Machado de Assis adorava Sterne, e lendo esse brilhante irlandês, logo notamos a influência que Laurence exerceu sobre o genial Machado. Como acontece no autor braileiro, Sterne brinca com o texto, comenta o que escreve, finge ser pessoa real aquilo que criou no papel e faz de gente de carne e osso, ficção. Mas tem mais:
Em pleno século XVIII, ele desobedece a pontuação, ignora regras, ignora maiúsculas, ignora parágrafo. Coloca uma Letra grande em meio a frase, começa diálogos sem travessão, E abandona uma narração ao meio e Inicia uma nova história sem mudar de parágrafo. Quando não, deixa um capítulo em branco por se confessar sem inspiração. Ou completa toda a folha com pontos por se envergonhar do que pensou em escrever. Para Sterne, uma Página em branco é um novo mundo. O humor É rei.
Mas não é autor fácil. Muito pelo contrário. Se este VIAGEM SENTIMENTAL é até que simples, TRISTRAM SHANDY é o ponto culminante da arte de Sterne e é o livro que prova sua genialidade. Em Shandy o satirista atinge a altura de Swift, em VIAGEM SENTIMENTAL, que ele deixou inacabado, apenas entrevemos aquilo que ele foi. Dá menos trabalho para ler e dá muito menos prazer.
Em Shandy este irlandês excêntrico chega a gastar 80 páginas para descrever uma escada sendo descida. Sim, oitenta páginas em letra miúda. MAS COMO? Ora, Sterne É o mago da viagem mental. Cada passo dado nessa escada traz uma conversinha que traz uma anedota que traz uma lembrança que traz uma personagem nova & que traz mais uma história & assim nos vamos e só bem depois disso & daquilo é Que voltamos a tal escada. Mas tem mais:
Laurence Sterne fala de Sexo todo o tempo. Tudo o que ele escreve é coito & gozo & foda cifrada. Neste VIAGEM SENTIMENTAL em suas andanças pela França, ele jamais descreve as paisagens, os lugares ou as estradas. Ele só fala das moças, sejam baronesas ou sejam empregadinhas de hotel. Por todas ele se apaixona, e todas ele esquece. E depois as leva a cama. Ou não? ( )?
Aliás o livro termina com uma frase pelo meio. E sabe-se que era pra acabar assim mesmo. O que Sterne não teve tempo de escrever foi o livro dois, Que se passaria na Itália. Que pena.....
Com o começo da industrialização britânica um monte de gente que era Matuto de aldeia virou urbano trabalhador. A alfabetização se fez em massa e uma montanha de jornais, revistas, livros e fascículos apareceram da noite pro dia. É o tempo em que Henry Fielding lança TOM JONES, e Defoe manda ROBINSON CRUSOE e Swift VIAGENS DE GULLIVER e surgem o dr. Johnson com seu diário e Sterne está nesse meio. Montes de escritores, de poetas, de jornalistas, de sátiras e de livros pornôs. O século XVIII foi o século...!
O inglês descobriu o prazer de ler. E STERNE nos exibe o prazer em escrever.
Se você está acostumado a ler, se você já chegou ao nivel de alfabetização de um inglês/leitor/de 1780, procure ler o TRISTRAM SHANDY. Mas se voce ainda lê só o que tem cem páginas sem grandes complicações & vôos, vá de VIAGEM SENTIMENTAL. Depois você lê o livro sobre meu amigo Shandy.
& então você escreve aqui o que achou.
morou ?
mas Que diabos de nome é esse? Tristram? e lá se vai o velho Laurence Sterne escrever 60 páginas sobre o porque desse nome: Tristram. Vá lá se saber.
Esse povo inventou o humor britânico. O Monty Python habita suas linhas. 1700 e uns quebrados e os caras eram uns safados ( estou falando de Swift e Fielding e Sterne e etc & etc .... ); !!!! caraca!!!!! Morou?