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1987... EM BUSCA DO COOL... ( SE É QUE VOCE ME ENTENDE )

Cansei do POP e parti pro cool. Em 1987 ouvi jazz. Todo o ano foi marcado pelo clip de Miles Davis que postei acima. Passei o tempo não só com o Miles contemporâneo de então, mas com o Modern Jazz Quartet, com a Mingus Dynasty, Dave Brubeck, Coleman Hawkins, Bill Evans e Chet Baker. Mandei um fuck para o rock de então. Mandei? Mais ao fim do ano fiz o mesmo que os caras mais espertos do POP, mergulhei no chique. Chique em que o fim dos anos 80 foi mestre. Os discos solo de Bryan Ferry eram o MUST. Mas havia o Style Council com seu soul muito white. Paul Weller queria viver na Roma de O SOL POR TESTEMUNHA. Paletó branco e mocassins italianos. O POP nunca foi tão fresco. Sade Adu sempre foi chique, mas ao contrário de Paul Weller, ela sabia cantar. Terence Trent D'Arby se achava a última bolacha do pacote. Ou melhor, o último brioche da boulangerie. Seu primeiro disco era sexy, era black, era cool. Teve Sting, claro. Ele formou uma banda de jazz e brincou de ser Marvin Gaye. Nothing Like The Sun era obrigatório. George Michael entendeu tudo. Mas George era muito mais esperto que Paul ou Sting. Ele foi direto na fonte. Elton John bem vestido. George foi a melhor voz branca dos anos 80\90. Swing Out Sister, Curiosity Killed The Cat, Everything But The Girl, era moda banda com nome fofinho. Pizzicato Five e Right Said Fred beberiam aqui cinco anos mais tarde. Estranho e triste perceber o erro de Bowie. Nessa época ele tentou voltar ao rock pesado e quebrou a cara. Era o cara certo pra seguir o som da época. Ele fizera tudo que Paul Weller ou Terence fizera em Young Americans e Lets Dance. Os clips eram lindos. E chiques. Dá uma olhadinha.

MUDA TUDO: 1985, O ANO MAIS SEM NOÇÃO DA MINHA VIDA

Então eu entro em 1985 com o coração partido. A mulher mais "roxy" que conheci se revelou uma frustração. Como reação tipicamente imatura, joguei fora tudo que eu amara em 1984. Nunca mais as bandas do ano "roxy" me pareceram amáveis. Tudo nelas me lembrava, e lembra ainda, tristeza. Em janeiro de 1985 houve o Rock in Rio. A crítica desancou o festival. Diziam que só bandas mortas e lixo iriam vir. Para a Folha e Estadão, Queen, AC\DC, Iron, eram a pior coisa do mundo. Mentiram muito. Diziam que em Londres ninguém mais os escutava. A gente acreditava nisso. Mas eu assisti pela TV. O JN tirando uma da cara dos tais metaleiros. Tratados como se fossem sub humanos. Para a Globo só Al Jarreau e George Benson eram legais. Vi o AC\DC querendo rir. Vi para concordar com a Folha. Eles seriam a "banda decadente que só brasileiros ainda ouviam". Foi os asssitindo que recordei do garoto do rocknroll que eu sempre fora. Não comprei disco algum do AC\DC. Mas 1985 nasceu vendo Angus na Rede Globo. Voce deve ter notado que 90% do que era "novo" nos anos 80, até 1984, era britânico. Os EUA continuavam vendendo mais, mas musicalmente era uma cena árida. Havia Talking Heads e Ramones, Blondie e The Cars, Devo e B'52's, mas em quantidade não se podia comparar às ilhas. Mas....a coisa tava mudando. Havia nos EUA um movimento anti afetação. Pela volta da simplicidade. Em 1985 descobri isso. REM e RED HOT CHILI PEPPERS. Meus amigos acharam que eu havia pirado quando falei que o futuro era deles. Não seria do Ultravox. Nem do ROXY. Seria do rock feito com guitarra. FABLES OF RECONSTRUCTION eu comprei assim que saiu. É o disco menos querido pelos fãs da banda. É de longe meu favorito. É gótico americano. É poético. Viril. FREAKY STYLEY dos RED HOT. Vivo. Sexy. Os dois eram o contrário de tudo que eu escutava antes. Eu intuí que eram a saída. A resposta. Acertei.

TODOS NÓS NASCEMOS NO MESMO LUGAR

Revendo esses clips que postei, vejo o que havia esquecido: todos são, eu sou, em 1981-1984, filhos de David Bowie. Nunca uma geração foi tão marcada por uma pessoa só ( a geração anterior foi marcada por 4 Beatles, e a geração do metal foi marcada por Ozzy, Led e Iron ). Tudo feito entre 1978-1984, que não seja punk ou heavy, é herdeiro direto de 3 ou 4 discos de David. A gente consegue ver esses caras imitando Bowie, em frente ao espelho do quarto, aos 12, 13 anos de idade. Postei Japan, banda de David Sylvian e Mick Karn, uma dupla de talento absurdo, mas que infelizmente durou apenas dois anos. Depois David virou figura cult, tendo gravado solo com Eno e Robert Fripp. ( Ele é o cantor ). Karn é um baixista genial, mas nada do que ele fez depois deu muito certo. Postei o Ultravox, banda que vendeu toneladas na Europa toda, mas que NUNCA pegou nos EUA. Em 1984 era muito chique ouvir Ultravox em Berlin ou em Paris. E postei o Fun Boy Three, uma banda imensa que me deixa muito emocionado. Our Lips are Sealed é um hino da minha geração. Um hino que me faz pensar o seguinte: Eu reclamo muito do mundo de 2020...mas eu vejo esses rostos dessa canção, de 1983, e o que vejo? A cara de 2020. ....para ser continuado um dia.......

