O ROCK DE GARAGEM, 96 TEARS, A JOIA DA COROA.

   Era 1982 e eu ia ao Eric Discos em Pinheiros. O bairro naquele tempo ainda parecia familiar, moradores antigos, feiras, lojas tradicionais. No Eric eu achei enfiados entre encalhes duas preciosidades: Count Five com o LP Psychotic Reaction e o Question Mark and The Misteryans, com seu 96 Tears. Eram edições brasileiras, da Odeon, de 1966!!!! Foram baratíssimos e eu os levei pra casa sabendo ter garimpado um tesouro.
  Nada foi mais cool no rock dos anos 60 que o rock de garagem. Esse tipo de som, todo calcado num mix de rock inglês, principalmente Stones e Yardbirds, era feito por adolescentes ingênuos para adolescentes ingênuos. A molecada de 16 anos ensaiava numa garagem, conseguia fazer um single e era lançada. Muitos sumiam, mas o Question Mark chegou ao number one das paradas, assim como aconteceu com os Kingsmen e os Leaves. O Count Five quase chegou lá. Todos viraram mito.
  O Question era uma banda de cinco primos descendentes de mexicanos. O som misturava Spencer Davies ( postei o clip de Gimme Some Lovin, uma das best songs de toda a história, com um Stevie Winwood de 17 anos ), com uma bossa rítmica dos arredores de L.A. É lindo. Tem carisma, tem feeling, tem vocal, tem dança e o melhor de tudo, tem o mítico órgão Fafisa, o melhor som de teclado, segundo a Rolling Stones de 1980. Os Punks e os Wavers beberam muito aqui, os ingleses dos anos de 1989-1992 ouviram milhares de vezes, bandas como Charlatans e Inspiral Carpets tiraram tudo desses chicanos.
  A onda das garage bands foi varrida do mapa pelo rock hippie. A molecada começou a trocar as canções de 2 minutos pelas de 22 minutos. Pena... Ficou o LP, inacreditavelmente lançado no Brasil dos anos 60. Uma joia que nunca envelheceu, uma aula de rock direto, simples, puro, e maravilhosamente alegre.
  Talvez você mereça escutar. Ou, que pena, você já perdeu sua ingenuidade.