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A ALEGRIA DE VIVER: RIGOLETTO

Há aqui toda a Itália. Não o país folclórico, aquele de Rossini, que aliás adoro, mas a Itália do campo, das flores, do sol marítimo, do desejo de amar. Nietzsche, em um dos seus mais espetaculares erros, disse que Wagner era Dionísio em música. Mais tarde ele percebeu que o alemão nada tinha da vitalidade do sol e do vinho. Wagner era nórdico, da neve, dos deuses do Valhala. No Mediterrâneo Nietzsche encontrou o espírito grego, solar, livre, na música de Bizet. O filósofo alemão não disse isso, mas essa vitalidade está presente aqui, desde 1851, no Rigoletto de Giuseppe Verdi, a ópera feliz. Profundamente italiana, profundamente erótica, cada minuto de música é desejo de respirar, de sentir calor na pele, de encontrar o amor. Tudo é invenção melódica, Verdi é gênio na criação de melodias que grudam na mente. Duas árias aqui se tornaram conhecidas do mundo, são hinos de nossa civilização, mas a obra, prima, tem mais, bem mais. A orquestra colore as vozes, que ao estilo italiano, são o centro e a alma da música. Coros e solistas, vozes femininas e masculinas, tudo é um encontro, uma celebração. Popular e erudito, esta é daquelas invenções que parecem ter sido criadas pela natureza. ( Observe como toda obra de gênio transcende quem a criou e se torna uma coisa viva e sem dono ). --------------- Carlo Maria Giulini, não há maestro mais indicado para estar aqui, rege a Filarmônica de Viena. Placido Domingo, em 1980, jovem, em seu auge, toma a obra para si. Há um momento, voz solista contra coro distante, que dá arrepios na alma. Gravação DG. Quem vive escutará.

AIDA - GIUSEPPE VERDI

Aida foi encomendada ao compositor mais famoso do mundo para comemorar a abertura do canal de Suez, 1873. Sucesso absoluto. ------------- Fali o mais famoso? E onde entra seu rival, Richard Wagner? Na verdade os dois eram o "Beatles X Stones" de então. Não se odiavam, até se admiravam, mas a imprensa alimentava uma disputa que apaixonava os fãs de ambos os dois. Wagner era barulhento, filosófico e dava muito valor à orquestra; já Verdi seria muito mais vocal, objetivo, latino, dando mais valor à emoção das cenas. Para Wagner, toda a ópera era uma coisa orgânica, como se fosse uma única melodia sem fim. Verdi pensava numa coleção de arias, que eram costuradas uma na outra, formando um todo. Entendido isto, ouço finalmente uma obra completa do italiano. Três horas de brilho. A música brilha, Verdi era um gênio. ------- No CD que ouço temos uma gravação de 1973, com direção de Ricardo Muti e a orquestra de Viena. Mas em Verdi a orquestra nem é tão crucial, os cantores são todo o centro. Gwyneth Jones, pra quem não sabe, foi uma das maiores e ao lado dela temos o jovem Placido Domingo. Causa furor sua entrada. Nesta gravação, ao vivo, ele é aplaudido em cena ao fim de sua primeira aria. Longos e quentes aplausos. A obra é de uma riqueza absurda e separei para voces ouvirem um momento de requinte e estupor. É lindo. Ouça. ------------ A ópera, essa arte morta, tão artificial, tão tola em tantas vezes, não é mais exagerada ou absurda que um filme do Homem Aranha ou um drama de Almodovar. Ela pega da vida real o que há de mais patético ou de mais sublime e ergue isso às alturas do paradoxo. Exige que aceitemos aquilo como um tipo de "real". Passamos a amar o artista por seu esforço em dar vida á algo tão falso. Verdi ia adiante. Ele tocava uma corda em nosso íntimo. A grande arte POP faz isso. E creia, nada foi mais POP que a ópera. ---------------- Aproveite.

DIETRICH FISCHER DIESKAU CANTA SCHUBERT E STRAUSS

São dois cds da DG. Em um deles, o grande barítono alemão canta Schubert. As letras, poemas, são de Goethe. O piano é tocado, de forma sublime, por Gerald Moore e por Jorg Demus. Schubert nasceu para compor lied, essa forma tão alemã de canção. Ganymed é minha faixa favorita. O poema de Goethe, conheço-o em tradução, encaixa à perfeição com a força musical de Franz Schubert. Se a civilidade tem uma forma ela se encerra nesta obra. Dieskau, como todo mestre vocal, canta se fazer a menor força. Se apruma, respira, e solta a laringe como se fosse isso a coisa mais simples da vida. É a voz que mais admiro. Jamais perde o controle. Não procure nele a emoção explícita dos italianos. Aqui voce deve recolher os momentos e os compreender. ------------ No outro CD, Dieskau canta Richard Strauss e os poemas musicados vão de Heine e Goethe até MacKay e Schack. É outro mundo. É a cultura alemã-vienense de 1900. Sensual, há nas melodias algo de inefável, solto, inacabado. Quem está ao piano é Wolfgang Sawallich, futuro maestro dos grandes. É perfeito. Se Schubert parece sempre cômico e trágico, variando entre esses dois polos com leveza de sátiro, Strauss parece eternamente um erudito. Mesmo em seus momentos sensuais, vários, há a intenção de atingir uma meta. Cerebral portanto. Nada ao acaso, nada por inspiração, tudo com um fim. ----------------- Será que alguém ainda se recorda que a música é educação? E portanto, mais que um prazer, ela é um refinamento?

