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ASPECTOS DO MASCULINO - C.G. JUNG

Li este e o outro volume, o que fala sobre os aspectos femininos. Para mim não foi uma leitura muito instigante, isso porque os dois volumes são coletâneas editadas de Jung sobre o tema da força masculina e feminina no inconsciente. Anima, a força impessoal feminina que habita o inconsciente do homem, e o animus, equivalente da mulher, sendo essa uma força masculina. Grosso modo, é o lado mulher que habita a psique dos homens e o lado homem que vive na psique da mulher. Mas não vulgarize, meu lado feminino não é um eu travestido de mulher, nem mesmo é um eu mais sensível. A Anima não é uma pessoa, é, como o inconsciente, um espírito coletivo, comum a todos, puro instinto, puro hábito, pura força sem começo e sem fim. Anima que não fala, não se vê, que age como natureza, não humana e também super humana. É o desejo que sentimos pela MULHER, aquela imagem feminina que não tem rosto ou voz, a síntese de todas as mulheres e que é nenhuma sendo tudo. Procuramos em toda mulher essa MULHER e não a encontramos, pois ela vive dentro de nós mesmos, é a força que nos faz viver. Não é o que nos falta, pois ela é nós mesmos, mas é o que queremos encontrar. ------------------ Jung, como sempre faz, cita milhares de referências, filosofia hermética acima de tudo. Hermes-Mercúrio, como símblo de transformação, pois o encontro com a anima transforma o homem de dentro para fora. Jung enfatiza a necessidade desse encontro, do entrar dentro para poder haver a individuação, o encontro consigo mesmo que faz de um homem natural um homem ele-mesmo, um homem racional. Para isso é preciso criar uma ponte que faça o inconsciente ser entendido e assim reavivar toda a força da vida. ---------------- Pois vive no mais fundo caminho a força que criou vida e que existirá para sempre. Eis um tema junguiano: o inconsciente é a digital, eterma e imaterial, do criador, seja ele Deus, deuses ou o que for. O inconsciente é portanto imortal, pois ele existe em toda vida e a vida existirá após a minha ou a sua morte. Meu inconsciente, como minha anima, é igual a sua, pois ela é a sua. Apenas a sinto diferente de voce, pois é meu ego que a percebe ou a nega, e meu ego, que perecerá, sou eu e não voce. Minha história é meu ego, minha memória consciente é meu ego. O que não é ego é eterno, ou seja, a história da vida, a memória da vida, o tempo da vida. ---------------- Jung foi um suiço de língua alemã, portanto impregnado de filosofia alemã. Schopenhauer é uma influência imensa, como foi em Freud, mas Freud pega de Schopenhauer o conceito de Vontade como força que move a vida e o transforma em libido. Jung é mais sutil, ele mistura Kant e faz da vontade uma força inconsciente sem nome, uma espécie de vida surgida antes da vida, um imperativo. ----------------- Sempre bom o ler.

PSICOLOGIA E RELIGIÃO ORIENTAL - JUNG

Uma das coisas mais populares hoje no instagram é a série de vídeos onde se mostra a confecção da comida de rua na Ìndia. O objetivo é fazer rir com a sujeira, a inocência e a falta de noção do indiano. Montes de ervas, pós, ovos, leite, são misturados sem medida ou comedimento em imensas frigideiras ou caldeirões amassados. Tudo no chão, com as mãos, à vista da rua. O que o ocidental não consegue ver é a imensa confiança que há no processo. Não se pesa ou se mede o ingrediente porque se sabe que não importa como, a coisa ao fim dará certo. Não se cuida do visual pois se foca apenas no sabor. A higiene é insignificante, afinal, ninguém morreu por comer aquilo. Seu avô o prova. ( Nenhum indiano morreu ). Há imensa certeza naquela comida. -------------------------------- Jung disseca neste belo livro vários aspectos do oriente em comparação ao ocidente. O mais louvável é que ele não tece elogios exagerados ao oriente, ele diz que cada povo falha em algo e vence em outro fator. O ocidente optou pelo modo grego: observar com os olhos, medir, anotar, crer apenas no que pode ser descrito. A linguagem racional como único modo de entender e apreciar a vida. Somos aquilo que aprendemos e apreendemos. O que há dentro de nós VEIO DE FORA. ---------------- No modo oriental ( e não se engane, em 2023 eles copiam o ocidente, mas por debaixo da casca made in USA continuam os mesmos ), somos aquilo que nascemos sendo. O que há em nós NASCEU CONOSCO. A vida não se apreende, ela é aquilo que vive dentro de nosso espírito. O oriente é, portanto, introvertido, tudo vive dentro das coisas, o ocidente é extrovertido, a vida acontece lá fora. ----------------- Em religião, no ocidente, a salvação e a iluminação descem sobre nós. Deus, Ser externo, nos concede uma graça. No oriente a graça vem de dentro de voce mesmo. Deus mora dentro de cada um e de todos. Não pense que isso é tão simples. Para nós ocidentais, por mais que digamos que Deus é tudo, a certeza absoluta nos é impossível. Somos agnósticos sempre. ------------------- Um dos temas mais interessantes do livro é aquele que trata do LIVRO TIBETANO DOS MORTOS. É um texto obscuro que ensina ao monge aquilo que ele irá entoar ao corpo do recém morto. E o que é isso? Instruções de tudo aquilo que lhe irá acontecer nos 49 dias de existência na morte. ( 49 dias em tempo de outra realidade ). Jung se surpreende logo de cara: O que explica culturas tão distantes, o que explica Swedenborg, que jamais soube deste livro, também começar dizendo que "mortos não sabem que morreram" ? ---------------- A jornada é basicamente uma queda ao sofrimento. Para depois dessa "segunda morte" , vir afinal a reencarnação. A alma tem a chance de ascender à Luz, mas raramente isso ocorre. Uma das coisas mais surpreendentes é o momento da reentrada na vida. No ponto final da queda, a alma recorda do sexo e fica obcecada pela sexualidade. Procura então uma entrada para o sexo. Literalmente a alma caça um corpo a ser desejado. "Seduzida" pelo ato sexual que presencia, ela entra dentro da futura mãe, apaixonado por aquela mulher que copula. ----------------- Sim, pode ficar chocado. Jung se lembra de Freud aqui e diz que O LIVRO TIBETANO explica aquilo que Freud não quis explicar: o que vem antes da paixão do filho pela mãe e da filha pelo pai. ------------ É uma escolha. Vagando pela vida, a alma, desejando sexo, no ponto mais baixo de sua condição, penetra na futura mãe e se faz filho. --------------- Jung diz que o ocidental deveria ler o livro de traz para a frente: a história da vida começando no nascimento, e se dirigindo à morte. O LIVRO TIBETANO faz o caminho oposto, o início é o momento da morte, momento de luz e de transição sem dor, e o nascimento é o final, o desejo sexual puro e absoluto e a volta ao mundo da matéria em dor. ------------------- Me seduz uma mente tão inquisidora e insaciável como a de Jung. Intelectualmente ele não temia nada. É fácil rirmos dessa imagem de cópula e espíritos e filho e mãe. Somos ocidentais, zombamos de tudo que a ciência não chancela ou que um filósofo não elocubrou de modo lógico. Na crença nessa "jornada dos mortos", o tibetano não duvida, ele sabe. Se é verdade não faz a menor diferença. O que tem valor é a imensa margem espiritual que se abre, ao ocidental, ao se imaginar tal realidade. ----------------- Quando criança, cercado de japoneses, meu bairro era uma colônia nipônica, lembro que minha mãe dizia, não sei de onde ela soube isso, que o japonês chorava no nascimento e comemorava a morte. Sei hoje que não é bem assim. Mas o que importa é: de onde veio essa ideia? Nós, ocidentais, cremos realmente no mundo do além? Penso que o exagero, a inflação na cultura POP de fantasmas, bruxas, duendes, realidade paralela sci fi, física quântica simplificada, vampiros, mostra exatamente a falta de crença real e um desejo infantil e impotente de recuperar algo dessa fé perdida.

