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A DESTRUIÇÃO DO CÉREBRO HUMANO

Voces devem saber que tenho um relacionamento, longo, com uma mulher mais jovem que eu, de outra geração. Uma das diferenças que ela tem comigo é o ato do beijo. Ela não gosta, eu adoro. Para mim, o beijo é tão importante quanto o coito ( que palavrinha feia ). Para ela, beijar é perda de tempo, que se vá logo ao finalmente. Essa diferença era para mim uma particularidade dela, mas penso que mais que isso, é uma característica de toda uma geração. ------------------ Recebo ontem um texto onde se diz que na minha geração o tempo médio de atenção musical era de 30 segundos. Agora são 8. Músicas atuais, hits, não podem ter introdução e o refrão deve chegar em no máximo 5 segundos. Melhor ainda, muitas começam pelo refrão. Outras são apenas um refrão. O som deve ser próprio para fones, ou seja, hiper comprimido, e a música deve ter hooks, exigir a atenção a cada 4 segundos. É uma formula matemática e é assim que se compõe hoje. Pega-se esse molde e se coloca uma letra feita de sons e não de frases. ------------------- Comecei a ouvir rádio em 1974. Claro que ouvia antes, em 74 eu já tinha 12 anos, mas foi em 1974 que comecei a procurar o que ouvir. O grande hit de então era Don't Let The Sun go Down on Me, de Elton John. E penso em uma pessoa de 18 anos tentando escutar essa canção agora. Uma longa introdução de piano, dúzias de frases poéticas e só após um minuto e meio entrava o refrão. O ouvinte acostumado aos sucessos de 2023 deve ter a sensação de estar ouvindo algo tão exigente como Mahler ou Bruckner. Todos os sucessos de 74, de The Love I Lost à Sundown possuem belas introduções, um refrão longo e letras com narração. Cinco minutos de atenção. Era o que exigiam. ------------------ Um pensador brasileiro disse que para se ter a profunda experiência espiritual que a música erudita dá, é preciso se concentrar por todo o tempo que ela dura. Se voce se distrai ela se torna apenas um ruído a atrapalhar o ouvido. Eu sei disso porque na maioria das vezes eu me distraio após dez minutos de audição. Nas vezes em que consegui me manter atento, a experiência sempre foi muito significativa. ----------------- Creio não ser preciso que eu cite filmes e séries de TV como construções que hoje também usam uma fórmula matemática para conseguir obter sucesso. Estes dias eu assisti O Belo Brummel, um filme de 1952 que com seus diálogos longos e sua falta de ação física não conseguiria ser suportado por mais de dois minutos por alguém da geração 2023. --------------------- A mulher jovem com que me relaciono ainda consegue assistir um Hitchcock de 1955 e se sentir emocionada, ainda ouve um LP inteiro, adora ler um livro que não seja constituído apenas de ações chocantes ou frases "úteis", mas ela é diferente de mim, muito diferente. Sua atenção é flutuante e sua concentração inexiste. Suas habilidades são ligadas à velocidade. Seu mundo é feito de objetividade, uma objetividade que eu jamais tive. Por ser inteligente, ela ainda consegue acessar o lado humano de seu cérebro, e mesmo tendo sido treinada a não parar muito tempo em nada, ela tem uma sensibilidade que pede por profundidade e revelação. Muitos ainda são assim. Mas nossa humanidade está morrendo. --------------------------- O que diferencia o homem do bicho sempre foi o tempo. Nós lidamos com ele, o esticamos, o dominamos, o transformamos em ferramenta. Nossos beijos, bichos não beijam, eles cruzam, são a tentativa de prolongar o êxtase e nos concentramos em atos "inuteis" na tentativa de obter uma revelação. Um animal pode ficar horas concentrado a espera de uma presa, mas é apenas isso, por séculos e por toda uma população, todo urso fez e fará a mesma ação. E quando perdemos o dom de usar o tempo perdemos nossa particularidade. Voce deixa de beijar ao seu modo e passa a transar como em qualquer filme pornô. Voce não mais tira da audição de Pink Floyd ou The Band uma coisa só sua, mas passa a ter a mesma experiência, vazia, que todos têm ao ouvir o novo hit mundial da cantora POP de sempre. ---------------- É o espírito da manada, maldição anti individualista que faz com que conversar com João ou Pedro seja idêntico a conversar com Tiago ou Ivan. As mesmas crenças, os mesmos medos, os mesmos desejos. Não à toa a palavra "erotismo" é agora considerada de profundo mal gosto, coisa de velho gagá. O erótico traz ao jovem a ideia de coisa lenta, sem sal, absurda, broxante. Se os filmes mainstream não possuem nenhum erotismo hoje, isso se deve ao fato de que ninguém mais tem paciência para Eros, se querem excitação eles usam o mais hard pornográfico. E na pornografia, filosofia única do mundo de 2023, voce goza em dois minutos. Mais que isso "enjoa" e voce perde o tesão. Observe que no funk se fala em sentar, comer, foder, jamais se beija, se abraça, se deseja. Antes do desejo já se faz o final. ---------------- O futuro, ele será anti humano.

HEDONISTA

Estava escutando um disco hedonista e caiu a ficha: vivemos um dos períodos mais puritanos da história recente. Mas como Paulo? Nunca se falou tanto de sexo. Sim, é fato, mas repare que sexo hoje é ato político, é atitude, é agressão, deixou de ser simples prazer. ---------------- O Hedonismo está e sempre esteve muito ligado ao sol, é uma postura perante a vida em que voce procura o prazer físico, a sensação de prazer, deixando o cérebro desligado. É o estilo de vida típico do Mediterrâneo, Grego, Italiano. Mas voce sabe, hoje quem manda na Europa é Belgica, Alemanha, Holanda, países menos hedonistas do mundo. Eles exigem que sejamos estoicos, e o estoico não tem prazeres, ele suporta dores. ------------- Observe mais: filmes não propõe mais um simples prazer, eles tentam educar, ensinar, quando não, nos comandar. Na música POP se chora, se estupra ( o funk são dois câes cruzando, é um ato biológico, nada há da celebração do prazer ), se revolta, mas não se dá uma simples diversão. Aliás falar de música é perda de tempo, mudemos de assunto. -------------- Voce bebe vinho pensando na safra, no custo benefício, bebe como se fosse um estudo, uma ciência. Voce come preocupado com calorias, agrotóxicos, a ecologia e esquece que comer é o segundo maior prazer da vida. Esquecemos o gosto de gostar por gostar. E isso tudo começa quando criminalizaram alguns dos atos mais hedonistas do ser humano. ------------ Tomar sol e fumar um cigarro. Ser vaidoso e rir de tudo. Não é à toa que a insônia impera: um dos prazeres mais simples, parece que hoje nos sentimos culpados por dormir. A negação do Hedonismo traz uma herança lógica: a depressão, seu completo oposto. --------------- Eu recordo dos hiper hedonistas anos 70, onde tomávamos sol sem nenhum medo ( estranhamente os índices de cancer de pele eram baixos ), bebíamos vinho sem olhar o rótulo, bastava ser bom, e comíamos carne sem sequer imaginar um pobre boi morrendo assassinado. E o sexo? Era quase sagrado, o mais prazeroso dos atos, uma festa folia alegria, um ato feito de beijos longos, carícias extremas, um olhar que admirava e elogiava. Sem pressa. ------------------ Então veio a AIDS. E o mundo do sexo, gay ou hetero, foi cruelmente atacado pelos puritanos, que como aconteceu com a Covid, amaram poder posar de virtuosos. O rock começou a se tornar triste, muito triste, e mesmo bandas "alegres" e então novas, como Duran Duran ou Van Halen, eram atacadas como escapistas, tolas, sem consciência social. ------------ Elas eram hedonistas. Propunham a folia e a farra, a beleza sem vergonha, o poder ser. ------------ O disco de que falei é EMOTIONAL RESCUE, da banda mais hedonista da história, Os Stones, e eles, que desde 1973, são atacados porque não admitimos que tudo o que eles querem é....bem, voce sabe tudo o que eles querem: mulheres, festas, bebidas e sol na cara. Mais nada. ------------------- Somos bichos que sentem prazer. Talvez um cão comendo sinta prazer e não apenas necessidade, não sei, porém eu sei que existe uma diferença entre comer e apreciar, entre transar e foder. Nossa capacidade de ter prazer é tão nobre e exclusiva como é nossa razão. Mas hoje se faz questão de esquecer desse fato, o de que nascemos para ter prazer, não para ser felizes, ser feliz é espírito, é abstrato, no entanto nosso corpo busca o prazer. E ao o encontrar nos realizamos, crescemos, ficamos FISICAMENTE FORTES. Nietzsche sabia disso, DH Lawrence sabia disso. ----------------- Penso que o Hedonista é rebelde, individualista, e isso ofende o rebanho. Ele é também obvia e explicitamente feliz, e isso ofende os tristes. -------------- Eis aí a coisa: Antes a beleza era entendida como algo que copíavamos, mesmo sendo feios, para tentar ser menos feios, e isso nos fazia vivos. Assim como ver uma pessoa feliz nos recordava da ALEGRIA EM ESTAR VIVO. A possibilidade sempre presente, da alegria. Hoje beleza e alegria são ofensas, humilham. ------------- Nunca fomos tão puritanos. No século XVII era assim que se pensava: Vaidade e Alegria eram coisas do diabo. Voltamos a esse tempo. Mas usando um verniz de falsa liberdade. ---------------- Reconcilie-se com seu prazer. O genuíno. Aquele que liga o foda-se. O resto é vingança dos infelizes e dos chatos.