MOZART, SERENATAS K 239, 388, 525. ( PENSANDO SOBRE VICO E MOZART ).

Serenatas eram aquilo que parecem ser, pequenas peças musicais para uso noturno. O objetivo era o amor. Esquecemos que música tinha e tem uma função e que no tempo de Mozart era a de elevar ou entreter. ( Não pense que me contradigo. Mesmo a música absoluta e livre de Beethoven tem uma função: expressar. A palavra função não rebaixa a música. ) . É música bela que almeja a beleza. Mozart aqui não tenta o absoluto como em seus concertos para piano. E não quebra o limite como nas óperas. Ele faz, de modo sublime, o que dele se espera. Penso que o faz com alegria. Quando falamos de Mozart nunca devemos esquecer que ele amava o amor. E não era o amor que almeja a nobreza hetérea como se dá em Chopin ou Liszt. É o amor totalmente erótico, sexual, picante. Por isso que acho Mozart o mais honesto dos gênios. Ele não pinta de dourado o que é vermelho sangue. Enquanto toca seu teclado ele olha um seio e imagina um traseiro ( tinha tara por traseiros ). Mozart cria por dom. -------------- Aplicar Vico à Mozart é muito interessante. Mozart cria sua obra. Mas saberá tudo sobre ela? Conseguirá recriar tudo que fez? -------------- Para quem não leu, Vico diz que só podemos saber a verdade sobre aquilo que fazemos. Nós fazemos a matemática, as leis, a engenharia, então podemos saber tudo sobre um cálculo, o direito ou uma ponte. Mas não sabemos tudo sobre nosso corpo ou nosso planeta pois não os criamos ou construimos, estamos neles. -------------- Então pergunto: Mozart criou o concerto 20 para piano. Ele sabia tudo sobre ele? Ou um gênio se surpreende com sua própria obra? Penso que sim, ele se surpreende. Se um gênio tivesse o segredo de sua obra em mãos, ele criaria vários Dom Giovanni e vários concertos todo dia. Bastaria querer. O gênio não o faz porque sua obra nasceu em sua mente e sua mente não é criação sua. E quando falo mente eu falo o fundo de sua alma. ------------- Paganini poderia e criou na verdade, várias obras como quis. Ele tinha domínio sobre aquilo que criava. Isso porque sua obra não o surpreendia. Ela era um molde, uma receita, algo que ele inventou e fez, e assim poderia reproduzir quando quisesse. Paganini dominava sua música. Mozart era por ela dominado. Paganini fazia algo que podemos aprender a fazer. Algo que se constroi. Mozart fazia algo que só ele mesmo poderia fazer. Não havia uma fórmula ou uma invenção racional. Ele fazia o que fazia sem saber como ou quando fazer. Sua mente, indomável e inapreensível fazia livremente. ------------ Essa a diferença entre o artesão e o artista. -------------- Vico estava certo. Nunca produziremos outro Mozart. Mas toda forma musical tem seus Paganinis. Domine a técnica e saia produzindo solos. Mas dominar a técnica não te fará compor Dom Giovanni. Pois podemos aprender a solar, é uma invenção humana, mas não podemos aprender a criar, pois a criatividade é componente daquilo que chamamos de alma e isso não foi por nós inventado.

TROIS NOCTURNES - CLAUDE DEBUSSY. MÚSICA COMO UM LUGAR ONDE SE VIVE.