1984

Este foi meu primeiro ano na faculdade. E foi o ano mais "bonito" da minha vida. Eu era esnobe. Muito esnobe. Me achava o cara mais especial do mundo. E percebo agora que meu radar sempre foi muito forte. ( Mais esnobismo ? ) Pois se eu fui tão esnobe, devo dizer que 1984 foi um ano esnobe em geral. Basta dizer que todo mundo naquela faculdade se via como artista. Eram dúzias de artistas plásticos, de video makers ( era a coisa mais IN da época ), líderes de bandas, modelos, fotógrafos, futuros gênios da propaganda. O Brasil era bem isolado do mundo então, e 1984 foi nosso 1968 atrasado. Um desbunde. Quem era new wave usava roxo e rosa, quem era dark usava preto e maquiagem, quem pegava onda vestia calça limão e blusa da Sundek. Se dava bandeira, se ostentava uniforme da tribo. Foi nesse ano que criei meu conceito de Roxy. Eu virei maníaco pelo Roxy Music e tudo que eu gostava tinha de ser Roxy. Música Roxy, meninas Roxy, filmes Roxy. Embora as sombras dessa bobagem juvenil me acompanhem até hoje, 1984 foi o único ano Roxy em minha vida. Não houve tempo em que eu tenha escrito tanto, e relendo tudo agora, levo um susto: quem era aquele eu tão afetado? Em 1984 explodiram Madonna e Michael Jackson. Foi ano do Purple Rain do Prince e da trilha de Ghost Busters. O cinema tinha sucesso sobre sucesso: Dirty Dancing, Máquina Mortífera, Mad Max 2, Entre Dois Amores, Amadeus, Paris Texas. As coisas rolavam depressa. Duran Duran já era brega. Police não existia mais. Human League parecia passado. Nesse ano comprei o Low do Bowie e me apaixonei pelo Transformer do Lou Reed. Eu comprava cerca de 8 LPs por semana. A maioria de bandas recém nascidas. 90% das quais ninguém mais lembra. Mas o meu disco do ano foi Avalon, do Roxy Music, disco de 1982 na verdade. Domingos, no fim da tarde, tinha o programa New Beat,apresentado por Kid Vinil e Fernando Naporano. Só novidades de Londres. Foi onde ouvi Steve Strange e Orange Juice. Era um mundo bastante gay, mesmo sendo hetero, a gente gostava de viver entre dois mundos. Tive uma paixão em novembro desse ano que destruiu toda fantasia. O mundo real veio me buscar em 1985. Mas como disse, 84 foi bonito. Para todos nós.

1982 TEVE 3 VERÕES

1982 foi um ano de 3 verões. O primeiro foi de janeiro a março. O segundo durou de maio até setembro. O terceiro foi de outubro até dezembro. No primeiro eu ouvia muito rádio. No segundo eu estava na Europa e é por isso que tive mais um verão. E no terceiro eu vivi uma paixão e estava feliz pra caramba! 1982 marcou o fim definitivo da década de 70. Lembro das meninas vestindo cores ácidas na Espanha, lembro dos meninos de calça laranja na França, e das mulheres dançando nos programas de TV em Portugal. Os Stones rodavam pelo continente com a excursão do Tattoo You, a primeira excursão da história com patrocínio integral. Os anos 50 estiveram na moda por dois meses, o bastante para fazer a fama de Stray Cats e Shakin Stevens. John Cougar Mellencamp vendeu muito com Jack e Diane, o Fleetwood Mac estava repaginado, mas foi o ano do tecno pop. Havia a fé de que guitarras eram passado. Human League, Heaven 17, Yazoo, BEF, Thomas Dolby, e até na taba havia o Ritchie. Synth era o futuro. Mas havia mais! Na Espanha cartazes anunciando Roxy Music com King Crimson abrindo. Avalon foi o último disco do Roxy, o máximo em termos de som "de veludo". Prince lançou 1999 e Marvin Gaye o Midnight Love, dois discos com a sonoridade da década. Estranho tomar senso que Thriller foi lançado nesse ano. Ele vendeu tanto, durante 3 anos, que tenho a sensação que ele era de 84. Teve Joe Jackson. The English Beat. E todo mundo foi inundado de Men At Work. No Brasil a Blitz vendeu como hot dog. No ano seguinte Duardo Dusek e Lulu iam abrir o caminho de vez. Ouvi muito reggae nesse ano. Black Uhuru e Peter Tosh. Linton Kwesi Johnson. Descobri o rockabilly de Gene e Eddie. E Stevie Wonder tinha that girl. A música pop estava mega sexy.

COMEÇO AQUI UMA SÉRIE SOBRE OS ANOS 80 EM MÚSICA. A PIOR DÉCADA. MAS AQUELA QUE MAIS ESTIVE ATENTO.