PORQUE DESPREZO TODO O CINEMA ATUAL E SOBRE AS COMÉDIAS BOBAS DOS ANOS 80

Óbvio que estou sendo injusto e é lógico que deve haver algo que preste. Mas eu desisti do cinema feito hoje porque esse cinema me enoja. Não gosto do rosto dos atores, não gosto do tom em que os filmes são feitos, não gosto da melancolia que escorre até mesmo das aventuras e comédias, odeio profundamente as chantagens emocionais. As vozes são de pessoas derrotadas, tristes, e o olhar, em todos os filmes, varia entre um ódio mal disfarçado ou o quase desespero. Qual a chance de eu assistir um filme sobre um gordo gay que sofre sem parar? ------------------ Vamos falar de algo que nos ergue? Comédias. Escrevi em outro post que o período entre 1978-1998 foi o auge da comédia. Talvez possamos traçar o começo em 1972, com o Woody Allen ainda engraçado e Mel Brooks. ------------- Os anos 30 tiveram Os Irmãos Marx, gênios absolutos e remédio certo para qualquer pensamento suicida, e ainda W.C.Fields, o mais niilista dos humoristas. Os anos 40 nos deu os filmes de Preston Sturges, um gênio, e Bob Hope. Nos anos 50 houve Abbot e Costello, Martin e Lewis e Lucille Ball. Nos 60 a comédia caiu. Peter Sellers era genial mas nunca foi humorista de verdade. Blake Edwards era bom. E havia Jerry Lewis. Mas o humor parecia nostalgia. Quando Mel Brooks sai da TV e parte a fazer filmes a coisa renasce. ----------------- Nos anos 80 teremos uma quantidade imensa de humor e humoristas. De Bill Murray à Eddie Murphy, de Steve Martin à John Candy, Lilly Tomlin, Belushi, Martin Short, Leslie Nielsen, o cinema era riso toda semana. Mesmo atores sérios se enfiavam no gênero. Tom Hanks, Travolta, Dennis Quaid, todos deram seus passos no humor. ------------------- Assisto dois filmes simples do gênero. E logo percebo a diferença, ambos seriam hoje impossíveis. Como todo humor verdadeiro, eles não estão nem aí para elegância, boas causas, não sentem medo algum e são coloridos, vibrantes de vida, atirados ao prazer. Ao contrário do humor "útil" ou "consciente" de hoje, ou seja, censurado, são filmes tolos que amam sua tolice. Eles têm luz forte, são claros, coloridos, descompromissados. Nos ensinam a não levar nada tão à sério, pecado mortal para os dias de hoje. ------------------- UM MORTO MUITO LOUCO tem uma história paupérrima e absurda. Dois caras têm de fazer com que todos acreditem que seu chefe está vivo. Isso durante todo um fim de semana na praia. O que há de bom nessa tolice? De bom não há nada, mas ele é divertido pra caramba! Os atores são bonitos, e parecem se divertir muito. A edição não tem pontos mortos e nada nele nos recorda as tristezas da vida. O cadáver se torna engraçado, o que é quase um milagre. Quando eles arrastam o corpo em ski no mar, cara, eu rolei de gargalhar! O que espanta também é a opulência de um mundo que não mais existe. Nos anos 80 as pessoas tinham muitas, muitas coisas e não sentiam vergonha alguma por isso. O que move o filme é dinheiro e sexo e eu digo que esse fato se chama honestidade. O que nos move é sexo e dinheiro e reprimir isso é viver confuso. Ou em estado de passividade. Quem dirigiu foi Ted Kotchef, diretor canadense que foi cult nos anos 70.--------------- O outro filme é DE VOLTA ÀS AULAS, e ele tem Rodney Dangerfield como um muito, muito rico grosseirão, que volta à universidade para ajudar o filho que está deprê. O início seria todo censurado hoje. Uma sequência de comerciais para roupas de gordo. Na universidade ele logo seduz todos, usando dinheiro e sendo o que ele é: um macho sexista bem humorado. Já em 1986, ano do filme, uma professora diz sentir saudades de homens que não se sentiam obrigados a chorar. Hoje ela deve ser uma lésbica. ------------------- Rodney Dangerfield era um humorista, vindo do stand up, tão bom que a gente sente sempre que todos seus filmes são menores que ele é. Caddyshack é a melhor coisa que ele fez, é uma das melhores comédias da história. Esta não. É apenas agradável. Robert Downey Jr faz um esquisito que hoje seria um cara comum. ---------------- Quando voltei à faculdade, em 2011, eu já tinha 49 anos. E de certo modo eu fui um Rodney sem grana. Lembro de entrar na sala, um silêncio deprimido entre os alunos, e começar a puxar conversa com todo mundo. Eu fazia piadas, elogiava as meninas, tirava uma das aulas e conversava com os professores. Andava pelos corredores olhando as meninas bonitas, rindo, falando aos berros, braços soltos, uma anomalia entre gente ensinada a se conter. E eles me procuravam. Me achavam excêntrico. Não sabiam que eu era apenas um homem comum dos anos 80. É isso.

ESPIONAGEM NA INGLATERRA E UM LIVRO MUITO PERIGOSO

Acabo de ler que um dos serviços de contra espionagem inglês possui um comunicado onde se lê: " Qualquer pessoa que for vista com o livro 1984 de Orwell, ou obras de Joseph Conrad, Tolkien, CS Lewis será considerada uma perigosa extremista de direita. Livros que pregam a contra revolução não podem ser tolerados. " Pasmado? Eu não. Esse movimento não é novo e durante a pandemia foi bastante solidificado. Na crise do vírus, governos perceberam que a população é hoje facilmente comandada. Quem foi e é crítico será sempre chamado de extremista. E de direita, porque quem não aceita a "união pelo bem " só pode ser um egoísta e todo egoísta é direitista. ---------------- Um técnico mostra na NET, com imagens, que a AI, a inteligência artificial que começa a ser dada agora para uso geral, já está ideologizada. Se voce pede para o cérebro eletrônico criar um poema sobre Bolsonaro, ele responde não poder criar nada que seja sobre política. Mas se voce pede um sobre Lula, ele te dá um longo poema sobre o heroi. ---------------- Eu não fico surpreso e nem alarmado. O bom senso prevalecerá. A incompetência da esquerda destroi a ela mesma. Aliás, acabo de reler mais um livro de Evelyn Waugh, e ele não entra na lista da Inglaterra porque ninguém mais o lê. MALÍCIA NEGRA foi escrito em um tempo em que as pessoas discutiam, não cancelavam e fingiam ignorar. Seria interessante ver um lacrador de 2023, um típico comedor de ostras da Vila Madalena lendo este livro. Como um nazista, ele provavelmente o queimaria na calçada. A sátira demolidora de Waugh fala de um imaginário país africano onde a crueldade e a corrupção impera. O presidente só se preocupa em parecer chique e fino, gasta fortunas em decoração e palácios, seus aliados o traem por qualquer quantia, o exército é antigo e sem disciplina, os estrangeiros brancos vivem em ócio impotente e loucos para fugir do lugar, cenas e mais cenas de assassinatos, roubos, fugas, troca de favores. Fome e miséria para o povo, uma nova limusine para o líder. Waugh jamais pensa estar sendo racista, ele simplesmente cria uma ficção que espelha a realidade. A África dos anos 60 era exatamente aquilo e escrever sobre o que se via não era ofensivo ou proibido. Não era coisa de chato de direita. Era a época de Idi Amin comendo a carne de seus rivais e de guerrilhas dizimando quem não lutasse por elas. Não houve um só país da Africa negra que não fosse vítima de líderes metidos à besta. Waugh nos faz sentir nojo e rir amargo. Sim, o livro é uma comédia. -------------------- Estou surpreso por ainda não terem se metido a criticar Jung por sua fé na INDIVIDUAÇÃO. Talvez porque Jung foi tomado por charlatâes que só percebem nele aquilo que desejam ver. Já Eliot, assumidamente conservador, é complicado demais para um militante censor e por isso ainda não foi atacado. Toda censura é burra e ao mirar em Orwell ou Tolkien eles esquecem do muito mais perigoso, para eles, Nietzsche, o homem que pregava o indivíduo sobre tudo o mais. Literatura de valor é sempre anti grupal e aqueles que tentaram ou foram fortemente socialistas envelheceram rapidamente: Gorki, Brecht, Shaw. Neruda só é lido na América do Sul, continente que nunca irá sair de 1968, e Saramago já começa a exibir teias de aranha em sebos. Mesmo autores "de esquerda branda", quando lidos com isenção, revelam, se são muito bons, um individualismo imenso, um descompromisso com revoluções, uma desconfiança às promessas de união pelo bem. Os ingleses vão ter de queimar mais livros que os nazis queimaram em 38.

OS ESTÚDIOS E A EUTANÁSIA

Eu tenho um amigo, antigo, que trabalha com tecnologia de ponta. Aquele tipo de coisa que um leigo nem sabe para que serve. Pois bem, em 1985 ele era um bem vestido yuppie de terno e sapatos brilhantes, falando para mim do futuro de sua área. O alvo era a beleza, o mundo do futuro seria limpo, colorido, radiante e luxuoso. Como se todo o planeta se tornasse uma tela de Matisse, a vida se tornaria calma, voluptuosidade e arte sublime. Weellll....Hoje ele usa bermudas de jeans rasgados, fuma maconha vinte e quatro horas por dia e advoga, ansioso, que o humano não importa mais, que o futuro é inumano e que isso será maravilhoso. -------------- Graças à chegada do metrô, meu bairro se modifica. Nos últimos dois anos brotam prédios como cogumelos. Todos são apartamentos de 50 metros quadrados. Ou menos. Quem vive em lugares tão pequenos? Aquele que não tem nada, não possui bens nenhum, inclusive família. Como ditaram os gurus da Nova Ordem Mundial: Voce não terá nada e será feliz.....observe que eles dizem Voce e não Nós. Observe que isso é uma ordem. -------------- O carnaval do Brasil é exemplo do mundo ideal: zumbis. ----------- Na outra ponta da vida, temos a eutanásia. Matar velhos, para seu bem, claro, será ato cada vez mais comum e aceito. Será chamado de ato nobre. ------------- Sem filhos e sem velhos. No mundo hiper racional técnico de agora, essa é uma bela notícia. É prático. É lógico. Funciona. Meu amigo está feliz com a criação de vida artificial. Ela não terá os defeitos da vida natural. Não ficará doente. Não sentirá medo ou dúvida. E será substituível. Não bastará confinar a vida em cubículos que impossibilitam a vida familiar, será preciso tornar o homem um ser inútil. É esta a era de aquário. Inumana. --------------- Mas para isso caminhar é preciso um centro forte e que não seja questionado. Para isso, nada melhor que o MEDO. Em emergências a população para de pensar e pede socorro. E o líder pode fazer o que desejar, desde que pareça um pai amoroso. Uma praga mundial, uma guerra, a defesa contra um grupo assassino ou até ETs, é preciso um inimigo para dar salvo conduto ao Líder. E quem é esse líder? Não somos NÓS que seremos os que nada possuem e serão felizes, os líderes são os ELES que ditaram essa nova fé. Os pelados e drogados correrão atrás do trio elétrico, se sentindo contentes por estarem ali, na sujeira e no empurra empurra, serão os que nada possuem, apenas seu corpo e suas regras ( assim acham ), os líderes estarão em casa, na sua imensa casa, comandando os trios elétricos, os compositores, as fábricas de cerveja, as plantações de coca e maconha. E fazendo brotar a cada dia uma nova ameaça. ------------------- Nesse Novo Mundo não cabem insatisfeitos radicais. Nem machos mandões individuais. Não cabem chefes de estado com ideias próprias. Nem artistas impulsivos. É preciso manter o rebanho preso entre duas forças: o desejo por prazer sem fim e o pavor do perigo. Eles obedecerão a quem lhes der o prazer e os salvar do medo. E com o tempo nem pensar irão mais. ------------ Estarei sendo pessimista? Sim. Me permito o ser. E revelo que meu amigo, o construtor do Mundo Novo, vive embriagado por ansiolíticos, anti depressivos e maconha. Pois no mundo admirável de 2023 é preciso matar o humano e humanos sentem e sentir é estranho. Bons sentimentos são bem vindos, mas sentimentos de dúvida, raiva ou nostalgia, isso não. Deve-se amar um cão, uma alface e a "humanidade", e ao mesmo tempo deve-se negar a própria imperfeita e rica humanidade. ----------------- A equação jamais irá fechar.