A janela tem caixilhos de chumbo, vidro em losangos e ela está sempre fechada. Um tecido de linho creme fecha a possibilidade de entrada do sol. Depois há uma renda branca e ainda uma pesada cortina de veludo damasco. Um laço de veludo azul escuro segura as cortinas. Uma luminária de bronze que representa Diana caçando um servo. Um castiçal de prata. No teto cristal e lâmpadas. O papel de parede é dourado escuro. flor de lis. Quadros: Psiquê nua em um lago ao alvorecer. Ruínas de um castelo escocês. Uma fonte em Livorno. O rosto do bisavô, barba e espada. Floral quase abstrato. Ainda mais 3 pequenos quadros, cada um com um tipo de cão. Piano ao canto, coberto com tecidos da Índia. Banqueta de couro de cabra. Três sofás. Um preto. Um verde água. Outro marrom. Todos cobertos com almofadas de seda. Motivos florais. Lareira de mármore e aparas de bronze queimado. Cinco vasos de cristal azul sobre o aparador. Mesinha ao canto, com aparelho de chá chinês, branco e azul. Outra mesinha ao centro, com edições encadernadas em preto: Proust, Valery e Poe. Um Mallarmé jogado no chão, sobre um tapete oriental. Caixa de charutos sobre mesinha ao lado de uma poltrona de couro cinza chumbo. A porta é preta com frisos de prata laqueada. O ar não se renova. Não há som vindo do exterior. A sala é um mundo em si. É o tempo em que o dentro jamais se misturava com o fora. O lá era longe do aqui. A arte criava ambientes artificiais. O objetivo não era, jamais, recriar a vida, mas sim criar uma outra vida. No centro da sala um tabuleiro de gamão feito de marfim negro e branco. Seria marfim? --------------- Esse é o mundo de Debussy. E se voce se concentrar, até mesmo o cheiro da sala voce irá perceber. A música tem o poder de nos fazer ir para dentro, e em Debussy isso é levado ao máximo. Olhos fechados, ambiente construído. Eis tudo.

SEIJI OZAWA REGE O CONCERTO NÚMERO 5 PARA PIANO E ORQUESTRA DE BEETHOVEN.

Nos anos 80 yuppies, os tais jovens bem sucedidos, consumiam música clássica. Na verdade eles consumiam tudo. Foi uma pena o Brasil estar nas mãos de povo tão ladrão, foi tempo de fartura mundial. E nesse frenesi consumista, Zubin Mehta e Seiji Ozawa eram considerados os novos maestros superstars. Mehta se destacava por ser indiano, e Ozawa por sua cabeleira rocknroll e suas roupas moderninhas. Nenhum dos dois era nem sombra para maestros geniais, mas no mundo pop eram os tais. Aqui, em 1981, Ozawa rege a Sinfonica de Boston e ao lado do veterano pianista Rudolf Serkin, executa o concerto 5 de Beethoven. A gravação é ao estilo yuppie de então: perfeito e sem brilho. Não há ímpeto, não há fogo, não há uma visão particular. Mas se voce me perguntar onde o erro, também não saberei apontar. Sem erros e sem acertos. Já Serkin tem o brilho de quem tocou a peça mais de cem vezes. É como um caçador em selva palmilhada: ele sabe onde o leão vive. ----------------- O concerto é um novo paradigma, pela primeira vez um concerto era sinfônico. Ou seja, a orquestra tinha partes tão importantes quanto o instrumento solista. Em Mozart ou Haydn a orquestra "acompanha o solista", aqui ela é parte da obra, não acompanha, toca sua parte. Piano e orquestra combinam, não há subordinação. Assim como Beethoven deu a independência do criador em relação ao mecenas, ele dá a liberdade à orquestra. Como arte musical em si, nunca é demais falar que a obra caminha em perfeição. O mestre leva a música para onde deseja. O segundo movimento, sublime, é de beleza heroica. Mora a nobreza nesta música. Nunca mais se fará tal tipo de arte porque o mundo não mais quer algo de nobre. Beethoven nos esmagaria. Sua superioridade nos é intolerável. É aquela do heroi diante do rufião. --------------- Não é a melhor versão do mestre a que mora neste CD. Mas é Beethoven.

O CISNE DE TUONELA + TAPIOLA - JAN SIBELIUS

Mais duas obras do finlandês Sibelius, desta vez com a Sinfonica de Berlin e Karajan no comando. Caso voce não saiba, Karajan vendeu 40 milhões de albuns em toda a vida. O maestro foi o maior superstar na batuta entre 1965-1985. Sua sonoridade é sempre a mesma: perfeita. ------------- Sibelius é daqueles compositores muito populares e que por isso são muito não apreciados pela crítica. Fiquei muito tempo o evitando por esse motivo. Mas ele é bom, muito bom, basta o escutar. ------------ O cisne de Tuonela, no folclore da Finlandia, é o ser que leva as almas dos mortos para o outro lado. Então sabemos como será o tom desta composição, trágica. Mas não. Mais que trágica é misteriosa. O oboe conduz a melodia sobre uma rio de violinos glaciais. Motivos se repetem. Há algo de Debussy aqui, da aquosidade do frances. É belo, muito belo, e um pouco assustador. ------------------ Tapiola é soberbo. Raras vezes ouvi algo tão...gelado. Toda a orquestra parece tocar dentro da tundra, entre neve e neblina densa, e mais à frente, na segunda parte, o que ouvimos é o som do gelo cortante. Sibelius tem habilidade para evocar imagens e lugares e sua música, apesar disso, não parece de cinema. É música pura. ------------ Ouvir Sibelius me faz entender o porque de minha bronca contra a crítica oficial.