1980.O Brasil ainda cheio de seres dos anos 70. Os críticos daqui, 100% anglófilos, nos faziam crer que em Londres só existiam punks e pós punks. Escondiam da gente que Queen era a banda mais querida de lá. Então para Ana Maria Bahiana, José Emilio Rondeau e Matinas Suzuki, só o Clash contava. London Calling era um milagre, e tudo o mais pouco importava. Mas no mundo real não era assim. Na Inglaterra a banda que mais vendia, de longe, era o Madness. Depois vinha Adam Ant e Gary Numan. Estou escrevendo isto ouvindo Ace of Spade do Motorhead, e de 1980 nada envelheceu menos que esse disco. 1980 foi a época do novo metal também: Iron Maiden, Accept, Saxon, Deff Leppard. O Judas Priest, mais velho que esses citados, estava no pico com British Steel. A revelação do ano para a New Musical Express era Pretenders. Já falo deles. Nos USA se ouvia Pat Benatar, Bruce Springsteen, Cars, Supertramp, Michael Jackson. Talking Heads tinham Remain in Light. Aqui eu passei o ano ouvindo MPB ( Salve Simpatia-Jorge Ben, Cinema Transcendental- Caetano, Luar- Gil ), A Cor do Som eu ouvi demais e tinha ainda o Moraes. Zennyatta Mondatta do Police, com aquela bateria espetacular do Stewart Copeland, o chato do Sting ainda não mandava. Pretenders I eu ouvia todo dia. Mandei carta pra Londres e me mandaram poster de Chrissie Hynde. Eu queria casar com ela. Making Movies do Dire Straits, B'52s Wild Planet. Foi um ano divertido pacas. No rádio FM tocava muito Gary Numan, The Wall do Pink Floyd, Bee Gees, e o começo do Rap com Kurtis Blow. Muita música black. Meus amigos de então? Diogenes era fã do B'52s. Mauro só ouvia black music. Tinho ouvia Van Halen. Meu irmão era Clash e Ramones. POP aqui era Fabio Jr. 1981 iria ser bem mais chato. Conto em outra. PS: 1980 foi o ano de Back in Black. Eu odiava. Em 2020 eu adoro. Nada como 40 anos pra mudar seu preconceito não é?

PRECISAMOS FALAR SOBRE O HÁBITO DO PRECONCEITO: PURPLE RAIN-PRINCE. FAZIA 25 ANOS QUE EU NÃO O OUVIA

Em 1984 corria o papo de que Michael Jackson tinha inveja de Prince. Tanto no som como na aparência, MJ lutava para ser Prince. Acho que era verdade. O que tenho certeza é que na minha faculdade, em 84, ninguém ouvia Prince. Purple Rain vendia aos milhões, mas o povo preferia ouvir Bowie, Duran Duran e Van Halen. Não os culpo. Não eram racistas, apenas tinham o hábito de jamais considerar a música negra. Black Music era POP, só POP, sem verniz de arte. Fim de papo. Me lembro de numa discussão em sala de aula, sobre cultura popular, vários rostos se viraram em minha direção com risinhos, quando falei que Prince era um gênio. Que para perceberem seu tamanho, bastaria imaginar o que pensariamse se um branco fizesse o que ele fazia. Lembro que em 84 eu ouvia música pra caramba. Foi o ano de Bruce Springsteen, de New Order, do Culture Club e das bandas dark que eu dançava à noite no Satã. Mas PURPLE RAIN era o Pet Sounds do ano. Prince era negro e branco. Era homem e mulher. Era rock e funk. Era isso que o povo mais cool dizia. Era isso o que eu falava. Não ouvia o disco desde os anos 80. É daqueles discos, como Dark Side of The Moon ou Thriller, tão consumidos, tão digeridos, que é impossível voltar a sentir seu frescor. Quantas vezes o escutei em casa? 300? Quantas vezes ouvi suas faixas no rádio? Mil? Quantas vezes os clips na TV? Prince não tinha limites. Essa era sua missão. Se os dois monstros POP dos 80 foram MJ e Madonna, Prince unia os dois. Sexo como Madonna. Negritude como MJ. Em Purple Rain ele toca todos os instrumentos. Poderia ter sido um dos maiores guitar player da história, mas sua viagem era outra. Lets Go Crazy é uma das melhores aberturas de qualquer disco de qualquer tempo e estilo. Emenda com Take me With You, um tipo de sonho psicodélico que atualizou LOVE e Beatles. É linda de fazer amar. The Beautiful Ones é 100% negra. Falsete Marvin Gaye e desespero soul. Computer Love é POP e Darling Nikki é sexy, sexy, sexy, deliciosa. Na época se falou em Zappa. Não! É George Clinton BB. Doves é tão conhecida como Hey Jude. A gente não consegue mais prestar atenção. I Would Die For You mantém a tensão que explode em Star, uma festa black. No fim, Purple Rain, um hino, Purple Haze da geração seguinte. Prince dizia ter feito pensando em Bob Seger, uma balada à Seger. Pra quê vou dizer que é um disco perfeito? Voce sabe disso. Foi a lista da Rolling Stone que me fez o reouvir. Miles Davis queria gravar todo um disco com Prince. Não rolou. A partir de 1988 Prince começaria a pirar. Ele entrou na mesma viagem de Brian Wilson ( em parte ), ter de ser melhor que si mesmo. Brigou com a Warner, mudou de nome, não conseguia deixar de provocar. Em certo momento dos anos 90, tudo que era dos 80 foi rebaixado. Prince foi um dos que mais foi injustiçado. Eu sabia que ele daria a volta por cima. Eu vira outras décadas virarem. O que é bom sempre retorna. Mas ele havia perdido o interesse genuíno. E sua arte só podia ser plena se feita com o máximo de paixão. Prince deixou 3 albuns perfeitos: este, 1999 e Sign o The Times. E mais alguns muito bons discos: Parade, Dirty Mind, o Black Album. Ouça.

JEAN GABIN, VITTORIO GASSMAN, ROBERT BRESSON E OS ANOS 80.

