QUANDO O CINEMA COMEÇA A ME PARECER BOBO, REVEJO BERGMAN E VOLTO A ME APAIXONAR PELA TELA



leia e escreva já!

TCHAIKOVSKI, DELÍRIO DE AMOR, UM FILME DE KEN RUSSELL ( O REI DO MAL GOSTO )

   Para pessoas sensíveis este é um filme muito perigoso. Não porque ele seja chocante ou cruel, o cinema de agora já se encarregou de nos dar vacinas contra todo tipo de choque. O que ele tem de perigoso é sua sedução, uma sedução exagerada, desbragada, sem censura e sem noção. A vida de Tchaikovski é exibida como um delirio de ópio, de culpa e de medo. O filme, nada realista, é quase um carnaval brega, mas que diabos! Ele é maravilhosamente delicioso.
   Foi massacrado em seu tempo. Russell vinha do sucesso de MULHERES APAIXONADAS e sentiu-se livre aqui para fazer o que desejasse. E fez. O estilo sem limites de Ken Russell está todo aqui. Câmera dançarina, cenas de simbolismo colorido e raso, excessso de vermelhos e azuis, atuações operísticas, zero de realismo. Nada é linear, nada parece plausível, Russell sacrifica tudo pelo exagero, pelo vôo. E devo admitir que funciona. Vemos a reabilitação de Ken Russell no século XXI.
   Ele surgiu em meio aos anos 60 com a leva de brilhantes cineastas britãnicos ( Schlesinger, Boorman, Richardson, Loach, Reisz, Harvey, Lester ). Foi logo considerado o mais superficial, um decorador de cenas, publicitário de filmes vazios. Mas MULHERES APAIXONADAS dobrou seus críticos. DELIRIO DE AMOR fracassou e seus inimigos se sentiram vingados. No resto dos anos 70 ele faria filmes cada vez mais descontrolados ( LIZSTOMANIA, TOMMY ). Na década de 80 ele realizaria o filme mais doentio que já vi, e sumiria em produções de TV. Morto recentemente, há um movimento que procura o reabilitar. Baz Luhrman tem muito de seu estilo.
  Piotr Illytch Tchaikovski é um homossexual culpado. Se casa para tentar ser um "homem comum". Casa-se, que ironia, com uma ninfomaniaca e sua vida se faz um pesadelo. Raros filmes mostraram tão claramente o medo da mulher. Ao lado dela, ele não consegue compor. Se separam e amado por uma nobre russa ( muito platonicamente ) ele se faz feliz ao ser sustentado por ela. Mas seu passado volta. O filme, hiper e desavergonhadamente romântico, não o romântico Julio Iglesias, mas sim o romantico em sua acepção original, Byron e Schiller, é trágico e ao mesmo tempo sedutor. Eu o assisti aos 16 anos na Tv e nunca mais o havia visto. Na época ele teve um efeito poderoso, confirmou meu delirio romantico, casou-se a perfeição com minhas leituras de Poe e de Hugo. Alguém deveria escrever um livro sobre o quanto os filmes vistos nos 16 primeiros anos de vida podem decidir o futuro de um homem. Todo o clima fatalista/estético e exagerado do filme grudou em mim. Fico contente em saber que ao contrário de outros filmes vistos na época, este ainda me emociona.
   Glenda Jackson faz a esposa ninfo de Piotr. Ela era a atriz da moda em 1971. Havia ganho um Oscar por MULHERES APAIXONADAS e ganharia o segundo em 1973 por UM TOQUE DE CLASSE. Vinda do teatro de Peter Brook, assim como Julie Christie e Vanessa Redgrave, Glenda jamais quis ser uma estrela. Largou o cinema no fim dos anos 70 para se dedicar a politica. Foi uma das maiores inimigas de Thatcher. Ela, como tudo no filme, não tem medo. Faz cena de nú grotesco, e tem cena em hospicio de entrega absoluta. É uma mulher feia, quase masculina, mas que tem um estranho sex-appeal. Magnética ao extremo. Richard Chambelain, ator estrela da época na TV, foi esculhambado por sua atuação. Eu o vejo ok. Tem os olhos lânguidos que o personagem pede.
   Há uma tradição inglesa de grandes fotógrafos de cinema. Ela nasce lá nos anos 40 com Jack Cardiff e Guy Green, e segue com Oswald Morris, Freddie Young, Nicholas Roeg, Geoffrey Unsworth,Gerry Fischer, Ernest Day e aqui o barroco Douglas Slocombe. A fotografia deste filme foi aquela que aos 16 anos me fez notar o quanto um filme pode ser bonito de se olhar. Suntuoso. Cada fotograma é uma pintura à Gainsborough. Sim, Gainsborough na Russia.
   O filme é ridiculo. Algumas cenas parecem circo e depois carnaval. Ken Russell joga tudo no lixo, roteiro e dramaticidade em troca de uma cena "barroca". Erra muito. Mas o que sentimos? Nenhum tédio, nenhum momento de irritação e uma sensação de leveza e de breguíssimo sublime.
  Não sei voce, mas eu adoro!

SE A TELEVISÃO TE DEIXOU BURRO, IMAGINE TEU PC!