MÚSICA PARA COCHILAR.....MA VLAST- BEDRICH SMÉTANA

Pessoas que não gostam de música erudita dizem que lhes dá sono. Eu digo que o mesmo acontece com aulas de matemática. E que, tanto uma quanto a outra, são das maiores criações da alma humana. O problema é que a matemática, assim como a música, possuem um código e exigem que voce se esforce para obter algum prazer. Ambas são inimigas da passividade. Mas Smétana é o tipo de compositor que dá sono....mesmo em mim. ------------------------- Ma Vlast, Terra de Meu Pai, é sua obra central, feita no fim do século XIX. Smétana era tcheco e fez parte do movimento de renascimento da alma de seu país. Ouço sua obra....e cochilo. Tento agora dizer porque. ---------------------- Não é dificil explicar: é música simples. Possui duas características que traem a música erudita ruim: parece trilha sonora de cinema e lembra em vários momentos algum tipo de hino nacional esquecido. Ora, trilha de cinema é o barateamento do erudito e hino nacional é apenas isso: algo para se cantar antes de algum evento. Smétana faz um orquestramento pobre, é o oposto de seu colega Dvorak, basta prestar atenção no que há por detrás da melodia central: nada. A orquestra inteira toca um uníssono quase todo o tempo. É uma profusão de la la la la la e bum tcha bum tcha dum dum....Sua mente nada tem a procurar, a descobrir, a investigar, nada surpreende, nada causa espanto, nada instiga. Daí o sono. -------------- O maestro é Zubin Mehta e isso não ajuda. Mehta é daqueles maestros muito famosos que deixam tudo doce e banal. Ele apara arestas, diminui contrastes, é um diluidor. Ou seja, aqui temos a união do comum com o edulcorado. Vem o sono.... ------------------- Estarei sendo injusto com Smétana? Creio que não. O período do século XIX que vai de 1860 à 1880 foi bem complicado. Abundam os adocicados, os exagerados vazios, os fru frus. Por isso logo vieram os modernistas para acordar o povo adormecido. Smétana precisa demais de ruídos russos ou das surpresas de Debussy.

BENJAMIN BRITTEN

Ingleses consideram que sua música teve um renascimento no século XX. Alemães e franceses acham isso uma piada. Mas americanos e o resto do mundo sabem que é um fato: após um século fraco, o XIX, a música feita na Inglaterra voltou a ser relevante. Se não houve nada comparável a Ravel ou Stravinski, a Inglaterra produziu música muito boa, embora nem Willians e nem Elgar possam ser chamados de gênios. ------------- Holst, Vaughn Willians, Elgar, Delius, Walton, Britten....de todos esses nomes, há mais, Elgar é o mais famoso, mas é também o que não gosto. Willians é excelente e agora ouço Britten, autor que nunca ouvira antes. ------------- Benjamin morreu em 1976, com apenas 63 anos, e poderia ter vivido e produzido até os anos de 1990. Famoso em vida, lembro bem de que seu espaço nas lojas de discos importados era bem razoável. Com 16 anos de idade eu já tinha curiosidade em conhecer sua obra. E, ouvindo agora, não me decepciono. Ele é rico. Produz algo que realmente amo em qualquer tipo de música: timbres. Britten explora bastante os metais e a percussão e juntando os ingredientes certos ele cria sonoridades surpreendentes. Mas não apenas isso. Há ritmo, há calor, há bastante surpresa. Em Peter Grimes, na parte chamada Storm, Britten consegue compor algo que nos remete à mais bela das tempestades. No seu famoso Requiem, há um outro movimento em que uma explosão de sons nos conduz a prazeres absolutos. Britten não é genial, mas domina seu ofício, sabe fazer aquilo que deseja.------- Adrian Boult rege a Sinfônica de Londres em 1958. Boult, Sir Adrian Boult, é, ao lado de Beecham e Barbiroli, a tríade sagrada da batuta inglesa. Ele sabe o que faz. Bravo!

BEETHOVEN, SINFONIA 3. O MOMENTO EM QUE TUDO MUDOU.