Roger Ebert e Siskel são dois críticos que gosto. Inclusive já li dois livros de Roger. Um amigo me manda a lista dos 10 filmes favoritos de cada um. Nos anos 80, apenas. Ebert dizia ser contra listas, mas se arriscou e fez. A década de 80 é pra mim remota como um planeta distante. Seria muito mais fácil falar dos anos 40 ou 70. Anos 80 foi a última década em que se ia muito ao cinema. Mas aí voce diz: Mas como? Olha as bilheterias dos Vingadores!!!! Meu querido...no cinema de hoje TODOS vão ao mesmo filme e os outros 50 filmes mofam sem público. Nos anos 80 ainda haviam dez ou quinze filmes que davam lucro por mês. Observe: foi a última década do cinema realmente popular, salas baratas, fora de shoppings. Anos 80 me lembra fila na locadora também. Foi o inicio do fim. Foi uma década de ótimas comédias e grandes filmes de ação. Mel Gibson. Stallone. Arnold. Bruce Willis. Foram estrelas imensas. Nenhum ator tem hoje o alcance popular que eles tiveram. E ainda havia algo que deixou de existir sem que a gente percebesse: o cinema de arte feito em grande produção. O filme de arte caro. Voto em dez: Ran do Kurosawa. Fanny e Alexander, Bergman. Asas do Desejo, Wim Wenders. Os Eleitos, Philip Kauffman. Um Príncipe em Nova Iorque, de John Landis. Duro de Matar, de John McTiernan. Roger Rabbit de Zemeckis. Great Balls of Fire, de Jim MacBride ( ainda a mais fun bio de rock ), O Clube dos Cinco, de John Hughes. O Reencontro de Lawrence Kasdan. Mas é com dor no coração que deixo fora Curtindo a Vida Adoidado, Um Espírito Baixou em Mim e Hannah e Suas Irmãs. Ontem revi PICKPOCKET. Como sabemos se um diretor é realmente grande? Quando seus filmes parecem feitos em outro planeta. Aqui é o mundo Bresson. Árido como só um jansenista pode ser. Racional como só um francês é. Nota voce que é Crime e Castigo made in France? Ele rouba para ser pego um dia. E ao ser punido encontra o amor. Bresson não deixava que atores atuassem. Ele dizia que uma atuação distrai o público da moral da obra. Anti Brando. Anti Pacino. Anti todo ator que transforma todo filme em show pessoal. Marika Green tem o rosto que toda santa teria. Falo de Gabin e Gassman em outro post. As novas regras do blogger não permitem posts longos.

GNARLS BARKLEY - ST. ELSEWHERE

Cee Lo tem uma voz maravilhosa. Ele não canta soul, ele é puro gospel. Danger Mouse é veloz. Seu ritmo é acelerado e os timbres procuram a originalidade. O que mais me enjoa na música eletrônica são seus timbres. Acho um crime ver gente lidando com aparelhagem que possibilita milhôes de timbres, usarem sempre o mesmo velho som padronizado. 99% dos discos que usam sons digitais possuem uma espécie de sonoridade que nunca muda. O 1% restante eu adoro. Danger Mouse busca sons diferentes. Mistura graves e agudos, tons atonais e acelerações súbitas, e a voz de Cee Lo combina maravilhosamente. O disco foi sucesso imenso em 2009. Merecido. Fui formado na escola Brian Eno. E Eno, no tempo em que ele era Eno, buscava de forma obssessiva o tom exato, úncio, perfeito. Eno brincava com sons. Seu synth no Roxy parecia um pernilongo psicótico. Produzindo o Devo, ele lhes dava um estranho som de brinquedo. O Ultravox era luxuoso, sons de violinos de vidro. Nos Talking Heads ele botou sons elétricos usado de forma percussiva. E em seu trabalho solo ele nunca parou de tentar soar como ele mesmo. Eno em nada se parecia com Kraftwerk. Que nada tinha de Giorgio Moroder, que em nada lembrava Gary Numan ou Jarre. Então com o U2 Eno se acomodou no timbre "ventania". Estagnou. Danger Mouse não usa nenhum desses timbres citados. Ele não tenta parecer vintage. Assume o som digital de 2009. Muita gente hoje tenta soar analógico. Como muita guitarra tenta parecer valvulada. Não enganam. Muito melhor explorar o limite do som digital. Não há nada pior que grupo de teens tentando lembrar o Depeche Mode.