DISCOS VOADORES E SHORTS DE ALGODÃO

Faz uns 30 anos que os poderosos descobriram que a melhor maneira de dominar uma população é transformar adultos em crianças. Um adulto tem como característica central um enorme desejo de ser si-mesmo, de se individualizar. Para isso ele questiona, ele briga, ele xinga, ele se impõe. O adulto ri de tudo que pareça "ridículo", pois ele vê no ridículo infantilidade. E adultos não querem ser feitos de crianças. Jamais. Pois bem....Pela primeira vez em toda a história, notícias sobre OVNIS saíram das páginas de curiosidades e foram tratadas como coisas sérias. Até fotos eu vi. Fotos aliás que qualquer adulto daria risos de escárnio. Jogou-se na população a ideia de que seres vindos dos confins do cosmos estariam sendo capturados ou abatidos por simples jatos que não conseguem sequer sair de nossa atmosfera. Waaalllll..... Balões chineses também surgiram nos USA não se sabe porque. Bem, vamos ao que importa, já que a imprensa hoje se ocupa apenas com aquilo que serve para jogar fumaça nos olhos dos adultos ou contentar o mundo Disney das crianças de 40 anos. ------------------ A Pfizer admitiu, pela primeira vez, que suas vacinas eram inuteis. Lógico que eu sei disso desde o ano passado, qualquer idiota que fuja do mundo da Marvel e DC sabe disso. Mas finalmente eles admitiram. Voce não sabe? Criançola querida, tá rolando uma CPI nos USA sobre o assunto, mas os OVNIS são muito mais importantes né? ---------------- Uma fábrica química explodiu nos EUA e uma nuvem tóxica está a contaminar 3 estados. Isso voce pode ver até na CNN, a fábrica oficial de notícias distorcidas ou irrelevantes. Mas essa notícia, a mais grave destes dias, ficou beeeem no canto, beeeem discreta, pois os balões e OVNIS são bem mais fatais né? ---------------- A Russia destruiu uma fábrica de armas químicas na Ukrania financiada por capital dos....adivinha? USA. Mas os OVNI são bem mais relevantes. ------------------- Meu bebê, quando o cinema passa a jogar na sua mente centenas de filmes sobre herois de teenagers, ou historinhas fofas sobre amores de pré primário vividos por paspalhos de 30 anos, bem, isso não é por acaso. Quando as letras de música são como balbucios de crianças ou os livros mais vendidos são escritos como para jovenzinhos de 11 anos...não é por acaso. Mais importante que tudo, toda atitude corajosa é taxada como tóxica e tudo que parece adulto se faz cringe. A agenda do cara informado se resume a questões raciais, ecológicas e de drogas, e por favor, fique no seu cercadinho e deixe os únicos adultos lidarem com o mundo real. Se voce se comportar papai te dá um mundo virtual completo pra voce viver e não amolar ninguém. -------------- Caros amigos, a guerra é entre o mundo virtual, que nos escravizará em prazeres infantis sem fim, e o mundo real, que se torna cada vez mais inacessível. Não é à toa que a imagem do mundo dos caras legais é uma pirralha de 13 anos. Vistam seus shorts de algodão com ursinhos, brinquem de ser menines, fumem unzinho e fiquem no quarto jogando video game. Enquanto isso os velhos adultos de 60 anos lidam com os bilhões reais. Ok? -------------

UMA PALAVRA SOBRE A LIVRARIA CULTURA:

Sou do tempo em que a Cultura era a livraria mais elitista do Brasil. Loja na Paulista, menor, ela vendia importados no tempo em que importados eram muito, muito caros. O cinema ainda existia, sala imensa onde ela iria se alojar nos anos vindouros. Os vendedores sabiam tudo de clássicos e o foco era em filosofia. Depois, já neste século, era um lugar chique, muita gente ia só pra passear. Tinha uma sala de música clássica, muito livro de poesia e boa sessão de cds e dvds. A partir do momento em que essas mídias saíram de moda ela perdeu a razão de ser. ------------------- Quando inaugurou a loja do Iguatemi, espaço caro, dois andares de exibicionismo sem porque, ela decretou seu fim. Para se manter ela teria de vender muito, e vender coisas caras, e era lógico que não ia rolar. Tenho amigos que só compram livros on line, outros usam a tal telinha pra ler, a coisa acabou. Livraria hoje só se o aluguel do ponto for bem barato. Ou o ponto for do livreiro. ----------- Não sinto pena nenhuma do fechamento. A loja estava um horror e não era de hoje. Vendedores militantes, livros lacradores, gente como eu não se sentia bem vinda. Na livraria Cultura aconteceu fenômeno que ocorre neste século em todo ocidente, por reprimirem o conservadorismo eles perdem exatamente aqueles que consumiam mais livros. Pois ao contrário do que eles pensam, somos nós quem ainda queremos livros de papel. E fuçamos as sessões de filosofia e poesia. Portanto minha palavra sobre a Cultura é: já foi tarde. Nas últimas vezes em que lá estive não vi um só livro que me interessasse. Nada de nada. Apenas livros de auto ajuda, infanto juvenis e uma montanha de capas sobre as figurinhas banais da esquerda. Uma pobreza intelectual humilhante. ------------- O ato de caçar livros, segundo os bons psicólogos, é genético ao homem. Nosso instinto de caçador exerce seu direito ao procurar, achar e capturar aquilo que ele deseja. Faço isso em sebos. Percorro ruas e depois as estantes atrás da presa atraente. A Cultura havia se tornado um açougue de carne podre e não um campo de boa caça. Adios e não volte nunca.

A DITADURA DO FEIO E A BELEZA COMO RESISTÊNCIA

----------- Eu estava com a minha namorada assistindo a MTV e fiquei bem de saco cheio. Em uma hora eu não vi uma só pessoa que não fosse pavorosamente feia. Veja bem, não eram apenas pessoas sem beleza, neutra, eram seres possuidores da feiura. Neste ponto de meu texto espero que voce não venha me perguntar o que é belo, ou afirmar que a beleza é um invenção opressora. Espero mais de sua inteligência. ------------------- Belo é aquilo que nos dá uma folga do mal. É aquilo que nos consola da doença e da morte. Beleza é saúde. Beleza é força para viver muito e viver bem. O belo dura, ergue, faz querer. E se voce não entendeu nada disso você é um asno dos mais feios. ----------- Quanto ao fato de a beleza ser uma convenção social, claro que é. E eu vivo dentro dessa convenção como vivo dentro da minha língua. Eu penso, sonho e desejo com minha língua e mesmo para a destruir eu uso planos construídos dentro dela. O conceito de beleza de minha civilização faz parte de mim, sou eu, assim como a língua faz. Esse conceito me constitui, me ergue, me dá força. Toda pessoa que tem por objetivo destruir minha civilização começa por destruir minha força, meu élan vital, meus desejos, ou seja, a beleza desta sociedade. ------------------ Dentro da esquizofrenia deste momento histórico, esquizo porque nunca o discurso público esteve tão distante da realidade do privado, cultua-se o feio como fosse ele democrático e bom. Tenta se dar ao belo um caráter de elitista e maldoso. Tolice extrema: Toda beleza é profundamente bondosa pois ela vitaliza todo aquele que a observa. Seja uma bela praça, uma igreja ou um luar, a beleza se dá, se oferece, mais que isso, ela NECESSITA SER OBSERVADA PARA EXISTIR. Um homem miserável, ou um soldado na guerra, enquanto possuir a capacidade de entender que a beleza existe, estará salvo. Toda cura psiquiátrica começa pela recuperação da apreciação da beleza. Um mundo que não valoriza a beleza, ou pior, que a odeia, é um mundo doente. -------------- Então vejo na MTV, crianças de 12 anos, seu público, sendo educadas a dar valor a pessoas feias cometendo atos ridículos em ambientes sujos. Mas não só em clips. Os apresentadores têm visual de anorexia ou de usuários de crack, as propagandas são protagonizadas por traficantes fake ou gordos mórbidos orgulhosos de seu colesterol. Tudo parece poluído, cheio de pó, escuro, soturno, e as roupas ajudam a compor o visual de quem deseja ser feio, ou pior, anti-bonito. -------------- Eu sou um cara feio, sempre fui. E sei que SOLIDARIEDADE AO FEIO não é ser feio como ele é, mas sim o AJUDAR A SER MENOS FEIO. A descobrir sua elegância. Sua luz.----------- ----------------------- Então tenho a certeza, como dizia Dostoievski, que a beleza pode salvar o mundo. E que nunca precisamos tanto de beleza como hoje. Se voce quiser ser um REVOLUCIONÁRIO hoje, seja belo. Vista-se bem. Admire a beleza. Elogie o que é bonito. Salve e eternize um momento de harmonia. Zombe, ria, desnude a absurda feiúra ORGULHOSA de 2023. Não falo de criticar o pobre ser que nasceu feio, falo de rir do ser que DESEJA SER HORRENDO COM O OBJETIVO DE TE DOMINAR. ------------------ Pois esse culto ao feio tem por única meta a desmoralização de uma construção social. Não mais a casa com jardim e janelas com cortinas, mas sim o cafofo arrombado. Não as praças com lagos e flores, mas sim o concreto pixado. Não o jovem casal saudável e sorrindo, mas sim a dupla vestida de preto em andrajos de mendigo. Não o elegante homem que anda de peito estufado e parece recém barbeado, mas sim o ridículo ser estufado, com roupas de criança, e um olhar de desamparo. --------------- Encontro a palavra que procurava: amparo. O belo nos ampara. --------------- No mais, 3 clips do tempo em que cinema, música e TV tinham por obejtivo nos educar esteticamente. Ver uma hora de MTV era tomar contato com um mundo de beleza que tentávamos copiar. E a mera tentativa nos amparava. ----------------

PRATO DO DIA, UMA LEMBRANÇA DE COMO SE COMIA EM SÃO PAULO NOS ANOS 70.