A vida é feita de coincidências e no dia em que ouço a Terceira Sinfonia, pego um livro de H.L.Mencken, e me surpreendo ao ler páginas que ele escreveu sobre a Terceira de Beethoven. Segundo Mencken, foi na noite de setembro de 1808, quando de sua estreia em Viena, que a música moderna nasceu. O público, acostumado ao classicismo de Haydn e Mozart, não entendeu direito o que era aquilo. Complexo demais, vasto demais, exigente demais. Muita informação, muito volume, muita força. Mencken diz que Beethoven, e eis uma bela definição, nunca parece um homem fraco. Ele não chora jamais, não se adocica, nunca cai de seu pedestal. Toda sua obra é isenta de emoções baratas ou simplórias. Seu nível é sempre o mais alto. ------------------ Eis então a Terceira. Três acordes. A melodia já se dá. Nada de doces preparações, a sinfonia se inicia em seu auge: eis tudo aqui. Em apenas 30 segundos, 30 segundos!!!!, Beethoven nos dá toda a obra. Isso nunca era feito. A música era preparada, vinha aos poucos, havia introdução, lenta introdução, mas não aqui. Beethoven começa pelo auge e depois cria, sem cessar, variações sobre esse apogeu. É coragem em seu extremo, ele não guarda o trunfo para mais tarde. É como se ele afirmasse, aqui te entrego tudo, mas creia, tenho muito mais para oferecer! E ele entrega. ------------ Mencken diz que o primeiro movimento mudou toda a história da música. Se voce ouvir o que se fazia antes irá entender. Nada em Bach, Mozart, Haydn, Haendel, Monteverdi, Rossini, é sequer sombra destes 15 minutos de louca euforia. A orquestra ataca sem parar, são picos sobre picos, não há mais a calma harmonia de antes. O mestre cria vulcões emocionais e os emenda com tufões. E cada vez que o tema inicial retorna ele se faz cada vez mais grave, mais cruel, mais beethoviano. É aqui que nasce esse modo de ser, beethoviano, o autor como terrível arauto de um universo mais denso, sério, urgente. Para Mencken foi Beethoven o maior gênio em qualquer arte e em qualquer tempo. Não digo isso, mas também não consigo lembrar de alguém maior que ele ( Michelangelo talvez? ). ---------------------- Pierre Monteux rege a Concertgebouw de Amsterdan em 1962. Existem 3 tipos de maestros, os rimbombantes exagerados: Bernstein, Karajan, Furtwangler; os emocionais: Abbado, Toscanini, Solti; e os delicados, área onde Monteux foi o máximo. A execução é mais que perfeita, é sublime. Há alegria eufórica em cada naipe, mas sem jamais haver um só momento de exagero. Monteux, sempre sereno, segura a orquestra, e assim destaca a ourivesaria da obra. --------------- Ouvir a Terceira é crescer como ser humano e esse era o ideal de Beethoven. Ele compunha para se expressar e sabia que oferecia ao mundo uma mensagem de engrandecimento. Dizem que ele era irascível, mal humorado, violento, duro; mas sua arte, sempre imensa, é a maior herança que podemos oferecer a quem vier depois de nós. O planeta sem Beethoven não vale a pena.

Alexander Borodin - Prince Igor: Polovtsian Dances, conducted by Andrzej...

PIERRE MONTEUX REGE MUSSORGSKI E BORODIN

Pierre Monteux foi um daqueles regentes entre regentes. Sua atuação formou montes de maestros, e apesar de menos famoso que um Abbado ou um Furtwangler, ele é central. Ouço-o regendo a Orquestra de Hamburgo e percebo logo seu absoluto domínio do tempo. Monte Calvo de Mussorgski tanto como Prince Igor de Borodin têm no tempo sua armadilha. Se voce relaxar elas perdem encanto, se voce acelerar tudo se torna uma canfusão. Monteux acelera quando quer e evita o kaos, pisa no freio quando preciso e não perde ritmo. E música russa é acima de tudo ritmo. --------------- Tento evitar o cliché: russos são selvagens, sua música é sensual, eles dominam o fogo em forma de som. Mas é um fato, são inconfundíveis e criaram em fins do século XIX aquilo que seria a música moderna no começo do XX. Mussorgski é anguloso, oriental e sem pudor; Borodin, seu contemporaneo, é exuberante. Ambos possuem mais ritmo que qualquer coisa que se fazia então. Monteux é perfeito para ambos porque não exagera no exótico e não domestica o selvagem. Um grande prazer ouvir essas gravações.

EMANUEL AX TOCA HAYDN

Meu crítico favorito de música diz que, para alguém que possui algum conhecimento musical, é impossível confundir Haydn com Mozart. Eu, durante muito tempo, não percebia muita diferença entre os dois. Mas agora, e ouvindo este cd isso ficou bem claro, percebo que, como diz o autor, Carpeaux, Haydn é do período clássico, um pré-romântico, enquanto Mozart é anterior. Em Mozart não há nada de revolucionário, ele é mestre naquilo que já havia; Joseph Haydn cria formas novas e se torna assim um inovador. Ironia: o mais calmo e pacato dos homens foi um inovador em sua arte. -------------------- O que ouço são 5 sonatas para piano. Ax é considerado um dos maiores pianistas deste século. O som brilha. Haydn nunca é trágico. Sua música, clara, sempre revela o caráter que dizem ter Haydn: ela é bondosa. De tudo que já ouvi, ninguém parece tão isento de maldade, ironia, agressividade ou vaidade como Haydn. Sua música sempre transmite correção. É dificil explicar em palavras, mas é como se mesmo em temas melancólicos, houvesse em sua música sempre a certeza do bem. Não em seu sentido de igreja, mas no sentido de que a vida é boa e os homens são bons. Haydn, voce sabe, abriu o caminho para a vinda de Beethoven, logo a seguir e quase ao mesmo tempo. E nós sabemos, com Beethoven estamos no domínio do terrível. Ouvir os dois em sequência é ir da luz ao escuro sem perder o sublime. Não fiz esse experiência ainda.

