AS FAXINERS E O RIDÍCULO DA TV EM 2025

Quando temos no ar um programa onde 3 moças e um homem, que se auto nomeiam Faxiners, passam o tempo limpando casas bagunçadas, temos a certeza de que o fundo do poço chegou. Não há mais trama, não há personagens, tudo o que vemos é gente banal trabalhando. Assim como acontece em programas de mecânicos, cozinheiros, decoradores, ficamos em frente à tela vendo gente trabalhar. Nada de suspense. Nada de drama. Apenas um sonífero. ---------------------- A TV se torna uma fonte de luz e de ruídos, um objeto na casa que tem por função nos fazer esquecer o silêncio. Civilização que teme o vazio, o tédio, a solidão, ficamos em frente à TV, solitários, em silêncio, olhando sem ver, uma gente que faz coisas que não importam. Hoje a TV não é muito mais importante que a luminária. ---------------- É isso.

O MANUSCRITO DE SARAGOÇA - JAN POTOCKI

Jan Potocki era um nobre polonês que morava na França, escreveu este livro em francês e ele se passa na Espanha. Lançado em 1805, ele tem uma linguagem simples, direta, sem enfeites. Mas mesmo nessa simplicidade, as descrições são eficientes, há todo um clima alucinógeno nesta novela gótica, uma das primeiras e mais bem escritas. -------------- Alguns poucos anos atrás eu vi o filme baseado neste livro e achei-o desagradável, barroco, cheio de imagens fortes. O livro é não só melhor como mais claro. O que acompanhamos é a viagem de um soldado pelo centro da Espanha na época napoleônica. Região deserta, árida, pobre, ele é envolvido por diabos, ciganos, cabalistas, muçulmanos, tudo em castelos abandonados que se tornam ricos, estalagens desetas e uma dupla de enforcados que aparecem como corpos podres e mulheres sedutoras. O soldado anda, viaja, caminha, mas sempre volta ao mesmo lugar e a situação se renova e ao mesmo tempo se repete. Nunca sabemos a verdade, tudo pode ser feitiçaria ou apenas uma sequência de ocorrencias banais. -------- O livro não teve um final, tudo termina pela metade, sem conclusão, isso porque Potocki era um desses autores da época que escreviam como passatempo e não como objetivo de vida. Ele era muito mais interessado em sua vida de nobre aventureiro que em suas páginas fantásticas. ---------------- A edição que li é de 1965 e pelo que sei só há uma outra, do Circulo do Livro, de 1978. Uma pena, porque este é um romance gótico de imenso apelo para quem deseja se divertir, ter prazer em leitura. As imagens criadas pelo autor são fortes e belas e tudo convence nossa razão. Não há sustos, pois não é um livro de horror, o que há é um clima de maldição, de diabolismo. Leia.

O ANATOMISTA - FEDERICO ANDAHAZI. Eros e Pornô.

Eu estava conversando com um amigo sobre livros e ele chamou minha atenção para um fato interessante. Como os romances hoje precisam expor suas intenções explicitamente todo o tempo. O autor é obrigado a dizer, a cada capítulo, sobre o que é a obra, qual o objetivo, porque o leitor deve ler aquilo. Nossa época é a era da pornografia, onde, como em filme pornô, não se pode "perder tempo" com erotismo, sugestão, sentimentos ocultos, tudo tem de chegar logo ao orgasmo, à penetração. Gozar logo. Então todo livro é um gozo, estou lendo para obter algo rapidamente: conhecimento ou prazer. E por isso, esse prazer é sempre ralo. ----------------- Andahazi é um autor argentino atual e este livro foi premiado. Mas qual livro não tem algum prêmio? São tantos os festivais.... -------------- O tema é excelente. Um anatomista no século XVI descobre a função do clitoris. Para isso ele faz experiências com mulheres vivas, lógico. A história é do tipo que mais agrada o leitor deste século: fato romanceado. Todos os personagens são reais, exitiram de fato, mas isso não significa que tudo aqui seja verdade. Passado em Veneza, o descobridor é preso por causa de suas pesquisas. Paralelamente há a história de uma puttana da época, uma cortesã de luxo, e o autor descreve sua biografia feita de luxo e de crueldade. ------------- Belos ingredientes não? Mas o que faz o autor? Conta tudo isso em linas de quinze palavras, capítulos de três ou quatro páginas, descrições genéricas, ação que não para de correr. É quase um relatório e fica impossível ao leitor ter qualquer possibilidade de encontrar um outro sentido que não seja aquele explícito-pornô: uma novela sobre corpos e sobre poder. Nada menos e nada mais. Voce terá o que a capa promete e mais nada. Fim. -------------------- Eu adoraria então falar aqui sobre o sentido da prostituição, sobre a vida na época dos Medici, sobre a Veneza obcecada por sexo e dinheiro. Mas pra quê? Este livro fala de tudo isso, mas não elucida nada e pior, não instiga a que eu desenvolva a minha escrita. Como tudo que é pornô, ele termina em si mesmo, exaure sem dar inspiração ( quem inspira é Eros ).