Risoto à Catarina era uma montanha de arroz cozido com molho de tomate e frango desfiado. Misturava-se ervilha e sobre tudo se depositavam seis fatias de presunto frito. Era minha comida favorita no bar do meu pai. De uma fartura imensa, o sabor de ervilha com frango era irresistível. Prato comum nos botecos da cidade, ele foi abandonado quando os MacDonalds fizeram falir os bares de salão grande que serviam refeição. Os frequentadores eram os gerente de bancos e lojas, mas também os balconistas, compradores, todos lá se uniam. Havia mais: Bife à Cavalo era prato comum e conhecido em todo lugar, hoje pouco lembrado. Um contra filé de dois palmos com três ovos mal passados descansando sobre a carne. A gema, mole, escorregava sobre o filé e o arroz que descansava debaixo de tudo. Era bom demais. Um outro prato sempre pedido, que eu adorava, era o Bife de Fígado com fritas. Um gigantesco bife de fígado de boi, bem passado, com batatas fritas que eram temperadas pelo suco que saía do bife ao ser cortado. Postas de Cação ao Molho. O peixe cozido numa panela grande, mergulhado em tomates, cebolas, azeite, alho. Acompanhado por batatas cozidas. Rabada. O rabo do boi cozido longamente em panela de pressão, um cheiro rico, irresistível, prato para se comer com as mãos, fiapos enfiados entre os dentes, o molho grosso, gorduroso, capturado pelo pão fresco. Dobradinha, talvez fosse a comida que mais me dava prazer. Um caldo grosso, quente, fumegante, com feijão branco, bucho, temperos em quilos e quilos. Para quem nunca comeu, o bucho não tem gosto, ele apenas engrossa o caldo e tem uma textura deliciosa. É como morder uma carne que derrete ao ser tocada. A Feijoada era outra na época. Vinha com mais carne seca, grandes cubos desfiando no caldo fervente. O feijão vinha à parte, em sua cumbuca com paio e lombo. Orelha, focinho, rabo, pé de porco, as pessoas tinham fome, tinham estômago, comer era um prazer, o maior dos prazeres. A Lasanha tinha três andares: presunto, queijo e carne moída. O molho escorria a cada garfada e a massa era firme, pedaçuda. Meu pai nunca servia Virado a Paulista, então esse prato não faz parte de minha memória afetiva e gulotiva, mas o Espaguete com Almôndegas é inesquecível. Imensas bolas de carne nadando em tomate, o ato de cortar uma ao meio, ato que era recompensa pelo trabalho do dia, o vapor saindo lá de dentro, o sabor de carne suculenta, o espaguete grosso, escorregadio e o pão para limpar o prato no final. Proust tinha razão, nossa memória de cheiros e sabores é viva, surpreendente! O Filet de Pescada com Fritas, o mais barato dos pratos de então, hoje o peixe está caro, Pescada não se acha mais, frito, ele estalava nos dentes ao ser mordido. Mais barato? Não! O prato dos Office Boys era o Comercial, arroz e feijão, salada de alface e tomate, e um bife fininho. E barato era também o Picadinho, um cozido de carne com batatas e cebolas, quente, grosso, prato que agora, ao escrever, ainda me faz salivar. --------------- No balcão o copeiro deixava garrafas de caipirinha e batidas de frutas, cortesia da casa para abrir o apetite. Sobremesas, meu pai oferecia apenas três: Pudim de Leite, do qual ele tinha imenso orgulho. Era um pudim gigante que era cortado em fatias triangulares. Muito elogiado por ser pouco doce, era feito por ele mesmo, daí seu orgulho. Quem resistisse ao pudim teria salada de frutas ( mamão, laranja, maçã e banana, tudo em pedaços grandes, nada dos picadinhos minúsculos de hoje ), ou Quindim, esse não muito cotado, único prato não feito na cozinha do meu pai, era comprado numa doceira da rua ao lado. ---------------- Botecos da época, falo de 1973, 1978, vendiam pouco sanduíche. O grosso eram esses pratos, comidos no balcão ou em mesas para quatro. Coxinhas e empadinhas, feitas na hora, imensas de grandes, vendiam muito também, e quando se pedia sanduíche ele era misto quente, baurú ou americano. Não se falava em hamburger. O Americano era soberbo: pão de forma com queijo prato, presunto, ovo frito, alface, tomate e maionese. O queijo esticando ao ser mordido e o presunto dourado, bem passado. Pra beber? Eu mandava duas Fanta laranja, sempre a minha favorita, mas tinha 7UP, Gini, Pepsi, Taí, Ginger Ale. Meu pai nunca vendeu Tubaína não.... ------------------- Saudosista este post? Sim, é. Havia nessa comida uma pessoalidade, a marca da mão da cozinha, mesmo simples, mesmo modesta, uma riqueza de gosto e de cheiro, um conforto caseiro que não existe em nenhum fast food e está ausente em 90% dos bons restaurantes. Nos Fast food a comida não tem cheiro e possui pouco sabor. O atendimento é antipático, frio, apressado e voce mal percebe o que come e comeu. Já nos restaurantes, os ruins são apenas ruins, e os bons vendem uma "experiência gastronômica", ou seja, um ato que está mais ligado a um show que a uma refeição calorosa e confortante. -------------- Suado pelo trabalho, voce tirava o paletó e o apoiava no encosto da cadeira, respirava fundo e gritava no salão: Oh Charuto! Tem Dobradinha ainda? E o Charuto, apelido do Antonio Carlos, gritava, caneta enfiada atrás da orelha, " Tem só mais uma! Manda?" Voce estava em casa. E isso custava pouco e valia muito. Muito sabor.

VOCE É DONO DO QUÊ?

Hoje não somos mais donos de nossos cães, somos tutores. Eu permaneço sendo dono dos meus. Interessante essa palavra, dono. Ser dono de seu nariz. É um mundo que diz que somos donos de nosso corpo, mas onde não podemos ser donos de um cachorro. Cinismo, pois sabemos que posso tratar meu cão como objeto e nosso corpo adoece e morre sem nos obedecer. -------------- A frase guia da NOVA ORDEM MUNDIAL, organismo que se dizia ser invenção paranoica mas que hoje se revelou fato comum, é VOCE NÃO TERÁ NADA E SERÁ FELIZ. Parece uma ordem não é? Então vejamos...Voce não terá coisas, irá as acessar. Não terá uma casa, irá financiar em 40 anos ou alugará. Usará metrô e não acumulará bens. Tudo que voce precisa será dado por um smartphone: livros, filmes, música, voce nada terá a perder pois nada terá para perder. ---------------- Historicamente, basta ler qualquer livro de história, a tirania se impõe onde a população nada possui. Uma pessoa pobre tem duas atitudes diante do poder: a indiferença de quem nada tem a perder, ou a humilhação de esmolar uma ajuda. Só resiste à tirania quem tem o que perder, quem se apega àquilo que possui, quem é dono de alguma coisa. Mesmo que essa coisa seja "seu nariz". Foi assim no mundo antigo, todo ele miserável, foi assim na Alemanha falida de 1929, na Russia de 1917, na Africa inteira, e em Cuba, Nicaragua, Venezuela, Portugal em 1920, e Espanha de 1936. Uma classe média numerosa e forte é a garantia contra a tirania. Apegados ao que possuem, essa classe não admite que o estado se enfie dentro de sua casa, que toque seus bens, mesmo que esses bens sejam apenas meia dúzia de objetos amados. A liberdade nasce do TER. Como falei, aquele que nada tem se torna indiferente. A base da democracia é o amor à sua casa, seu bairro, sua cidade e seu país. As suas coisas são suas e elas são protegidas por sua comunidade. Por isso que Inglaterra, USA ou França nunca conheceram ditadura ( os europeus desde que criaram uma classe média, pós industrialização, os USA já nascem como nação classe média, republicanos ). ------------- Observe como todo ditador tem ares de aristocrata. Eles sonham em ser imperadores e odeiam o cheiro vulgar-classe média- da república. -------------- Então não sejamos cegos, toda ditadura tende a amar os muito, muito ricos, necessitar dos pobres, muito pobres e destruir os que estão no meio. Amam os ricos porque amam o brilho e a pompa e precisam de quem os financie. Muito ricos sabem que em momento de crise as oportunidades brotam do chão. É a hora de triplicar a fortuna. Aquele edifício que custava 100 milhôes pode ser comprado por 20. Os empregados que pediam 5 mil se contentam agora com 3. O milionário é indiferente a tirania por ser imune à ela. E mais que isso, por enriquecer com ela. -------------- O tirano precisa do pobre porque é ele quem lhe dá suporte. Indiferente ou pedinte, ele não representa perigo nenhum. Qualquer esmola é para ele um tesouro. Mas a classe média....aí vive o problema do tirano. Ela quer ser dona de seu destino, e por não poder ser livre como um milionário, pois ela está atrelada ao país, ao território, enquanto todo milionário pode ser do mundo; essa classe média precisa então lutar pela liberdade de TER e de poder FAZER, e na hora mais dura, luta por PERMANECER. A classe média quer ser rica, quer ser livre, quer mandar. Então, para todo tirano, é ela a inimiga. É ela que atrapalha, estraga o plano, exige e não esmola. ------------- O que vemos hoje no mundo? A perseguição, como nunca vista, à classe média. Todos seus valores-costumes-bens estão sob suspeita. Tudo que ela construiu-ama-quer preservar está sob ataque. Instigados pelos novos tiranos, massas de despossuídos e de novos despossuídos espirituais, atacam sem trégua, tudo que lembre os tais "valores vulgares classe média". O super poder percebe estar à um passo de tipo de governo perfeito, aquele descrito por Huxley, a tirania em que o oprimido ama o opressor. Em que o cidadão nada tem, mas é feliz. -------------- As únicas pessoas que ainda procuram não abrir mão de nada, não desvalorizar nada, permanecer amando aquilo que sempre amaram, é a classe média. Não há outra saída, serão eliminadas ou vencerão.

