SIDNEY SWEENEY E OS GENES

Está acontecendo um rebuliço por causa de uma propaganda de jeans que tem Sidney como star. No dito anúncio, Sidney usa a marca e diz que jeans é uma questão de sorte. Ou genes. ------------ Em inglês jeans e genes soam igual. E pronto, a esquerda americana já caiu de pau sobre a campanha. Sidney Sweeney foi acusada de nazi, afinal seu nome é S.S. A marca de jeans foi cancelada, pois ela prega a supremacia branca. Bem, voce conhece o discurso. --------------- A marca está batendo recordes de venda e a atriz está em alta como nunca. -------------- Quero destacar aqui alguns pontos. Primeiro a burrice da esquerda woke. Sempre que esse povo ataca alguém esse alguém se torna.... alguém. Segundo o ódio que esse povo tem ao mundo real. Sim, genes são sorte. Se voce nasce bonito é uma sorte e isso é biologia. Não adianta fingir que o feio é belo, todos sabem que beleza é saúde, equilíbrio corporal, boas proporções. Não há nada a fazer sobre isso, não adianta gritar. --------------- Terceiro, voce não muda a realidade da vida, voce pode a melhorar mas nunca a eliminar. Então, por mais que voce deseje, seu corpo fraco ou feio nunca será belo. Portanto, desenvolva sua inteligência, sua educação, seu estilo. O corpo, mesmo gastando milhôes em procedimentos e academias, ele será sempre algo feio que sofreu procedimentos. Nada mais que isso. ---------------- Mas é vendido à esse povo que basta pensar que ser feio é belo e zap: `eu sou lindo!!!!!! Claro que o objetivo é movimentar o comércio de clínicas e academias, mas voce não precisa saber disso. -------------- Mas há algo mais hipócrita em toda essa história: a estigmatização da beleza. Como dizia Scruton, beleza é força, e procurar o belo, amar ao belo dá ao homem coragem e um motivo para amar a vida. Pessoas cercadas pela degradação, pela feiúra, são pessoas sem coragem e sem moral que as erga. Ou seja, são domináveis. O que mantém um povo unido e destemido é a beleza de sua nação e o que os destroi é perder esse valor. Quando uma civilização passa a ser obrigada a engolir o feio e o grotesco como coisas "desejáveis" essa civilização passa a ser flácida, indiferente, pronta a ser dominada. --------------- Vai aqui um adendo: eu sou feio e sei do que falo. Feios são a maioria e a beleza é sempre rara. Mas sendo feio eu sempre amei a beleza, seja a beleza de um poema, um prédio ou uma mulher. Essa beleza, indiscutível, instintiva, biológica, comum, deu a minha vida prazer, cor, alívio e um desejo inquebrantável de a preservar para a usufruir. Essa é a FIBRA MORAL que a beleza nos dá. Nós lutamos para a preservar contra quem a quer aviltar. ----------------- Essa beleza é representada por uma bandeira, um hino, uma igreja ou por Helena, a mulher bela que provocou uma guerra. Se voce é feio como eu sou, não se sinta amaldiçoado, a beleza é para ser cultuada. ----------------- O pensamento woke humilha o feio, porque faz com que ele se sinta incapaz de suportar a beleza e portanto seria preciso eliminar tudo que é belo. Fazer então um anúncio com uma mulher feia, para não humilhar o pobre feio impotente. Modo infantil de pensar. Ou melhor, modo hábil para fazer de um povo um bando de bebês.

CRIAÇÃO - GORE VIDAL

O tema não poderia ser mais interessante: As memórias de um velho, imaginário, que teria vivido por volta de 500 AC. Crescido na Persia, em meio ao poder, suas memórias envolvem Xerxes, Ciro, Pitágoras, Buda. Suas viagens rumam ao leste, India. Mesmo tendo 750 páginas, é fácil de ler. Costumes, cenários, são mais que fascinantes, são vitais. Mas de repente acontece algo inesperado com o leitor: ele começa a sentir um cheiro enjoativo de kitsch. Os diálogos revelam aquilo que eles são, diálogos de série de TV. O modo como os personagens pensam são típicos do século XX. Basta dizer que a maioria se mostra ateu. Assim que esse kitsch surge o interesse se esvai. Não, não estamos numa fascinante viagem ao passado, estamos lendo um roteiro para uma série de TV sobre o que seria uma trip pelo passado. As pessoas nesse livro seriam incapazes de escrever o que se escreveu na época. E a India, principalmente a India, é um país típico do século XIX-XX, jamais o local que fervilhava a 2.500 anos. ----------------- Well... Vidal é sempre um bom escritor, ele tem charme, e se voce deixar pra lá a veracidade histórica, o livro pode divertir muito como aquilo que ele é de fato, um romance superficial sobre um tempo especial.