CORTESÃ

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BEL-AMI - GUY DE MAUPASSANT. UM DOS ROMANCES CHAVE DA ÉPOCA DA FORTUNA

Se voce tem o costume de ler romances, e ama os ler, com certeza se apaixonou por algum autor dos séculos XVIII e XIX. No meu caso, Stendhal. O romance como o conhecemos, nasce no momento histórico em que o homem comum passa a sonhar com a fortuna. De Tom Jones à Robinson Crusoe, de Balzac à Gogol, todo romance é, apesar das aventuras em guerras, das viagens marítimas, da comédia de costumes, uma história sobre o dinheiro. Pois o homem fora desde sempre um prisioneiro de sua condição social. Seja na velha Atenas, Babilônia, Pérsia ou na idade média européia, um homem que nascesse camponês morreria no campo e teria filhos do campo. A mobilidade social era totalmente desconhecida, e mesmo um heroi de guerra nascido entre o povo comum seria sempre um plebeu e nada mais que isso. --------------- Economicamente isso termina com a revolução industrial e filosoficamente morre com a criação dos USA. No capitalismo o que importa é o que voce produz e vende e não de onde voce vem. E no sistema democrático americano, todos são aquilo que fazem. A ação no mundo me define. Por isso, na França, o país onde essa mudança foi feita do modo mais dramático e sangrento, e errado também, há tanto romance sobre jovens que tentam ascender no meio social. Bel Ami é sobre um desses, um jovem sem dinheiro e sem talento, porém bonito, que sobe na vida, via jornalismo, usando as mulheres sexualmente. Ele é um tolo, um mero vaidoso sem nada que o diferencie, mas é educado e tem belo rosto. Até onde ele irá? ------------------ Maupassant é um dos mais conhecidos autores do final do século XIX e como contista ele chega a alturas imensas. Em romance, menos. Muito bem escrito, este livro, sucesso absurdo, às vezes parece cliché, mas logo se ergue mais uma vez. É um dos moldes daquilo que seria, 50 anos mais tarde, um típico best seller. Se voce nunca leu um romance típico da era do romance, leia este.

