Para encerrar o ano com chave de diamante, nada pode ser melhor, feito a sós, que escutar Fred Astaire. Aqui, acompanhado por grupo de jazz comandado pelo piano de Oscar Peterson. Ou seja, nada de violinos. Bateria, baixo, guitarra e sax...uma delicia!
Berlin, nascido na Russia, faz parte do big five da canção americana ( ele e mais Cole Porter, Gershwin, Jerome Kern e Richard Rodgers ). Não sei, e acho que ninguém se arrisca a dizer, quem era o maior. Como letrista, provávelmente Porter, como arranjador, Gershwin, mas e Berlin? Ele é o de maior sucesso popular e suas canções podem ser tão harmoniosas quanto as de Gershwin e tão espertas e maliciosas como as de Cole.
Dificil saber também qual seria o melhor momento deste disco. Tem "Cheek to Cheek", e nessa canção, quando ouvimos Fred dizer : "Heaven...I'm in heaven...", bem, nós estamos in heaven too! É uma das raras canções felizes que faz com que toda a nossa felicidade se presentifique. Mais que uma música, é um dom compartilhado. Mas o disco tem também "Puttin' on the Ritz", e com essa voce se sente Gary Cooper... Dá vontade de beber champagne, de arrumar a gravata, de sair pra rua e olhar a vida rolar. Ouvi-la é se sentir very special.
Seriam essas as duas melhores? Mas aí vem "Isn't this a lovely day" e ela é um amor que é feliz. Amor feliz, amor onde não se chora, não se lamenta, amor que é apreciado. Essa canção dá vontade de amar. Amar sorrindo, amar como um homem deve amar uma mulher. E vem "Change partners", outra que é sobre um amor, mas amor já triste, triste porém classudo, sem escândalos please. Linda melodia...
Não seria a melhor "Top Hat" ? Essa eu poderia ficar escutando a vida inteira. Voce deseja saber o que é classe? Tá tudo aqui. E é impressionante como a voz de Astaire soa moderna. Ele canta pequeno, curto, e sem jamais perder a afinação. Modula o timbre, pronuncia claro ( os cantores como ele são facílimos de entender, pronunciam um inglês perfeito ), e acima de tudo ele tem ritmo, tem jazz. O estilo de Fred se casa com os músicos negros e o que sai é brilhante, exultante, esfuziante.
"Steppin' Out" pode ser a mais perfeita... Ah, desisto! Como saber qual o mais perfeito pôr do sol? Qual o diamante que brilha mais?
Uma historinha...
Quando eu tinha 11 anos e começava minha coleção de discos de rock, meu pai, que nasceu em 1926, ficou muito surpreso. Ele me dizia: " Mas porque voce compra esses discos? Voce não vê que todos são "música caipira? Música de analfabetos?"
Meu pai ouvia música de orquestras e Sinatra. Eu achava aquilo nojento e ria de meu pai achar que Beatles, Elton John e Bowie fossem caipiras. Mas agora eu entendo. O rock é filho do blues rural e do country. Para quem tem familiaridade com a música verdadeiramente, e desde sempre, urbana, o rock sempre terá um jeito de cowboy, de jeans e violão. Urbanidade é Duke Ellington ou Thelonious Monk, lá nada há de rural. A ancestralidade caipira de todos nós está tão distante que nada nessas músicas lembra poeira ou cabanas de madeira. Nesse tipo de canção, mesmo quando o cara vai pro mato, ele leva rádio, cadeiras e talheres de prata. Para meu pai, cada acorde da guitarra de Harrison era uma lembrança de uma viola caipira, cada frase de Elton tinha o sotaque de um inglês querendo soar como se fosse do Kentucky e mesmo a sofisticação de Bowie lhe parecia um simples trejeito de adolescente suburbano.
Eu sou um caipira e tenho orgulho disso. Mas eu adoro essa urbanidade "Quinta Avenida anos 40" de Astaire e do jazz. Vivo nessa confusão de tensões, que pode por outro lado ser chamada de visão abrangente. Mas o que eu sei é: Nada é mais Feliz que Fred Astaire cantando Top Hat....