JACQUES, O FATALISTA- DENIS DIDEROT

De toda a produção de Diderot, filosofia, contos, romances, peças, e a elaboração da Enciclopédia, Jacques é, provavelmente, sua obra mais lida. Mas não no Brasil, pois aqui este romance picaresco não vê uma edição desde 1962! ------------ Picaresco na tradição do Quixote, apesar de Diderot ter como modelo de seu livro o Tristem Shandy de Laurence Sterne, um dos livros mais loucos que já li ( e divertidos se voce penetrar nas loooooongas digreções ). Nas suas primeiras páginas Jacques copia literalmente algumas situações de Sterne, mas depois ele segue seu rumo. Jacques tem um amo, e estamos nas estradas da França, por volta de 1780. Os dois, Jacques e amo, se envolvem em situações aventurescas e ao mesmo tempo Jacques conta histórias sem fim, pois ele interrompe toda narrativa ao lembrar de outros casos. O que Jacques advoga é que não temos nenhum livre arbítrio, tudo que nos acontece já está escrito e portanto viver é deixar as coisas seguirem seu rumo, pois se é para ser, será. O amo não aceita isso muito bem, mas nunca discutem. As aventuras, que Jacques aceitará como destino, serão uma chance de aprendizado. -------------- Sim, é uma comédia, mas com a cor racional de um iluminista do século XVIII. Esta obra, redescoberta no século XX, hoje considerada uma obra prima, não acho que seja tanto assim, faz rir, faz pensar, faz ler, exatamente o que seu autor queria.

Jazz At Massey Hall - ⑤Salt Peanuts

JAZZ AT MASSEY HALL - UM DOS MELHORES DISCOS DE JAZZ QUE OUVI NA VIDA

Voce sabe, o Be Bop mudou o jazz e a cultura para sempre. A cultura? Sim, literatura, cinema, até a pintura, o Bop deu uma injeção de vitalidade em linguagens que pareciam nada ter a ver com jazz. Por que? Como? Liberdade é uma das palavras que podem ser usadas, mas além dela pode-se falar em velocidade. O Bop é livre e é veloz, rápido, como um tufão de notas e de sensações. Mas, talvez o principal, o Bop é quebrado, é feito de fagulhas, de fragmentos que se colam em um todo explosivo. E além do mais, é malandro pra caramba! --------------- Voce sabe, Dizzy Gillespie criou o estilo, e com seu cavanhaque pontudo, a boina preta e os óculos deu a cara ao estilo. Seu trompete, quente, muito hot, é oposto ao cool de Miles. Enquanto o cool pensa, Dizzy e o bop tacam fogo em tudo. Charlie Parker veio junto, e o sax de Bird-Parker foi reinventado por ele. Parker fez ao sax o que Hendrix fez na guitarra. Eu posso preferir Lester Young, e prefiro, mas reconheço que Parker é o centro da coisa. Ele picou o som, soltou o fogo que não se sabia que o sax podia produzir. São notas e mais notas no meio da melodia. Hipnose. --------------- Voce sabe, o Bop teve ainda Charles Mingus, Bud Powell, Max Roach. Mingus tirou o contra baixo do fundo do som e do palco e o trouxe à frente, como instrumento solista. Técnico e lírico. Powell é um gênio do piano. Não há o que dizer mais sobre ele. Torturado pela incapacidade de viver, Bud Powell deu ao piano uma técnica sem limite. Ele faz o que quer e como quer. E Max Roach foi o baterista que reatou os tambores à sua raiz tribal. Todos eles tinham personalidades dificeis e apenas Dizzy era uma pessoa saudável. Os egos eram imensos, a paciência nenhuma e por isso este disco é um momento muito especial. Foi a única vez em que esses cinco gênios puderam ser gravados. E ao vivo, frente à um público entusiasmado. -------------- Para voce ter uma ideia seria como colocar Lennon, Hendrix, Dylan, Jagger e Keith Moon juntos em uma banda. -------------------- O disco me surpreende muito. É ainda melhor do que eu esperava. É punk no modo como os músicos vibram no palco. Eles gritam durante os solos, falam, dão toques, gemem. Salt Peanuts, gíria que significa "orgão sexual feminino" é um dos climaxes na história do jazz. Dizzy canta a letra: Salt Peanuts! ( essa é toda a letra ) e a platéia vem abaixo. É uma excução que bota a casa abaixo. Mas não é só essa faixa que me deixa espantado. Todas mantém o pique, o fogo, o tesão por tocar e por ouvir. A interação é completa entre os músicos, e ao mesmo tempo a anarquia está sempre a um fio. Percebemos que o fogo pode tomar tudo e se tornar um incêndio descontrolado. O baixo segura o ritmo, mas ameaça partir para outra direção. O sax de Parker sai voando e parece não ter como voltar. A bateria bate forte demais e não sabemos se o ritmo vai se perder. E Powell dedilha mil notas em um minuto e talvez isso seja demais. Mas, incrível, eles não se perdem! A coisa dá certo e por ser tão ousado, é genial. -------------- Não há como conhecer jazz sem conhecer este disco. É monumental. Eles são OS CARAS!