JUNG E O TARÔ - SALLIE NICHOLS

Não vou falar especificamente sobre o tarô, deixarei para outro post. O que prefiro dizer agora é o conceito de individuação de Jung, o modo como ele vê no tarô uma espécie de mapa de vida, uma trilha e bússola que nos auxilia no encontro de nosso EU. ---------------- EU que não deve ser confundido com Ego. Pois o Ego é algo que construímos na vida que vivemos, enquanto o Eu nasce conosco e permanece sendo ele mesmo ao infinito. O Ego é uma espécie de identidade, máscara, modo de agir, modo de ser e de sentir, algo portanto que se modifica com o tempo e o espaço, que evolui ou se encolhe. ================= O EU é o que é, e pouco importa nosso tempo ou o que fizemos, ele permanece, daí seu caráter de eternidade. pois ele não existe como algo que muda com o tempo ou que existe em certo lugar. O EU, ponto mais profundo da alma, ponto que não é ponto, pois ele se move em todo lugar e em lugar algum, é ele aquilo que nos traz paz, verdade, sossego, pois do encontro do Ego com o Eu surge a sua Individualidade. -------------------- Jung não nos ilude. Não há plano ou método para se encontrar esse Eu. O que faz a vida é a sua busca. Estamos aqui para isso, para tentar o encontrar. Estamos aqui para nos individualizar. Somos ùnicos, cada um de nós uma pessoa sem par, e o tarô exemplifica a busca, a procura e mais que isso, ele nos apresenta os personagens e as situações que vivemos em nosso íntimo. Do LOUCO, carta Zero, até a carta 25, as imagens nos mostram aquilo que enfrentamos, nossas mortes e nossas renascenças. ---------------------- Jung sabe que em mundo que cobra união, associação, todos juntos e iguais, a individuação se torna mais difícil. Ser alguém fora do grupo e fora do costume se faz ato de coragem e de estranheza, mas por outro lado, a recompensa é ainda maior. O mundo e a vida são atos de indivíduos solitários que influenciam o grupo dos não individuados. Sem a busca do EU não há ação significativa. Um mundo onde todos ficassem estáticos, conformados numa uniformidade banal, seria um mundo sem história. O sentido do tarô aponta sempre para a frente. E al fim há o Eu, o seu Eu. Único.

A DESTRUIÇÃO DO CÉREBRO HUMANO

Voces devem saber que tenho um relacionamento, longo, com uma mulher mais jovem que eu, de outra geração. Uma das diferenças que ela tem comigo é o ato do beijo. Ela não gosta, eu adoro. Para mim, o beijo é tão importante quanto o coito ( que palavrinha feia ). Para ela, beijar é perda de tempo, que se vá logo ao finalmente. Essa diferença era para mim uma particularidade dela, mas penso que mais que isso, é uma característica de toda uma geração. ------------------ Recebo ontem um texto onde se diz que na minha geração o tempo médio de atenção musical era de 30 segundos. Agora são 8. Músicas atuais, hits, não podem ter introdução e o refrão deve chegar em no máximo 5 segundos. Melhor ainda, muitas começam pelo refrão. Outras são apenas um refrão. O som deve ser próprio para fones, ou seja, hiper comprimido, e a música deve ter hooks, exigir a atenção a cada 4 segundos. É uma formula matemática e é assim que se compõe hoje. Pega-se esse molde e se coloca uma letra feita de sons e não de frases. ------------------- Comecei a ouvir rádio em 1974. Claro que ouvia antes, em 74 eu já tinha 12 anos, mas foi em 1974 que comecei a procurar o que ouvir. O grande hit de então era Don't Let The Sun go Down on Me, de Elton John. E penso em uma pessoa de 18 anos tentando escutar essa canção agora. Uma longa introdução de piano, dúzias de frases poéticas e só após um minuto e meio entrava o refrão. O ouvinte acostumado aos sucessos de 2023 deve ter a sensação de estar ouvindo algo tão exigente como Mahler ou Bruckner. Todos os sucessos de 74, de The Love I Lost à Sundown possuem belas introduções, um refrão longo e letras com narração. Cinco minutos de atenção. Era o que exigiam. ------------------ Um pensador brasileiro disse que para se ter a profunda experiência espiritual que a música erudita dá, é preciso se concentrar por todo o tempo que ela dura. Se voce se distrai ela se torna apenas um ruído a atrapalhar o ouvido. Eu sei disso porque na maioria das vezes eu me distraio após dez minutos de audição. Nas vezes em que consegui me manter atento, a experiência sempre foi muito significativa. ----------------- Creio não ser preciso que eu cite filmes e séries de TV como construções que hoje também usam uma fórmula matemática para conseguir obter sucesso. Estes dias eu assisti O Belo Brummel, um filme de 1952 que com seus diálogos longos e sua falta de ação física não conseguiria ser suportado por mais de dois minutos por alguém da geração 2023. --------------------- A mulher jovem com que me relaciono ainda consegue assistir um Hitchcock de 1955 e se sentir emocionada, ainda ouve um LP inteiro, adora ler um livro que não seja constituído apenas de ações chocantes ou frases "úteis", mas ela é diferente de mim, muito diferente. Sua atenção é flutuante e sua concentração inexiste. Suas habilidades são ligadas à velocidade. Seu mundo é feito de objetividade, uma objetividade que eu jamais tive. Por ser inteligente, ela ainda consegue acessar o lado humano de seu cérebro, e mesmo tendo sido treinada a não parar muito tempo em nada, ela tem uma sensibilidade que pede por profundidade e revelação. Muitos ainda são assim. Mas nossa humanidade está morrendo. --------------------------- O que diferencia o homem do bicho sempre foi o tempo. Nós lidamos com ele, o esticamos, o dominamos, o transformamos em ferramenta. Nossos beijos, bichos não beijam, eles cruzam, são a tentativa de prolongar o êxtase e nos concentramos em atos "inuteis" na tentativa de obter uma revelação. Um animal pode ficar horas concentrado a espera de uma presa, mas é apenas isso, por séculos e por toda uma população, todo urso fez e fará a mesma ação. E quando perdemos o dom de usar o tempo perdemos nossa particularidade. Voce deixa de beijar ao seu modo e passa a transar como em qualquer filme pornô. Voce não mais tira da audição de Pink Floyd ou The Band uma coisa só sua, mas passa a ter a mesma experiência, vazia, que todos têm ao ouvir o novo hit mundial da cantora POP de sempre. ---------------- É o espírito da manada, maldição anti individualista que faz com que conversar com João ou Pedro seja idêntico a conversar com Tiago ou Ivan. As mesmas crenças, os mesmos medos, os mesmos desejos. Não à toa a palavra "erotismo" é agora considerada de profundo mal gosto, coisa de velho gagá. O erótico traz ao jovem a ideia de coisa lenta, sem sal, absurda, broxante. Se os filmes mainstream não possuem nenhum erotismo hoje, isso se deve ao fato de que ninguém mais tem paciência para Eros, se querem excitação eles usam o mais hard pornográfico. E na pornografia, filosofia única do mundo de 2023, voce goza em dois minutos. Mais que isso "enjoa" e voce perde o tesão. Observe que no funk se fala em sentar, comer, foder, jamais se beija, se abraça, se deseja. Antes do desejo já se faz o final. ---------------- O futuro, ele será anti humano.