MEMÓRIAS DO SUBSOLO - DOSTOIÉVSKI

Quando eu tinha 15 anos vivi uma rotina típica de Dostoievski. Primeiro abandonei a escola. Cheio de raiva de meus colegas, me sentindo incompreendido por eles, eu não conseguia estar na mesma sala que eles. Depois eu li Crime e Castigo e o livro me marcou muito. E ainda havia o Tuberculoso. ---------------------------- O Tuberculoso era um apelido dado ao dono da banca de jornais, por mim e pelo meu amigo Ivo, sim eu tinha um amigo que eu desprezava. O Tuberculoso era um homem de ralos cabelos ensebados que nos vendia revistas de mulher pelada. A banca era uma bagunça de revistas velhas, pilhas mal arrumadas. O homem usava sempre, mesmo no verão, um velho casaco pesado azul marinho e alguns dentes faltavam em sua boca. Ele falava pouco e andava encolhido. Sujo, muito sujo. -------------- Lendo este livro, uma novela, do autor russo, eu lembrei do Tuberculoso todo o tempo. Memórias do Subsolo é dividido em duas partes e a primeira parte é uma das coisas mais fortes que já li. Um monólogo de uma alma que tem raiva, que tem medo, que não se adapta à nada. E que louva sua individualidade. Dostoievski escreveu como Nietzsche faria 40 anos antes do alemão e até mesmo traços de existencialismo há no texto. Profundamente neurótico, esse homem do subsolo é uma personagem típica do século XX perdido no XIX. ================= Tenho problema com Dostoievski desde quando um autor que muito admiro revelou suas fraquezas. Para esse autor, que não revelarei quem é, Dostoievski é um escritor ruim. Um gênio talvez, mas desprovido de talento. Esse autor me convenceu disso, e então considero Dostoievski não um grande escritor, mas sim uma grande alma. Um tipo de profeta. Um pregador. Um homem que descreve os infernos da alma. ---------------- Há humor neste livro, um humor amargo que me surpreendeu. ------------------------------ Na segunda parte surge o lado santo de Dostievski e a qualidade do texto cai muito. Mais uma vez somos expostos à uma santa que tenta redimir o mal. Não convence e felizmente ela não convence nem ao pobre diabo. Perdido no ódio, cheio de obsessões que o paralisam, a novela consegue nos seduzir.

UM ANO SEM FILMES

Sim, faz um ano que não assisto um único filme. Mal percebi. Tenho estado ocupado. Leio muito. Ouço música. Mas ao ver uma foto de Alain Delon e Yves Montand em cena de filme de Melville, toda uma saudade volta a mim. Onde estão os cigarros? Cadê o mundo dos Citroen fumacentos? Faz um ano que não vejo um sobretudo e um cara numa atitude macho alfa. Onde as ruas de uma Paris que não mais existe? -------------- Cinema é mais que cultura, é uma educação, ensina a viver, ensina a pensar, ensina a ser. O cinema é uma tese de existência e um mundo onde entramos e saímos outro. ------------- Então eu quero voltar a copiar Alain Delon e quero ser educado por Jean Pierre Melville. Viver mais uma vez nas ruas de paralelepípedos de Paris em 1970. Acender um Gitanes e fumar como se fosse Yves Montand ou melhor, Jean Gabin. Então é isso, de volta ao mundo.

ALAIN DELON E YVES MONTAND

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PORNOGRAFIA - WITOLD GOMBROWICZ

Autor polonês que viveu refugiado na Argentina, sua escrita não é nada fácil. E não espere erotismo nesta história de dois homens maduros que ao viajar para o campo, na época da Segunda Guerra, ficam fascinados por um casal de adolescentes. Eles os espiam, seguem, conversam com eles. Notamos então a tese do autor, a pornografia existe apenas na cabeça de quem a usufrui. Os dois homens sentem erotismo em cada movimento do casal, enxergam pornografia em todo olhar trocado entre os adolescentes, criam toda uma história de sexo e pecado em pessoas que na verdade, eu sinto isso, nada têm de malicioso. --------------- A escrita dele é labiríntica, gira na mesma situação, se repete, é verborrágica. ----------------- Nosso mundo, esse mundo século XXI, fico surpreso em notar que gente com 25 anos não nasceu em meu século, é um tempo pornográfico. Vemos segundas intenções, maldosas, em tudo e criamos histórias que nada têm a ver com a realidade. Nossa mente, hiper excitada, cria fatos medíocres todo o tempo. Não é tempo de pureza.