OS ANOS 20 - EDMUND WILSON

Que bagunça! Leon Edel pega os cadernos de Edmund Wilson, seus diários dos anos 20, e os organiza para publicar. O que temos é uma confusão. Wilson não teve tempo para jogar fora e manter, filtrar e dar forma aquilo que podia ser feito livro. O que temos são frases, pensamentos e descrições, algumas bem interessantes, a maioria repetitiva. ------------------- Wilson foi crítico central nos EUA da primeira metade do século XX. Ele foi a maior influência sobre Paulo Francis em estilo, mas não em gosto. ( Francis gostava de se imaginar herdeiro de George Bernard Shaw, não foi ). É um modo agradável de escrever, cheio de fofocas, de excelente cultura e cosmopolita ao máximo. Há algumas tiradas neste livro, em meio às infindáveis descrições de festas, mulheres, porres e desilusões: O Homem é um ser pensante assustado pela imensidão do Cosmos. Somos a única consciência a olhar o espaço frio e sem fim. ------------------- Wilson fala também sobre o problema central do romance: é sempre uma única mente, a do autor, vendo o mundo com seus olhos e tentando criar no romance a justificativa ao seu modo particular de pensar e de sentir. Não há como existir um livro realista ou verdadeiro, pois é uma mente particular tentando criar algo de coletivo. ---------------------- Edna Millay, poetisa americana, casamenteira infiel, bela e ninfomaníaca, foi o amor mais insistente de Wilson. Não podia dar certo, ela o esnobava. Há vários casos dele neste livro, ele era mulherengo, assim como belas descrições da vida em Yale e Harvard. Wilson queria ser romancista e poeta, se tornou um grande crítico. Ele ajudou os EUA a entenderem Joyce, Proust e Eliot, criou público para autores pouco lidos então e deu justo valor a Turgueniev e Anatole France. Não foi pouca coisa.

A DAY IN THE LIFE - WES MONTGOMERY

porque eu gosto tanto de jazz? ouça o que Wes Montgomery fez com a canção dos Beatles. swing baby, swing.

A Day In The Life

A ERA DE T.S.ELIOT - RUSSELL KIRK ( A IMAGINAÇÃO MORAL DO SÉCULO XX ).

