Compro em um sebo uma versão do livro de Homero. Capa dura, com ilustrações, tradução de Carlos Alberto Nunes, edição de 1962. Felizmente a tradução é em versos e devo dizer, é belíssima!
Poetas já falaram que foi Homero o maior dentre eles. Por ter sido o primeiro, ele está ao lado da fonte de onde brota o impulso de cantar. Agora, conseguindo o ler, quase concordo com isso. A leitura flui como rio e sinto um prazer imenso enquanto leio as descrições de batalhas, presságios, cenários, dúvidas. Tudo surge com ares de sonho, de algo que sempre esteve ali. Para nós, cultos do ocidente, ler Homero é como escavar uma raiz.
Os guerreiros guerreiam, os deuses tramam, matam-se bois, invocam-se deuses, mais guerra, muitas mortes, descrições de vísceras. Mundo onde se come carne, se raptam mulheres, se guerreia e se sacrifica bois aos deuses. Mundo onde o humano e o divino estão completamente unidos. Os deuses estão conosco todo o tempo, e tudo o que fazemos e sentimos é por eles ditado. Deuses que são como nós, as mesmas falhas, as mesmas paixões. Única diferença: deuses não morrem.
Dizem que a Ilíada era tudo que um grego precisava saber para viver. Eles decoravam o poema e o usavam para se guiar na vida. Penso eu que 2.600 anos mais tarde, a Ilíada nos ensina a morrer. Há algo naquela profusão de mortes que faz dela um ato mais que natural; uma parte certa e nobre da vida.
E você se pega dentro do canto, pois ela era cantada, você se pega súbito contemporâneo de Heitor, de Ajax, de Glauco. Um tipo de hipnose se faz. Palavras longas passam a ser faladas com facilidade, nomes gregos são conhecidos como vizinho, sua mente encontra um tipo de ritmo, a Ilíada se torna terapia. Eis nossa raiz, guerra-deuses-morte-sacrifício. Eles vivem em ação, atos que estão concatenados a outros atos. A vida dessa Grécia, antes de Platão, antes da filosofia, é uma vida que flui sem parar, flui em ação não segmentada, flui em fluxo contínuo.
Há algo de tolo de minha parte em falar de Homero. Infelizmente Homero é hoje tema apenas de filólogos, linguistas, antropólogos...Sou tolo por falar da obra apenas como leitor, apenas como alguém que tira prazer da leitura. Pois me surpreendo ao conseguir ler sem esforço, naturalmente, musicalmente.
Não sei o que mudou em mim. Antes nada entendia e logo desistia. Mas agora...será mérito da boa tradução?
Poetas já falaram que foi Homero o maior dentre eles. Por ter sido o primeiro, ele está ao lado da fonte de onde brota o impulso de cantar. Agora, conseguindo o ler, quase concordo com isso. A leitura flui como rio e sinto um prazer imenso enquanto leio as descrições de batalhas, presságios, cenários, dúvidas. Tudo surge com ares de sonho, de algo que sempre esteve ali. Para nós, cultos do ocidente, ler Homero é como escavar uma raiz.
Os guerreiros guerreiam, os deuses tramam, matam-se bois, invocam-se deuses, mais guerra, muitas mortes, descrições de vísceras. Mundo onde se come carne, se raptam mulheres, se guerreia e se sacrifica bois aos deuses. Mundo onde o humano e o divino estão completamente unidos. Os deuses estão conosco todo o tempo, e tudo o que fazemos e sentimos é por eles ditado. Deuses que são como nós, as mesmas falhas, as mesmas paixões. Única diferença: deuses não morrem.
Dizem que a Ilíada era tudo que um grego precisava saber para viver. Eles decoravam o poema e o usavam para se guiar na vida. Penso eu que 2.600 anos mais tarde, a Ilíada nos ensina a morrer. Há algo naquela profusão de mortes que faz dela um ato mais que natural; uma parte certa e nobre da vida.
E você se pega dentro do canto, pois ela era cantada, você se pega súbito contemporâneo de Heitor, de Ajax, de Glauco. Um tipo de hipnose se faz. Palavras longas passam a ser faladas com facilidade, nomes gregos são conhecidos como vizinho, sua mente encontra um tipo de ritmo, a Ilíada se torna terapia. Eis nossa raiz, guerra-deuses-morte-sacrifício. Eles vivem em ação, atos que estão concatenados a outros atos. A vida dessa Grécia, antes de Platão, antes da filosofia, é uma vida que flui sem parar, flui em ação não segmentada, flui em fluxo contínuo.
Há algo de tolo de minha parte em falar de Homero. Infelizmente Homero é hoje tema apenas de filólogos, linguistas, antropólogos...Sou tolo por falar da obra apenas como leitor, apenas como alguém que tira prazer da leitura. Pois me surpreendo ao conseguir ler sem esforço, naturalmente, musicalmente.
Não sei o que mudou em mim. Antes nada entendia e logo desistia. Mas agora...será mérito da boa tradução?