Como a vida é enredada acontece uma coisa: após escrever o texto daí de baixo, sobre a linguagem cerebral, me deparo de noite, em meu trabalho, com uma revista de poucos meses atrás, que eu não conhecia, trazendo um artigo sobre a influência da internet sobre os cérebros. O fato que o artigo diz é: nossa memória e nossa atenção estão indo pro espaço. Não retemos mais nada, tudo fica registrado no arquivo digital; não nos concentramos mais, nossa mente, hiper-excitada, precisa virar páginas sem parar.
É lógico que os otimistas bobitos logo lembram que os pessimistas chatos também gritaram contra a TV, e outras invenções. Acho fácil responder a esses sorridentes fofos: a TV mudou o mundo, destruiu a conversa da sala, a cadeira na calçada, a hora do jantar. Não foi pouca coisa. E a longo prazo aumentou muito o consumo, o desejo de ser "televisivo" e a linguagem de todas as artes.
Mas o principal é que se falarei que a internet muda nosso cérebro é porque sinto isso em mim mesmo.
Leio muito menos depois da internet. Eu lia com calma e profundamente. Hoje leio com ansiedade e de forma mais superficial. Luto para que minha atenção não se desfaça.
Tenho menos paciência com filmes. Procuro ser fisgado por eles em dez ou quinze minutos. Continuo os assisitindo inteiros, claro, mas sinto que meu envolvimento com eles, minha capacidade de penetrar dentro deles diminuiu. Devo dizer que nesse ponto não sei se devo essa queda de amor ao cinema ao fato de estar vendo mais filmes atuais ou a internet.
O que sei é que toda vez que olho para esta telinha me sinto nervoso. Ela me excita e fico perdendo tempo com tolices. Abro o PC com a ideia de escrever algo intimo, profundo, sublime, e após ler as coisas do facebook, perco totalmente o desejo de ser intimo, sublime e profundo.
Um cientista brasileiro diz que nosso cérebro é como uma orquestra. Ao tocar cada instrumento nós o recriamos. Ou seja, se bem tocado afinamos nosso violino, nosso piano; se mal tocado transformamos o violino em apito e o piano em bumbo. Se o ponto cerebral de nossa atenção for diminuído essa área do cérebro se transformará em outra coisa. Talvez seja tomada pelo instinto sexual ou pela vontade de poder, ou o que for. O mais trágico é que as crianças que nascem neste mundo já aprenderão a ignorar a memória intima e a viver em mundo super-excitado. Várias conexões cerebrais se transformarão. Em que? Depressão? Agressividade?
Um livro te obriga a parar, relaxar, se concentrar, buscar lembranças, persistir. É um prazer muito mais trabalhoso, e ao mesmo tempo, muito mais profundo. Tem algo de ritualistico. A internet pede ação, velocidade, dispersão em multi-interesses. O cérebro não se concentra e se auto-examina, ele salta para fora e se ignora. Um tipo de atividade passiva. Voce clica e se deixa ir.
Meus alunos ficam sete horas em rede e acham normal. Não vêem mais TV, quanto mais rádio, cinema ou livros?
Não sou contra a internet, apenas penso que ela tem o perigo do vicio. Como o vinho, é ótima em uma dose, mortal aos litros.