SOBRE O LUGAR DO TEMPO E OS TEMPOS DE CADA LUGAR

Pessoas idiotas vivem em um tempo. Pessoas um pouco menos idiotas vivem em dois. Quantos tempos há? Como saber se meu cérebro foi adaptado para viver, vigilante, atento, desperto, em um tempo apenas, para poder assim o tomar para si? Pessoas um pouco menos idiotas sentem e intuem o que estou dizendo. Um grande sábio conseguirá viver em três ou quatro tempos concomitantemente. Entenda, nada do que falo é a verdade, pois toda verdade do mundo é a verdade de um tempo, de um mundo e de um modo. Apenas. ------------- O mundo de 2023 nos mostra isso de forma simplória, porém clara. Dentro das redes sociais há um tempo e logicamente, um local. Nesse mundo tudo é sempre um começo, um postar eterno que nada deixa de rastro ou de duração. Nesse mundo, sem solidez nenhuma, não há passado porque nada apodrece e não há futuro porque nada almeja a permanecer. É como uma explosão que explode sem pavio e sem assentamento de poeira. É como um orgasmo que é um jorro sem gozo, sem antes e sem paz. Mas.... se desligamos a máquina e vamos à janela há ali, explícito, um outro tempo. Muito mais nosso, particular. Ele anda ao modo do coração que bombeia e tem a certeza da morte final. Nele chove, nele faz frio, nele tudo enferruja e nasce. Todos vivem nesses dois tempos, sabendo, bem ou mal, que eles existem e não se misturam. ????? Sim, não se misturam e isso engana muita gente. Eles não se misturam. --------------- Mas eu vejo outros mundos quando olho nos olhos do meu cão. E no mundo do meu cão não corre o meu tempo, é um outro. Assim como recordo que meu tempo aos 7 anos de idade não era este onde escrevo isto. Como Bergson dizia, há tempos que duram e outros apenas passam. Então, se eu abrir meus olhos em 1974, por exemplo, o que me chocará não são as roupas ou os carros. Será o tempo que lá corre e dura. As pessoas se moverão de outro modo e mesmo o som de suas vozes ecoa em outra velocidade. A luz que incide na rua ilumina de modo alternativo e os cheiros que chegam ao meu nariz não são os daqui e agora. Porque 1974 foi e é outro feixe de tempo. ---------------- Cada ato humano no tempo tenta vencer o próprio tempo onde se insere. E quanto mais atrelado ao aqui e agora mais rápido e sem substância esse tempo irá ser. Desse modo, o tempo da notícia, da política, da diversão barata, é um tempo que se esvai como pó. Já a música tem um tempo que é dela e só dela. Três minutos que parecem duas horas ou duas horas que voam como um segundo. As ações mais sábias brincam com o tempo e o dominam. O olhar que mira além daqui se livra do agora. Mas há mais... --------------- Quando este mês se desfaz em chuva ele nos convida a entrar em seu tempo. Mas voce foge desse convite e irritado liga o video game. Imediatamente voce entra em conflito com o tempo e se deixa alienar. Esse o veneno da tecnologia: ela nos dá a chance de fugir do tempo por todo o....tempo. E o convite do momento, que é sempre um chamado harmônico, é perdido. A pessoa se fecha no tempo digital e se exila de qualquer outro. De certo modo ela morre para os tempos possíveis. ------------ Muitas vezes confundimos o lugar que amamos com o tempo que amamos. Exemplo. Eu amo a Serra do Mar. Não há lugar no planeta mais belo. E entendo que aquilo que mais amo na Serra é o modo como o tempo lá dura. O pássaro que ergue voo e passa no céu dura mais que qualquer pássaro aqui. Cada gota de chuva lá escorre mais viscosa que toda gota daqui. A voz falada é mais redonda e quica nos ouvidos e o odor da comida permanece no nariz. A melancolia do fim de tarde é uma sinfonia e nunca simples canção e o sol passa desfilando como um leão cheio de preguiça. Não me leve na brincadeira, estou falando sério, o tempo em cada lugar é o tempo daquele lugar. Assim como existe gente que nos dá, sem saber como e sem querer o fazer, seu tempo. Ela espalha o tempo dela ao redor e esse dom é recolhido por aquele que está desperto. Artistas, professores e padres deveriam ter sempre esse dom. São raros os que o possuem. ( Não confunda com gente lenta ou gente histérica. Estou falando da qualidade, do valor do tempo. Uma pessoa acelerada esvazia o tempo e o deixa anônimo; uma pessoa lenta e plácida pode fazer do tempo um peso inútil. Eu falo do ambiente, do estar dentro do tempo e nunca falo do simples e banal velocímetro ). ---------------------- Porque estar aqui é estar no tempo e portanto o tempo é um aqui, um lugar.

OS HEMISFÉRIOS DO CÉREBRO, TEDDY PAEZ E STEELY DAN

Uma boa notícia: descobriram que a partir de certa idade, mais ou menos os 60 anos, os hemisférios cerebrais entram em comunhão. A fornteira entre eles se torna mais fraca e isso faz com que nosso lado intuitivo entre em comunicação com o lado racional. Há perda de memória e de agilidade, mas há, vejam que coisa!, aumento de criatividade. E, e agora vem o que aqui interessa, AUMENTO NA CAPACIDADE DE APRECIAÇÃO DA ARTE. Talvez esteja aqui a explicação do porque de gente com menos de 40 anos não apreciar Steely Dan. ---------------- Eu acho fantástico quando a ciência corrobora, após séculos de pesquisas, aquilo que a civilização já sabia, por costume, desde sempre. Antes da hiper valorização da juventude, via mercado, toda nação valorizava os velhos como repositórios de sabedoria. Um velho maestro, um velho escritor, um velho líder político eram vistos como um ser em seu apogeu. Em 2022, e desde pelo menos 1968, um cara com mais de 40 anos é um ser em decadência e com mais de 60 é um traste a atrapalhar a vida dos outros. Nunca foi assim. E será preciso a ciência para dizer o óbvio. --------------- Em 1977 havia uma loja, na época loja chique se chamava boutique, loja em francês, que ficava escondida no corredor mais estreito do velho shopping Iguatemi. Essa boutique se chamava Soft Machine e seu estilista era Teddy Paez. Paez era porto riquenho e vivia em New York, seu design vinha de lá. Os produtos, roupa masculina moderna, começara como um tipo de hippie chique. depois passara a ser discoteque exclusiva e a partir de 1979 seria new wave sóbria à NY. Eu tinha 15, 16 anos e minhas roupas eram de lá. Até hoje não encontrei jeans melhor. Caía feito uma luva e não era nem justo e nem largo. Camisas que pareciam militares, camisetas hiper coladas na pele, cintos fininhos de fivelas prateadas...qualquer coisa lá parecia moderna, ousada, diferente. E jamais exagerada. O local cheirava a tecido recém lavado e nas caixas tocava Steely Dan. ---------------- AJA não é o melhor LP deles mas é o mais conhecido. É de 1977. E tem o estilo do grupo ( grupo formado apenas por dois caras ) em seu modo mais jazzy. Voce sabe: um ano em estúdio para acabar o trabalho ( hoje se faz um disco em quanto tempo? Dez dias ? O som é perfeito, as composições sublimes, e é preciso ter alguma idade para perceber a profunda beleza daquilo tudo. Porque eles nunca apelam, não são dramáticos, não posam, não forçam. São músicos, são profissionais ao extremo. O que Donald Fagem queria era isso: que fosse perfeito. E perfeição é trabalho, muito trabalho. Os discos deles mostram trabalho, apuramento, resultados. Mas não esforço. Tudo parece fácil. E nada simples. ------------------ Eles unem dois hemisférios.

GODS AND ROBOTS - ADRIENNE MAYOR. ROCK, GRÉCIA, ROBOTS E ESPADAS

É um belo livro. Ilustrado, bem documentado, escrito de modo claro. A autora fala sobre a existência, desde sempre, do desejo humano de se criar vida, seja um robot mecânico, seja um composto químico. Para exemplificar e deixar isso claro, ela conta dezenas de histórias antigas, sobretudo gregas, comparando-as com fatos e histórias contemporâneas. ------------- Quando leio um livro cheio de boas informações, tento desenvolver algo que o autor deixou meio que de lado. Não é exatamente que ele tenha desprezado tal informação, mas sim que não tenha desenvolvido a fundo. Pois não vale a pena falar mais sobre algo que está tão bem escrito na obra citada. Mayor fala, e bem, das histórias de Medea, Jasão, Prometeu...e deixa para mim o breve toque en passant que ela dá sobre o valor da vida humana. Deuses são imortais e por isso não sentem medo. Portanto sua coragem inexiste. Não há coragem na existência de quem sabe ser imortal. E portanto não há reflexão. Deuses são sempre os mesmos, são incapazes de aprender. Quando Odisseus tem a chance de ser eterno ele escolhe continuar mortal. Por amor a sua terra, por amor a sua esposa e por amor a sua memória. Sendo imortal ele perderia a memória e sem memória perderia o poder de amar. Sábios como sempre, os gregos perceberam que sem a morte não é possível reter nada em nossa mente, pois guardamos aquilo que podemos perder, e sem o medo de morrer não amamos, pois o amor é alimentado pelo risco da perda. MARAVILHOSAMENTE esta é a base de toda nossa mente: tempo que se perde, vida que se esvai, medo e coragem. Sem isso não somos humanos. ------------- A questão ética central do mundo antigo, mundo guerreiro, é a coragem. O que vale mais: uma vida longa e sem legado, ou uma vida curta e com memória? O legado é a lembrança que os vivos terão de nós. A vida só vale a pena se ao morrer deixarmos algo para ser recordado. Por isso nada poderia ser mais belo que morrer saudável, forte, jovem, pleno de vigor, na luta pela vida: a guerra. Ou uma aventura, viagem, saga. Morrer velho, doente, se arrastando pelas ruas, sem amigos, sem despertar amor, sem desejos seria o pior inferno possível. O medo de morrer, presente 24 horas por dia, era vencido pela glória. Pelo orgulho em ter coragem. A vida eterna era a vida bem vivida. ------------- Havia outra opção bem mais rara, a vida do estoico. Ao envelhecer viver na contemplação da natureza, longe dos homens, em perambulação. Nada da ideia de monge budista aqui. Não se procurava iluminação alguma aqui. O que se queria era não perder o vigor e não passar pela vergonha da perda de virilidade. Desenvolvia-se a força da mente como um tipo de coragem racional. A palavra coragem permeia toda vida antiga. ------------- Hoje tentamos viver o máximo de tempo possível, não importa como. Avaros, mesquinhos, não queremos sair do palco jamais. Vivemos não para ter coragem, mas vivemos para viver mais tempo. A vida não é mais um meio, é um bem em si mesmo. Acumulamos tempo para ter mais tempo. Não sabemos o que fazer com ele. Temos caixas fortes, cofres cheios de saúde e de tempo. A coragem é hoje um mal. --------------------- Penso no lema moderno Die Young Stay Pretty, lema rocknroll e beatnick, lema que vem direto da Grécia. Mas ao contrário dos helenos, esse lema leva o jovem mortal à doença das drogas, ao envelhecimento precoce, ao desespero. Um suicida do rock seria em 500AC um guerreiro sem freio. Não é dificil imaginar Kurt Cobain morrendo no campo de Marte, aos gritos de fúria, espada na mão, caindo com a cabeça decepada e sendo lembrado por milênios. Ou voce acha que no rock mais furioso a guitarra tem qual função simbólica? Ela não é uma lira, ela é uma espada. -------------- Quando vejo alguém como o dono do Facebook, criando a Meta, uma empresa para criar um Meta Universo, um mundo virtual sem morte ou dor, o que vejo é um covarde incapaz de lidar com a realidade. Esse milionário seria uma vergonha no mundo clássico. Voltarei ao tema.