1980, UM ANO PELA METADE

1980 foi o ano de The Game, do Queen. É um disco desconjuntado, as faixas não combinam, mas caramba, tem Another one Bites the Dust. Foi o ano também de Back in Black. E esse disco, histórico, é uma coleção de riffs insuperáveis. Hell Bells salva sua alma da pasmaceira. 1980, ano decisivo no rock mais musculoso, teve Ace of Spade. O Motorhead foi a zebra do ano. Chegou ao número um na Inglaterra. Mesmo indo contra a moda ´crítica de então: Gary Numan, Adam Ant e Madness ( gosto dos 3 ). O disco do Lemmy é como uma moto hiper turbinada correndo sem freio entre penhascos cheios de lava. Adrenalina. 1980 foi de British Steel, do Judas Priest. Críticos dizem hoje ser o terceiro disco mais decisivo da história do heavy metal. Ele é quase perfeito. Não gosto de United, um hino feito para o clube de Rob Halford. Mas todas as outras são matadoras. Não vou deixar de dizer que em 1980 houve Killer também. Voce sabe de quem. Em 1980 eu andava muito com três amigos. Inseparáveis nós três. Mauro ouvia apenas black music. E para mim, na época, black era música pop, sem valor nenhum. Tocava nas rádios tipo Cidade e Antena Um. Sonzinho pra " catar mulher ", nada mais que isso. Diógenes ouvia Led Zeppelin e Deep Purple. Duas bandas que eu considerava velhas, mofadas, antigas, vergonhosas. E havia Tinho, Robertinho, que ouvia os discos que citei acima. Eu não entendia como alguém civilizado como ele escutava algo tão "pouco refinado". Queen ainda vá lá, mas Judas? Angus Young e seu ridículo calção! O horroroso Lemmy! Os analfabetos Iron Maiden!!!! Eu tentava o salvar. Livra sua alma do pecado de um gosto vulgar. Que gloriosa missão! Não preciso dizer que em 1980 eu não ouvi nem um segundo de Back in Black, Killers, Ace e Judas. EU SABIA QUE ERAM PÉSSIMOS. Um crítico do Estado de SP me dissera isso. Em 1980 eu comprei Gang of Four, Joe Jackson, Clash, e claro, o hiper cool Elvis Costello. Eu tinha a auto satisfação de estar up to date, dentro das novas ondas. Eu ouvia o que apenas OS MAIS ESPERTOS ouviam. Melhor que tudo, eu comprava discos históricos, coisas que me davam uma cultura rock n roll. Naquele ano foi Crosby Stills Nash e Young, Traffic, Cream e muito Grateful Dead. A questão é: eu ouvia tudo isso? Comprei, como bom aluno, tudo que a crítica MANDAVA, mas o que eu escutava todo dia? Não, não era Heavy e rock básico, isso era PECADO, não chegava nem perto. Mas esses discos endeusados pelos cabeças, confesso, eu ouvia uma vez e guardava. Então, preso entre o que ERA INTELIGENTE, e o que era escutado pelos meus amigos, eu me escondia no meio termo e passei 1980 com Rolling Stones, Jorge Ben, Dire Straits, Police e Pretenders. Não eram queridinhos dos jornais, mas também não eram odiados pelos DONOS DO BOM GOSTO. Eu não tinha prazer com os caras do tal BOM GOSTO CRÍTICO, mas não tinha coragem de romper. Um bundão

O GRANDE ACORDO FEITO NOS ANOS 80

   Acompanho vários grupos de direita nas redes sociais. A maioria mal sabe o que seja conservadorismo. Os membros variam entre um anti socialismo difuso e um liberal capitalismo histérico. Não é diferente nos grupos de esquerda. Quase todos querem o melhor do capitalismo com um leve verniz de "bondade social", seja lá isso o que for. Nos grupos de direita, apenas uma vez encontrei alguém que falou a mais profunda das realidades, ele tocou no grande acordo feito nos anos 80. O acordo que selou o fim da história.
  Explico isso agora, ok?
  Até os anos 70, ser comunista era querer o fim do capitalismo. A Sony ou a Ford seriam tomadas pelo Estado. Operários assumiriam as fábricas. Todo cidadão seria um funcionário do estado. Para atingir esse fim, era usada toda tática possível. Terrorismo e sabotagem faziam parte. Mas vieram os anos 80, época de Thatcher, Reagan e João Paulo II. E houve um acordo geral, o tal do final da história de que falava Fujyama. O mundo, em quase sua totalidade, seria um meio termo, nem conservador, nem socialista. Revoluções e mudanças radicais seriam eliminadas do mapa mundial. A direita caberia aceitar o liberalismo de costumes e o ateísmo dos socialistas light, e a esquerda, em troca, nunca mais falaria em estado totalitário. A agenda da direita liberal incorporaria valores como ecologia, feminismo e igualdade racial, e a agenda da esquerda eliminaria de suas aspirações a estatização de bancos e de fábricas. A esquerda iria começar a tolerar a democracia burguesa. Havendo esse acordo, todo conflito entre os dois campos seria apenas sobre hábitos e costumes, e nunca mais sobre economia e poder. Nas eleições, vencendo a direita, a única novidade seria uma menor tolerância a aborto ou drogas, vencendo a esquerda, menor tolerância a armas ou individualismo radical. Pura perfumaria. O Sistema estaria sempre seguro.
  Não é necessário te dizer que nesse mundo, grandes empresas como Microsoft ou Bayer, podem ter uma postura de esquerda. Vende bem entre jovens e é uma posição segura, suas empresas jamais serão do estado. Hoje, todo grande capitalista venderá uma imagem de esquerdista se for esperto, falará em proteger o ambiente e diante da imprensa irá atacar o direitista da hora. Já os esquerdistas, facilmente iludidos, acharão cada vez mais que ser de esquerda é apenas defender negros pobres e apoiar o aborto. Não percebem mais que tudo isso está inserido dentro do grande capital. Droga liberada, festinhas de arte e mulheres poderosas dentro do Sistema de lucro e venda. Sem perigo nenhum. O Itaú adora.
  Comunistas tradicionais não têm vez nesse mundo. Assim como conservadores verdadeiros. Os comunistas esperam uma revolução que jamais virá. E querem crer que as ditaduras militares de Coreia e China são um tipo de comunismo. Já os conservadores, fatalistas por natureza, sabem que seu tempo passou. Insistem em se fazer ouvir, mas percebem que sua mensagem não agrada quase ninguém. Porque ela fala em deveres e obrigações. Não em desejos.
  É um mundo que desistiu de mudar. E que muda sem cessar. Muda em aparência. Muda para mudar cada vez menos. Por isso não espere um novo mundo pós epidemia. Farão propagandas lindas. Falarão da paz universal. E venderão produtos capitalistas como nunca.