O SENTIDO FISIOLÓGICO DA LINGUAGEM

   Quando uma pessoa surda, surda desde nascido, recupera a audição, ela nada consegue compreender. Os sons da vida são para ela massa de ruídos indistinto. Ela não consegue sequer selecionar o que deve ser escutado e o que deve ser ignorado. A voz humana ou o ruido de uma lata na calçada são igualmente ouvidos.
   O mesmo ocorre com alguém que nasceu cego. Ao olhar a vida após curado, ele vê uma confusão de cores e de formas. Não distingue contornos, movimentos, massas. É como se tudo fosse um borrão, ele não sabe para onde olhar, O QUE BUSCAR COM A VISÃO.
   Nossos sentidos são convencionais. O mundo em que nascemos nos ensina o que ver, o que ouvir, o que ignorar. Nos primeiros meses de vida criamos uma hierarquia de sentido. Vemos e ouvimos aquilo que todos ao nosso redor percebem. Aprendemos a ver o mundo COMO NOSSO MEIO SOCIAL VÊ.
   Tribos distantes de nós percebem a vida de maneira totalmente diversa. Quando escutam, ouvem coisas que não aprendemos a ouvir. E enxergam coisas que jamais aprendemos a ver. É nesse momento que surge a arte.
   A arte tenta aumentar nossa percepção de imagem e som. Mas ela só vai atingir aqueles que já estão prontos para essa linguagem.
   O meio em que voce nasce te ensina a ver e ouvir. Esse ver e ouvir, dentro dos parãmetros da sociedade onde se nasceu, podem ser mais ricos ou muito pobres. Uma criança submetida a estímulos de cor, sons e movimentos terá um maior campo de entendimento. Uma criança em meio cinzento e silencioso terá uma pobreza de sentido. Canções de ninar, contos orais ditos pelos pais, música ambiente variada, cores fortes, contato com campo, mar e ruas; rostos e vozes, livros de ilustrações; tudo isso aumenta a percepção visual e auditiva da criança, fará com que ela tenha um maior campo de entendimento.
   Esse foi o teor de uma aula de linguistica. E é claro que puxei a brasa pro meu interesse.
   Um homem que cresceu com ração de um só tipo de música ( digamos rock folk ) só conseguirá entender esse tipo de som, ou algo muito próximo a isso. Do mesmo modo alguém que só assistiu TV não conseguirá TIRAR NADA de um filme não-televisivo. Ozu ou Visconti será para ele imagem borrada e lingua indistinta.
   Não estou falando de gosto, falo de entendimento. A pessoa não desgostará de uma sinfonia ou de um western. Ela simplesmente ignorará. Como diz o velho ditado, é grego para ela. Olhará e verá apenas cavalos e pó, escutará apenas violino monótono. Sua percepção visual e auditiva jamais foi aberta para essa linguagem. Em arte podemos ainda citar a dança, a arquitetura, a poesia e até mesmo o sentido de beleza estética como lingua que precisa ser ensinada, treinada, apreendida.
  Mas surgem daí dois problemas.
  O primeiro é que sem uma riquesa de experiências auditivas e visuais na infância não existe o desejo de se exercitar essa linguagem. É como se a pessoa fosse cega e surda sem o saber. Pensa nada lhe fazer falta.
  Segundo é que na atual sociedade sofista, em que tudo é relativo e "válido", ser cego e surdo é elogiável.
  Vem daí uma frase que Flavio Gikovate disse ontem e que adorei:
  "Na sociedade de consumo é preciso que todos sejam infelizes. O homem feliz não consome. Pessoas felizes, e existem, são aquelas da imagem batida da casinha de sapé. Precisam de pouco, querem pouco."
  Ora, uma pessoa que consegue ver e ouvir plenamente consegue tirar prazer de quase tudo. Seus canais de estimulo estão abertos, não precisam de uma super excitação.
  Já os cegos e surdos estão sempre necessitando de músicas bombásticas, filmes acachapantes, velocidades alucinantes, cenas cheias de drama exagerado. E tudo isso usado para transmitir sempre a mesma velha mensagem ( a única entendível por eles ).
  É bastante provável que no futuro tenhamos apenas um tipo de música e um tipo de drama ( seja em tela, palco ou o que vier ). E pior, pode ser que só percebamos imagens em movimento e só escutemos sons de um ´só tipo de frequência. Cabe a arte, cada vez mais, a missão sublime de tentar nos salvar desse EXECRÁVEL MUNDO NOVO.

DESCONFIE DA VERDADE. SEMPRE.

Dizer que todo fascista tem o desejo de fazer prevalecer seu pensamento, e só o seu pensamento, nada tem de novo. Falar isso é óbvio. Desse modo existe o fascismo da igreja, da filosofia e da ciência. Toda igreja que fala ser a dona da única regra de conduta é fascista. Todo filósofo que se considera descobridor da verdade final é um tirano e quando a ciência dita uma única verdade torna-se brutal.
É por isso que desconfio de toda verdade científica. Ela é baseada apenas no óbvio, no simples e naquilo que nosso pequeno cérebro está acostumado a ver. Ela é sempre uma redução. Aceito as verdades científicas que dão margem a questionamentos.
Não aceito toda filosofia que se coloca como "a verdade". A maioria dos filósofos se dá o papel de pai ou de mestre. Tolice! Filosofia é estudo e a imagem deveria ser a do estudante e a do jovem perdido. Desconfio de todo filósofo que fala 'È ASSIM", respeito os que falam "TALVEZ SEJA".
Fui ateu para me livrar do poder fascista da igreja. A igreja é politica, é terrena e precisa deter algum poder. Demorei décadas para compreender que a religião não é igreja. Religião é caminho individual, jornada ao deserto onde certas regras da igreja ajudam a sobreviver. Ao contrário do que pensam os apressadinhos e não-pensadores, religião é coragem.
O fascista mais radical é aquele que além de mandar no presente deseja reencenar o passado. Toda forma de fascismo abomina a história. Stalin apagava o passado russo e Hitler o reescrevia a seu modo.
Fascistas odeiam a história porque ela já ocorreu e sobre esses fatos não há controle. Foi assim e é assim. O ditador quer que tivesse não sido e que jamais seja. Todo regime ditatorial começa pelo amordaçamento da voz que vem do passado.
Dessa forma a igreja calou o passado pagão. A filosofia "mandona" assassina as correntes que não ratificam sua "certeza" e a ciência dá como bobagem o que não pode ser por ela explicado.
E temos o mercado, que simplesmente não pode admitir a existência de um passado que não possa ser vendido.
Respeito ateus que vivem sua vida livremente. E que dão aos outros a possibilidade de ser aquilo que são. Respeito pela individualidade, mesmo que vá contra o que penso ser a verdade. E aceitação do passado como fato real, mesmo que doloroso e incompreensível.
A partir do momento em que um ateu se incomoda com um símbolo religioso-histórico ele deixa de ser ateu. Torna-se um fascista. Não aceita uma realidade da história e tenta recriar o passado. Se esse símbolo tivesse o poder de cometer injustiças seria obrigação de todos o combater. Mas se ele simboliza os valores históricos de uma sociedade livre, bem, querer apagá-lo é idêntico a desejar suprimir uma verdade do mundo da história.
Moramos em São Paulo e viajamos para São Sebastião ou Santos. Mudarão um dia o nome dessas cidades?
Por mais que sejamos ateus, temos de aceitar o óbvio. Que nosso mundo REAL foi feito pela igreja. Temos valores de conduta cristãos, hábitos cristãos e sentimentos inconscientes vindos do cristianismo. Se esses valores forem bons, respeitemos. Se forem ruins, combatamos. Negar ferozmente TUDO o que recorde nossa condição histórica é um ato autoritário e patético.
Uma cruz colocada num tribunal. É como uma bandeira ou a balança de Atena. Lembra um bem, no caso a piedade. Assim como a bandeira lá colocada lembra a lei do país e a balança a justiça.
Desconfie sempre de quem deseja ser A VERDADE. Tudo o que o dono da verdade quer á mandar.