QUANTO MAIS VELHOS MAIS NOS TORNAMOS NÓS MESMOS

...quanto mais velhos mais nos tornamos nós mesmos, então morrerei mouro, no deserto, sem dúvidas na alma, à procura do fim. -------------- No post abaixo, sobre AS MIL E UMA NOITES, falo do assunto, o modo como a cultura árabe está tatuada na cultura latina. Roma e Atenas são a base da vida do Ocidente, mas o sentimento árabe tempera esse caldo, o excita, surge em cada palavra proferida. Minha origem, lusitana, traz a marca das mulheres de véu preto, das viúvas eternas, dos homens jogando cartas e as esposas na cozinha, do ciúme infernal, da princesa e da puta, da faca nos dentes. Mas há mais: a canção de amor doído, a atração do deserto, o amor exultante pela água, o terraço sombreado, as cores fortes, a pimenta, a dança que move a bunda, o violão, os silêncios que duram dias, as brigas em família por motivos de honra, o desejo pela não-ação, a fidalguia, o banho, a miragem.... -------------------- Diferença fundamental: na cultura cristã, é o futuro que trará a verdade. Jesus há de voltar, o bem vencerá o mal, os últimos serão os primeiros, no fim dos tempos o Reino se fará presente. Na cultura àrabe o futuro foi. Ele já aconteceu. No ano 500DC, Deus falou com Maomé e esse era o futuro. Portanto, já vivemos no mundo que virá. Na visão de mundo àrabe, progresso, evolução, não fazem sentido. O homem já está em seu apogeu. E entenda: eles não dizem com isso que o auge Passou e estamos na decadência. Não! Esse apogeu cessou o tempo. Decadentes somos nós, os ocidentais que não vemos a Verdade. Que corremos atrás de um futuro que já chegou a 1500 anos. Para eles, somos como um cão que corre atrás do próprio rabo. Passamos toda uma vida almejando algo que está aqui: o futuro. -------------- Por isso que é IMPOSSÍVEL vencer uma cultura assim. Por isso que ingleses eram enfeitiçados pela India, franceses pela Argelia: a fratura da nossa cultura ficava explícita, estamos aqui mas sempre queremos estar lá. Eles não. Eles estão aqui. E lá. Porque o tempo PAROU. -------------- Por isso é impossível a assimilação do imigrante, pois como alguém assimilará uma cultura que está à procura, que não achou, que anda "como tonta" e "não vê a verdade" ? Na melhor das hipóteses, na visão deles, somos crianças, crianças que criam brinquedos, carros-aviões-celulares, mas incapazes de ver o mundo real. Não se iluda, quando nossa civilização afundar, a deles permanecerá a mesma. Pois a raiz de seu pensamento está a salvo por ser estática. Ironico isso, não?

LIVRO DAS MIL E UMA NOITES, VOLUME 1 RAMO SÍRIO ( e a cultura da honra )

Tradução direta do árabe por Mamede Mustafa Jarouche. Eu li faz uns 10 anos a versão POP, aquela traduzida do francês por Malba Tahan. Essa versão, a que rodou o mundo e se tornou parte da cultura universal, é o melhor conjunto de narrativas que se possa achar. Por isso a fascinação de Borges. Nada explica melhor o amor do homem por ouvir histórias que esta obra. A princesa conta toda noite uma história para o Sultão, evitando desse modo que ele a mate pela manhã. Ou seja, a narrativa adia e vence a morte. Sem histórias nós morremos. Imaginar um mundo onde um pai não conta suas histórias para os filhos, onde não haja livros ou mesmo canções e RAP, é imaginar um mundo sem vida humana. O que define o ser humano é a capacidade de fabular e a necessidade de ouvir esse contar. Cinema, teatro ou epopéias, sem isso morremos. A qualidade de vida de um momento histórico é definido pela qualidade das histórias que são contadas. ------------------ A versão, esta, adulta, tem palavrões e mais sexo. O amor à criatividade é o mesmo. Não pense que a versão popular-antiga é infantil, ela não tem idade como não tem lugar. Esta é mais dura, aquela mais solta. Ambas são o que são, mágicas. Gênios, demos, poções, tudo vale, tudo pode acontecer. Mas é preciso falar, a maior parte das histórias tem a mesma motivação: um homem é chifrado por uma mulher. Não vamos negar o que se lê, a cultura árabe é toda centrada na honra do homem, e nada suja mais essa honra que um corno na cabeça. Descendentes dessa cultura, latinos carregam esse costume em seu gene. Espanha, Portugal, sul da França e da Itália sofreram imensa colonização árabe, ficaram os chifres. Na cultura celta as mulheres eram divididas pela tribo, o valor delas era ainda mais baixo, e por isso não havia o pavor da traição, de ser feito piada. Entre os árabes, a mulher pura tem valor sem preço, mas a traição coloca o homem como desonrado e a mulher que trai se torna digna de execução. Digamos que entre os celtas elas eram objetos de uso, e entre os árabes era princesas ou uma praga do demonio, sem meio termo. Por isso entre ingleses ou alemães, o tema da honra masculina não tem tanto valor. Já na minha cultura, tenho sangue árabe, basta olhar meu rosto para perceber, a honra está acima de tudo, e a honra maior é familiar: pai, irmãos, mãe e a mulher. Não se pode quebrar essa tradição. Nestes contos há ladróes e mentirosos que são até perdoados, o corno não tem como ser esquecido. É desonra para sempre. ---------------- Em 2023, neste nosso mundo, que na verdade é meio mundo, o Ocidental ou aquele que segue a cultura greco-latina, tudo está em crise. Vivemos a maior crise existencial desde o ano 1000, momento da idade média em que se definiu o que seriam os próximos mil anos. Nada está seguro agora, religião, arte, família, psique, tudo parece e está sendo dissolvido. O que virá em seguida? Dizem os astrólogos sérios que serão séculos de escravidão inconsciente. A nova etapa da história lembrará o antigo Egito, populações inteiras servindo a um grande senhor ( ou grande empresa ) em troca de sentido de vida, pão e circo. Um véu cairá sobre as pessoas e elas abrirão mão de sua particularidade. ------------- No mundo árabe nada disso faz sentido pois faz séculos que eles vivem basicamente do mesmo modo. Por detrás da Ferrari ou do brilho da cidade, o que existe é o tapete carregado para a reza, a mulher escondida, a ausência de alcool e de carne de porco, a certeza absoluta de se estar sempre certo. AS MIL E UMA NOITES não têm dúvidas, exitações, tudo é ação, tudo é de Deus, tudo é plano Divino. E por mais ateu que voce seja, tudo isso está dentro de nossos genes. My dear.

MEUS CAROS AMIGOS ( AMICI MIEI ), EU ME LEMBRO DE NÃO SER UM HOMEM...

Nos anos 70 a Italia flertava bastante com o comunismo puro. Interessante conversar com um rapaz de 20 anos, culto, sobre esse assunto. Para ele, hoje, comunismo é algo vago, uma névoa onde se misturam ecologia, feminismo, liberdade sexual, drogas e consumismo consciente do bem. Digo à ele que em 1975, em Firenze, onde se passa o filme, ser comunista era odiar rock, jamais comer nada que tivesse origem made in USA, querer dar o poder aos operários e ter acessos de raiva ao ver gente bem vestida, limpa, organizada, burguesa. A revolução seria absoluta: patrões presos, pobres tomando as casas dos ricos, fábricas virando cooperativas. Acima de tudo, para ser comunista voce era, coerentemente, materialista. Crer em espíritos, igrejas alternativas, vida pós morte, tudo era encarado como ópio, maneiras de amansar o pobre. Mesmo a arte só era válida se fosse militante, se tivesse uma função social educativa. Weellll....meu amigo fica meio chocado. Coitado. -------------- Conto isso porque este filme, uma obra prima do humor humanista que só os italianos sabem como fazer, exibe esse momento histórico de forma enviesada. Se em 1975 todo italiano moderno era necessariamente comunista, estes cinco adultos estão além do comunismo, eles são anarquistas. É a versão made in Firenze do filme francês de 1973, Corações Loucos, onde Gerard Depardieu, Miou Miou e Patrick Dewaere, este um ator de gênio que tragicamente morreu jovem, nos anos 80, por heroína, mostram, sob a direção de Blier, o que seria o anarquismo na França de então. O estilo francês é agressivo, violento, sexualmente feroz, animalesco; já o italiano se pauta sempre pelo humor e pelo exagero operístico dos sentimentos. São finos, são machos, são bobos e são civilizados, são italianos.... ---------------- A primeira ministra da Italia fez um discurso de posse que é uma das peças mais belas da política e é a melhor em décadas. Grosso modo, já escrevi sobre o tema, ela diz que a Italia precisa voltar a ser italiana. Modo de viver, gostos, religião, arte, comida, tipo de relações humanas, família, ao estilo do país e não da Europa. Pois esse modo europeu é sempre o mesmo, um jeito nórdico de se fazer e de se viver. É preciso salvar a cultura do sul, do Mediterrâneo, latina. Este filme nos faz lembrar de duas coisas: 1. O quanto devemos à cultura italiana. 2. O quanto existe de felicidade em se ter amigos masculinos. ( Machismo? Talvez ). ---------------- 1. A Italia nos civilizou. Nos livrou do barbarismo que às vezes retorna em forma de nazismo, stalinismo, irracionalidade, crenças estúpidas, exagero no culto à natureza, magia negra, ódio à educação, raiva da história ocidental-latina. Na cultura italiana encontramos o nascimento do amor à beleza até o refinamento dos modos, o amor ao flerte à criação da música ocidental. As regras que se aplicam à diplomacia, arquitetura, saneamento básico, guerra, direito, trato com as mulheres, gastronomia, cultivo de vinho, fabricação do pão, senso de vestir, troca de ideias, tudo made in Italia. Italianos falam, discutem, escrevem, cantam, tentam seduzir, tramam, traem, matam, mas tudo dentro de um discurso, de um código, do mundo do Cortesão, do cavalheiro, do gentil homem. ( Por isso o fascismo italiano foi muito menos feroz que o alemão ou russo ). Espada e pena, sangue e flores. Este filme mostra isso? De contrabando, sim. Mas o foco principal é no ponto 2. -------------------------- 2. Eu vivi dois tipos de ambiente em minha vida. O mundo da amizade masculina e o da feminina. Ambos são interessantes, mas para um homem, as grandes lembranças são as das amizades entre homens. ( Minhas grandes lembranças com mulheres são ligadas ao romance, e ao falar isso estou sendo honesto ). Quando, no filme, os amigos dão tapas nos passageiros de trem, eles estão sendo homens, apenas homens, homens que estão longe de mulheres. No ato o único objetivo é rir, mais nada. Não há sentido oculto, nem mensagem cifrada, nada. O tapa acontece porque faz rir e rir é bom. Essa é a capacidade masculina de viver: fazer o que naquele momento e naquela hora faz sentido porque deu vontade de fazer. Cada piada, cada bagunça, cada trapalhada no filme é apenas isso, desejo de rir. Se voce já teve amizades sinceras com homens não castrados voce sabe do que falo. Tóxicos? Sim, pois eles viciam. ---------------------------- Eu tenho alguns amigos, ou ex amigos, que aos 30 anos eram assim. Maravilhosamente bobos. Tudo o que faziam tinha embutido o desejo de rir. Mesmo quando conversávamos sobre Bach ou Nietzsche, o final, a gente sabia, era o riso. Aos 35 anos eles se casaram. E lentamente mudaram. Alguns se fizeram preocupados, vendo o riso como infantilidade irresponsável; outros simplesmente começaram a falar como suas mulheres, os mesmos assuntos, mesmos gostos, mesmas atitudes. O passado não era condenado por eles porque deixou de ser lembrado. Mataram o que foram aos 20. Pois bem, neste filme vemos homens de 50 anos que são casados ou divorciados e que abrem mão de tudo pelos amigos. Visto hoje isso parece coisa de idiota ou algo impossível de acontecer....weeellll....meu avô morreu aos 70 anos exatamente assim. Quando a turma do bar chamava, ele ia. Sem nunca hesitar. Egoísmo? Muito. Mas creia, sentiremos muita falta desse tipo de homem, pois era ele quem garantia um mínimo de paz à comunidade. Com os dele, o que era dele, ninguém se metia. Com os dele nada de ruim acontecia. Ele era a porta contra a maldade dos de fora. Isso acabou. Recentemente fiz amizade com um homem desse tipo, 60 anos, velha moda de ser e fazer. Ele contrabandeia bebida para dentro do trabalho, empresta dinheiro a juros baixos, viaja sem planejar, indo para lugares onde nunca foi, sustenta duas famílias, come até passar mal, e me cumprimenta no estilo: Como vai seu filha da puta! Ele age. E ri. É um egoísta. Mas é responsável pelos seus. ---------------------- Tive amigos assim por toda vida. Não os valorizava porque antes eles eram comuns, fáceis de achar. Hoje são uma raridade. Não é por acaso que mesmo em países como o Canadá ou Irlanda já se percebem sinais de tirania governamental. Não há mais esse tipo de homem para botar o pé sobre a mesa e parar com a merda toda. Os que ainda existem se encolhem com medo de serem rotulados de "tóxicos", "velhos", "brucutus", ou pior que tudo "opressores". Loucura: os que nos salvaram da opressão desde sempre, são agora rotulados como "perigosos". Saibam que, pasmem!!!!, os comunistas de 1975 eram extremamente viris. Cuspiam no chão, tinham amantes e odiavam frescura. Se voce olhar bem irá ver um monte deles na política que agora toma o poder aqui na Latino América. Estão detrás de névoa de feminismo, ecologia, drogas livres..... rindo. ----------------------- Pietro Germi, o mais esquerdista dos diretores, escreveu o roteiro deste filme e ia o dirigir quando morreu. Mario Monicelli, o melhor dos diretores de comédia, pegou o barco andando e fez um grande filme. O elenco é adorável. Todos têm cara de gente de verdade e não personagens de cinema. É tudo crível porque eles são críveis. Cada rua gelada, cada carro enferrujado, a casa inacreditável de Tognazzi, o hospital onde eles se comportam como alunos indisciplinados, tudo é brincadeira e tudo é real. Apenas a Italia conseguia fazer esse tipo de cinema, realista mesmo quando parecia exagerar. Nunca feito por tipos, sempre por gente. Rezo para que Melloni, a ministra, tenha sucesso. ( Há algo mais italiano que uma ministra chamada Melloni? Penso nos italianos em Siena falando dos melloni dela ). --------------------- Seria maravilhoso que uma cultura que começou com A Divina Comédia e o Decameron, nos salvasse mais uma vez.

