Black Satin

O SATANISMO EM MÚSICA, ON THE CORNER- MILES DAVIS

Teo Macero, junto com Miles, pegava as fitas de gravação e as editava à vontade. Cortes, colgagens, loopings. On The Corner antecipa o som moderno dos anos de 1990. Gravado em 1972, foi desprezado em seu tempo, é o disco de Miles mais odiado por seus fãs dos anos acústicos. Jack deJohnete, o batera, preste atenção, o que ele toca é a batida drum and bass de 1995. Jungle, rap, eletro, DnB, tá tudo antecipado aqui. Este disco, simples, sem solos mirabolantes, é um feitiço. O que Miles quis? Uma obra que é só ritmo. Mais nada. Onde cada instrumento é um ritmo. Michael Henderson é o coração da coisa, seu baixo leva tudo. É um disco de baixista. O resto, e esse resto tem McLaughlin, Corea, Hancock, vai na onda do baixista. E há o trompete wah wah de Miles, e que diz esse trompete? ------------------- Eu vi um túnel vermelho que leva ao fundo do planeta. É um som dos infernos. Repare: o som parece MAU. Nunca escutei nada que soasse tão mau. Miles Davis compõe música para as esquinas negras de NY e o que sai é voodoo. Ele aproveita riffs de James Brown, de Sly Stone, mas eles são transformados em Miles e em Satanismo sonoro. Os críticos tinham razão, isto não é jazz. --------------- É o disco de Miles que menos vendeu e agora, hoje, é considerado um marco sonoro. ----------------- Eu não consigo parar de o reescutar. Hipnotizado e siderado por aquele som de percussão que surge como fosse um sorriso sacana. Pelos teclados sem sentido que harmonizam com nada. Os sopros que tentam se sobressair e que saem incógnitos. E a bateria, que bate e bate e bate e bate...... ------------------- Miles aqui não fez música. Produziu uma cerimônia negra e rubra. Quente como brasa e pra sempre como uma onda. Impossível saber qual o melhor disco de Miles em sua fase madita, aquela entre 1969-1975. On The Corner é sem par, sem paralelo e sem precedente. É uma das maiores coisas que ouvi. E sim, é uma coisa.

O COOL MORREU?

Johnny Marr e Chrissie Hynde, numa conversa publicada na midia, dizem que acabou o "Cool". Ninguém mais é cool, isso infelizmente se extinguiu. Eles falam o que é isso e evitam dizer o porque da sua morte. ----------------- O que seja Cool, dito pelos dois, tem alguns erros. Ler no metrô nada tem de cool. É pose de quem quer parecer inteligente, muitas vezes é só isso, e querer parecer algo é a coisa menos cool que há. Resumindo, tudo que os dois chamam de cool é ser frio e silencioso, como um felino. Okay, pode ser, mas ser cool é bem mais profundo que isso. ------------------- Ser cool é não perder o controle. É manter o vulcão sem explodir. Preste atenção: ter a chama, mas não a deixar queimar. É a diferença entre Leonard Cohen e Neil Young. Entre Lou Reed e Patti Smith. O cool fala do inferno mas não parece ligar muito. Ele está lá, vê e sente, mas continua sob controle da razão. O não cool grita, cospe, chora, pula, gagueja. -------------------- Se voce ler meu post abaixo sobre a Covid vai entender que a pandemia foi a pá de cal sobre a atitude cool. Voce foi cobrado a ser histérico, canino, obediente. O cool era um ser sem empatia, um gato. ----------------- O cool jamais quer ser alvo de atenção e parece não dar atenção a ninguém. Ele fica na sombra, sem julgar, pouco ligando. Ele não faz ruído. Ele não segue ordens. Não obedece mas odeia revoluções e atos de niilismo. O cool é sexy porque voce nunca sabe o que ele pensa ou quer. Há sempre uma dúvida. E ele parece não se importar muito com ninguém. É cada umpor si. --------------- Steve McQueen foi o mais cool dos atores porque ele passava tudo isso. Um vulcão sob controle. Já atores como Brando ou De Niro são o anti cool, explodem o tempo todo como fossem adolescentes que beberam. Mesmo italianos podem ser cool. Nada mais cool que Mastroianni. E se falei de McQueen, me desculpe. Alain Delon era mais que ele. --------------- Uma pessoa feia quando é cool se torna mais cool que uma pessoa bonita. Porque ela passa uma impressão de superação. Ela é tão cool que superou esse nariz horrível. Ou essa boca torta. Penso em Gainsbourg. ---------------------- Chrissie diz que o rock não é mais cool. Todos são over. Exagerados. Grotescos. Histéricos. Ela está certa? Não, pois deve haver excessões. Mas sim, o mainstream é choroso em exagero ou um sexy pornô de puteiro barato. Nada menos cool. ---------------- Termino dizendo que nos anos 50 até o carnaval podia ser cool. Há fotos de bailes onde impera o espírito felino. Aliás, ver um bloco na Bahia não é diferente de ver um bando de viralatas na rua brigando por uma fêmea. Cool?