DEPP/ SELTON MELLO/ BRANDO/ KAUFFMAN/ SEAN CONNERY/ VERGONHA

   O PALHAÇO de Selton Mello com Selton Mello e Paulo José
Pauline Kael disse uma vez que a crítica de cinema estava numa decadência tão grande que existiam críticos que só conheciam dois ou três filmes de Fellini. Era, óbvio, uma "boutade" de Kael, mas dá o que pensar. Alguém disse que este filme é felliniano. Onde? Esse crítico deve ter visto o trailer de La Estrada e pensado: O Palhaço tem um circo on the road, portanto é felliniano!!!! Caraca, eis o pensamento de alguém que pensa que todo filme com um neurótico é bergmaniano. O Palhaço nada tem do gênio de Rimini. Este é melancólico, lento, feito todo de silêncios e de coisas que não acontecem. Tudo o que Fellini não era. Mas é um filme bonito, e dá um alivio ver um filme que mostra gente de verdade e não conjuntos de sintomas. Tem um problema sério, o miolo perde ritmo e o filme trava. Mas o final é corretíssimo, nada piegas, emocionante sem ser falso. Bela atuação desse maravilhoso Selton Mello. Ele é, sem dúvida, um dos melhores atores do mundo. Nota 6.
   SHAME de Steve McQueen com Fassbender
Numa entrevista do diretor ele conta ter passado O ÚLTIMO TANGO para o elenco antes das filmagens. Bem, pelo jeito McQueen não entendeu nada da obra-prima de Bertolucci. O Tango mistura Sartre, Marx e Freud e o resultado é o devastador retrato de um intelectual a beira da destruição. Brando é como eu e como voce, retrato de um homem. Aqui temos o oposto. É um compendio de sintomas de um pobrezinho sofrido. Como é moda em tempos moralistas, mostra-se o persoangem como doente, como alguém longe de nós. Estudamos seu caso à segura distância, e se não somos fanáticos por casos psiquiátricos, morremos de tédio. A criatividade passa longe de seus planos, mas penso que ele dá à seu público exatamente o que ele deseja, a sensação sem pensamento. McQueen, que dirige como se fosse um professor jesuíta, aponta o dedo e nos diz: Olhem! Quanta sujeira!!! Excelente produto para uma geração travada. Após esse filme todo garoto que se masturbar 4 vezes ao dia terá seu auto-diagnóstico prontinho. Pior, é um filme chato de doer.... Nota 3 pela bela atuação de Fassbender. Pena que num papel tão óbvio.
   OS VIOLENTOS VÃO PARA O INFERNO de Sergio Corbucci com Franco Nero e Jack Palance
A verdade é que não tenho Paciência para o western italiano típico. Tudo parece falso, de brincadeira. Apesar da bela trilha sonora de Morricone é um filme ruim. Nota ZERO
   TOP SECRET de Zucker, Zucker e Abrahams com Val Kilmer e Omar Shariff
É aquela comédia que todo mundo já viu sobre um cantor à Elvis que vai à Alemanha Oriental ( esse país existiu Ó criança... ) e se mete em caso de espionagem. Foi um imenso fracasso em seu tempo e dá pra notar porque: não tem graça. Nota 1.
   DON JUAN DE MARCO de Jeremy Leven com Johnny Depp, Marlon Brando e Faye Dunaway
Coppolla produziu esta bobagem. Aqui Depp treina para n papéis que faria depois e Brando se diverte brincando em fazer um psiquiatra que trata de um jovem que pensa ser Don Juan. O filme resvala em coisas muito sérias: a influência do paciente sobre o médico, a medicalização da vida, a fantasia como aquilo que faz a vida ter valor, a oposição entre arte e ciência. Mas tudo isso é jogado no lixo da indecisão. O filme não se decide entre ser comédia ou drama, fantasia ou romance realista. Um Michael Powell faria maravilhas com esse tema. Nota 2.
   SOL NASCENTE de Philip Kaufman com Sean Connery, Wesley Snipes e Harvey Keitel
Em 1983 Kaufman fez uma obra-prima. OS ELEITOS é um dos melhores filmes sobre heroísmo da história. Mas desde então sua carreira foi numa queda livre. A INSUSTENTÁVEL LEVEZA DO SER ainda era muito bom, mas este Sol Nascente é puro lixo. Ele se rebaixa e imita Tony Scott. De bom apenas os 3 minutos iniciais em que ele cita cenas de Peckimpah e de Kurosawa. Até Sean Connery, ator que sempre adoramos ver, não se encontra numa trama confusa e preconceituosa. Lixo. Nota ZERO.