MORAES MOREIRA ERA UM CARA LEGAL

   Em meus mais de 50 anos de vida, afirmo sempre sem o menor medo de errar, que o Brasil nunca foi tão feliz como no período que vai de 1977 até 1983. Se voce quiser pode repetir a ladainha: Bah! Ditadura! Ok. Mas imagino que voce tenha uns 35, 25 anos né? Sim, havia uma ditadura, e nessa época eu tinha muita raiva dela. Não podíamos votar, e havia a odiada censura. Eu ficava frustrado com o fato de não podermos ver um nu frontal na Playboy. Nem na Ele e Ela. Era minha adolescência. Era isso que me atingia.
  Eu lia dois jornais por dia, o Jornal da Tarde e a Folha da Tarde. Voce não vai acreditar, mas tinha jornal que chegava às bancas de madrugada, 5 da manhã, e outros, como os dois citados, às 10 horas. Então eu sabia que havia censura, proibições, perseguições. Mas creiam-me, o clima geral era de otimismo absoluto. Foi o último período de otimismo neste país.
  Se voce duvida e acha que penso assim porque aos 15, 20 anos tudo parece colorido, ouça a MPB feita então. Por mais que Gonzaguinha seja amargo, os discos de Caetano, Gil, Gal, são de desbunde. É o auge do hedonismo. Em 1977 começou a lenta abertura. A volta dos exilados. É a época de Moraes Moreira.
  Em 1971-1972 ele já havia lançado ao mundo o melhor disco já gravado nesta terra brasileira: Acabou Chorare. Um disco que ainda hoje me causa orgulho de ser daqui. Ouvir esse LP é como encontrar a si mesmo. Tratamento junguiano que resolve tudo em meia hora. A partir de 1977, em carreira solo mas nunca solitária, Moraes cria a trilha sonora da felicidade. Nunca fomos tão felizes. E a gente sabia disso.
 Um parênteses aqui: Não foi uma época fácil pra mim. Fui um adolescente tímido e hiper solitário. Então eu passei por esses anos como um tipo de convidado que não aproveita a festa. Voltemos ao texto...
  Tinha topless nas praias. E mulher pelada no carnaval. A gente sabia que Bethânia e Simone eram lésbicas. Que Ney e Clodovil eram gays. Mas e daí? Tinha Zico e tinha Chacrinha, então o Brasil era o país mais feliz do mundo. A gente realmente acreditava nisso. O Rio era o melhor lugar do mundo para se nascer e a Bahia era um lugar onde ninguém era triste. Por seis anos a gente viveu nessa certeza. Era o Brasil pobre mas sorridente. Isso era certo? Era errado? Não sei. O que sei era que Gabeira e Brizola tinham voltado, Glauber elogiava os generais e nossa ditadura era um esculacho. Brasileiro não sabe fazer nem ditadura direito. Nas ruas e nos bares, sempre lotados, se falava alto e se ria muito. Na rua Augusta a paquera era ostensiva e madrugada adentro. A gente dormia na praça, bêbados. E Moraes e A Cor do Som cantavam pra gente.
  Teve Queen com Freddie Mercury em janeiro de 1981 no Morumbi. Gente de 15 anos ainda podia ir. Assisti entre 1980 e 1983 uns 3 shows do Moraes. O do ginásio do Ibirapuera foi o melhor. Todo mundo entupido de lança perfume e maconha. Como disse, a ditadura brasileira foi um esculacho. Eu voltava a pé pra casa. A gente, mesmo a classe média, tinha poucos bens e não sabia disso. Depois dos shows eu cruzava 10 km de ruas escuras, sozinho. Cantando alto.
  Todo domingo tinha jogo no Morumbi. Um ingresso custava o mesmo que um bilhete de cinema: quase nada. Então todo mundo ia. 100 mil pessoas em jogo médio. Eu levava rojão e bandeirão. O povo da escola todo lá. Depois do jogo ainda dava pra jogar bola na rua. A vida era na rua.
  Bazar Brasileiro foi o disco da época. Forró do ABC. Deus me fez brasileiro, o documento da raça, na festa da alegria...
  Na praia dava pra morar ainda. Praia era zona livre, sem divisão e sem preço. E as festas: Natal, Páscoa, Ano Novo, Juninas, eram na rua, enfeitadas, grátis, sem frescura.
  Mas em 1984 inventaram os anos 80 e a gente ficou fresco, metido, bobo. Pior, inventaram a tal hiper inflação, e esse foi um trauma muito pior que a ditadura. Nunca nos recuperamos. Os anos 80 trouxeram à tona o pior do Brasil: roubo. Corrupção. Cinismo. E um fatalismo atroz. A MPB hedonista virou rock brasileiro. Ficamos sérios. Ficamos velhos. Ficamos chatos demais.
  Moraes permaneceu. Ele ainda apostava na alegria.
  Morreu dormindo. Uma benção.
  Voce foi o brasileiro em seu melhor.

Duran Duran - Girls on Film (Live @ Måndagsbörsen '81)



leia e escreva já!

Duran Duran: Careless Memories (Original version!!!)



leia e escreva já!

O SOM DOS ANOS 80 E DE HOJE.