POR QUE OS CRÍTICOS ODEIAM TANTO GRIEG?

Peer Gynt é um texto do norueguês Henryk Ibsen que Edvard Grieg, seu conterrâneo, musicou em fins do século XIX. Ouço pela primeira vez na versão da Academy St Martin in The Fields, sob regência de Neville Marriner e Lucia Popp como voz soprano. Não poderia haver orquestra ou voz melhor, EMI, 1983, um dos CDs clássicos mais vendidos da história. -------------- A obra é um imenso sucesso desde o começo do século XX, sendo que ao menos três de seus movimentos são do tipo que todo mundo já ouviu em algum lugar antes. Mas a crítica, em sua totalidade, abomina Grieg. Chamam de música feita para agradar. Agradar à quem? Existe alguma música feita para desagradar? E mesmo que haja, uma tal música, feita para desafradar, não seria um embuste? Eu penso que no mundinho da música erudita, mais ainda que no cinema ou na pintura, existe um desejo de ser exclusivo, superior, entendido, e esse desejo impede todo e qualquer crítico de aceitar o sucesso popular de toda e qualquer obra. Claro que a Quinta de Beethoven é um sucesso, mas é um sucesso que demorou para se fazer, demorou para ser aceito. Tudo aquilo que foi aceito de primeira escutada tem uma imensa má vontade. Não temo dizer que ao escutar um sucesso, todo crítico pense: Okay, vamos ver o que há de errado aqui. E nunca raciocine em termos de: Vamos ver onde ele acertou. --------------------- Peer Gynt é uma obra bela e bem feita, e isso não é pouco. Tem apenas um momento fraco, onde sentimos algo de "trilha sonora de cinema" nela. De resto há muita música instigante, excitante e até mesmo superlativa. A percussão é usade e modo perfeito e várias melodias parecem ainda contemporâneas. Se o sabor "nórdico" parece forjado, qual o problema? Ninguém é obrigado a compor todo o tempo sob a ditadura de sua raiz. Há doçura na voz de Popp, são canções muito bonitas, e há fogo na orquestra, melodias que às vezes evocam a guerra. Desprezar Peer Gynt é esnobismo da pior espécie, falso sangue azul, superioridade à nada. ------------ Os críticos, coitados, vivem em sua ração fake, onde se gosta daquilo que é nobre gostar e se detesta o que pega bem não gostar. Eu? Eu dou risada.

ANDEI E OUVI, ANDEI OUVINDO

Andei ouvindo umas coisas meio banais. Mas eu precisava as conhecer. Bernstein regendo vários compositores russos, por exemplo. Nos anos 60 reger compositores russos era IN. Mostrava que voce não tinha preconceito contra comunas. E Bernstein é o cara para quem foi criada a expressão "esquerda chique". Mas são compositores que não valem à pena. Por outro lado, ouvi uma coletânea de trechos de várias obras de Rossini e caramba!, chego a entender, mas não concordar, com o fato de Stendhal dizer que o italiano era maior que Beethoven. A música dele é empolgante. E numa época em que não havia como ouvir algo em casa, escutar Rossini, uma única vez, no teatro, deveria soar como algo bem mais impressionante que Beethoven. O alemão precisa de mais atenção e repetição. Rossini é de primeira. -------------- Postei um clip do jovem Pavarotti, uma voz impossível, cantando Rossini. É lindo e é pra sempre. Além disso, divido com voces a abertura de Guilherme Tell. Em 11 minutos há três dos movimentos mais conhecidos da história. Não há como ouvir certo trecho sem sentir uma tempestade castigando sua janela e derrubando árvores; não há como ouvir outro, sem sentir paz absoluta em um bosque perfeito; e quanto ao terceiro movimento...é o som da aventura. Essa música é parte do inconsciente coletivo do ocidente. Mesmo que nunca a ouviu sentirá o que digo. Aproveite.