A RAIZ DO ÓDIO

Um escriba, o que ele é?, jornalista? Filósofo? O que é um filósofo hoje? Geralmente alguém que repete a história da filosofia para quem não a conhece. Weeellll....Como eu dizia, esse escriba me ofendeu em sua coluna. Um amigo responde à ele: Somos apenas pais de família que se preocupam com o futuro de nossos filhos. Resposta simples e humilde, não é? Só faltou meu amigo dizer: Se nos cortam, sangramos, temos medos e desejos etc ( falas do judeu em MERCADOR DE VENEZA, Shakespeare ). Isso porque somos O JUDEU no mundo louco de hoje. Dez anos atrás eu lia e gostava desse escriba. Hoje ele me ataca sem motivo algum. Por que tanto ódio? Só porque eu ousei pensar diferente dele? Também isso, mas há mais, bem mais. Para tentar elucidar, falo de mim mesmo, pois eu já fui um deles. --------------------- Eu odiava meu pai. Dos 12 aos mais de 40 anos, eu tinha um ódio visceral por ele. Falar desse ódio é falar do ódio que a esquerda tem. Pois eu era um deles. Odiava meu pai e por consequência odiava a igreja, Deus, gente que tinha fé, pessoas comuns, pessoas normais, pessoas felizes. Para mim eles eram o lixo do planeta, pior que baratas. Por que eu era assim? ------------------- Eu via meu pai como uma pessoa burra, limitada, enganada e estúpida. Veja bem, ele nunca me bateu, não era violento, lia jornal todo dia, não bebia, não fumava, não tinha amantes. Por que tanto ódio? Meu irmão, minha mãe eram alvos do mesmo sentimento. Assim como qualquer pessoa que parecesse fazer parte dos normais. ( Eu me consolava pensando que normalidade não existe, o que me fazia viver em contradição, porque se normalidade não existe, por que eu odiava os normais? ). No começo, aos 12, 14 anos, eu simplesmente colocava todos no rótulo de BURGUESES e burgueses tinham de ser odiados. Por que eu nunca me perguntei, mas Sartre dizia que eles eram o inferno, então eu engolia e não questionava. Veja agora: Infeliz como eu era, voce já notou o quanto, imaginar que eu era como Sartre me consolava. Era como se ao perder meu pai, pois eu o perdera definitivamente, eu ganhasse algo mais valioso, o clube de Sartre. Minha infelicidade era compensada pela promessa de ser SUPRERIOR a meu pai e a todos os normais. EU SABIA, ELES NÃO. O que eu sabia? Que eles não sabiam. Era tudo. -------------------------- A descrição desse ódio me é bastante desagradável, mas devo ir em frente. Ver meu pai e meu irmão rindo e falando de futebol. Ver minha mãe consolada do horror da vida pela fé da igreja ( ela TINHA de entender que Deus era fake ). Nada me dava mais raiva que a alegria doce do fiel. Eles não percebiam que a vida era uma maldição sem sentido. Eu odiava isso! Colegas na escola que só pensavam em meninas e jogar bola. Eles não sofriam por causa do governo Figueiredo!!!! Meus primos, que bebiam cerveja e comiam churrasco, indiferentes aos meus livros. Odiava a burrice deles!!! Os homens no bar, jogando cartas sem pensar no iminente fim do planeta, como podiam ser tão estúpidos? Eu era uma montanha de raiva, uma tempestade de infelicidade, um vulcão impotente. -------------------- Foi necessária muita dor, muita reflexão e uma dose imensa de humildade para mudar meu mundo. Eu estava errado. E não pense que ao admitir meu erro me tornei feliz. Os erros foram feitos. Nunca recuperei meu pai, não sei o que é VIDA FAMILIAR, e quanto a fé, estou longe dela como sempre estive. A vida não é um filme. Não se volta atrás. Os erros ficam. Mas eu entendo os dois lados, o partido do ressentimento infeliz, e o partido dos "NORMAIS". Eu odiava tudo que parecesse bem resolvido, cheio de fé, alegria familiar, comodismo, não angustiado. Odiava porque não tinha, não podia ter, não "queria" ter. Vivia no ORGULHO de ser superior aos felizes. ------------------ Coloco uma questão: O que eu ganhava com esse ódio? A fuga da dor maior. A frustração insuportável do QUERER E NÃO TER. Família, fé, ajustamento, paz...Quem precisa disso? EU NÃO!!!! Mentia para mim mesmo, todo o tempo. ------------------- O ódio do qual sou vítima é o mesmo que dirigi a meu pai, à igreja, aos fiéis, aos contentes. É um ódio que grita: COMO VOCES PODEM SER ASSIM TÃO DIFERENTES DE MIM? PAREM DE SER DESSE MODO!!!!!! ------------------- Há nesse ódio o horror de se cogitar estar errado. Há nesse ódio a vaidade em perigo. Há nesse ódio o grito da impotência, aquele grito que diz: ME OUÇAM! EU SOU IMPORTANTE!!!! -------------- Pela primeira vez na história do Brasil a elite intelectual se sente mal amada. E para eles isso é pior que a morte. Saber que existe gente que não os escuta, os despreza, ri deles, é motivo de ódio sem fim. Daí as ofensas sem motivo, a violência imaginária, a transferência para nós de todo mal que eles carregam na sombra. ------------------ Somos O JUDEU.

TALVEZ SEJA MEU MELHOR TEXTO. SOBRE O MUNDO DE AGORA.