A PRISÃO DE PEDRO JUAN GUTIÉRREZ

Há um livro de Pedro Juan em que ele é convidado a ir à Suécia. E lá ele percebe algo que o decepciona muito: os intelectuais suecos o admiram por sua pobreza. Em país de fartura, Pedro Juan é visto como um tipo de ser especial por ser pobre, por escrever em país tão original, país pobre. Percebemos então que esses suecos não desejam que a pobreza de Pedro Juan desapareça, eles querem que " ele se mantenha como uma espécie animal, um tipo de bicho homem que está extinto na Suécia e que por isso deve ser PRESERVADO em seu país". Pedro Juan está preso na pobreza assim como um rinoceronte branco está preso em sua reserva. Suecos, ricos, limpos, educados, cheios de bons sentimentos, amam e ficam excitados com a sujeira, o sexo, o cheiro, o gosto dos livros e do mundo de Pedro Juan. Ele lhes salva do tédio de uma vida pós humana. ----------------- O país de Pedro Juan é Cuba, um museu ilhado, uma história conservada em formol, uma nação sem tempo. Penso que temos o mesmo sentimento em relação ao nosso nordeste. Queremos que a Bahia de Jorge Amado e Caymmi dure para sempre e para ela durar deve ser pobre e ignorante. Não queremos que ela seja Miami e nem mesmo Costa Rica, queremos o Pernambuco de sempre. Sujo e pobre, "nosso". Estou usando o pronome "queremos" por educação, não é o que eu quero, não é o certo. Pedro Juan merece evoluir e ser rico, assim como seu país merece ser Coreia ou Taiwan. Sem sujeira e sem doenças. Sem fome. O tempo deve voltar a andar por lá. Como cá.

A VIDA É UM CABARET? NÃO MAIS QUERIDO, NÃO MAIS

O filme de 1972, CABARET, filme ícone dirigido por Bob Fosse, produção que disputou com O PODEROSO CHEFÃO os Oscars de seu ano, ganhou o de direção, deixando Coppolla com melhor filme, Cabaret é cinematograficamente falando um filme perfeito, mas como eu ia dizendo, CABARET diz que a vida é um cabaret. Será? Em 1931, ano em que a história se passa, era sim. O mundo, despedaçado, se aprontava para a pior guerra da história e o povo, anestesiado, se divertia no cabaret criado para sua diversão. Sexo, bebidas, música, números de dança e a ilusão de se poder ser um grande astro, seja no cinema, seja nos livros. Risos histéricos, aplausos e assovios. Mas em meio à isso tudo, os rostos expressionistas que a câmera de Geoffey Unsworth capta tão bem. CABARET foi o primeiro musical que vi e adorei e é o melhor filme musical para ser visto por quem não gosta de musicais. Isso porque todos os seus números não acontecem na "vida real", mas sim sobre o palco. Não há a interrupção da ação falada para que avança a ação cantada. Joel Grey apresenta cada número, isso porque para Bob Fosse, a vida americana em 1972 era a vida no cabaret. ----------------------- O filme nunca será visto em sua real dimensão por quem tem menos de 60 anos de idade. Cabaret se tornou uma presença constante em seu tempo. Shows de TV, comerciais e discos, a estética cabaret, o modo de viver cabaret aparecia em todo canto. Sally, a personagem de Liza Minelli, se fez modelo de shows de transformistas e até hoje eu vejo meninos de sexualidade dúbia que são Sally Bowles sem saber quem é Sally Bowles. O mestre de cerimônias feito por Joel Grey, satânico, é molde para figuras soturnas do mundo POP. Transformer de Lou Reed, assim como Ziggy Stardust e Roxy Music I, são desses meses. New York Dolls e Killer de Alice Cooper também. A estética gay-decadente-cabaret dava o tom. -------------- Hoje a vida não é um cabaret. Sally seria uma youtuber. O escritor feito por Michael York seria um crítico de arte ou um blogger. A judia rica, feita por Marisa Berenson, seria uma conservadora, censurada na net e sem poder se revelar nos meios artísticos. O mundo da ilusão seria o mundo das redes sociais, mas esse mundo, incomparavelmente mais poderoso, com suas câmeras vigiando até mesmo o interior de seu carro e a porta de sua casa, se confundiria com o mundo real. Uma tempestade acontecendo no mundo real, como em 1931, e ignorado pela maioria, como em 1931. Mas diferentemente, podendo ser controlado e domado pelo cabaret. O filme é poderoso e atemporal. Não tem uma só cena fraca, todas parecem necessárias e magistralmente compostas. As canções, de John Kander e Fred Ebb se tornaram parte de nosso inconsciente. Bob Fosse foi um diretor genial, irriquieto, e nesse ano obteve um recorde que jamais será batido: ganhou Oscar, Tony e Emmy na mesma temporada. Melhor diretor de cinema, melhor diretor de teatro, melhor diretor de TV. Cabaret, Pippin e o especial de TV Liza with Z. --------------------- Eu jamais esqueci a cara de Joel Grey ironizando cada cena do filme. Jamais deixei de levar money makes the world go round em minha cabeça. A estridência da orquestra feminina. A bissexualidade de TODOS os personagens. Até Liza, uma figura tão exagerada em outros filmes de shows, aqui está adorável. Sally nasceu para perder e ela insiste em não ver isso. E pensar que Fosse fez o filme com uns trocados pois ninguém queria produzir um filme tão soturno..... Oscar Wilde dizia que o mundo, em 1880, era uma peça ruim. Em 1931 foi um cabaret e em 1950 era um filme em technicolor. Nos anos 60 o mundo era a tela de uma TV e nos anos 80 ele se tornou um video clip. Em 2022 ele é um "rede social do bem" e quem estiver fora não existe mais. O que nunca mudou em todos esses mundos? Money makes the world go round.....