UMA VIDA "BELA"

   Escrevi abaixo que toda pessoa criativa tem algo de sujo e de desorganizado. Que uma sociedade que impôe a limpeza hospitalar como lei geral do bem viver reprime a manifestação criativa. Sou exemplo vivo disso. Não sei se sou um artista frustrado por ser contido e medroso, ou se sou contido e medroso por não ser um artista. Amo a arte, mas sou incapaz de viver uma vida criativa. Meu perfil é aquele do apreciador apaixonado.
   Bernard Berenson, o maior critico de arte dos últimos cem anos, confessa ao fim da vida ter se arrependido de suas opções. Diz ele que tudo em sua alma clamava pela produção de arte, pela escrita de romances. Mas que ele desperdiçou sua vida em trabalho critico. Associou-se a comerciantes de arte ( Duveen ) e se viu imerso no turbilhão da vida.
  É óbvio que Berenson pode se lamentar o quanto quiser, mas ele não nasceu para ser Proust. Berenson era organizado, limpo, bom aluno, erudito. Sua missão não era dar a vida a "coisas", sua missão, nobre, era fazer com que essas "coisas" fossem apreciadas por seu justo valor.
  O que fez Bernard então? Fez de sua vida, arte. Quem o conheceu diz que tudo o que ele vestia, falava e tocava era obra de arte. Ele não criava arte, ele era a cria de um artista. Morou em Firenze e lá montou sua villa. Após sua morte, essa villa foi doada à Harvard, a universidade em que ele foi um dos mais brilhantes alunos. Um palazzo cheio de mármores, pinturas e objetos da renascença; e com a mais rica coleção de livros de arte do mundo. Essa villa é hoje um dos campus da universidade. Aos mais brilhantes alunos é dado o direito de lá se hospedar.
  Berenson dividia os homens em duas categorias: aqueles que aumentavam a vida, e aqueles que a diminuiam. Berenson, que viveu até os 90, teve tempo de aumentar a vida de muitos homens. Dividiu seu amor à arte com todos aqueles que tivessem o desejo de aumentar sua vida.
  De certo modo Duveen, o super-marchand com quem ele se associou por algum tempo, era seu contrário. Duveen, apesar de amar aquilo que vendia com sinceridade, diminuia a vida. Ele acreditava apenas em si-mesmo. O que ele vendia e possuia era bom, o resto era falho. O mundo se transformava em apenas sua visão. Berenson logo percebeu que essa era a mesma mente do politico, do cientista e do dogmático. Uma visão verdadeira, uma única certeza.
  Gente como B.B. pregava o oposto. A infinita possibilidade. A miriade de verdades. O aumento da vida.
  Seu ideal era o de viver apenas pela e para a beleza. Ninguém chegou mais perto disso que ele ( de 1900 pra cá ). Ele teimava em não saber, mas sua vida esteve longe de ser em vão. Foi um abençoado.