Voce se apresenta ao mundo quando nasce: Olá. Meu nome é Paulo. E hoje lhe gritam no ouvido: NÃO! SEU NOME NÃO É PAULO. Eu sou um menino. NÃO! VOCE É UM SER HUMANE QUE IRÁ TER TODOS AS VARIANTES SEXUAIS EM SI. Eu sou filho do meu pai e da minha mãe. NÃO! A FAMÍLIA É UM ANTRO DE NEUROSES. A PRIMEIRA REPRESSÃO, O MAL DA SOCIEDADE. Eu sou cristão. NÃO! CRISTIANISMO É UMA FICÇÃO. VOCE NÃO É CRISTÃO NÃO! Eu sou brasileiro. NÃO! NÃO SEJA FASCISTA! SER DE UM PAÍS É UM CRIME. Eu sou branco. NÃO! VOCE É UM BRANQUELO RACISTA. Eu sou o resultado da história de meus antepassados. NÃO! A HISTÓRIA É UMA SUCESSÃO DE CRIMES HEDIONDOS. DEVE SER APAGADA. Eu sou um ser-humano, o mais nobre dos seres. NÃO! UM FILHOTE DE RATO VALE MAIS QUE VOCE. Eu sou um habitante do mais belo dos planetas. NÃO! VISTA DE LONGE A TERRA É UM NADA, VOCE É UM NADA. ----------------------------------------------- ..... mas então o que eu sou? ------------- VOCE É UM MUTANTE, UMA COISA EM CONSTRUÇÃO E NÓS, NÓS VAMOS TE AJUDAR A SER CONSTRUÍDO!!!!!!!!! PORQUE SOMOS BONS. ESTAMOS COM VOCE. ------------------- Gostaram do diálogo? Terrível não é? Mas vivemos todos, no Ocidente, dentro dessa loucura absoluta. Eu sempre, aqui e na vida lá fora, me posicionei contra tudo isso, mas sempre tive uma ideia vaga dos motivos por trás desse DISCURSO DO NÃO!. Imaginei que pudesse ser um misto de ressentimento, vingança, drogas, má ideologia. Então escutei a fala de posse da Melloni, nova Ministra da Itália e me deu uma outra visão. Sim, os motivos são todos esses, mas eles são sintomas usados por quem tem um objetivo. Basta pensar em duas coisas: PRIMEIRO: Uma pessoa que é obrigada, por pressão, a ter vergonha do que é e a procurar se reinventar é uma pessoa DESAMPARADA, ela precisa de ajuda. Ela será sempre VULNERÁVEL. Pois eram todas essas certezas que foram aniquiladas que lhe davam caráter, um prumo, força moral. SEGUNDO. O desamparado procura força fora de si, e o mais PERVERSO é que quem lhe ajuda é o mesmo que o destroi. O discurso de quem lhe finge ajudar é mais ou menos este: FAÇA PARTE DE NOSSA TURMA. NÃO SEJA UM NADA! SEJA COMO NÓS! E o que seria ser como esse nós? Um CONSUMIDOR VORAZ, MUTÁVEL, INSATISFEITO. UM DESTINATÁRIO DE PROPAGANDA, UM ALVO, UM OBEDIENTE ENGULIDOR DE MODISMOS. Ninguém é mais obediente que alguém sem certeza nenhuma. ------------------- Nem falarei aqui da criação de bilhões de deprimidos. De suicidas, De assassinos sem motivo. Falo do que a ministra disse. Esses desamparados tentam ser felizes viajando sem parar para lugares que nem queriam conhecer. Comprando o novo estilo visual que será largado em seis meses. Assinando um milhão de canais. Bebendo tudo que pode ser bebido e comendo tudo que pode ser comido. Fazendo todo tipo de terapia maluca, indo a palestras idiotas, lendo livros que nada dizem. Tendo um apartamento de 50 metros quadrados mas com toda maquininha fashion. Correndo, dando socos na academia, suando, se drogando, fazendo sexo, consumindo coisinhas que dão mais prazer na cama, remédios para a libido. Restaurantes, drogas, mais drogas, novas drogas, velhas drogas. Consumindo, consumindo, consumindo, e vivendo com um medo mortal de que o dinheiro não dê e que ele tenha de largar seu estilo de vida e então precise parar, sentar e pensar. ------------------ O mundo do CONSUMO odeia Melloni porque ao falar de Deus, Família e Nação ela recorda às pessoas que existem coisas mais importantes que ser um hipster, ver a HBO ou ir às aulas da monja Coen. Melloni é um perigo pois ela tenta quebrar o círculo. Ruir o sistema. Fazer com que as pessoas ao menos desconfiem do erro geral: a criação proposital da FALTA DE SENTIDO DA VIDA. ------- Se ela terá sucesso ou não depende de mil variantes. Mas que seu discurso é muito mais sério que aquele do idiota da Colombia na ONU...ah...isso é.

FRACOS, RICOS E SUPLICANTES ( UMA VISÃO SOBRE O MUNDO DE 2022 )

Tenha em mente, primeiro, este fato: até mais ou menos 1990, pedia-se à um líder político, que ele protegesse nossas famílias. Isso era feito pela cobrança de força, inteligência e coragem. Um líder defenderia as fronteiras, defenderia nossa indústria, nosso comércio, nos defenderia de inimigos, da fome e do crime. Gente tão diversa como Churchill, Roosevelt, Reagan, Kennedy ou De Gaulle tinham em comum sua imensa presença corajosa. Thatcher, Indira Ghandi e Golda Meir também. --------------- Hoje, observe, o que se pede é ACEITAÇÃO. Ele é meu líder porque ele me ama, me aceita, é "um cara legal". Não conheço sintoma mais perverso da imensa infantilidade dos adultos atuais. ---------------- Houve um momento, e creio que foi por volta de 1988-1992, em que se percebeu que a melhor forma de dominar uma população não era pela força, mas sim a enfraquecendo. Tradicionalmente, todo domínio do tipo autoritário sempre aconteceu pelo uso extremo da força explícita. Censura. Tiros. Prisão. Mas algo mudou, e 1984 de Orwell já previra isso. O PODER percebeu que muito mais fácil seria fazer com que a população pedisse por censura, tiros, prisão. Como? Enfraquecendo. Fazendo com que o povo perdesse a confiança em si mesmo. Infantilizando. ------------ Nada é mais corajoso que um pai e uma mãe defendendo seus filhos. Ou era. Nada era mais teimoso que uma congregação defendendo sua igreja. Ou era. Nada era mais constante que a defesa de um território por aqueles que lá nasceram. Era. A infantilização se dá pela sabotagem de todos esses COSTUMES. Se o povo começasse a ver a família como um MAL, a igreja como uma tolice e o território como ficção, então todos se tornariam, sem perceber, SERES DESAMPARADOS. Sem referências, sem abrigo, sem conforto. Esse povo estaria pronto para ser ACOLHIDO. Por quem? Por aquele que o aceitasse. Uma população que pede comida, mas nunca exige terra para plantar. -------------- Como isso foi feito? Não é complicado explicar. Nas escolas bastou transformar a história numa "cruel narrativa onde tudo foi crime e todos eram monstros". Deu-se aos jovens o ódio à sua própria história. Assim se sabotou o amor ao território, um dos alicerces da segurança adulta. Nas artes foi ainda pior. Criou-se a imagem do artista como "fofo". Filmes feitos aos milhares, todos mostrando pessoinhas frágeis sofrendo em um mundo adulto. Lentamente criou-se a ideia de que SER FRACO É SER BOM. Dividiu-se a humanidade em dois campos: a virilidade, que pode inclusive ser parte da mulher, como coisa destrutiva; e a fragilidade hesitante e sofrida, como o BEM. Meu asco pelo cinema atual se deve muito à isso. O cinema dito de arte, aquele de mostras e festivais, é uma exibição sem fim de gente lambendo feridas. E tendo um perverso orgulho por isso. ----------- Desse modo criou-se uma mentalidade doentia. Um modo de ver e pensar onde defender uma árvore é mais importante que preservar seu comércio. Salvar um pinguim vale mais que salvar um velho doente. O choro pela morte de um cão é maior que o choro pela morte de um tio. Mas é agora que surge a maior perversidade: QUEM ACEITA O FOFO E FINGE SE IMPORTAR COM UM CARENTE-INFANTIL, GANHA SEU CORAÇÃO PARA SEMPRE. E isso é um prato delicioso para qualquer político espertalhão. Desse modo, a política se tornou um jogo onde a única coisa que interessa é descobrir quem gosta mais de mim. É impossível ser mais idiota que isso. ----------------- O mercado logo notou isso, e hoje toda propaganda não vende o MELHOR PRODUTO, mas sim AQUELE QUE TE AMA. Morro de rir quando vejo propagandas baseadas em amor, sempre em amor. Este banco é melhor porque se preocupa com voce. Este desodorante se importa com voce. Esta loja é sua amiga. É o sonho de todo empresário: não precisar ser O MELHOR, ser apenas o mais sensível. --------------- São pseudo adultos que mendigam afeto, atenção, carinho. Passam a medir tudo pela régua da sensibilidade. Isto é DO BEM PORQUE ME AMA, ISTO É DO MAL PORQUE NÃO ME AMA. A razão ou a lógica não existem nesse mundo. ----------------- Observe dez minutos de propaganda na TV. Todos os produtos se vendem como DO BEM. Pouco interessa sua eficiência ou utilidade. O que vale é seu CORAÇÃO. Para quem, como eu, dá supremo valor a razão e a lógica, é um mundo grotesco. ------------------ Não escrevo isto por ouvir dizer. Vivo isso no dia a dia. Na escola em que trabalho, nada é mais simples que controlar os alunos frágeis, indecisos, medrosos, sem rumo. Basta estender a mão e ser LEGAL. Já os que ainda se mostram ativos, corajosos, alegres, são bem mais difíceis de dominar. É preciso ser AMIGO, ser simpático, ser até mesmo SINCERO. E leva tempo, muito mais tempo. Tudo que o jovem deprimido pede, aquele que é criado pelas obras de arte niilistas, pelo ateísmo exibicionista e pelo ódio à família, quer, é que o aceitem. Que o protejam. Que lhe ofereçam atenção. Dar isso é fácil e pode ser um ato falso. São muito enganáveis. Já o jovem mais forte ( não encontro palavra mais apropriada ), exige que voce seja forte também. Que seja profissional. Que lhe explique as coisas. Ele dá trabalho. E percebe a mentira. --------------- Que inversão fantástica!!!!! Em certo momento alguém percebeu que O HIPPIE de 1968 era o mais dócil e dominável dos seres, e que o CARETA era um teimoso muito mais complicado. O Hippie pedia apenas AMOR E ESPAÇO PARA SER HIPPIE, o CARETA pedia competência, respeito, segurança, e espaço para crescer. O tipo hippie quer ser criança a vida toda. O careta quer poder. Qual o mais fácil de dominar? ----------------- Me dou muito bem com os maconheiros. Tudo que eles querem é maconha. Só isso. Não os reprima e voce terá seu AMOR para sempre. Já os caretas, os "chatos" que vão à igreja, têm a sorte de ainda ter pais, que trabalham, exigem tanta coisa de mim, que me obrigam a ser esforçado. Ou fugir deles. Há quem faça toda uma carreira na política satisfazendo a auto estima dos hippies. --------------------- Por fim, digo que nada é mais odioso que um cantor no palco ensinando toda uma multidão a ser "choroso, coitadinho, piegas, lamuriento". Eu os odeio. E não tenho pudor algum em ser "mau". A arte é uma festa, uma farra, uma guerra ou uma suruba, jamais um choro de alminhas que não saem do berço. ----------------------- Por favor, me amem menos. Esse o lema que deveria estampar camisetas hoje.