ARAM KHACHATURIAN - SPARTACUS E GAYANEH

Khachaturian nasceu em 1903 e viveu até 1978. É dqueles armênios que viram sua nação ser subjugada e morreram sem ver a libertação. Quando comecei a comprar discos, LPs, nos anos 70, seu nome era sempre destaque nas lojas. Voce olhava a parte dos discos clássicos e sempre tinha um disco dele em destaque. Era um daqueles compositores que todo mundo ouvia falar, mas que pouca gente tinha escutado. Sua Dança dos Sabres era bem famosa ( ainda será? ), mas ninguém ligava nome à obra. Ouço-o hoje e tenho uma surpresa: ele é muito, muito POP. ---------------- Na URSS toda arte não popular era tachada de elitista, decadente, burguesa, e por isso era censurada. Não à toa, o mais amado compositor de então era o meloso Tchaikovski. O regime aprovava aquilo que era de fácil comunicação. No mundo capitalista não é diferente, mas, e nisso há um imenso abismo, na URSS como o único detentor de capital era o estado, quem não fosse aprovado pelo partido estava morto e sem chance de financiamento algum. No capitalismo, que também não aceita a arte mais dificil, elitista, há a chance de financiamento particular empresarial. Não há a música do partido. Waaalllll......voltando então a Khachaturian: Sim, sua música, é popular. Ele não é mais complexo que um compositor, dos bons claro, de trilha de cinema. Maurice Jarre, Rota ou John Willians fazem ou faziam o que ele fez. É música agradável. Bonita. Fácil de ouvir. Cheia de acentos orientais, armenos, tem ritmo, tem força, tem harmonia, mas não tem invenção. É okay. ----------------- A Royal Philarmonic Orchestra é regida por Yuri Temirnakov, numa gravação EMI de 1986. Boa execução.

O MANDARIM MIRACULOSO - BÉLA BARTOK

O clip está abaixo. Foi composta na década de 30 e foi o grande fracasso de Bartok. Isso porque a obra foi pensada para ballet, e o tal ballet foi acusado de obscenidade. Pornográfico. Então Bartok pegou a música e fez uma suite, que é o que hoje se escuta. Mas o mal já estava feito. O Mandarim nunca foi ouvido até recentemente. É Bartok em estado puro, ou seja, uma experiência mental. Som do inconsciente? Talvez quase isso. Um leitor comenta: Como Bartok conseguia juntar tantas ideia musicais numa coisa só? Eu respondo: Genialidade. O que nas mãos de outro seria apenas uma colagem aleatória, com Bartok faz sentido e soa inevitável. Tá tudo lá. Ouça.

BÉLA BARTOK

Nascido na Hungria, emigrado para os EUA, Bela Bartok foi, de todos os compositores do século XX, falo dos mais famosos, o menos afortunado. Morreu pobre, mas não na miséria, razoavelmente desconhecido, e com várias obras completamente não compreendidas. A partir de sua morte, nos anos de 1940, seu nome começou a subir. Hoje Bartok é chamado de o mais completo e genial compositor de seu tempo. Se Stravinski, Schoenberg e até Webern eram mais famosos enquanto ele era vivo, em 2021 Bela Bartok é o nome mais incontestável do século XX. -------- Sua música é húngara até o osso. E a Hungria é um país como nenhum outro. Uma encruzilhada: meio cigana, meio oriente, muito européia, eslava. Bartok pegou toda essa raiz e a enriqueceu com Debussy, Ravel, Moussorgski, Chopin, o que viesse de melhor. Eu nunca o escutei, ou melhor, quando eu tinha uns 15 anos tentei ouvir uma vez. A audição foi tão traumática que nunca mais o encarei. Nesta minha fase musical, era claro que seu nome seria inevitável. Arrumo um cd com seu concerto para orquestra, sua obra mais acessível. Me apaixono. Ele é muito melhor que eu esperava. -------------- A música dita moderna da Europa, nasce no momento em que os ouvidos europeus se voltam para os países "periféricos". Polonia, Hungria, Tchecos, Finlandeses e principalmente russos. Já no século XX, a música moderna é a de Debussy, Mahler, Stravinski, Prokofiev, Rimski-Korsakof, Cesar Franck, Hindemith, Schoenberg, Berg, De Falla, Ravel, Webern, e ele, Bela Bartok ( há muito mais ). Khatchaturian, Honneger, Messiaen, Elgar, Dukas, Shostakovich....----------- Bartok nunca parece gratuito. Há modernistas que às vezes se rendem ao exagero. Ouvimos Ravel fazendo barulho ou Stravinski mudando de tom sem nenhum motivo a não ser "seguir sendo moderno". Já em Bartok tudo é coerente. Sua música, sempre surpreendente, é uma espécie de aventura. Mergulho no inesperado. Irei agora encarar seu lado mais dificil. Depois te conto.