eliot e norton

A verdade, utilidade e a beleza. Ao conferenciar numa universidade americana, T.S. Eliot disse, citando o reitor Norton, que a vida de uma pessoa será justificada se ela se guiar por esses três valores. Falar a verdade e viver com a aceitação do que é verdadeiro, fazer coisas que sejam uteis para si mesmo e para os outros, e admirar e dar valor supremo aquilo que é belo. Intelectuais complicaram tudo que ele falou, relativizando a s coisas e questionando o que seria a verdade, o que teria utilidade e qual a importância do belo. A tática é sempre a mesma, derrubar uma realidade transformando o real em simples jogo de palavras. Nós sabemos o que é a verdade, e conseguimos traduzir isso em palavras. Mas não é difícil brincar com frases, inverter sentidos e fazer parecer que a verdade é relativa. ---------------- Para dar valor ao que Eliot disse, seria interessante inverter os valores a título de demonstração. Vamos imaginar que voce se guie pelo que é mentira, o que é inútil e o que é feio. Provavelmente sua vida será mais fácil, voce a princípio irá rir e se divertir muito, mas não vejo como essa falsa alegria possa durar. O grupo do revolucionários de sofá que abundam no mundo de 2025 são exatamente assim. Cultuam o feio, usam a mentira como opção váLida, algo que se escolhe, que tanto faz, e apesar de se imaginarem vitais para a sociedade, são completamente inuteis. Na verdade toda sua vida se resume em ódio aos antepassados, seres que segundo eles, criaram um mundo onde somos obrigados a trabalhar, a envelhecer, a ter deveres. ---------------- Quando Eliot advoga a verdade ele irrita o revolucionário porque a verdade é simples, foge do idealismo vazio, ela é o que se sabe desde sempre. Ser util vai pelo mesmo caminho. Util é tirar o mato da calçada da USP ou arrumar as cadeiras após a aula e não fazer uma reunião de apoio aos palestinos ou sujar as paredes com desenhos pornô. Do mesmo modo, o belo é aquilo que dá dignidade às coisas e às pessoas, que nos faz crer no caráter especial e invulgar da vida. A beleza nos acorda. E para quem faz questão de estar sempre em berço, nada pode ser pior que acordar.

EN RADE ( ANCORADO ) - J.K.HUYSMANS

Autor francês do fim do século XIX, Huysmans é pouco conhecido nos trópicos. Esta edição que leio é de Portugal e creio que jamais foi traduzida por aqui. O enredo, mínimo, fala de um parisiense falido que vai com a esposa, doente, se abrigar por um tempo em um castelo do campo. Lá vivem tios dela. Nada mais acontece. O que vemos é uma descrição da podridão do castelo abandonado, as pareder descanscando, o piso húmido, o mal cheiro, as sombras, a nudez sem móveis. Salas e quartos, dezenas, descritos pelo autor de um modo gótico, hiperbólico, até mesmo sensual. Eis o decadentismo, o amor ao que morre, a ruína, o fim de tudo. O personagem, o marido, tem pesadelos, sente presenças, mas não é história de fantasmas, a presença é aquela da morte, do fim das coisas, do tempo que destroi, aniquila. -------------- Há também os animais que sofrem, e os camponeses, interesseiros, mesquinhos, crueis. Ao final eles se vão, optam pela miséria urbana de Paris. Mas deixam um gato doente, símbolo de algo que não podem levar de volta à sua vida anterior. Gato que será morto pelo casal de tios de esposa doente. Não é leitura fácil, mas o autor é sem dúvida invulgar. Um enigma.

