MEMÓRIAS DE BRIDESHEAD - EVELYN WAUGH, UMA SEGUNDA LEITURA.

   Meu primeiro contato com Waugh foi através da série inglesa, em 24 capítulos, que passou na TV Cultura, legendada, em maio de 1988. O elenco era absurdo de tão sublime: Jeremy Irons, Laurence Olivier, John Gielgud, Claire Bloom. A série passara em Londres em 1981, e na época mudara toda uma geração de jovens ingleses conservadores. O Bowie de Let´s Dance é cópia visual do Sebastian Flyte da série. Bandas pipocaram imitando o visual anos 20 da série, de Style Council à Spandau Ballet. A fotografia da série e a trilha sonora eram sublimes. Natural que eu me apaixonasse. Nos Jardins, em SP, as pessoas se reuniam às quintas, com whisky e chá, para assistir um novo capítulo. Era ultra chique.
  Depois, via Paulo Francis, Sérgio Augusto, Matinas Suzuki, passei a entender quem fora Evelyn Waugh. Um famoso autor inglês, ativo dos anos 20 até os anos 60. Escrevera vários livros de sucesso. Famoso pela sátira, pela verve, pelo humor agudo. Brideshead é seu único livro "sério". Mas mesmo assim há algo de patético em certas descrições e diálogos. Waugh se converteu ao catolicismo ao fim da vida. Era gay. Bebia bastante. Ficou rico.
 Charles Ryder conhece Sebastian Flyte em Oxford. E essa primeira parte do livro é a melhor. Waugh nos faz amar Oxford, descreve a universidade com brilho. O amor gay entre Ryder e Flyte nos enleva. Ryder é ateu e plebeu, apesar de rico; Sebastian Flyte é hiper nobre e católico, uma estranha minoria na Inglaterra. Além dos dois temos vários personagens vivos e sempre interessantes, Anthony Blanche, uma bicha afetadíssima, o pai de Ryder, um velho engraçadíssimo, desligado e sovina; a mãe de Sebastian, carola e sofrida; o pai, um homem que fugiu da Inglaterra e virou um tipo de pecador boa vida. E muito mais...
  Com o tempo, Ryder se torna amigo da mãe de Sebastian, e isso os afasta. Sebastian se torna um bêbado e decai até as ruas do Cairo. Ryder se apaixona pela irmã de seu ex-namorado, a bela Julia. E o resto não conto.
  Não estranhem, o livro diz claramente que todo jovem inglês ou alemão aprende a amar com um amigo do mesmo sexo, e depois se torna hetero aos 20, 21 anos. Em países latinos isso é incompreensível. Nos EUA também não há esse "segredo". Não sou inglês então não tenho como saber. Mas não se engane, o tema do livro não é o sexo, é na verdade a decadência. O fim da era das casas de campo, dos criados, de um estilo de vida que morre na Segunda Guerra. A falência dos aristocratas e da vida aristocrática. O segundo tema, ligado ao primeiro, é a sobrevivência do sagrado no mundo moderno. A " Luzinha vermelha" que ainda está acesa, embora discreta.
 O livro é um dos 10 favoritos de minha vida. A série, idem.
 Reler foi um imenso bem.