A TARA PELO REAL

Baseado em fatos reais. Esse é o anúncio que todos usam hoje como se for baseado em fatos reais desse a qualquer obra uma "utilidade": manter voce informado. O mundo da conectividade nos deu a ilusão de que estar informado nos dá algo de bom ou de nobre, nos faz uteis. Esse é o maior engodo do século. A realidade não se encontra em coisas baseadas em fatos reais, ela se encontra na rua, fora da net, do jornal, do cinema ou da TV. ---------------- Fazer uma pessoa ficar 24hs por dia conectada não faz com que ela esteja ligada naquilo que acontece no planeta. Faz com que ela seja guiada pelo emissor daquilo que ela consome. Apenas e nada mais que isso. Massacrada por informações "reais", tudo que ela pode fazer é engolir e dizer amém. Em poucos dias seu poder de questionar será anulado. ----------------- Quer que eu explique mais? Quando lemos um livro "baseado em fatos reais" somos obrigados a não questionar nada. Aquilo é real, é verdade, cale sua boca. Teoricamente não é a visão de uma pessoa, é a realidade, e como tal, voce não deve a questionar. Vemos aí duas coisas perversas: 1- Não existe como alguém abranger toda realidade, e pior que isso, não há garantia de qual a intenção de quem diz ser aquilo o mundo real. Mesmo quando na rua eu observo o real, ele é sempre editado por aquilo que consigo ver ou aquilo que compreendo. Imagine o quanto essa realidade é modificada quando divulgada por um grupo comercial ou por uma pessoa que tem a intenção de vender ou agradar ou provocar ou defender sua crença? O "baseado em fatos reais" será sempre "meu ponto de vista sobre algo que eu desejo que voce creia". --------------------- 2- DOM QUIXOTE, FAUSTO, HAMLET, CRIME E CASTIGO, ANA KARENINA, A MONTANHA MÁGICA, RUMO AO FAROL são obras de ficção. O que elas têm de real? Foram produzidas por um cérebro poderoso que obteve seu material e sua inspiração neste nosso mundo comum à todos. Mais importante, são visões sobre a realidade mais real que a realidade, pois eles abarcam o mundo além da aparência imediata. Eles vão além do momento temporal, para além do local, se colocam dentro da alma de cada leitor e fora da contingência de uma pessoa específica. São a verdade de todos e a realidade de cada um que lê. Mas, talvez o maior "pecado" da grande ficção, ela pede, excita e convida à CRÍTICA. Ao saber que a ficção é uma criação de um indivíduo, somos convidados a discutir, interpretar, duvidar, argumentar, ter uma leitura própria, ou seja, TUDO AQUILO QUE O MUNDO DE 2022 NÃO QUER. ---------------- Baseado em fatos reais é uma ordem para não duvidar daquilo que se vê. A ficção é sempre um convite à discussão: o que ele quis dizer? É assim mesmo? A mais nobre função da ficção é nos fazer duvidar. Inclusive e principalmente do autor. Isso, em um mundo que deseja ser IGUAL E IGUALITÁRIO, UM MUNDO SÓ, UM PLANETA PARA TODOS, é inadmissível. Quando recebemos uma infrmação, uma obra baseada na realidade, recebemos uma ordem: É ISSO E NÃO DUVIDE! Pois se aquilo não foi criado por um artista mas sim obtido por um repórter, pesquisado por um roteirista, colhido por um biógrafo, ELE DEVE SER ACEITO COMO VERDADE, SEMPRE. O único comentário possível será: "Quem diria que era isso...." ou então: " Agora eu sei". Sabe o que? Voce sabe aquilo que lhe foi dito, apenas isso. O documentário ou a série ou a notícia no jornal não garantem contato algum com a realidade. Seu contato real é com o meio- midia, seja uma tela, um pedaço de papel ou um livro. Voce não tem a mínima garantia de que há algo de verdade naquilo, mas recebe a ordem de acreditar. Afinal, é "BASEADO EM FATOS REAIS". Afinal está no jornal. -------------- Na ficção não há ordem alguma, ou melhor, a única ordem é: "tente entrar dentro disto", mais nada. Uma vez lá dentro, do livro ou do filme, voce pode rir, duvidar, odiar, amar, achar que é real, desisitir, ou melhor que tudo: TER SUA VISÃO PARTICULAR SOBRE AQUILO. Não é a toa que toda tirania odeia a ficção. --------------- Já foi dito que os romances ingleses do século XVIII fizeram mais pela democracia que os filósofos. E isso não aconteceu por defenderam o voto ou a liberdade, mas sim por ensinarem o leitor a interpretar, crer ou duvidar, observar e tirar SUAS PRÓPRIAS CONCLUSÕES. --------------- Em um tempo, 2022, onde até um jornal já traz explicitamente a interpretação do fato, a conclusão da notícia e o que voce deve pensar e consumir como VERDADE INDISCUTÍVEL, ler uma obra de ficção é mais que usufruir um prazer, é preservar nossa humanidade. Feliz 2023.

O GRANDE PECADO DE ELON MUSK E O DESEJO DE MORTE BY FREUD

Vamos ver se eu entendi: Elon Musk se tornou um fascista por permitir que qualquer um publique o que quiser no twitter. Ao decretar o fim da censura na plataforma ele incorreu em um ato fascista, LIBERAR GERAL. Meu caro leitor, não ria. Se voce não sabe, hoje ser fascista é ser totalmente liberal. Em outras palavras, SER FASCISTA É DAR VOZ AO CONTRÁRIO, AQUELES QUE TÊM OPINIÃO DISCORDANTE. Por que? Porque no MUNDO DOS CONTENTES DO BEM, duvidar da harmonia risonha é ser fascista. Nada mais distante do fascismo real: que se caracteriza pela hiper censura, o aumento monstruoso do estado e a perseguição a dissidentes políticos. Ops! Me parece que descrevi o POVO DO BEM MADE IN 2022. Quem são os fascistas? ------------------ Elon Musk, antes o cara da energia limpa, é agora implacavelmente perseguido. Há torcida fervorosa pela sua execução pública. Dominados pelo ódio, os partidários do amor querem sua prisão. Nunca o planeta foi tão surreal. Vivemos em um conto de Kafka. ------------- Aqui na TABA, uma revista dá ao censor absolutista o prêmio de guardião da democracia. O homem que não escuta o congresso e que executa por humor próprio, que cala e prende é o rei da liberdade. Isso por não ter permitido aquilo que era um pedido óbvio: que as malditas fucking urnas pudessem ser auditadas. Bastaria a permissão de audição, feita por qualquer eleitor, ato comum em toda democracia, que toda essa papagaiada seria evitada e esvaziada. Mas o tal DEMOCRATA HEROICO deu a si mesmo, e apenas a si mesmo, o poder de auditar. O que ele diz é a verdade e se essa verdade for desafiada a punição virá em poucas horas. Qualquer pessoa com um mínimo de honesta inteligência sabe que isso não é democracia. Mas se eu duvidar serei chamado de fascista. Voltaire seria o maior dos fascistas em 2022. E como qualquer filósofo sério sabe, A VERDADE É AQUILO QUE PODE SER AUDITADO. O tal democrata heroico criou uma consfusão facilmente evitável. Bastava ter dito: Ora senhor, verifique o que quiser, olhe o que desejar, nada tenho a esconder. O riso final seria dele mesmo. --------------------- Tudo pode ser um blefe, e rezo para que seja, mas se confirmado, o ministério de José Inácio terá por objetivo o óbvio ululante: a destruição da odiada , segundo Chauí "berço de todo mal", classe média brasileira. São 40 paspalhos desonestos podendo nomear milhares e milhares de outros iguais. Inácio não é idiota, esse defeito ele não tem, então creio que é proposital. Bastam 10 milhões de militantes comprados via "AJUDA FINANCEIRA" para dominar 100 milhões de falidos. Não esqueça mui inteligente leitor, é a classe média que garante à um país sua liberdade. Desde o século XVIII toda democracia é baseada nas opiniões e desejos da classe média. Quanto mais forte essa classe é, mais forte a democracia. A tirania só existe onde ela nunca existiu ( Coreia do Norte, Cuba, países da Africa, China ) ou onde ela foi estrangulada via kaos da economia ( Venezuela, Nicaragua, todos os países do Leste Europeu pós segunda guerra, Italia e Espanha em 1920 ). Isso porque pessoas de classe média querem ter paz. Paz para trabalhar, comprar e opinar. A classe média tem O QUE PERDER e por isso tendem, mesmo sem saber, a se posicionar contra revoluções. Qualquer tipo de revolução precisa domar a classe média e a melhor maneira é a empobrecendo. Pessoas deprimidas pela perda de status não têm ânimo para reagir. O processo de induzir à depressão nossos jovens não é casual. Jovens são deprimidos por música, filmes e séries. Adultos pela perda de dinheiro. Uma massa de deprimidos é o sonho de quem vive em delírios ufanistas de poder sem fim. Todo democrata autêntico protege a classe média pois a liberdade depende do apoio dela. ---------------------- Supermercados estão sendo invadidos rotineiramente. As pessoas entram, pegam produtos e saem sem pagar. Na tranquilidade, sem alarde. Esse é o tipo de QUEBRA DE UM ACORDO CIVILIZADO que a médio prazo corroi todo o tecido social. O pobre, ou aquele que alardear sua pobreza, poderá invadir-saquear-tomar, e quem for contra isso será um fascista desumano. O desenho da piramide será redesenhado: uma base imensa e devedora de favores ao estado, uma classe média a ser apagada ( no mínimo será taxada de reacionária e então calada ) e o Poder, formado por altos funcionários do estado e milionários que financiam o aparato estatal. Quem está no topo ganha dinheiro e poder em formas inimagináveis, quem está na base vive com o mínimo e agradece a seu pseudo protagonismo, e quem está no meio se sente como gazela na savana. Pasmem que isso é hoje chamado de socialismo ou de sociedade rumo a igualdade. -------------------------- Feliz Natal.

CARTÃO DE NATAL

Em Pinheiros, na rua Teodoro Sampaio, esquina com rua Cunha Gago, havia uma grande loja de uma cadeia japonesa que se instalara no Brasil, a Yaohan. Parecia o Mappin. Tinha um supermercado com comidas de primeira e um tipo de grande loja de roupas, discos, brinquedos, TVs, rádios. Era bonita, limpa, ampla, decente. As compras de Natal eram feitas lá, mas antes, logo no dia 2 ou 3 de dezembro eu ia comprar os cartões de Natal. Escolhia cada um de acordo com a personalidade de cada amigo. O mais íntimo ganhava o cartão mais bonito, os distantes teriam os mais impessoais. Em casa eu escreveria um texto, com caneta tinteiro, letra artística. Selar envelope e ir ao correio, onde haveria fila. Era ato de amizade, de beleza delicada, era muito real. Nada havia de automático. ---------------- Dia 20 ou 21 eu receberia os cartões de meus amigos. Haveria surpresa pela lembrança daquela menina que eu nem sabia que pensava em mim. Abrir o envelope e ler a mensagem. Então colocar cada cartão ao redor da árvore. A data natalina crescia ao nosso redor a cada cartão que chegava, a cada cartão que era enviado. Tradições eram mantidas, costumes, hábitos que eram repetidos como encontros conosco mesmo. O Natal era recordar e reafirmar certezas. Manter um compromisso. Conservar uma tradição que dava paz ao coração. ---------------- As receitas que minha mãe faria tinham de ser sempre as mesmas. O bolo de nozes. As rabanadas. O pudim de morangos. O polvo na noite de Natal e o perú no almoço do dia 25. Bolinhos de bacalhau bem salgados, com salsinha, a champagne e o vinho. Tudo tinha de ser repetido porque assim dizíamos à vida que nossa união permanecia, mais um ano, pela vida. Era uma celebração de força: eis que estamos aqui. Por mais que a vida seja mudança, NADA MUDOU. Nossa família é eterna. Era isso o Natal, uma confirmação de laços. O nascimento de Jesus nos fazia ter certezas. Ele nasceu outra vez e nós também nascemos no Natal. Por mais um ano. -------------- Escreverei mais sobre a mais importante data de nossa civilização. Mais tarde.