A COVID E A FALTA DE RESPEITO PELA HUMANIDADE

Era um sábado e eu estava andando numa imensa avenida, sem máscara. Onze da manhã, tudo fechado. Eu pagava pra ver. Eu sabia, usando aquilo que aprendera na escola, nada demais, que vírus são infinitamente menores que tecidos de pano, e que as máscaras eram somente placebo, modo de tranquilizar mentes doentias. Mas eu percebia, raciocinando, que algo não batia naquela história. Eu via muitos pedreiros trabalhando nas construções. Sem máscaras. E nas favelas os bares não fechavam. Gente bebia à vontade. Será que eles estavam morrendo? Eu percebia o pavor paranoico no olhar de pessoas que eu julgava racionais, um medo de morrer que beirava o grotesco. As pessoas abriam mão de sua nobreza em troca de uma segurança ilusória. Foi um momento vergonhoso na história da dignidade humana. Foi quando as pessoas provaram como em sua maioria nada são de muito especial. Apenas bichos apavorados. ------------------------ Usou-se muito a palavra empatia. Sem saber o que ela significa. Empatia é sentir a dor de uma criança que morre de fome na Namibia. É a solidariedade não necessária, ser amoroso a alguém que sofre um sofrimento que não te atinge, é ato voluntário. A empatia da Covid foi medo de ser contaminado. Confundiu-se empatia com covardia. ------------- Vivo com mãe de 84 anos, eu jamais usei alcool gel. Saí todos os dias para passear, todos os dias. E não a contaminei. Sorte? Não, não fui irresponsável, fui apenas racional. Não joguei no lixo um orgão que levamos milhões de anos para desenvolver. Quem usou seus neurônios sabe do que falo, mas para os usar, em 2020, 2021, era preciso coragem. A Covid provou a mim mesmo que sou corajoso. Mas nunca temerário. --------------------- Quanto às vacinas. Sim, fui obrigado e tomei duas doses a contragosto. Uma quase me matou. Senti as piores dores da minha vida. Sei hoje que estive perto da trombose e proibi minha mãe de a tomar. Ela tomou a inofensiva vacina Doria. De qualquer modo, só nos vacinamos em 2022. Devemos ter pego o virus antes. E mal o percebi. ------------------------ A pandemia acabou como tinha de ser. Como toda gripe termina: o corpo se adapta ao novo virus e ele fica inofensivo. Basta ler e pensar para saber isso. Mas o planeta foi tomado pelo histerismo e essa febre de pânico nunca mais saiu de nossos ombros. Tudo hoje é medo. Tudo é fim de mundo. Isso porque os crápulas do poder sabem que o modo mais barato de dominar a massa é a deixar em estado de pânico. Elas pedem socorro. O crápula finge ajudar. AS PESSOAS MAIS HONESTAS FORAM CHAMADAS DE IRRESPONSÁVEIS SEM CORAÇÃO. Não. Elas só queriam diminuir seu medo irracional. -------------------------------- Conheci 2 pessoas que, dizem, ter morrido de Covid. Uma eu sei que foi do coração. A outra era um amigo que viveu o tempo todo trancado em casa. Apavorado. Tenho uma prima que até hoje evita ir à rua. Empobrecemos. Emburrecemos. E creia, a humanidade perdeu toda sua fé em si mesma. E os crápulas não sentem mais nenhum respeito por nós.

MACHENKA - VLADIMIR NABOKOV

Primeiro romance de Nabokov, conta a história de um jovem russo, morando em Berlim, e sua expectativa por mudança. Ele tem contatos distantes com seus companheiros de pensão, termina um namoro e lembra uma antiga paixão. Tudo contado no primeiro estilo de Nabokov, riqueza em nuances, personagens enredados no destino, ironia cruel, deslocamentos. ------------------- Fato interessante, não conheço autor que fale mais da vida na pensão, os quartos, a sala de jantar, os tipos vivendo ali, em intimidade familiar e ao mesmo tempo em distância imensa. Aqui são seis quartos, um deles com um casal de bailarinos, e um outro com nosso heroi, Liev, um jovem sem emprego e sem rumo definido. Não espere o autor arrojado do seu período maduro, é uma novela bela e melancólica.