Russell Kirk viveu até 1994. TS Eliot até 1965. O poeta americano-inglês era 30 anos mais velho que Kirk, mas isso não impediu que os dois fossem amigos. Portanto, esta biografia é diferente da maioria pelo fato de que o autor conheceu pessoalmente o objeto da obra. Outro fato que a diferencia é que Kirk foca muito mais no trabalho de Eliot que em sua vida pessoal. Que vida pessoal? ---------- Eliot nasceu numa abastada família de St, Louis a beira do Mississipi. O rio teve imensa influência sobre sua alma, assim como a rápida destruição da cidade. Rapidamente St, Louis deixou de ser uma cidade rica e mergulhou na decadência. Indo estudar em Harvard, com a família já em processo de pobreza, Eliot passou a ter problemas financeiros pelo resto da vida. Se fez funcionário de banco, trabalhava no porão de uma instituição financeira em Londres, para onde se mudou. Nunca mais voltou a morar nos EUA. Terno, gravata, chapéu coco, guarda chuva. Frio, educado, gentil, amigável. E distante. Esse era Eliot. Casado, sua esposa logo revelou sinais de esquizofrenia. Autor do poema central do século XX, The Waste Land, obra que traz a imagem da desolação dos tempos modernos. Um sucesso entre intelectuais que o fez famoso, mas não menos pobre. Continuou no banco por quase toda a vida. Lançou a Criterion, a melhor revista cultural do seu tempo, o tempo das revistas culturais. Foi amigo de Wyndham Lewis, Ezra Pound, George Orwell, Roy Campbell, Aldous Huxley, Bertrand Russell, WB Yeats. Todos escreveram em sua revista. E muitos outros. Converteu-se ao anglicanismo e se dizia classicista e conservador. Naturalizou-se inglês. Percebeu antes de qualquer outro a destruição total da cultura europeia nas duas guerras. Escreveu pouco, sua obra é curta, e foi até sua morte o mais importante autor de seu tempo. Nobel em 1948, finalmente, ao fim da vida, foi feliz. Se casou aos 68 anos com sua secretária, de 30 e ficaram juntos até sua morte, oito anos depois. Em cartas se dizia feliz. Por toda a vida Eliot procurou salvar a Europa de sua destruição, foi uma luta perdida, mas dentro dessa luta, feita em poemas, peças, artigos, livro se reflexão, entrevistas, Eliot produziu uma obra sem igual. É o grande poeta do século e o último com estatura universal. ---------------------- Russell Kirk nasceu numa pequena cidade do centro dos EUA. Sua família, imensa, vivia no casarão que fora de seu avô. Uma casa de 200 anos. ( Uma diferença imensa dos EUA para o Brasil é que lá não é impossível encontrar casas de 200 ou 300 anos, mesmo o país sendo tão jovem quanto o nosso. Isso revela um amor pelo passado que inexiste aqui ). Kirk foi aluno brilhante em sua universidade e logo se tornou um campeão da causa conservadora. Seu pensamento é claro, objetivo, sincero. Ético. Lançou vários livros e sua biografia de Eliot é ponto central. Algo que revela quem foi Kirk é sua casa. Ele ampliou o casarão da família e nela abrigava escritores que não tinham onde ficar. Um andarilho hippie morou lá até o fim da vida. E foi enterrado no jardim. Kirk teve vários filhos e foi um homem feliz. Apesar de sua profunda irritação com a destruição cultural feita pela esquerda americana e inglesa. -------------------- Passo agora a comentar alguns, poucos, tópicos do livro. Pontos que pego ao acaso, quem puder que o leia, a obra é enriquecedora. Sua mente respira enquanto voce o lê. ------------------- Toda filosofia de Eliot é centrada no conceito de IMAGINAÇÃO MORAL. O que seria isso? A capacidade de imaginar a vida e a época de outros tempos. O dom de entender e manter vivos aqueles que já partiram. A fidelidade aos mortos. Sem isso, a cultura inexiste. Para conseguir tal poder, é preciso o estudo humanitário, o aprendizado de história, de filosofia, ética, retórica, grego e latim. É preciso que a educação seja vista como formação de pessoas cultas e educadas e não de trabalhadores. Eliot criticava muito a educação feita a partir dos anos 1930, uma educação socialista, feita pelo nivelamento de todos, educação que oprime a originalidade, o talento, a ousadia, em prol de um igualitarismo assassino. A decadência da cultura passa por esse nivelamento ao gosto do menos dotado. ---------------------- Eliot odiava Rousseau e Emerson, dentre outras coisas pelo sentimento infantil que há em ambos. Eles eram otimistas, acreditavam na bondade e só na bondade. Tiraram do mundo o sentimento trágico e sem esse sentimento não existe arte profunda. Todos os grandes autores são trágicos, mesmo os que fazem comédia. Eles conhecem o MAL e a MALDADE, e sabem que no mundo há uma luta sem fim entre bem e mal. Acreditam no inferno mesmo que não conheçam Deus. Liberais, progressistas, socialistas conseguem produzir bons livros, alguns de real valor, mas sem so setimento de pecado, de tragédia, nunca chegam a realizar uma