestidas, bem nutridas.
Nos anos 70 todos acreditavam que a Europa era o inferno na Terra, e que o Brasilzão era o paraíso ( sem fome, sem terremoto, sem crime ). A Europa tinha terrorismo, greves, drogas e um povo triste e deprimido. Eu acreditei nisso. Fui ingênuo. Fui lá e olhei.
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A França em 1976 ( quando fui a primeira vez ) vivia sob greves diárias. Bombas no metrô, Paris fedia. Bairros inteiros eram sujas ruínas do inicio do século. O país era um caos. Mesmo assim gostei muito. Era mais civilizado, mais rico e tinha uma alegria de anos 20. Era uma pobreza pitoresca. A do Brasil era apenas feia.
Voltei em 82, e a cada vez que retorno o país está cada vez mais novo, mais rico, mais retocado.
Falar na pobreza da França é falar nas hordas de imigrantes, que aportam todos os dias sem dinheiro, trabalho ou cultura. Criam cortiços, criam gangs. O erro francês é o de hesitar para fechar suas fronteiras. Isso pode ser ruim para mim mesmo, mas é o certo para quem lá vive.
Em 1976, éramos a oitava economia do mundo. Beleza isso! Os economistas adoravam. O governo adorava. Os patriotas inflavam o peito e riam da Suécia, Bélgica ou Espanha.
Trinta anos depois... o que mudou ?
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O exemplo é a Espanha. Um país que nos 70 era risível e hoje cresce assustadoramente. Investiu em educação, tecnologia e se tornou agressivo. Não ficou plantando azeitona e laranja porque o mundo precisa de azeite.
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O europeu de hoje come mais, consome mais, viaja mais, e trabalha menos que o europeu de 1976.
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Quanto a China.
Não há um renascimento cultural chinês. Mesmo com toda facilidade de comunicações de hoje, não se vê ninguém seguindo tendencias ou novidades chinesas.
Para crescer, a China precisou e precisa de capital. Esse capital foi conseguido com enormes investimentos japoneses, americanos e agora europeus. Há um interesse do primeiro mundo no crescimento chinês.
A China não tem o menor interesse em tomar o lugar dos EUA ou da Europa. Eles querem ser como o Japão. Discretos, sem policiar o mundo, sem se comprometer. Esse papel continuará sendo dos americanos, que nasceram pra isso.
Toda grande nação atrai imigrantes. Será cômico ver como os chineses lidarão com influencias latinas, árabes, negras, indianas.
Quando o povo adquire um pouco de dinheiro ele começa a querer mais dinheiro e mais consumo. Começa a viajar e conhecer outros modo de viver e de existir. Começa a questionar. Capitalismo-consumo-liberdade. A China sofrerá enormes pressões internas ao enriquecer. Poderá até se desmantelar. E se a linha dura tentar sufocar isso, todo o ímpeto de crescimento se desfará.
Toda mente brilhante procura se situar onde seu brilho pode se espandir livremente e onde esse brilho é valorizado. Esse é o segredo americano ( que foi ensinado pela Inglaterra). Duvido que Pequim atraia mentes a procura de liberdade e divulgação.
A China cresce como um gigantesco bazar.
Seu futuro é de nação central ( quando não foi ? ).
Criará uma classe média que dirigirá BMW e Mitsubishi, beberá Coca-Cola e vinho francês, assistirá Batman e Simpsons, tentará se parecer com londrinos e rapers, vestirá marcas italianas e será cheia de McDonalds, HSBC e Santander.
Todo chinês é obediente. Consumirão e trabalharão pelo bem do primeiro mundo.
Não há nada de novo na China e toda nação dominante trouxe algo de novo à cultura do mundo ( Atenas, Roma, Bizancio, Veneza, França, Inglaterra e EUA ).
Todos somos atenienses, romanos, venezianos, iluministas, vitorianos e americanos.
Não vejo como acrescentar chineses.
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Perca o medo de conhecer o melhor. É absurdo que alguém de alguma cultura não possua a curisidade de conhecer os centros que formaram a cultura humana. Ou será vergonha ?
Saia desse gueto latino-americano, desse antro de rancores, invejas e republiquetas de corruptos-machinhos-vermesinhos. Conheça o que deu certo e não a sujeira fedida do mundo.
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No mais
Todo ser pensante tem a obrigação de questionar tudo, apontar a sujeira de tudo e jamais estar satisfeito. Posso apontar milhares de defeitos europeus ( racismo, esnobismo, preguiça ), mas moro aqui, e sei do antro de crimes, misérias e injustiças que este país é. Basta olhar quais amigos nossos têm bom emprego e bom futuro.
Semana passada aconteceu um tiroteio na porta da loja da minha mãe. Quatro mortos, uma criança atropelada. Uma bala perdida acertou a fachada da loja. Este é realmente um país que vai pra frente.
ABRAÇO.