   A gente estava na Europa em 1982 e foi um momento brilhante aquele. Naquele verão os anos 70 acabavam enfim. A primeira coisa que estranhei foram os jeans. Não havia jeans. Se voce quer saber como a molecada se vestia na Europa em julho de 82 veja o clip que postei acima. Continuo: fomos para o interior do interior do continente. Ou seja, norte de Portugal, quase Galicia. Quarenta graus, aridez, pouca gente. Uma festa na cidadezinha de meia dúzias de ruas. Eu e meu irmão vamos. Uma feira de tarde. Barraca de discos. Que surpresa!!!!! Tem tudo que aqui no trópico não tinha ( e na verdade nunca teve, nem em cd ): Talking Heads 77, Gang of Four, Classix Nouveaux, Ultravox, John Foxx, Toyah Wilcox, Orange Juice, Haircut One Hundred, Adam Ant e Bow Ow Ow. Compramos. Era a época do Escudo. Um escudo era dez cents de dólar. Eram discos made in Portugal e made in France. Tenho até hoje. Andamos pelo local...meninas de enormes franjas cobrindo os olhos. Meninos com calças de mulher: laranja, roxo, pinky. Bebemos ginja.
  Na sala da minha tia tem um programa de música POP ao vivo. Um palco cheio de luzes, cores e brilhinhos. Era o nascimento da década e ela só nasceria no Brasil em 1984. E aqui ela seria para meia dúzia de moradores de bairros legais. No fim do mundo português era fenômeno popular.
  Na época eu não era fã do Roxy Music e pouco entendia de Bowie. Ouvia-o desde 1974, mas era pra mim só um rock star gay e criativo. Então não pude notar que ele e Ferry eram os vencedores do década passada. Entre 1980-1987 o POP e o ROCK que importava eram, em 90% dos casos, filhotes do glam e do funk chic.
  Chego de volta a 2018 e escuto o disco Duran Duran, o primeiro. Para mim, é a coisa mais fora de moda que existe. Teclados gelados e simples, baixo funkeado ( John Taylor é um gênio do ritmo ), guitarra exagerada, percussão lá em cima, tudo a cara do POP dos anos 80. Mas caramba!!!! Ouço uma multidão de "novas" bandas de 2018 e um monte tem esse mesmo som, mas, COM UMA DIFERENÇA: eles tocam muito, muito mal. Daí dou razão à Neil Young. O fato dos novos sons serem gravados em aparelhos ruins para se reproduzir em condições precárias, faz com que toda uma geração seja acostumada a ouvir música pobre. É um tchuc tchuc prás sem nenhuma sutileza.
   Por isso esse vinil me surpreendeu desta vez. Fico embevecido com a riqueza sonora. Tem centenas de coisas para se escutar, sons que vão e que voltam, timbres que surgem e morrem, ecos sem fim.
   A criação do LP em 1948 fez nascer o som de Sinatra, e depois o jazz adulto. A tecnologia dava campo para eles. O estéreo deu nascimento aos sons dos Beatles e todo o rock psicodélico. Os estúdios de 64 canais ensejaram o POP dos anos 70, com seus montes de músicos profissionais. A fita K7 criou o fã de bandas toscas e o CD fez nascer a dance e o eletro. Cada salto científico faz surgir um novo modo de ouvir e de fazer música popular. E faz se abandonar outro modo, antigo, de produzir e compor. O tempo do Ipod e do Spotify, do mp3, fez surgir o som sem sutileza, que luta contra o ruído das ruas e a pressa do ouvinte. Se compõe para essa tecnologia. Singles de 3 minutos. E só.

The Breakfast Club (1985) - Modern Trailer



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O CLUBE DOS CINCO ( THE BREAKFAST CLUB ), O QUE MUDOU EM 32 ANOS ?

   Assistir este filme depois de 7 anos de estudos em educação e 9 anos de prática...é doloroso. Se em 1984 a coisa era dura, hoje piorou muito. Vamos ao filme.
   Cinco alunos que não se conhecem são obrigados a passar o sábado na escola. Eles não se conhecem e cada um representa um dos chavões da adolescência. A primeira sacada do filme, ótima, e que vem na citação de Bowie, é a de que adolescência é uma invenção de adultos. Uma criação feita para reduzir adolescentes a tipos catalogáveis. Temos então o rebelde, o esportista, o nerd, a patricinha e a esquisita. Não há  nenhum tipo em 2017 para se encaixar aí. Fora da adolescência, olhando de longe, esses são os tipos. Digamos apenas que a esquisita hoje engloba um espectro maior de esquisitices. E que o rebelde diminuiu muito.
  Judd Nelson faz o rebelde e no começo ele é tão cliché que ameaça afundar o filme. Mas é proposital. Nos anos 80 o rebelde já era um cliché criado por conformistas. Bem escrito por John Hughes, esse personagem consegue se humanizar sem mudar ou suavizar, o que é bem difícil de fazer. Anthony Michael Hall quase rouba o filme como o nerd. Temos pena dele. E rimos com ele. Fico pensando qual deles eu fui. Não, nunca fui um nerd. Eu teria sido o esquisito?
  Ally Sheedy tem menos falas, mas rouba o filme. Ela faz com que a gente se apaixone por ela. Com sua timidez mórbida, ela se esconde detrás de cabelo e capuz. Quando fica mais normal rola uma decepção, ela se enfeia na verdade. É um papel maravilhoso para uma atriz brilhante.
  Molly Ringwald faz uma mágica. A patricinha não é odiável. Aliás, o elenco está tão bem afinado que nenhum é adorável fofo e nem detestável símbolo. O filme faz o que propõe: eles são muito mais que cinco tipos.
  Molly é uma patricinha. Mas é acima de tudo uma menina. Assim como Emilio Estevez, que está ok, mas é de longe o menos bom.
  Eu fui os cinco. E a mensagem do filme é que todo adolescente é os cinco. Uma mistura de tudo aquilo, e de ainda mais. Uma pessoa cheia de medo, de raiva, de amor e de vontade de viver. Nós judiamos deles. Muito. Damos a eles uma vida indesejada. Mas o pior é que os vemos como personagens, tipos muito bem definidos.
  Hoje ainda é assim. Todas as salas que olhos tem a popular, os esquisitos, os rebeldes, os nerds e os caras do esporte. Não consigo ver mais nada além disso. Minto, vejo sim, quando me dou ao trabalho de olhar um pouco mais. Percebo então que a popular é esquisita. Que o esportista é nerd. Ou que eles não são nada disso. São mais, muito mais.
  Tive a sorte de ver este filme em 1985. E me identifiquei muito com o rebelde. Revi nos anos 90 e achei que a esquisita era linda. E agora eu amo todos os cinco.
  Falar a real: John Hughes fez aqui um grande filme. Muito maior do que percebemos então. Ele atingiu um tipo de perfeição.