Mahavishnu Orchestra - Meeting Of The Spirits/You Know You Know

Mahavishnu Orchestra - Noonward Race

THE INNER MOUNTING FLAME - THE MAHAVISHNU ORCHESTRA

Após deixar Miles Davis de queixo caído, em gravações feitas em 1969-1970, o inglês John McLaughlin parte para sua carreira solo. Primeiro um disco acústico, Goal Beyond, e então sua banda, a Mahavishnu Orchestra. Primeiro, por que esse nome indiano? Ao contrário de tantos pop stars, a conversão de John ao hindusimo foi séria, profunda, cuidadosa. McLauglin nunca mais voltou a ser apenas John. Passou a usar branco, ser vegetariano e sua música mudou. Os shows que a Mahavishnu fazia, entre 1971-1974, eram, sempre lotados, uma experiência mística. Mas atenção! Se voce espera longos mantras indianos está enganado. É jazz rock agressivo. Poderoso, e com uma das mais perfeitas bandas da história. ----------------------- Viraram super grupo e foram o grupo no imenso mundo do jazz elétrico a conseguir sucesso vasto. Isso porque de todas vertentes do jazz elétrico de então, é a Mahavishnu a mais rock e a menos jazz. O Weather Report foi seu grande rival pelo sucesso, mas o Report é infinitamente mais jazz. ---------------- Isso não significa crítica à John, a Mahavishnu é maravilhosa! Veja este disco, seu primeiro. Já de cara você fica surpreso. É tanta energia bruta que sua mente se perde. Billy Cobham, talvez o maior baterista da história, ataca com um furor inesquecível. É um John Bonham do jazz. Só que muito mais veloz, ágil, jazz em excência. Mas há mais. Há o violino de Jerry Goodman, o baixo de Rick Laird e o teclado de Jan Hammer. Todos afiados, desafiadores. E, claro, a guitarra de McLaughlin, a maior da história do intstrumento. John toca rápido, toca urgente, aqui muito menos lírico do que seria mais tarde. É cerebral, é filosófico, e é, sim, rock. ------------------ Nas 8 faixas eles provam sua maestria. Noonward Race é minha favorita, mas o disco todo não perde punch. Nao há como não ficar tocado pela técnica deles, mas é técnica com emoção, com fogo e trovão. -------------------- Em 1971 foi uma enorme porrada. Encheram auditórios, venderam bem, se tornaram estrelas. Bons tempos em que música tão complexa era um hit.

HAROUN E O MAR DE HISTÓRIAS - SALMAN RUSHDIE

Quando os Ayatolás resolveram que Rushdie deveria ser morto, por ter, segundo eles, desrespeitado o Alcorão, o autor Anglo indiano escreveu este livro para seu filho, para que ele compreendesse que seu pai nunca mais teria uma vida normal. Lendo este romance, uma fantasia cheia de ação, simbolista, fantasiosa, o que fica é a ideia de que contar, imaginar, sempre vale à pena. Rushdie tem imaginação natural, as coisas parecem brotar de sua mente sem qualquer esforço. Somos então transportados para um mundo incrível, mundo onde seu pai, antes um famoso contador de histórias, perdeu seu dom e não consegue criar mais nada. Parte daí uma espécie de desfiar de cenas que trafegam entre o cômico e o dramático. Delicioso.

TRUMP E O UCRANIANO, QUE IMPORTA NA EUROPA DE HOJE?