obra completa. Sempre há algo de infantil neles. Isso porque eles negam a queda, o pecado original, a culpa que todos nós carregamos. Eles percebem a vida, por mais triste e melancólica que seja suas obras, e são, como se o Paraíso fosse possível, como se o progresso pudesse nos redimir. Eles são tristes, jamais trágicos. São alegres, nunca felizes. ---------------------Um autor que não dialoga com os autores do passado, QUE NÃO SEGUE ALGUMA TRADIÇÃO, está só. Daí o solipsismo de tantos escritores. É preciso, como na vida, fazer parte de uma comunidade, de uma rede de contatos espirituais, para assim IMAGINAR MORALMENTE aquilo que se conhece e se deve fazer. Sem isso a obra e a vida se fazem esterilidade. ------------------ As revistas literárias, que começaram a se estinguir a partir dos anos de 1940, com suas tiragens de 500 ou 2000 exemplares, eram as grandes divulgadoras de cultura. Apesar da bixa tiragem, cada leitor era um divulgador de suas mensagens para amigos e colegas. Mantidas por assinatura, elas tinham a liberdade de escrever para conhecdores. Todo autor grande ou iniciante escrevia nelas. Eram milhares de títulos. Mas o rádio, o cinema e principalmente os cadernos culturais dos jornais mataram essas revistas. E foi, como na educação, uma nivelação por baixo. A cultura do jornal diário se tornou barata, simples, feita para o semi analfabeto. O fim das revistas culturais trouxe a interrupção da divulgação elitista. E Eliot sabe que a grande arte É SEMPRE ELITISTA. ( Penso se os jornais, sempre ciumentos, não tentam fazer o mesmo com a internet ). ------------------- Falando agora de filosofia, Eliot criticava no mundo moderno a aptidão pelo prazer obejtivo. Tudo, na cultura, educação, estilo de vida, era feito para a rápida satisfação de um desejo. O homem se tornara um ser que deseja e nada mais que isso. Toda a vida do espírito, todo o mistério da vida, fora jogado ao lixo. Como consequência, a vida estava mergulhada em tédio e ansiedade. Essas as únicas sensações possíveis. O tédio do vazio e a ansiedade do desejo nunca satisfeito. Para Eliot, o espírito existe no CENTRO DO EIXO, a vida é como um vórtice que gira, e a alma é o centro imóvel, atemporal. O mundo moderno, mundo dos liberais que só visam o futuro e dos socialistas que só pensam em destruir para recomeçar, é incapaz de perceber o que não é futuro e não pode ser destruído, o espírito. Essa foi a luta central de Eliot, salvar a alma do mundo do esquecimento. ----------------------- Duas frases de Eliot que anteciparam nosso mundo: " No dia em que as crianças estiveram com aparelhos enfiados nos ouvidos, escutando uma estória antes de dormir, em vez da voz da mãe; no dia em que as pessoas falarem de MEU CACHORRO, MEU CARRO, MEU DESTINO, e não mais falarem de MEU DEUS, nessa hora o mundo estará mergulhado no mais absoluto tédio, pessoas vivendo em absoluta indiferença, sem paixão, sem céu ou inferno, ocos e nos limbo". -------------------Não existe civilização sem Deus. Ao retirar a Lei Moral, Divina, do mundo, todo o arcabouço da civilização cai por terra. Ao retirar Deus do estado, esse estado se torna ditatorial, pois somente com a força da violência se poderá manter as pessoas unidas. O que une um povo é a fé em um mesmo Deus. Sem isso somos seres isolados. ----------------------- Intelectuais tentarão colocar ideologia no lugar da . Mas isso será ineficiente. Ideologia leva sempre à ditadura, isso porque TODA ideologia precisa da conformidade ao dogma. Mais uma vez, é preciso a força para manter a Ordem. Um povo sem Deus é um povo sem ordem porque é um povo sem a LEI MORAL. Ideologos pensam apenas em projetos grandiosos e não conseguem satisfazer, jamais, a necessidade espiritual, pequena, comum, familiar, de cada cidadão. ------------------------- Ideologos destilam ódio. Eles precisam do ódio para sobreviver. Ódio ao inimigo imaginário. O ódio é o sentimento que os une. -------------------- Na Segunda Guerra, enquanto tantos intelectuais e artistas fugiram para os EUA, Eliot percorria Londres de bicicleta trabalhando no serviço de vigia de ataques aéreos. --------------------- Toda cultura nasce da religião. Quando a religião enfraquece, a cultura enfraquece. Não há como ser diferente, seja entre nativos de uma ilha isolada, seja nos EUA de 1960. Toda grande arte dialoga com a religião, seja a negando, seja a idolatrando, seja a temendo, seja a embelezando. A religião dá a dimensão de atemporalidade, de sagrado, de dúvida à cultura. E traz, principalmente, o valorda comunidade em si mesma. Cultura sem religião é cultura isolada, fria, sem eternidade. ------------------ Não comentei nada do que escrevi acima porque concordo com tudo que Eliot dizia. Se não consigo ter sua Fé em Deus, o invejo por isso. Mas sei, no fundo de minha alma, que ele estava certo.