UM SER HUMANO LAMENTÁVEL

Se antes em sua voz eu percebia beleza, hoje em voce sinto apenas maldade. Empatia é atributo humano e em voce isso não existe. Entre seus dentes há carne de vítimas absurdas. O que elas te fizeram de mal? Responda ser lamentável e medíocre. ------------------------- Aquela senhora de 72 anos, desarmada e aturdida, ela te fez algum mal? Não é voce se diz intelctual refinado? Então onde está seu pensamento que analisa e pesa, que diz negar o maniqueísmo? --------------- Seu cérebro derreteu ser lamentável. Como Calígula voce aponta o dedão para baixo, rindo da dor daquele que é preso sem ser julgado. Guiado pela bilis, dominado pelo rancor irracional de uma ratazana engessada, voce não pensa, roda em preconceito podre e fedido. --------------- Crianças choram sem a mãe que cometeu o crime de te desafiar, de desafiar vossa augusta majestade. Um povo é condenado por ousar não reconhecer sua brilhante realeza e sua clara mente luminista. São mais de 100 condemados à morte, pois jamais sobreviverão ao cárcere, e com sua lamentável alma orgulhosa o que voce faz é rebolar seus quadris carquéticos enquanto com sua boca de esgoto murmura feliz, sem anistia! ------------- Anistia a quem? A um estuprador? Um assassino? Não, a um dissidente inofensivo, uma dona de casa com um batom, um velho desarmado, uma professora que fofocava. Voce pisa neles como baratas. --------------- Se aqui pareço irado é a ira de quem já o amou um dia. E que percebe, horrorizado, ter sido iludido por uma mente perversa. O artista pode ser ruim como pessoa, se sua arte for boa ela será apreciada. Mas o canalha polui toda possibilidade de apreciação da beleza. Voce é um lixo.

LUIS BUÑUEL, MEU ÚLTIMO SUSPIRO

Leio a auto biografia de Luis Buñuel. Me dá uma estranha sensação de vazio. Talvez sejam os surrealistas. Aqueles nomes, que eu cultuava aos 25 anos, hoje me causam tédio. Eram crianças que faziam criancices. E o mais trágico, seu legado é quase nenhum. Adoro os filmes de Cocteau, mas ele não foi um típico surrealista, Cocteau estava em todo canto. --------------- Há também a Espanha, país que sempre me incomoda. Os espanhois me parecem sempre orgulhoso sem motivo para o ser, fechados em um país que ama ser injusto e adora sonhar com glórias ridículas. A dupla Lorca e Dali me comoveu aos 20 anos e faz mais de 40 anos que Lorca não me diz mais nada. ----------------- Mas há algo de bom neste livro escrito por um homem simpático? Sim, há. Gostei muito do capítulo sobre alcool. Luis é um bom bebedor e ama o gim, assim como eu. O que ele sente ao beber é o que sinto e ao contrário de mim, ele sabe explicar o que sente. ------------------- Eu adoraria ler uma biografia da família de Luis, principalmente sobre o pai, homem que vivia como um típico latino rico: não fazia absolutamente nada. Me agrada também saber que Buñuel gostava dos Irmãos Marx. ---------------- No mais, sinto que ele não contou nada.

CLAUDIA CARDINALE

Claudia Cardinale foi mais famosa do que voce imagina. Não pense que virou letra de Caetano à toa. Ela conseguiu estar nos mais poipulares filmes italianos e franceses e nas mais absolutas obras primas de seu tempo. Esteve na comédia mais amada por mim mesmo, OS ETERNOS DESCONHECIDOS, novinha, em 1958, com Gassman, Totó e Mastroianni sob a régia de Monicelli. E ao mesmo tempo estrelou os melhores Visconti e o melhor Fellini. Ela teve a sorte de ser atriz no auge do cinema europeu, e os diretores tiveram a sorte de contar com ela. Claudia não era exuberante como Sophia ou Gina e nem tão explosiva como Sandrelli ou Vitti. Ela tinha algo só dela, uma certa inocência apimentada, a promessa de algo que nunca se revelava. Em Oito e Meio o personagem de Mastroianni via nela a sua chance de redenção. Fellini percebeu que ela tinha o estilo e o corpo perfeito para isso. No mais, ela esteve em westerns, filmes americanos, franceses, alemães. Sua vida, discreta, nunca foi usada para ajudar seu estrelato. Ela era estrela por aquilo que fazia na tela e só por isso. Nunca usou muito seu corpo, da sua geração é das que menos mostrou seu físico. Sua aura foi construída pelo modo levemente ausente que ela emitia. Por isso era perfeita para encarnar a mulher que não se conhece, a mulher idealizada. Claudia não morre pois sua imagem é tão não carnal que pode viver para sempre. Uma musa então.