EDMUND WILSON - 11 ENSAIOS. O IMENSO PRAZER DA COMPANHIA DE UMA INTELIGÊNCIA

Encontro num sebo este livro de 1991 editado pela então ótima Companhia das Letras. Paulo Francis selecionou os textos de Edmund Wilson, onze belos ensaios sobre política e literatura. Francis escreve a introdução também, naquele seu saudoso estilo. Uma bem humorada, provocativa, maluca mistura de cultura e fofoca, de conhecimento e diatribes. Francis é insubstituível. Não temos ninguém hoje que chegue a unha de seu pé. ----------------- Voce não conhece Edmund Wilson? Que pena! Nos anos 80 e 90 ele era conhecidoa até neste fim de mundo chamado Brasil. Wilson foi o mais respeitado intelectual dos EUA em todo o século XX. Seus textos, sempre profundos sem serem eruditos demais, eram democráticos. Ele amava aquilo que fazia e nos fazia amar seu tema. Não era aquele tipo de crítico, tão em moda desde os anos 80, que desconstroi o autor e nos faz achar que ele era gente como o vizinho da esquina. Wilson dá ao autor seu tamanho justo, o de um gigante, de um original, ele percebe que todo talento é interessante. ------------------- Neste volume ele fala sobre Joyce, Heminguay, Lincoln, a guerra civil americana, Dickens, Flaubert... Mas eu destaco três que são maravilhosamente prazerosos. Wilson fala sobre Proust, sobre o homem Proust e sobre a obra escrita do francês. E não há como voce sair ileso do ensaio de Edmund Wilson. Escrevendo sobre Proust antes dele se tornar o que é hoje, Wilson faz com que sintamos um desejo imenso por ler o francês. Asmático, gentil e arredio, hipocondríaco, apaixonado por mulheres que não o quiseram, isolado em seu quarto, rico, Proust surge inteiro, um gênio da língua, um homem que conseguiu fazer da literatura música. O desvendador do inconsciente. Não há função mais nobre da crítica que nos fazer querer conhecer aquilo que ele ama. Wilson faz, Mas não pense que o texto é mera propaganda. O americano discorre sobre os erros de Proust, seus momentos enfadonhos, suas manias. Esses defeitos fazem do autor humano, e nos aproximam da obra. Mas a condição de ser genial de Proust não se apaga. É necessário o ler. ---------------- O mesmo ocorre com Turgueniev, autor russo da época de Gogol, Dostoievski e Tolstoi, autor que li e adoro. Turgueniev, famoso desde sempre, exilado na França que ele odiava, tinha problemas em seu país, achavam que ele era ocidental demais, mas na Europa era muito lido e muito amado. Generoso, ele ajudava autores em apuros, amigos perdidos, chegando da dar dinheiro até a Dostoievski. Wilson coloca o russo no lugar que lhe é de direito, um autor imenso, muito mais complexo que seu texto, elegante, aparenta ser. Eu tenho imenso prazer em o ler e tive um gosto gigantesco lendo o texto final deste livro, O AUTOR AOS SESSENTA, como diz o título, uma divagação em que Edmund Wilson começa falando de sua condição de sessentão, em 1955, e acaba por falar da vida de seu pai, um advogado muito bem sucedido de New York que sofria de uma neurose que quase o enlouqueceu. Somos transportados para um mundo que não mais existe, o final do século XIX nos EUA, o estilo de vida da classe mais poderosa e o cotidiano da família do autor, uma família original. Wilson tem o dom de fazer com que nos sintamos como que vendo um velho album de fotografias ao lado de um membro daquele grupo. É uma leitura confortável. --------------- Nunca mais teremos um Edmund Wilson.