RITMO, CRIATIVIDADE E EXUBERÂNCIA: O MAIOR COMPOSITOR DOS ÚLTIMOS CEM ANOS

Sons quase inaudíveis. Então uma flauta discreta. Cordas que são como fim de madrugada. Flauta de novo: um pássaro? Ritmo. Bartok domina o ritmo como quer. Metais dão o tom agora. Suspense! Eis as cordas...orientais? Não. Bartokianas= húngaras! Luta entre homens à cavalo. Ou não. Ritmo. Até agora foram apenas quatro minutos e já foram dúzias de ritmos que mudam sem cessar e dezenas de melodias que se completam em desarmonia harmônica. Óboe agora. E harpa. Paisagens. -------------- Depois.......... Eis um tambor em ritmo que se parte. Metais sinuosos dialogam. O tambor dá sua crítica. Cordas em pizzicato. Suspense bufo. Sucessão ininterrupta de motivos. Flautas em fogo fátuo. A melodia anda. Avança atrevida. Olha todo buraco, investiga. Bartok brinca. Uníssono de metais como jamais ouvidos. O tambor é tamborilar de gotas de chuva? Talvez sejam os Cárpatos. ---------------------- Elegia. As cordas nascem no absurdo de um mundo sem leis de física. Os sopros insistem em sua existência pré temporal, de onde o andar regredia. Nas bordas do universo há o que? Esta música talvez? Grave momento: as cordas dramatizam o momento, alguém ousa não querer morrer. Cordas que acusam. ................... depois ........................ Dança. Orvalho em comunhão com o ferro. Vida de metal e vida de água. Melodia enlevante. Até aqui foram criadas quantas melodias? Cem? Esta se vai também. Desvanece. Outra melodia: cômica. Outra melodia: andante. Corte!!!!! Milagre!!!1 Eis a melodia mais alegre possível!!!! Mas.............. ela também se desvanece. Outra melodia: romântica. Foi-se o romance. Outra agora.....Pesto! Metais heroicos. Cordas....que cordas são essas? Absurdo e impossível. Bumbos. Bumbos. Corre a música. Correeeeeeeeeee. Violinos em furacão. Metais. Deus amado, o homem era um gênio! Eis o maior compositor do século, Bela Bartok é seu nome. -------- Mais música ainda. Há tanta música nesta obra que desejamos que ela jamais termine. Óboe dialogando com fagote. Flauta diáfana. Sexo agora. E um fagote roncando. Mas agora...................................... Mas agora.................. Acelerando................ Ace.............le............ran............doooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooo . Ouça o fundo, os violinos....os violinos....timbres orientais, passou, não mais, agora são militares, não mais, passou, agora são o que? Contra baixos e cellos? Que timbre é esse? Sempre lindo. Eis um fato! CONCERTO PARA ORQUESTRA de Béla Bartok.

O REQUIEM ALEMÃO - JOHANNES BRAHMS. ATERRADOR ( ESTÁ SE TORNANDO DIFÍCIL DEMAIS ENCONTRAR ADJETIVOS )

Brahms nunca é simples. Não que ele seja complicado, ele é sério. Nada do que ele fez parece juvenil. Nada parece bondoso como Haydn ou leve como Mozart. Também não há traços da megalomania de Beethoven. Nem da fé de Bach. Brahms é ele mesmo sempre. Imenso. ------------- Ele e Wagner dominaram a música da segunda metade do século XIX. Ou voce era Wagner ou era Brahms. Wagner era espalhafatoso, exagerado, apaixonado e sua música sempre contava uma história e descrevia uma visão. Brahms era sutil, discreto, controlado e sua música era "apenas" som. Nada de histórias, mitos, lendas ou filosofices. Era música absoluta. Eu acho Wagner bastante infantil. Brahms é muito, muito maior. -------------- Entender Brahms nunca é simples porque ele não apela. Sua música não é feita para inspirar ou para descrever estados de alma. Ela existe para ser ouvida. Mas eis aqui o Requiem Alemão, uma longa obra, mais de uma hora e dez, escrita para a nação alemã. Aqui há mensagem porque é uma obra com palavras. Ele usa orquestra, coro e dois solistas, barítono e soprano. O tom é solene, às vezes soturno, muitas vezes eloquente. Ouço uma gravação de 1973 com a Orquestra de Londres, regencia de Daniel Barenboim e o coro, magnífico, de Edimburgo. Edith Mathis e o imortal Dietrich Fischer-Dieskau são os solistas. ---------- São sete movimentos. De cara já ouvimos o modo Brahms de construção: discreto. A música começa pianíssima e vai, lenta, em crescendo inexorável. Brahms modula os timbres, alterna volumes, mas tudo em seu tempo, sem pressa e sem erro algum. A beleza é atingida e creia-me, poucos souberam produzir tanta beleza. ------------ Ouça o final do terceiro movimento. Esse segmento dura cerca de 17 minutos. Fischer-Dieskau, a minha voz favorita, entoa uma melodia hispnótica, a orquestra, discreta, harmonizando a peça encantadora. Mas, súbito, o coro, imenso, começa a erguer suas vozes. Num crescendo, voce começa a sentir algum tipo de exaltação em sua alma. As vozes aumentam seu volume, invadem todo o espaço, rodopiam e então, em uníssono alçam voo. Fiquei profundamente comovido. É quase um tipo de milagre. -------------- A obra inteira tem outros momentos de elevação. Mas esse é especial. Brahms, mestre que é, faz o que quer com nosso sentido. Ele é o maestro de nossa alma. Bravíssimo!!!!!!