AB-REAÇÃO, ANÁLISE DOS SONHOS, TRANSFERÊNCIA - CARL GUSTAV JUNG

Em termos de descrição daquilo que é o inconsciente, este é o texto mais claro de Jung que li até agora. Existem como que dois campos dentro de nossa mente, ou melhor, que constituem nossa mente: o consciente e o inconsciente. No ideal de bem estar, ambos estariam em equilíbrio, cada um existindo em seu campo. Mas isso raramente ocorre. O consciente, sobrecarregado, perde energia e nesse momento o inconsciente começa a se fazer perceber. Nosso consciente se assusta com os conteúdos do inconsciente e nasce a neurose. Tentamos escapar das imagens, das sensações, do universo irracional do inconsciente, nem que para escapar tenhamos de criar sintomas, manias, a ilha da neurose. Perdendo toda fé na razão, cheios de medo, dividido em dois, no meio de uma guerra interna, procuramos ajuda. O terapeuta assume a função de nossa consciência, começa então a transferência. ------------- Primeiro fato que percebo: O povo muito deslumbrado que pensa seguir Jung tende a hiper valorizar o inconsciente. Jung deixa claro que cabe ao médico salvar a consciência. Somente doentes têm a prevalência do inconsciente, o que se deve fazer é perder o medo do outro lado da mente, abrir algum tipo de entendimento entre os litigantes, mas sempre tendo a razão como guia. Penetrar no mundo escuro da inconsciência é sempre destruidor e a maioria jamais retorna dessa viagem. --------------- O que seria o inconsciente? É aquilo que resta de nossa história de milhôes de anos passados. O começo do homem como ser não-animal. Dentro desse mundo, não verbal, pois falamos de um homem sem linguagem verbal, o que existe é o medo do fogo, da chuva, o canibalismo, o incesto, a possessão demoníaca, a morte ritual, a inanição por fome, o não-eu, a não-compreensão. Tudo é imagem, é fagulha, é corpo. Não há o "Porque" e nem o "Para que". Não há tempo ou distância, tudo é sempre aqui e agora. Não é animal, pois é humano, mas é o mais primitivo dos humanos, o homem puro impulso, ação sem planejamento, instinto solto, fomes e desejos. Um mundo de fantasmas, de cavernas, de frio, de fuga e caça, de sujeira. ------------ Então, de forma muito lenta, e não se saberá jamais porque, o homem começa a criar a consciência. Primeiro ele se vê como um outro diferente daquele a seu lado. Depois ele planeja uma ação. E então começa a desenvolver um discurso. Acontece a cisão. Para poder sair do estado de natureza, ele precisa calar seu lado puramente instintivo, aprender a esperar, a negar, a se adaptar. A luta interna deve ter sido dolorosa. Não mais comer a carne humana. Não mais deitar com a irmã. Não mais roubar. Se submeter a lei. E passam os séculos....e cada vez mais o inconsciente fica lotado de tudo aquilo que o consciente não mais aceita: não bater em quem te ofende, não caçar, não guerrear, negar desejos. Explodem as neuroses, lógico. Nossa história não pode ser apagada. Nossa herança genética, espiritual, histórica, dê o nome que quiser, vive e respira. Ela mora nos sonhos. Nas neuroses. Na arte. E em ações sem sentido como a guerra e a auto destruição. Em todo homem moderno ocorre a guerra interna entre luz e sombra. E muitas vezes vamos à sombra pensando ser ela a luz. E vice-versa. ------------------ A religião cristã tinha um modo maravilhoso de lidar com isso. O consciente era o Paraíso. O inconsciente era o Inferno. Luz e trevas. De forma sutil, forma que não cabe aqui descrever, a Igreja pacificou o conflito dando aos fiéis sua escolha pacífica. Mas isso terminou no século XVI com a ruptura da Igreja em dois lados: Católicos e protestantes. Desde então a própria fé tomou partido e a cisão interna de cada homem se refletiu na cisão cristã. Para os de Roma são os protestantes os seres da sombra. Para os evangélicos, são os católicos os partidários do engano. Ambos jogam no adversário aquilo que não aceitam em si mesmos: sua sombra. --------------- Ainda não terminei de ler todo o livro e neste momento leio sobre a alquimia. Jung analisa imagens de antigos volumes alquímicos e nos explica toda a mensagem ali expressa. Breve posto mais.

JUNG, UMA BIOGRAFIA - DEIRDRE BAIR

Se voce quiser saber tudo sobre "a vida" de Jung este é seu livro. Mas se voce quiser entender algo sobre o trabalho de Jung, fuja daqui. Esta é daquelas biografias que detalham cada passeio e cada viagem de Jung, que apresentam cada pessoa que entrou em sua vida, mas que se abstém de explicar o porque de sua imensidão. Para mim é frustrante. Bair anuncia que em certa data Jung faz uma palestra sobre sonhos, mas não detalha aquilo que foi dito na tal palestra. Lendo, tive a sensação de que Bair não se interessa por Jung, ela se importa com a celebridade do psiquiatra genial. --------------- Falei genial? Não há sinal algum de sua genialidade aqui. Sua vida, segundo Bair, é um casamento mal arranjado, amantes mal amadas e um trabalho debaixo de holofotes. Não critico este livro por ele criticar Jung, Bair não o critica, ela o descreve de modo neutro. Mais que neutro, anódino. O Jung descrito por Bair é uma batata cozida. Sem sal. Sem azeite. Sem mostarda. ------------------------- A tentativa de se compreender uma mente tão ousada passa longe daqui. --------------------- Quem quiser entender o que seja uma grande biografia leia o Joyce de Ellman. Continua a ser o modelo que vive lá no alto.

O NOVO PARAÍSO ( ASSISTINDO GREASE )