O SOFT POWER E O IRRITANTE PUDOR DOS CONSERVADORES

Ao contrário do que acham meus amiguinhos radicais, tenho alguns, todos de extrema esquerda, eu me auto analiso todo o tempo. E assim, não tenho dificuldade alguma em perceber os erros daquilo que gosto. Exponho aqui minhas críticas aos conservadores. --------------- Nos anos 30 havia uma briga feroz entre comunismo e capitalismo, e ao contrário da hipocrisia de hoje, ela era assumidamente uma questão de dinheiro. Quem assumiria o controle do cofre? A tática da esquerda era violenta: guerra, greves, terrorismo, sabotagem. O comunismo ganharia via sindicatos e células de terror. A revolução teria sangue, sonho e pão. Welll.....os EUA logo perceberam que não tinham como penetrar dentro dos sindicatos do mundo inteiro, então genialmente criou a ideia do SOFT POWER. O capitalismo se imporia por modos suaves, sutis, sedutores: cinema, música popular, moda, consumo. Se a URSS dominava o sindicato dos mineiros, os EUA dominariam as donas de casa via filmes escapistas que exibiam a vida maravilhosa que só o capitalismo podia dar. Se a URSS explodia uma bomba em Paris, os EUA venderiam Fords. Nos anos 50 isso se tornaria a ideia de que uma loja de uma franquia americana fazia mais pelo capitalismo que milhões de discursos inflamados. Esse era o soft power, convencer as pessoas, via coração, de que é impossível viver sem produtos e estilo de vida made in USA. Quem venceu? Até os anos 2000 o capitalismo, sem dúvida. Do rock ao liberalismo em sexo, tudo fez parte do soft power americano. Mesmo que um artista do cinema ou do rock se dissesse comuna, ele fazia parte do grande sistema do capital. Ele fazia dinheiro, vendia democracia, queria justiça social, mas jamais abriria mão de seu Mustang e de suas propriedades. ---------------------- Foi então que a esquerda criou o seu soft power. De forma constante e sem pudor, ela passou a investir não mais em associações de trabalhadores ou de estudantes, mas sim em veículos de comunicação do próprio capitalismo. Quando surge a internet, novo veículo criado por nerds alucinados, a esquerda não demorou a seduzir todos os seus chefes com seu canto de sereia: Mundo justo, natureza pura, o bem na Terra. O capitalismo, deitado e relaxado na pseudo vitória da queda do muro de Berlin, demorou a acordar. Quando se deu conta a esquerda já era dona de todo meio digital do planeta. A reação da direita começou só em 2022. ------------------ Essa minha crítica, especifico agora, vai ao ingênuo ainda presidente do Brasil. Sim, eu o apoio porque em 4 anos de investigações absurdas, conduzidas por uma imprensa que jamais deu trégua, mal se encontrou um real roubado. Eu, como todos seus seguidores, nos encantamos com o milagre de surgir neste país, paraíso do roubo, um líder que não deixasse roubar. Desde Janio Quadros isso não ocorria, e como aconteceu na época de JQ, o Brasil reagiu, o sistema é feroz, o hábito do roubo não permite ser desafiado. Mas....algo me irritou muito nesse mesmo líder. Seu pudor que beira a tolice. Nada o impediria de continuar gastando milhões em propaganda estatal nos jornais impressos, aquelas páginas e páginas de propaganda que faziam a riqueza de 3 grandes jornais. Millor Fernandes dizia que todo jornalista é uma prostituta, e comprar meia dúzia de colunistas não faria mal algum, eles pedem por isso, têm preço marcado na testa. Não cortar a Lei Rouanet, que é uma lei absurda, eu sei, mas isso se chama política. E por fim, desmentir as mentiras, chegaram a acusar o cara de canibalismo, com pronunciamentos pagos em rede nacional. Sarney, FHC, todos falavam na TV em rede, o atual presidente jamais. Esse pudor puritano, essa tara por dar o exemplo, por não ceder, fez dele um completo DESCONHECIDO para aqueles que não procuravam o conhecer. A imagem que ficou dele, para os passivos, que apenas recebem a informação e nunca a procuram, se tornou aquela que 4 veículos de imprensa construíram. O soft power, usado agora pela esquerda, deu uma aula de desconstrução. Eu acho a teimosia puritana do presidente imperdoável. Ele conseguiu perder para um desqualificado incompetente cercado por ladrões ávidos pelo saque. A culpa dessa derrota é dele e só dele. Uma pena pois economicamente o Brasil estava pronto para decolar e agora irá voltar aos anos de 2014, 2015... ----------------------------------- Não se obtém o poder sem se vender. E o que vende hoje é, como sempre foi, hipócrita. Crie uma máscara de bondade, de delicadeza, e penetre nos meios de comunicação. Chore na hora certa. Vá ao encontro dos reis da mídia, mesmo que voce sinta nojo deles, seja falso. É triste dizer o que digo, mas não se vence em nada na vida sendo puro ou tendo pudor em sujar as mãos. Eu percebi o desastre quando notei que o presidente teve timidez em comprar um partido. Líderes históricos conservadores fizeram jogo sujo> Churchill, Reagan, Thatcher, nenhum deles foi ladrão ou mentiu para o povo, mas nos bastidores amassavam seus inimigos. E para isso jogavam o jogo do soft power, aliciavam, convenciam, usavam a moda do momento. É isso.--------------------PS:óbvio que sei que não existe mais comunismo como nos anos 30....todos querem comprar e poder viajar...mas existe esquerdismo = estado gigante dominando tudo via impostos, leis e imposições sociais "pelo bem de todos". A direita é aquela que deseja menos intromissão e menos leis.

EDUCAÇÃO E INFÂNCIA

Um aluno foi retirado da sala de aula. Havia jogado uma bola de papel na cabeça da professora. Ao ser levado ele repetia a frase: "Quem ela pensa que é?" ---------------- Pessoas modernas gostam de dizer que uma coisa nova pode estar nascendo. Quando perguntamos o que seria essa novidade elas dizem ainda não saber, mas que ela virá. Observe como é fácil dizer isso: uma coisa está nascendo, mas não sei o que é. Mas pode crer em mim, está nascendo. ------------ Falo isso porque não há nada nascendo para substituir a educação. A escola. O que existe é uma falsa crença dos progressistas de que alguma coisa, um milagre?, irá cair dos céus e fazer existir algo que substitua a antiga escola. Como diria o velho e "fascista" Paulo Francis: Waaaaaalllll........ ---------- Desde que o mundo existe, seja no ocidente ou no oriente, seja na cultura grega ou africana, educação é baseada em autoridade. Essa autoridade pode ser exercida de modo rígido ou amigável, de igual para igual ou numa cátedra, de modo alegre ou grave, mas sempre tendo por base a autoridade de quem detém conhecimento. Esse conhecimento sendo adquirido por experência ou por educação. Sem que se aceite uma autoridade, sem que se reconheça que alguém sabe mais que voce, não há a menor chance de se manter uma escola real. O que se pode fazer é fingir que ela existe, exatamente o que acontece hoje. Inclusive na escola de 4 mil reais que voce paga para sua filha. --------------- O professor está falando de porcentagens. Ou de história medieval. E imediatamente voce dá um Google e vê aquilo que voce DESEJA saber. Ou então recorda o filme visto semana passada que falava do assunto e então voce pensa: Eu já sei! -------------- O professor perde sua função. Ele pensa ser o que? ------- O diagnóstico é esse e só esse. Não se aceita autoridade de quem não tem um mérito maior que o seu. Não se pode ter mérito em um mundo onde o conhecimento, aparentemente, está a um clic. O professor tenta conquistar o aluno via amizade, via bom humor, via cumplicidade, tenta criar uma relação de iguais. É isso o máximo que ele pode tentar conseguir. Mas sempre haverá o risco de ouvir: Quem voce pensa que é? ------------- A escola se tornou mais uma das muitas fantasias que aceitamos sem discutir. Assim como o jornal finge informar a verdade e políticos fingem legislar, a escola finge ainda ensinar. Trabalho dentro dela e sei o que acontece. A verdade não se encontra via intermediários, é preciso ir ao mundo sólido e real. Ela não existe mais. Jovens aprendem o que desejam saber por meios que não são os da escola e entram na faculdade aprendendo apenas o necessário para exercer uma profissão. Tudo isso à margem do ensino abrangente, fora da alçada do professor, fora daquilo que se conhecia como "sala de aula". -------------- Aliás, é preciso dizer que o professor é hoje nada mais que uma babá de adolescentes. ----------- Como falo no texto abaixo, esqueça o século XX. A escola não é mais aquela de 1970 ou mesmo de 1990. ---------------- Falar da infância é ainda mais simples. Crianças usam seus sentidos afiados, sua mente em construção, para captar impressões da vida ao redor. O primeiro cheiro de queimada. O primeiro trovão. A canção que hipnotiza. O cheiro da grama molhada. O azul mágico do céu de outono. Todos esses contatos, incluindo dores e risos, vão dando à criança seu passaporte para o mundo real, despertando seu cérebro, construindo sua identidade. Mais importante, são nos momento de vazio, as longas tardes sem nada para fazer, em que ela fica de ouvidos atentos captando o silêncio, vendo o suspense do que vai acontecer, esperando o tempo que chega e passa, são nesses momentos que ela se faz como SER INDIVIDUALIZADO. É ao pegar uma joaninha do chão, ao ver um rato correr na mata, ao abraçar o pai, que ela se afirma como ela-mesma. Age e sente como um ser único dentro de meio cheio de COISAS REAIS. ------------- Pois isso não é mais assim. Ela ainda vê o rato correr e ouve o trovão, mas essas experiências significativas são agora MACULADAS pela pressa dos horários marcados ( creche e cursos ), pela distração do smartphone, pela hiper excitação de jogos, telas e musiquinhas. Não há o solo fértil do silêncio e o adubo do espaço sem nada. A preguiça que constroi. São crianças que aos 10 anos de idade já sentem saudade de uma infância que nunca tiveram. ----------- Bem vindos ao séulo XXI.