UM MOMENTO PARTICULAR

Segundo Raymond Aron, quando um intelectual não se sente mais ligado a comunidade de onde veio e nem mais a sua religião, ele roga a que a ideologia ocupe o vazio que há em sua alma. Russell Kirk diz que a ideologia, seja fascista, seja a comunista, tenta dar às pessoas uma espécie de fé no futuro, e só no futuro, onde o passado, sempre visto como um erro, deve ser destruído. Há assim um esvaziamente da alma, pois ela passa a ser apenas um instrumento de mudança e não mais UM ELO DENTRO DA ETERNIDADE. Como consequência, inescapável, o homem mergulha no tédio vazio dos homens ocos. Essa a condição do meu país neste exato momento. Tenta-se, por meios violentos, fazer da família-religião-costumes-hábitos coisa morta, e deseja-se transformar a alma de todos em instrumento a serviço da reforma estatal, de cima para baixo. Educação, igreja e arte só são incentivadas se forem parte dessa ideologia transformista. Figuras históricas são jogadas à lata de lixo e acontecimentos centrais perdem seu registro. É como se uma imensa esponja apagasse tudo que somos e seremos e nada mais fosse possível a não ser aquilo que a ideologia ordena. Eliot diz que é assim que se destroi a imaginação moral, conceito que significa O DOM DE SE IMAGINAR EM OUTRAS ERAS, OUTRAS SITUAÇÕES SOCIAIS, OUTROS CONTEXTOS. É essa imaginação que possibilita a continuidade da tradição, a comunhão das almas, a sobrevivência das comunidades. Com a extrema ideologização, esse dom natural não é possível, pois o passado é visto como um erro e nada que venha de lá deve ser reverenciado. Eliot avisa que a alma do homem não tem como se manifestar nessa situação, ela se torna ausente, perde seu poder de manifestação.