Voce deve saber mas vou contar: ao fim da guerra, 1945, houve o tal do baby boomer. Soldados de volta pra casa tiveram filhos, muitos filhos e a população em geral, tomada por otimismo, botaram crianças no mundo. Nunca nasceu tanta gente em tão pouco tempo. Assim, em 1950, 1951, montes de crianças brincavam nas ruas e a sensação era de que o planeta havia se tornado um playground. Em seguida elas se tornaram adolescentes e o mercado logo começou a vender milkshakes, camisetas e bicicletas como nunca. Os pais enriqueceram ( no primeiro mundo....aqui no Brasil esse salto se deu com atraso, mais ou menos em 1969-1976 ), e pais com melhores salários instituiram a mesada para os moleques. A mesada era gasta em cinema, lanchonetes, bolas, tênis e em discos. Nasce aqui o rock, o primeiro gênero musical específico para adolescentes. Cria-se uma imagem: ser adolescente é a melhor coisa que existe. Celebre isso. Tenha orgulho de ter 16 anos. Não é preciso FAZER nada, basta SER um teenager. ------------- Como consequência vieram o ódio à autoridade, a raiva dos pais e o medo de ser adulto, pois se ter 16 anos era o máximo, dali pra frente só poderia vir o inferno. Ser adulto era sofrer em vida. ------------- Freud e Jung não tinham como prever isso, mas a psicologia só pode ser levada a sério se colocar como ponto central o fato de que ter 16 anos é o cume da montanha. A partir daí observamos, cada vez mais, que essa idade, de forma ilusória, se estica, e hoje vemos gente de 50 anos vivendo e pensando como se tivesse 16. Há até presidentes assim ( Macron e Trudeau ). Toda a arte passou a ter espírito teen, seja cinema seja literatura. Mesmo filmes que parecem sérios possuem a seriedade de um adolescente deprimido. Observe que não há mais filmes sobre casais adultos com filhos. ------------------ A Europa e os EUA na atual guerra se comportam como teens birrentos. " Vou me vingar da Russia lhe proibindo de usar o Facebook e de comer no Mac ". ----------------- GREASE, o delicioso filme de 1978 vende esse paraíso adolescente a perfeição. Tudo nele é celestial e voce deseja ser como eles e viver dentro daquele mundo. ( Okay, se voce se acha mais sofisticado talvez queira viver dentro dos filmes de Wes Anderson ou de Tim Burton....muito adultos eles são, não é? ). --------------- A cena que posto exemplifica o que falo de forma linda. Tudo ali, a dança, os rostos, a canção, nos traz a certeza de que aquela é a felicidade suprema e possível. Para ter esse paraíso basta ser uma pessoa de 16 típica. E é aí que vive a armadilha. Isso porque o Paraíso sempre foi um lugar e um estado de alma e desde os anos 50, o paraíso é um TEMPO. E o tempo muda, passa, não se pode obter. Então somos um mundo em que nosso paraíso escorre, escapa, se vai. Pior, sabemos disso. É um paraíso com data de vencimento: os cabelos brancos, a barriga, a careca, as contas pra pagar. Por isso a louca mania de tentar esticar o tempo. Não envelhecer, não amadurecer, jamais sair dos 16 anos. ---------------- Eis o porque do sucesso tão grande dos herois de quadrinhos, Harry Potter, música POP, jeans e tênis, academias, professores moderninhos de filosofia, partidos libertários, drogas. Todos prometem a mesma coisa: me siga e tenha 16 anos para sempre. Caramba! Haja depressão!!!! A disputa estará perdida sempre! Não se vence a biologia. Não se vence o tempo. ( Hey! Mas há uma NOVA ciência que promete acabar com a biologia e com o tempo! Wow! É tudo que queremos não é? Eterna juventude! Obaaaa! ). Aliás a palavra NOVO ou NOVIDADE designa um bem em si. Se tornaram a qualidade máxima. Nada, nem o BEM ou o JUSTO é mais valoroso que o NOVO. -------------------------- E pensar que em 1930 o desejo de todo garoto de 14 anos era ser adulto como seu pai era....Hoje o pai inveja o filho. --------------- Tudo isso não valia para o mundo árabe ou russo e nem para a China ou Africa. Por questões religiosas ou financeiras, a maior parte do planeta não conheceu esse novo pseudo paraíso. Mas tiveram a ilusão de que americanos eram mais felizes. ----------------- Em 1978, ano de Grease, eu tinha 16 anos. E vi TODO MUNDO usar a camiseta preta com taxas de John Travolta. A febre não foi menor que a que voce, jovem, viu com Harry Potter ou Homem Aranha. Todos tentavam viver a vida de Grease. Porque aquela parecia ser a melhor vida possível. Um segredo: eu não era feliz. Meus 16 foram a cobrança, imposta por mim mesmo, de ser feliz. ---------------- Pensando melhor, no mundo de hoje não se quer ter 16 anos para sempre. Os 11 anos são o novo paraíso. Aos 16 meninos são meninos e meninas são meninas. Aos 11 a diferença entre os sexos não se afirmou. Melhor ter 11. Sexo como brincadeira inocente, arte como fantasia de contos de fadas, a vida como um parque da Disney. --------------- Quem for adulto domina essa população com facilidade.

O SÍMBOLO DA TRANSFORMAÇÃO NA MISSA - C.G.JUNG

Neste vasto, vasto livro, Jung nos mostra o significado profundo do ritual da igreja católica e do porquê dele ser um modo genial e racional de encontro das várias partes dispersas em nosso ser. Para isso, com sua assombrosa erudição, Jung cita textos gnósticos, alquímicos, judaicos, egípcios e nos faz entender o modo como o catolicismo, habilmente, anulou o perigo da vaidade gnóstica e nos deu a MISSA, a teatralização da vida e da morte de um Deus. Nela, nós, sem o perceber, somos mortos e matamos, comemos e somos comidos, bebemos e damos nosso sangue, somos testemunhas e ao mesmo tempo agimos. Disse que o livro é vasto? São apenas 90 páginas, mas são repercussões sem fim. --------------- Como posso dar a voces o gostinho, um sinal da abrangência de tudo isso? Quem me lê sabe que para mim Jung é guru pelo fato de que ele não me convence com suas palavras ou me seduz com suas ideias. Eu dou valor a Jung porque o que ele fala eu senti ANTES de o ler na carne e na alma. Percebo dentro de mim, desde sempre, a divisão entre meu insonciente e meu consciente, um atemporal, não verbal, eterno porque não começa em mim, cósmico, livre, e o outro, racional, preso ao tempo e às palavras, vigilante, medroso, finito porque nasceu quando nasci e deixará de ser quando eu morrer. Pois saiba que em minha vida, em momentos vários, eu senti o inconsciente em mim e ao redor de mim. Vi a indiferença com que ele existe, sua força imorredoura, sua eternidade ampla, independente, e ao mesmo tempo comum à todo ser humano. Somos os dois, mas a maioria vive no limite auto imposto de ser apenas o consciente, aquilo que fala, que sabe, que explica, que divide em partes. Pois saiba, a Missa é a mais bela forma de tentar integrar os dois. Como? Pelo exemplo do Cristo e pelo ato sem porque. ---------------- O ato sem porque: Não há razão no inconsciente. Ele não é apreensível pela razão e não pode ser descrito por palavras. Falar do inconsciente é matar o caminho. O inconsciente se faz perceber por imagens, atos sem sentido, símbolos, sensações. O incenso, o cálice, o vinho, o sino, tudo é modo de acessar o caminho para dentro. E há a cruz. ----------------- As duas linhas que se cruzam e formam quatro campos. No encontro, no centro da cruz, o ponto que é o centro do universo. Conhecer o limite do universo através do infinitamente pequeno. Mas, mais que tudo, ela nos lembra que para se conseguir ser o UNO, o INTEGRADO, aquele que não tem conflito, é preciso se dar em sacrifício. Dar sem esperar nada em troca. Dar por amor a quem se dá. Dar por dar. Abrindo assim mão do ser temporal, do que é seu, do que voce é. Morrer. Padecer. Eis o único modo de se RENOVAR. REVIVER. RENASCER. Não há ganho sem dor, mas não se deve dar esperando esse ganho. Não se pode procurar o sacrifício, ele precisa ser aceito. ---------------- Falando das palavras, Jung diz: " A ruptura do contato com o inconsciente e a tirania da palavra representam uma perda: A consciencia torna-se cada vez mais discriminadora e com isso a vida torna-se cada vez mais dividida em partes. Perde-se então o sentido de UNIDADE. A psique se rompe em divisão. O sentido se perde". ( Que bela discrição do mundo de 2022 ). --------------- A Missa é a história, sempre renovada, de um Deus que renuncia a si-mesmo, que abre mão de si e nos mostra o caminho da integração, da unidade. Um milagre sempre refeito: séculos passados e a missa se mantém como é: um momento atemporal e sem lugar. O grande milagre da Igreja explícito, a Missa existe. Sua ocorrência é o milagre maior. Pão e vinho, da duas maiores criações da cultura, o grão que vira pão, a uva que se torna vinho, e ambos se tornando sangue e carne. Comemos um Deus. A missa não foi criada, é uma manifestação de uma profunda necessidade. É uma mensagem sem palavras. Gestos e atos sem sentido que refazem o sentido. ------------ Explicar mata o mistério. Falar interrompe a comunhão. Paro aqui.