Berlin, nascido na Russia, faz parte do big five da canção americana ( ele e mais Cole Porter, Gershwin, Jerome Kern e Richard Rodgers ). Não sei, e acho que ninguém se arrisca a dizer, quem era o maior. Como letrista, provávelmente Porter, como arranjador, Gershwin, mas e Berlin? Ele é o de maior sucesso popular e suas canções podem ser tão harmoniosas quanto as de Gershwin e tão espertas e maliciosas como as de Cole.
Dificil saber também qual seria o melhor momento deste disco. Tem "Cheek to Cheek", e nessa canção, quando ouvimos Fred dizer : "Heaven...I'm in heaven...", bem, nós estamos in heaven too! É uma das raras canções felizes que faz com que toda a nossa felicidade se presentifique. Mais que uma música, é um dom compartilhado. Mas o disco tem também "Puttin' on the Ritz", e com essa voce se sente Gary Cooper... Dá vontade de beber champagne, de arrumar a gravata, de sair pra rua e olhar a vida rolar. Ouvi-la é se sentir very special.
Seriam essas as duas melhores? Mas aí vem "Isn't this a lovely day" e ela é um amor que é feliz. Amor feliz, amor onde não se chora, não se lamenta, amor que é apreciado. Essa canção dá vontade de amar. Amar sorrindo, amar como um homem deve amar uma mulher. E vem "Change partners", outra que é sobre um amor, mas amor já triste, triste porém classudo, sem escândalos please. Linda melodia...
Não seria a melhor "Top Hat" ? Essa eu poderia ficar escutando a vida inteira. Voce deseja saber o que é classe? Tá tudo aqui. E é impressionante como a voz de Astaire soa moderna. Ele canta pequeno, curto, e sem jamais perder a afinação. Modula o timbre, pronuncia claro ( os cantores como ele são facílimos de entender, pronunciam um inglês perfeito ), e acima de tudo ele tem ritmo, tem jazz. O estilo de Fred se casa com os músicos negros e o que sai é brilhante, exultante, esfuziante.
"Steppin' Out" pode ser a mais perfeita... Ah, desisto! Como saber qual o mais perfeito pôr do sol? Qual o diamante que brilha mais?
Uma historinha...
Quando eu tinha 11 anos e começava minha coleção de discos de rock, meu pai, que nasceu em 1926, ficou muito surpreso. Ele me dizia: " Mas porque voce compra esses discos? Voce não vê que todos são "música caipira? Música de analfabetos?"
Meu pai ouvia música de orquestras e Sinatra. Eu achava aquilo nojento e ria de meu pai achar que Beatles, Elton John e Bowie fossem caipiras. Mas agora eu entendo. O rock é filho do blues rural e do country. Para quem tem familiaridade com a música verdadeiramente, e desde sempre, urbana, o rock sempre terá um jeito de cowboy, de jeans e violão. Urbanidade é Duke Ellington ou Thelonious Monk, lá nada há de rural. A ancestralidade caipira de todos nós está tão distante que nada nessas músicas lembra poeira ou cabanas de madeira. Nesse tipo de canção, mesmo quando o cara vai pro mato, ele leva rádio, cadeiras e talheres de prata. Para meu pai, cada acorde da guitarra de Harrison era uma lembrança de uma viola caipira, cada frase de Elton tinha o sotaque de um inglês querendo soar como se fosse do Kentucky e mesmo a sofisticação de Bowie lhe parecia um simples trejeito de adolescente suburbano.
Eu sou um caipira e tenho orgulho disso. Mas eu adoro essa urbanidade "Quinta Avenida anos 40" de Astaire e do jazz. Vivo nessa confusão de tensões, que pode por outro lado ser chamada de visão abrangente. Mas o que eu sei é: Nada é mais Feliz que Fred Astaire cantando Top Hat....