A TERRA DOS HOMENS OCOS

Começo a ler o vasto livro de Russell Kirk sobre Eliot e seu tempo, e como sempre acontece quando leio sobre um irmão espiritual, me sinto inspirado. Kirk foi um intelectual americano conservador. Como pessoa ele se definia um conservador boêmio, anti burguês. Modesto, ele recusou todo convite para entrar no sistema, seja cultural, seja político. --------------- Voce deve estar perguntando: Um conservador anti burguês? Boêmio? Como pode? ................ Ora, não seja ingênuo! A burguesia do século XX e mais ainda do XXI é aliada à esquerda em todo o mundo. É a burguesia mais poderosa, banqueiros, industriais, artistas bem sucedidos, que mantém a tara moderna por CONTROLE E DESTRUIÇÃO DO PASSADO. Como vemos no Brasil hoje, de uma forma tão despudorada que chega a ser pornográfica, a união do estado, da justiça e do dinheiro graúdo, faz de uma nação uma teia de opressão a qualquer um que ainda pense em DIGNIDADE, LIBERDADE E TRADIÇÃO. Ontem, dia 16 de julho, o congresso mais uma vez foi fechado, um juiz sozinho ( sozinho? Quem o financia? ), calou a boca de mais de 500 parlamentares eleitos pelo voto. Esse é o ato estatal-esquerdista feito pelo mais anti conservador dos sistemas, o brasileiro atual. E ato esse, aplaudido por aqueles que Eliot chamava de OS HOMENS OCOS. Mas quem são esses homens ocos? ------------------ O filósofo espanhol Ortega y Gasset dizia que EU SOU EU E SOU MINHAS CIRCUNSTANCIAS. O que isso quer dizer? Eu, Paulo, sou aquilo que sou: Homem, brasileiro, filho de portugueses, filho de minha família, heterossexual, conservador em política e em economia, amante das artes eternas, pensador, indagador, chato. Mas eu sou também a minha circunstância, ou seja, sou o lugar onde cresci, onde vivo, sou tudo que me cerca, sou o que ouço, o que vejo, o que me toca. Sou isto que escrevo, sou voce que me lê, sou quem me conhece, quem pensa em mim. Ora, o conservador se apega a todas essas circunstâncias. Ele luta pela preservação dos laços afetivos com aquilo que é seu passado, seu ambiente, seu meio, seja o prédio da esquina, o hábito religioso, a peça de arte inviolável. Ele sabe que ao se destruir qualquer objeto que é parte de sua circunstância, parte dele é destruído ao mesmo tempo. Daí nasce o HOMEM OCO. É aquele ser, geralmente da esquerda, mas é também o alegre propagador do " derrube e construa" do capitalismo, que destroi tudo o que seja "antigo e inútil". Fazendo isso ele mata, sem saber, a si mesmo e se torna um HOMEM OCO, sem vínculos sólidos com nada ao seu redor, tendo apenas dentro de si o vazio do desejo de destruir. Não há retrato mais perfeito da esquerda brasileira que essa sanha por acabar com tudo que remeta à tradição e costume. Família, hábito e história. -------------------- Eliot percebeu isso já após a segunda guerra, quando observou que o trauma da guerra levou os ingleses à ansia de mudar e negar. E Kirk sentiu isso nos EUA, quando a partir dos anos 50 tomou lugar o sentimento de que todos somos seres sem raiz. Logo cooptado pelo sistema, esse sentimento "rebelde", boêmio, de ser livre para se auto construir, se transformou em abjeto ato de negar a realidade do passado e assim perder contato com toda a realidade presente. A cultura do século XXI é uma cultura da doença, do homem sem interior, do ato sem história, do gratuito, do sem permanência. --------------- Ao mostrar de modo pornográfico que o congresso nada representa, que o voto é apenas uma brincadeira vazia de poder real, os juízes fazem com que o interior de todo cidadão se torne ainda mais oco, sem referência e sem significado. O simbólico- voto e representatividade- se torna futilidade. A alma morre. Assim, cada brasileiro se torna oco, apenas um corpo vazio em busca de comida, andando em meio ao caos bem organizado e a pobreza externa e interna. Eliot chamava isso de inferno. Voce sabe o que é.