DUVEEN, O MARCHAND DAS VAIDADES- S.N. BEHRMAN

   E tudo começa na Holanda. No século XIX, a avó de Duveen coleciona porcelana de Delft. Um dia essas porcelanas, que não pareciam valer grande coisa, são bem vendidas por um tio na Inglaterra. Resolve-se então aplicar nisso, na venda de porcelana e de móveis. Quando Duveen vem ao mundo a familia já está bem de finanças, mas ele dará o grande salto, fará de seu nome sinônimo de vendas, de gosto e de esperteza.
  Logo na adolescência ele se lança. Muda o endereço do tio, estabelece-se na América. E passa a vender arte, sómente grande arte. Nesse tempo ( 1900-1915 ), a Quinta Avenida em NY, era zona de mansões. E os moradores dessas mansões se chamavam Morgan, Rockefeller, Hearst, Altman, Carnegie. No ramo do aço, petróleo, construção, estradas de ferro, carnes e lojas de departamento, foram eles que fizeram a fortuna do país. Era o tempo do hiper-capitalismo, do risco, do lucro fabuloso. Duveen logo percebeu que esses homens tinham tudo: mansões, iates, cavalos, jóias. E tédio. Não sabiam viver e não queriam saber. Eram radicalmente diferentes dos nobres europeus. Os europeus, mais confiantes em seu status, aproveitavam seu ócio sem culpa. Os americanos, impedidos de relaxar pela ética puritana em que tempo ocioso é tempo pecaminoso, sem um passado nobre, sem títulos a disputar, se sentiam inseguros, vazios, frágeis. É nessa brecha que Duveen adentra.
   Se eles tinham tédio, Duveen curaria esse tédio fazendo-os gastar milhões. Se o tempo ocioso era um pecado, Duveen os faria se sentir produtivos investindo em arte. Se esses milionários se consideravam plebeus, Duveen lhes venderia nobresa e classe através de quadros que foram de duques e de barões ingleses. E o principal, Duveen venderia não querendo vender. Como?
  O grande prazer dele era comprar. E ele jamais pagava barato. Comprava caro para poder vender caro. E com pouca margem de lucro. Ao comprar caro ele mostrava a sua restrita clientela o valor da obra. E ao vender com pouco lucro, e às vezes nenhum, ele exibia seu caráter de colecionador, de não vendedor. Mas seu objetivo é vender. Sempre. Exemplo:
  Uma vez, na Inglaterra, Duveen visita a casa de um nobre. Na sala vê uma coleção de tapeçaria. Diz ao dono: "-Me dói o coração ao ver uma sala tão bela com tão vulgar tapeçaria". Duveen compra toda a coleção. E a deixa em seu porão, para sempre. Sim, era verdade, a tapeçaria era ruim. Sim, ele pagou caro por ela. Sim, ele não as vendeu. Mas ele ganhou nessa operação. Como? O nobre ficou tão encantado que começou a passar para Duveen todas as dicas sobre tapeçarias de seus amigos. Duveen passou a negociar com esse círculo fechado. Comprar tapeçarias que agora eram boas, e vendê-las aos americanos. "Esta foi de Lord X, esta foi de Lady L..."
  Sempre que um milionário americano ia á galeria de Duveen, na Quinta Avenida, lógico, e eles adoravam ir até lá, Duveen dava um jeito de não vender uma pintura para eles. Era sempre o ritual do "esta não está a venda", "esta eu reservei para minha mulher", " Morgan escolheu esta". Duveen sabia que a impossibilidade aumenta o desejo e jogava com isso. Quem tem tudo deseja somente o que não pode ter. E um Rafael, um Van Dyck, um Rembrandt eram raros.
   Duveen jamais negociou pinturas pós-1800 por isso. O século XIX produziu demais. Se seus clientes começassem a amar Renoir ou Monet teriam muito que escolher. Mas um Tiziano seria sempre dificil.
  Então o que Duveen dava a esses bilionários ( os quadros custavam um milhão, num tempo em que 10.000 dólares era uma fortuna ), era o desejo, e mais que isso, a sensação de imortalidade. Todos eles acabaram por formar coleções, coleções que hoje são vistas por todos, coleções sem preço. A coleção Morgan, Rockefeller, Carnegie.....
  Era um belo prazer para esses homens. Gente que aos 15 anos vivia no trabalho duro, semi-iletrados, duros e solitários, calados e muito sovinas, verdadeiros Tio Patinhas,  poder agora, aos 70 anos, viver cercado pelo luxo e nobresa de pinturas que foram de reis ou de duques. Isso lhes dava a sensação de permanência e de importância que a filosofia americana não podia dar. Ter mármores italianos e móveis franceses antigos era o mais próximo que eles podiam chegar de uma vida que não estava à venda. Duveen lhes vendia tudo isso.
  S.N.Behrman foi jornalista e um dos mais brilhantes dos roteiristas da velha Hollywood. Tinha o dom do diálogo. Escreveu mais de cem roteiros e ainda peças e livros. Este é delicioso. Um prazer da primeira a última página. Procure e leia.

VERGONHINHA, FILME DE MCQUEEN

  Assisti SHAME de McQueen. Mas não é especificamente dele que vou falar. Ou é?
  Ontem Calligaris matou a pau. Conseguiu dizer o que me incomoda nesse tipo de filme. Por detrás de sua nudez e pseudo-ousadia, vive uma mente conservadora, medrosa, preconceituosa. Vamos os fatos.
  Leio que antes de rodar o filme, McQueen fez todo o cast assistir e estudar O ÚLTIMO TANGO EM PARIS. Exemplifico aí a diferença. Brando transa todo o filme com Schneider. Ele é um homem em crise. Vazio, culpado, envelhecendo. Mas o filme jamais diz que ele está "errado". Muito menos que ele tem uma doença e precisa ser "salvo". Ele é um Homem em crise. Por pensar, por sentir, enfim, ele vive a crise de viver.
  No cinema de "arte" atual isso não mais existe. Em sua maioria ( há excessões ), eles partem da ideia de que o que se está mostrando é um outsider, um doente ou um viciado. Jamais o personagem é mostrado como gente como a gente. São filmes em que a doença impera. Ora!!!!! É como se Hitchcock mostrasse James Stewart em Vertigo como um neurótico. Ele é. Mas o filme nunca lhe dá esse rótulo. Ele é como eu e voce. Apenas falho. Bergman mostrou pessoas em crise profunda sempre. E nunca moralizou. Elas não precisavam de remédios, de hospital ou de prisão. Talvez precisassem de Deus, de filosofia ou de amor. Acima de tudo Bergman sabia e demonstrava: não as julguemos, elas não são extraordinárias, elas são como nós.
  Calligaris elegantemente evita falar o mais óbvio: a psicologia se foi, o mundo é da psiquiatria.
  Bergman, como Fellini ou Antonioni, é do tempo de Freud, Jung e Lacan. Eles dialogam, não dão diagnósticos. Seguem os personagens sem os rotular. Observam. Sabem que eles são nós.
  Filmes como Shame são psiquiátricos. O cara é um doido e cabe a nós sentir pena ou raiva, e ter piedade. Tudo é reduzido ao sintoma, ao ato esquisito, ao fora do padrão. Não se dá a menor chance ao personagem, antes do filme começar o diagnóstico já foi dado.
  Feito por Truffaut ele seria um homem sofrido, mas ao mesmo tempo sentindo prazer naquilo que faz. A complexidade da vida, o certo misturado ao errado, o bom ao mau. Feito por McQueen ele é apenas doente. E ponto final.