A BUTIQUE DO PAULO, BEASTIE BOYS E O SOM DO SÉCULO XXI.

   Claro que estou só provocando, o som deste século foi criado em 1988, um ano antes da Butique do Paulo, pelo Public Enemy. Os Beastie Boys admitiram beber na fonte contaminada dos caras e levou a coisa para os playboys brancos que em 1989 não ouviam som de preto. ( Em 1999 tinha playboy que ouvia Beastie Boys, House of Pain e Eminem, mas não ouvia os pretos nunca ).
  Que som é este? Vale tudo. Eles entram num estúdio e pode tudo: Tudo o que voce ouviu a vida toda pode ser enfiado na coisa. Roubo? Não. Homenagem e bom gosto. É preciso ter ouvido, ter swingue. ( Conheço comunidades de roqueiros, que bosta de nome, que dizem escutar "de tudo", mas quando falo de rap e de punk correm e gritam: Isso não é música! ).
  Este é o melhor disco dos Beastie Boys porque é o primeiro em que eles fazem Public Enemy: misturam tudo, Tem Beatles, Isley Brothers, Santana, Rufus, Led Zeppelin, Sweet, Commodores, Jimmy Cliff, George Clinton, Stevie Wonder, isso tudo só em 3 faixas!!!! Muito foda!
  Depois deste disco, que vendeu pouco, eles passaram a revisitar o que pulsa aqui forever. Todos os seus discos dos anos 90 nascem nesta matriz. Um caleidoscópio em preto e branco. E que pulsa todo o tempo, tem manha e tem beat. O som e a vida do século XXI é essa mistura doida e tonta de coisas que pareciam não ter nexo mas que se unem porque são sexo: polaridades afim.
  Bobagem chamar este disco de obra-prima, porque falar obra-prima é coisa de roqueiro que baba nos discos do Genesis. ( Que não são ruins, os roqueiros é que são chatos ).
   Este disco tem quase 30 anos, putaquepariu, e ainda aponta para a frente. Então ele é amazing. Cool. Do grande caralho.

CRÍTICA DE ROCK, ESSA COISA SEM SENTIDO.

   Crítica de rock não faz sentido. Opinião de rock seria melhor. Escrever sobre música já é quase impossível, e sobre o gênero rock é ainda pior. Isso porque a tendência é acabar por tratar o rock como aquilo que ele não é. E dar à ele um verniz de erudição e de intelectualidade que ele nunca teve. E nem pode ter, pois isso significa sua morte como gênero original. Críticos de rock, mesmo os que pregam a simplicidade do som, acabam por fazer crítica. Educados em faculdades de letras ou de jornalismo, revelam em suas linhas os vícios da crítica literária. Acabam por dar à uma banda de iluminados iletrados de Newcastle a honra duvidosa de serem colocados no mesmo saco de Baudrillard ou de Chomsky. É o momento em que matam o rock.
  Desse modo, gente do meio que se presta a ser comparado a gente das letras acaba sendo incensado pelos críticos. E aqueles que não podem ser enfiados em uma comparação com Keats, Whitman ou Baudelaire, ficam a ver navios. São ignorados.
  Ainda é assim, mas já foi muito pior. A pulverização da imprensa em milhões de vozes na internet acabou com as patotas. Nos anos 70 só gente da esquerda era levada em conta. Desse modo, Dylan era rei e Lennon vice rei. E alienados como Black Sabbath ou Queen eram completamente deixados à margem. Ouvir Ozzy ou Mercury era coisa de analfabeto. O povo inteligente tinha de preferir Joni Mitchell. Ou The Clash.
  Na virada da década, entre 78-82, o Clash era chamado de maior banda da história do rock. Os destruidores marxistas do passado. Os caras que iam reorganizar o rock em bases igualitárias. Com eles vinha o Gang Of Four, Elvis Costello, The Jam e mais uma multidão de camaradas. Nesse mundo, The Police, The Cars ou Kraftwerk não eram muito comentados. Eles não cabiam nesse universo letrado. ( E os Ramones eram a sombra, um tipo de vício secreto culposo e culpado ).
  Nos anos 80 o niilismo imperou e a patota da crítica amava aqueles que lembravam Nietzsche. Nunca a crítica de rock foi tão poderosa e nunca esteve tão distante das massas. Eram textos gigantescos e nesse universo Iggy Pop era rei. O cinismo de Bowie era elevado à arte absoluta. Oscar Wilde mandava nas cabecinhas jornaleiras.
  Hoje nada disso faz sentido. Um crítico é um homem no gueto. Suas opiniões são levadas a sério apenas por seus amigos. Seus seguidores. Então podemos notar neste mundo muito mais aberto, que o Rush não era tão ruim e o Clash não era tão bom. Que o Grand Funk Railroad tinha seu valor e que talvez Neil Young não fosse um gênio. Leio sites de rock e é isso que vejo, o resgate de coisas que eram chamadas de lixo ( Cheap Trick e Thin Lizzy ).
  Ray Davies era tão bom quanto Dylan. Sempre foi. Mas sua patota não era A Patota.