JULIANO - GORE VIDAL

Gore Vidal nasceu no centro daquilo que Paulo Francis chamava de a nobreza americana. Filho de senador, a família toda envolvida na política pesada dos EUA desde fins do século XIX. Nada de corrupção. Em seus escritos Vidal sempre lamentava o fim da correção da América. Essa correção teria começado com o governo Theodore Roosevelt, na Primeira Guerra. A indústria da Guerra teria corrompido o país. É uma visão romântica. Os EUA nasceram em 1776 já possuindo a certeza de ser grande, de ter uma missão. E ao se fazer rico, já em 1900 era uma potência, a corrupção vem junto. Vidal tenta salvar sua família nessa visão de um passado ideal. Não há país sem corrupção, o que os distingue é que em alguns países eles são presos e em outros não. Mas o que tudo isso tem a ver com JULIANO? Tudo. Pois Vidal ao escrever sobre a vida desse CÉSAR romano que viveu por volta do ano de 350 de nossa era, revela conhecer o jogo de poder por dentro. Quando criança ele via toda a nata da política de então jantando em sua sala. ------------------- Juliano é mostrado como um jovem que desejava ser filósofo e que odiava a nova religião do estado, o cristianismo. Seu sonho era trazer de volta o culto aos deuses do Olimpo. Ao comandar sua primeira batalha, na Gália, Juliano descobre o prazer da guerra. Ele será imperador, mas fracassará em costumes, Jesus veio para ficar. O livro é maravilhoso, voce o lê com absoluto prazer. Vidal pesquisou muito, leu muito para poder o escrever. Nada que ocorre aqui foi inventado. Mas narrador mestre que ele é, Vidal constroi diálogos saborosos e cria aquele clima de suspense e intriga que nos mantém ligados. Imperadores eram mortos quando erravam e muitas vezes eram acusados injustamente, apenas para serem tirados do caminho. A traição e a morte pairavam sobre Juliano desde sua infância, seu pai fora morto por seu primo que era agora o Imperador. Não há segurança possível. Juliano pode ser traído todo o tempo. ------------------------- Best seller nos anos 60, Juliano é um livro que sobrevive a gerações. Se Gore Vidal não é hoje muito comentado isso se deve ao fato de que nada de brilhante em literatura é comentado hoje. Mas eu creio e torço q para que ele volte a ser muito lido. Vidal nos diverte e nos ensina. Isso vale muito.

E A DESPEDIDA DE OZZY TONY GEEZER BILL É A DESPEDIDA DE UM MUNDO

Quem poderia dizer que a mais bela despedida da história do rock fosse a do Black Sabbath. E quem diria que este homem que aqui escreve, este homem cheio de Bartok, Monk, Sinatra, Lou Reed e Roxy Music, diria que foi absolutamente merecido? ----------------- Isso porque eles são inatacàveis. Tony Iommi é um gentleman, querido por todos. Geezer, além de ser um grande baixista, é uma figura icônica. Todo contra baixista imita seu gestual desde....1970!!!!! E Bill é o cara. Ter tocado sem camisa, ao contrário de Iggy Pop, que aos 75 não faz mais sentido, para Bill fez muito sentido. Ele tinha de estar sem camisa. -------------- Ozzy cantou sentado no trono que lhe é de direito. Ele lá estava para receber homenagem e a melancolia se misturou à alegria: acabou gente. Acabou. ---------------- Quando comecei a comprar discos, em 1974, com 12 anos, Black Sabbath era a coisa mais pesada que havia. A guitarra era a mais saturada, e o som era soturno. Mais que gótico, era maldito. Eles pareciam maus. Meu primeiro Sabbath foi Bloody Sabbath e eu me apaixonei pelo album. Da primeira à última faixa, eu pulava cantando cada verso. Mas a coisa desandou logo depois. Comecei a ler "os críticos" e joguei esse disco no lixo. Um cara com pretensões a intelctualidade não poderia gostar de Tony e Ozzy. Parti para Bowie e Zappa. Neil e Lou. --------------------- O tempo passou e então percebi que eu podia ouvir o que eu queria. ( não pense que só eu fui domesticado desse modo...muita gente foi e é sem perceber ). Rock é música de adolescente, graças a Deus, e o que lhe dá valor é o quanto ele emociona, traz alegria, fogo, rebeldia, prazer carnal com 3 acordes e duas frases simples mas diretas. Não se procura no rock emoção complexa, profunda, difícil, exotérica. Sua nobreza é a do animal, ele é puro e instintivo. -------------- E então voltei a ouvir o Sabbath como se fosse novidade. E para mim era, pois não o escutava desde os 14 anos! E senti nas veias o fogo da vontade livre. O cavalo corria e saltava ainda! -------------- O fim do Sabbath marca o fim do rock como forma de arte central. Sim, o rock ainda existe e sempre irá estar por aí. Mas ele nunca mais será aquilo que ditava moda, comportamento e mais que tudo, influenciava todas as artes, do cinema às artes plásticas. Era o rock a coisa central, os olhos do mundo voltados para ele. Nunca mais isso acontecerá. Desde os anos 90 isso se encerrou. Adeus.

CAMINHO