QUANDO UMA OBRA DE ARTE MARCA SUA VIDA VOCE LEMBRA COM DETALHES DA PRMEIRA VEZ... A PRIMEIRA VEZ COM VIVA!

   Quando uma obra de arte marca sua vida, ela não se fixa em sua vida apenas por ser única. É o momento em que voce a encontra, assim como ocorre com o amor, que dá à obra sua "aura" semi-religiosa. Falo semi-religiosa porque mesmo um ateu militante ( ateu militante, contradição em termos ), tem uma experiência religiosa ao topar com a obra que definirá sua vida. É um momento em que não só ela, como o lugar e o dia em que foi avistada, dão ao apreciador um sentido de permanência, de motivação e de verdade. Como se naquele lugar e naquele momento a vida estivesse a descoberto, exposta em toda sua magnífica luz.
 Desse modo, tão importante quanto ter visto "OITO E MEIO" por exemplo, é a sala onde o assisti. A manhã de domingo, o tipo de luz que vinha pela janela, o pijama que eu usava. Se voce quiser saber o quanto aquela obra foi importante para voce faça a medição de quantas coisas voce recorda do dia em que a conheceu. Na primeira vez em que escutei LET IT BLEED eu estava com calor, sem camisa. Era hora do almoço, eu ia matar aula e meu irmão o escutou comigo.
 Do disco VIVA! do Roxy Music, tudo está vivo na minha lembrança. Tão vivo que até o cheiro da capa recém aberta me volta ao nariz quando rememoro esse momento. Era 1977, era abril, fazia sol e calor. Portanto daqui pra frente meu texto se tornará impressionista e se voce achar que o que aqui escrevo só interessa a mim mesmo.... bem, nosso mundo será brevemente um mundo ONDE TODOS SERÃO escritores e raros saberão ser leitores. Ele já é mundo em que bandas são mais numerosas que discos.
 Como todo quarto dos anos 70, o meu tinha cada centímetro das paredes coberto por uma foto recortada de alguma revista. Mulheres de bikinis, um cachorro salsicha, barcos, Cauli e Bocão pegando ondas, Zico, ilhas e bandas de rock: Led Zeppelin, Bad Company, Queen, Rolling Stones, Rod Stewart, Who, Zappa e uma do Ted Nugent. Naquela tarde de sol eu arranquei foto por foto  e comecei a pintar as paredes. Melancolia, eu cantarolava Chance Meeting, canção que havia recèm conhecido em VIVA! Não sabia que para o resto de minha vida aquela seria a música da minha melancolia.
 A primeira audição.
 Eram três da tarde e a casa estava vazia, toda pra mim. Uma lata de Lanjal misturada com água. Um vinyl bonito, o selo com o colorido VIVA! escrito com brilhantes e a capa de papelão: uma morena bonita cantando com Mr. Ferry.
 A multidão grita e faz coro, entra o som. Rico, cheio, oriental: OUT OF THE BLUE, com óboe, sinuosidades sexy, e a voz. Bryan cantava mais forte na época, cantava alto, viril, e tinha forte acento de ironia. A música evolui, a bateria de Paul Thompson comanda, um solo de Phil Manzanera e o encerramento extasiante. O povo delira e entra PYJAMARAMA. A new-wave nasce aqui. Ferry era então o rei de Londres. Pop classudo, belo sax de Andy MacKay. Eu estou estranhamente hipnotizado, aquilo era diferente, não parecia rock, era outra coisa. THE BOGUS MAN me aterroriza. Bateria marcial, baixo swingado e milhões de efeitos elétricos. A voz de Ferry é maldita e noturna, o synth de Eddie Jobson flutua, me enamoro do timbre da música, começo a entender sem saber das teorias de Eno: timbre é tudo.
 CHANCE MEETING em versão pop. Vozes da platéia ao fundo. Triste como uma despedida. E vem a alegria de BOTH ENDS BURNING. Muito melhor que a versão de estúdio, muito louca, solta, febril, emocional. Os vocais das Sirens são errados, desafinados, maravilhosos. Viro o vinyl. A platéia grita em coro: ROXYROXYROXY, costume mantido até hoje. IF THERE IS SOMETHING. Seria para sempre. São 3 movimentos, quase uma sinfonia glitter. Quanta beleza cabe numa faixa de vinyl negro que brilha como petróleo? IN EVERY DREAM HOME A HEARTACHE. Maldição, soturna, dark, vampirismo. Voodoo. DO THE STRAND. Final à la Roxy: festa. Caleidoscópica festa. Vai de tango a rumba, de rock a soul e valsa com fandango.
  Mas antes:
  Sentado num tronco de árvore que caíra a tempos em meu campo. Umidade, era a primeira tarde fria do ano. No JT vinha a crítica do lançamento do novo disco do ROXY: VIVA! Escrito pelo insuperável Ezequiel Neves. Ele botava o disco nas alturas. Chamava ENO de maluquete e dava a Ferry a alcunha de Frank Sinister. Eu já havia comprado outro disco do ROXY, Siren. Gostara, mas não muito. Na tarde seguinte, ainda muito cinza, iria comprar o tal de VIVA! O sol viria forte no dia em que o escutei... 
  É 2012.