No mundo moral, aquele que se segue por um tipo de ética bondosa que na verdade é infantilidade raivosa, a humanidade seria isenta de opressão, livre de vigilância e plena em amor e irmandade. Sim, não ria, há quem leve isso a sério, e são exatamente esses que oprimem em nome do "bem", vigiam para defender a "liberdade" e atacam os dissidentes que não aceitam seu "amor" e sua "irmandade". ----------------- Trump e Zelensky deram ontem uma aula de história, mas como no mundo de 2025, ensinar história é proibido, pois este é um mundo que nega todo o passado como fosse tempo de "machos escravocratas", nada será aprendido do que foi exposto pelos dois diante das câmeras. -------------- O Ucraniano é o típico líder de 2025. Fala frases de efeito para seus iguais, posa de heroi, mas na verdade depende 100% da ajuda material e moral de algum líder velho e pragmático. Incapaz de perceber o que seja um acordo, onde se perde um pouco para ganhar alguma coisa, ele insiste em seu papel de heroi da resistência, uma resistência bancada por mesadas de um papai que ele odeia ( sim, é a síndrome do filho rebeldinho ). A Ucrânia jamais vencerá a Russia e hoje sabemos que os russos nunca estiveram perto de perder a guerra, guerra que eles levam a meio pau. ------------- Do outro lado temos o velho Trump, um homem muito esperto, que sabe que desde que o mundo existe, que a paz só é obtida quando uma super potência toma para si o poder e o dever de ditar ordens. Roma é o maior exemplo, mas a própria URSS provou isso. Quando ela ruiu tivemos guerras entre seus antigos comandados. A humanidade repete o que acontece individualmente em casa. O pai-mãe oprime, mas sem ele-ela nada é possível. É preciso alguma direção, alguma ordem, é preciso perceber o limite das coisas. Uma guerra não pode durar para sempre. ------------------- Trump e Putin são aliados? Sim, são. Ambos odeiam a Europa atual, um grupo de países decadentes, acomodados, que vivem em mundo feito de bons discursos e péssima realidade. O que a Europa queria com essa guerra era desgastar a Russia do macho Putin. Desgastar até a RUssia ruir. Ou seja, um típico plano de franceses covardes que se escondem em casa dando risadinha enquanto os EUA pagam sua guerrinha de brinquedo. --------------- O que a França não contava era a volta de Trump e um Trump que agora não quer mais pagar as contas de gente que odeia os USA. Chega de ser trouxa. --------------- A Europa que se vire. Que resolva seu problema com a imigração sem fim e as dívidas insolúveis. Que conviva com uma Russia gigantesca. Que venda tudo para chineses e sheiks árabes. A Europa é hoje uma cristaleira de casa da vovó. Pior, o europeu médio sente vergonha daquilo que garante o resto de relevância que eles ainda têm, seu passado. ------------ É difícil para um europeu admitir que a Russia é, desde pelo menos 1880, mais relevante que eles, e que os USA não precisam deles para nada.

The Byrds - Mr Spaceman ( Original Footage Smothers Brothers Comedy Hour )

Jacques Dutronc "Et moi, et moi, et moi" | Archive INA

Clip Animado - Raul Seixas - A loteria da Babilonia

GITA - RAUL SEIXAS

Quando a última faixa do disco, Gita, está pelo meio, eu penso: Caramba! Isto era a música popular do Brasil em 1974. Isto aparecia no Chacrinha! O motorista de ônibus ouvia na rádio América e manicures compravam o single na Mesbla! Penso ainda: Em termos de música popular, não dá pra ser melhor que isto. A faixa Gita é uma obra prima mas o LP tem coisas ainda melhores. --------------- Pena Raul não ter podido usufruir da época da MTV. Um Acústico Raul bateria recordes de vendas. ----------------- As referências de Seixas são sempre excelentes. Ele antecipa o mangue beat em vários momentos e, por exemplo, SOS é quase uma versão baiana de Mr Spaceman dos Byrds. Há também uma outra faixa que cita Jacques Dutronc e sua Et Moi Et Moi Et Moi. Bob Dylan, aquele Dylan raivoso de 1965, paira no modo como Raul aborda os temas, mas entenda: ao contrário de certos grupos dos anos 80 e 90, o que ele produz é 100% brasileiro, só possível de ser feito aqui. Momento mágico do Brasil, entre 72 e 74 tivemos Novos Baianos, Secos e Molhados, O Terço, Raul, fazendo um tipo de rock tupi tropical forró xaxado e até mesmo caipira. --------------- Medo da Chuva é quase brega e é sublime, as letras são joias de pensamento, assim como Trem das 7 chega a doer de tão bonita. Está lá a presença de Aleister Crowley em Sociedade Alternativa, um hino que foi encampado pelos bicho grilo do país de então. Minha favorita é Água Viva, e não me pergunte o porque, ela é. Mas o disco não tem falhas. Paira no Olimpo onde estão os 5 ou 6 melhores discos que este país produziu. --------------- Questão final e inevitável: Era este mesmo país? Sabe quando vai nascer aqui outro Raul? Nunca bb. Nunca mais.