Roxy Music: 2HB, Live from the Clyde Auditorium, Glasgow, PORQUE ME CHAMO TONY ROXY



leia e escreva já!

CARNÉ/ RAMPART/ MARY POPPINS/ A VOLTA AO MUNDO/ KING/ DERCY

   OS VISITANTES DA NOITE de Marcel Carné com Alain Cuny, Arletty, Jules Berry, Fernand Ledoux e Marie Déa
Carné dirigiu aquele que é considerado o maior filme já feito na França, O BOULEVARD DO CRIME. Este foi feito imediatamente antes. Rei do movimento do "realismo poético", uma onda de filmes pessimistas e simbólicos, tem roteiro do grande poeta Jacques Prévert. Fala de dois enviados pelo diabo, que na idade média, seduzem dois jovens apenas pelo prazer de seduzir. Mas o enviado masculino se apaixona, o que faz com que o diabo em pessoa apareça para o castigar. Não é uma obra-prima, mas é marcante. Abre possibilidades ao veículo, o da poesia. O elenco é estupendo. Nota 8.
   MARY POPPINS de Robert Stevenson com Julie Andrews e Dick Van Dyke.
Fenômeno da Disney, em termos absolutos é até agora o maior sucesso do estúdio. Otimista, irreal, infantil no bom sentido. Mary é uma babá que chega voando e ensina a compreensão. O filme nada tem de carola, mas é "antigo". Nada tem em comum com o mundo de 2012 ( aparentemente ). A trilha sonora dos irmãos Sherman é uma obra-prima. Se voce ama musicais vai adorar. Se não aprecia o gênero, fuja. Existem musicais que podem converter os não-apreciadores, este não é o caso. Nota 8.
   A VOLTA AO MUNDO EM 80 DIAS de Michael Anderson com David Niven, Cantinflas e Shirley Mac Laine
Sucesso de bilheteria, é considerado dos mais fracos vencedores de Oscar de melhor filme ( mas perdeu a melhor direção ). Os críticos o detestam por ter derrotado grandes filmes em 1956. Mas se esquecermos disso é um agradável filme à Sessão da Tarde. Com 4 horas de duração, ele mostra a viagem de Fogg e seu criado Passepartout, bem lentamente. Eles voam de balão e apreciamos a paisagem, andam de trem e vemos a América, navegam e sentimos o mar. Relaxe e aprecie a viagem, mas não espere emoção ou adrenalina, é um tipo de calmante. Obra do produtor Mike Todd, o filme feito em regime de empréstimos e calotes, acabou sendo seu único título. Ele morreu logo depois. São multidões de figurantes, cenários imensos e locações pelo globo inteiro. Feito hoje seria bem mais fácil. Nota 6.
   CISNE NEGRO de Henry King com Tyrone Power e Maureen O'Hara
Não se trata da comédia de Aronofski em que Natalie Portman faz uma bailarina gótica perdida em universo fake. Aqui é um convencional filme de pirata com todos os ingredientes do gênero. Eu sou vidrado em barcos á vela e espadas com caveiras, então me satisfaz. King foi um dos diretores operário da época. Filmava muito, nunca errava, mas também jamais arriscava. Era bem melhor em westerns. Nota 6.
   ABSOLUTAMENTE CERTO!  de Anselmo Duarte com Dercy Gonçalves
Um Brasil pobre, bem terceiro-mundo. Esse país existiu? Gente conversa nas ruas em cadeiras, amigos assistem Tv juntos, na sala, e as janelas têm sempre alguém a olhar a vida passar. O filme, ruim, vale só por isso, retrato antropológico de um mundo ido. Um passeio de Porsche pelo Anhangabaú vale o filme. E Dercy era ótima! Nota 1
   RAMPART de Moverman com Woody Harrelson e Ned Beatty
É sobre um policial. Ele vive em casa num meio feminino, filhas e esposas ( ex e atual ). No trabalho ele é duro, frio, violento. O trabalho de Woody é ótimo, se parece com o Clint ator, cheio de raiva contida. Mas é um filme pequeno. Típico pastiche do cinema dos anos 70 mas feito com o vazio tristonho do século XXI. Imagens pobres, closes fechados, câmera trêmula...antes de o ver eu já sabia a forma que teria. Vamos a um adendo. Há quem me fale que não consegue entender do que eu gosto. Como posso gostar de musical e western? De filmes trágicos e de comédias? Bem... o que me guia é o prazer. Só o prazer. E tenho  prazer em ver algo que me surpreenda, ou que seja estéticamente bonito, ou que me faça rir e chorar. Não me importa se fala de dançarinos ou de detetives, de cowboys ou de crianças. Se seja feito em 1980 ou 1921. Quero ter prazer. Nada de tédio, de sacrifício, de obrigação em me educar ou atualizar. Quero o gosto de ver a inteligência na tela. Certo????  Este filme de prazeroso só tem a atuação de Woody. Nota 5.
   EL CONDOR de John Guillermin com Lee Van Cleef e Jim Brown
Faroeste italiano feito nos EUA. No começo dos anos 70 o western tava tão por baixo que os americanso começaram a imitar a imitação italiana. Resultado: violência barata e heróis porcalhões. Jim foi um astro do futebol americano. Interpreta como um receiver. É um lixo, mas pelo menos o filme assume isso. Torna-se simpático. Nota 3.