O MUNDO DOS BOBALHÕES

Quem trabalha com teens sabe que o aluno potencialmente mais perigoso não é o briguento fanfarrão. Nem mesmo o cínico agressivo. É o bobalhão calado. Poço de ressentimento e inveja, ele tem muito ódio autêntico dentro da alma. O bobalhão quer que o cara que namore morra. Que o bom de bola quebre a perna. Que a menina mais popular fique feia. Sinto dizer, a REDE deu poder ilimitado ao bobalhão. Todo lacrador é um trouxa em busca de vingança. ------------- Então é assim: O jogador de futebol, medíocre, invejoso, irá lacrar. O político mal votado irá fiscalizar. O cara que se deu mal no amor irá censurar. O antigo alvo de bullying irá perseguir. Gente feia perseguirá a beleza e gente burra irá calar a lógica. Na REDE eles encontraram um mundo virtual onde podem posar de bacanas. ----------------------- No mundo real, que é o que conta e importa, não é assim, graças ao bom Deus. A molecada continua sendo molecada. O PC é jogado às favas. É cômico ver os seis lacradores tentando lacrar no pátio. Não rola. Lacram nas redes, mas no cara a cara são um resto de restos. ------------- Não se esqueça. Houve uma vítima de bullying bobalhão que nos anos 20 criou um partido lacrador antes da REDE existir. Adolf era um cara que se sentiria em casa no Face. Passaria o dia perseguindo quem ousasse ir contra suas opiniões. E iria corromper juizes com chantagem. -------------------- Eu odeio o Super Homem gay. E isso não significa dizer que odeio gays. Odeio também o Batman neurótico e nem por isso odeio neuróticos. Odiaria ver o Super Homem virar hippie ou coreano. Porque nosso passado é NOSSO passado. É parte de nós mesmos, e quando modificam nossas lembranças modificam a nossa vida afetiva. ( Mas eu sei, para um lacrador esse pensamento é sofisticado demais ). Se James Bond é hoje uma mulher negra, minha bronca não é contra uma mulher negra. É contra James Bond não ser mais o James Bond que eu adoro. A sensação é a mesma de quando derrubam um prédio histórico para fazer uma praça. A praça é ótima, mas que saudade do velho prédio histórico. Humanos são assim. Mas lacradores não são humanos. São lacradores. Se obrigam a agir e pensar como robots. Programados a cancelar quem ouse raciocinar. ---------------------- Mulheres bonitas continuam atraindo homens. Heteros continuam a ser a maioria. Um homem que vira mulher, é seu direito, felizmente, será sempre um homem que virou mulher. Não se ZERA a história, não se apaga o passado. ---------------- NO fundo o objetivo de todo lacrador é apagar o que passou. Vindo do mundo bobalhão, querem esquecer seu passado bobo. Digo que é assim porque o bobalhão odeia aquilo que ele viveu e portanto aquilo que ele é. ----------------- O passado sempre vai existir. O Super Homem será sempre o Super Homem. Mesmo que um dia ele vire um Super Trans ele terá todo um passado como Homem. Se voce nasceu brasileiro, mesmo se mudando com 5 anos para a Russia, voce será sempre um cara que nasceu no Brasil. ----------------------- A luta dos lacradores será sempre perdida. Pois sua luta é contra a realidade. ---------- Em tempo: eu fui um bobalhão. Tímido, eu odiava quem era popular. Era chamado de gay. Mas aceitei esse meu passado, triste, e não o nego. Por isso não lacro. O cara popular teve sorte em ser feliz. Não é culpado por eu ser um bobalhão ( sempre o serei ).

O OBJETIVO DA VIDA

Uma das maiores mentiras propagadas no século XX é aquela que dita que a história é movida pela luta de classes. Claro que são INDIVÍDUOS que propagam essa ideia, assim como foram INDIVÍDUOS que a inventaram. Não há modo mais fácil de dominar uma multidão que lhes dar um cara e um modo de pensar COMUM. Não é a toa que na revolução de MAO TSÉ TUNG todos os chineses tinham de usar uniforme. ---------------- A história da civilização é a história de indivíduos que ousaram pensar CONTRA a massa. A prova é até simplória de tão óbvia: zebras serão comidas por leões por toda a eternidade, isso porque, mesmo em maior número, não há uma sequer que ouse se erguer e agir de modo diferente. Animais agem do mesmo modo para sempre. Ao homem é dado o poder de Ser, ou lutar para ser, o que causa o mesmo efeito, voce não precisa ser úncio, basta querer se tornar único e individualizado. ------------------- Vaidade? Sim. No amor à própria individulaidade sempre haverá um grau de vaidade. Mas a diferença crucial é que o vaidoso pavão apenas se exibe. Já o indivíduo age sobre a vida. Ele sabe, ou procura saber, quem ele é. E sabe que o melhor modo de se auto conhecer é agir. Essa pessoa conhece seus desejos, e questiona todo tipo de ordem, principalmente aquelas que são ordens gerais, do tipo que todos seguem automaticamente. Ele é o chato que vai perguntar o porque de pedaços de pano protegerem contra vírus. Ele entenderá que a máscara é na verdade um tipo de talismã. Ele a usará como tal: um amuleto contra um eflúvio. Ele sabe que o símbolo ancestral sempre retorna. Mas ele sabe também que um pedaço de pano é apenas isso, um amuleto. ---------------------- O indivíduo percebe o espírito da época. E ele se antecipa àquilo que os outros perceberão muito depois. Nietzsche notou a predominância da ideia de individualidade muito antes que os outros. Seu erro foi não notar que essa individualidade seria vendida no século XX como moda. Criariam grupos de originais. Um paradoxo idiota. Grupos que procurariam sua própria religião, filosofia ou modo de vida. Grupos que seguiriam um grupo. E que cairiam no vazio da procura sem desejo de encontrar. ---------------- O individuo se afirma quando ele lê seu próprio interior. E ao ler o que vive dentro, ele entende o que acontece fora. Seu olhar vai além do aparente. Ele percebe a rede de símbolos. E símbolos baby, falam tudo que houve, há e haverá.------------------- Disse que a história se move por ação de indivíduos que resolvem fazer o trabalho da vida, dar o passo seguinte. E são naturalmente seguidos depois. Vou dar alguns exemplos simples e conhecidos. ----------------------- Em 1800 Beethoven resolveu, por força interior, romper com a imagem que artistas tinham até então. Ele não comporia mais para atender a encomenda de alguém, mas sim para satisfazer sua vontade. Ele não viveria mais do dinheiro de um mecenas, mas sim do pagamento de quem o admirasse. Beethoven viu dentro de si. Percebeu ter o dom para cumprir esse papel. E depois olhou a vida e percebeu que havia quem pagasse para o assistir. Nunca mais a arte dependeu de mecenas ( apenas do mecenas estatal...como disse, símbolos e hábitos não morrem ). Mais importante, Beethoven criou a figura do GÊNIO. Até hoje imaginamos um gênio como Beethoven era. ----------------- Em 1963 Brian Epstein percebeu que um CONJUNTO MUSICAL poderia ser maior que um cantor solo. Até então, de Elvis à Little Richard, o que vendia era o artista solo, a estrela. Grupos, Shadows, Ventures, eram apenas isso, grupos compostos por músicos meio amorfos e anônimos. Epstein percebeu o espírito da época e mudou tudo. Deu a cada membro uma cara bem definida: um alegre, um introvertido, um cínico e um bonzinho doce. Deixou que eles gravassem apenas o que escolhessem e incentivou seus dons de composição. Começou a manufaturar produtos com o logo da banda. Percebeu que havia, pela primeira vez na história do mundo, um grupo de pessoas entre 12 e 22 anos que não trabalhavam, tinham tempo livre e dinheiro na mão. E principalmente que amavam ser o que eram: jovens. Epstein criou a cultura do jovem eterno. Sua banda idolatrava a si mesmos e assim idolatrava esse público. O ser BEATLES era um indivíduo único que criou bilhões de imitadores. ----------------------- Ney Matogrosso percebeu na androginia o caminho para expor sua idividulaidade. Isso em 1973. Com talento e um sentido de tempo, ele intuiu que as crianças e as mulheres o aceitariam. Ele foi o indivíduo corajoso que escancarou portas. Ser andrógino hoje é fazer parte de um grupo definido. Com regras e leis próprias. Ney foi único. Solitário. ------------------------- Há aí um aspecto da individuação: a solidão. Não há como viver o processo sem estar só. Esse o preço que 99% não se dispõe a pagar. ----------------- Ando agora na rua e vejo um oceano de pessoas mascaradas. Todas têm o mesmo pedaço de pano na cara. Não há momento melhor para se perceber o horror da individuação. Eu? kkkkkkkk Pago pra ver.

O ENCONTRO COM A ANIMA

Ela vem como a morte vem. Como o fim. Sua promessa é veneno. Ela é precisa, necessária e inevitável. Inenarrável e inexplicável. Ela anula seu ego e obscurece sua luz. É o abismo e o vazio, o nada absoluto. E ao mesmo tempo ela é tudo. ---------------- Ela não vem como força da natureza e portanto é uma união que não poderá dar frutos-filhos. Ela traz a marca de algum tipo de proibição-maldição, e trará em si um mundo que te é desconhecido. É uma surpresa esperada pela qual voce sempre ansiou sem saber que a aguardava. Resposta de uma pergunta jamais feita. Ela é o fim de seu desejo. ---------------------------------------------------------------------------------------------- Segundo JUNG, todo homem necessita viver, uma vez na vida, o encontro com essa figura feminina. A Rainha de Saba. ( No cinema, a Femme Fatale ). É a mulher proibida. Ela traz em si a negação daquilo que voce pensa ser. Ela desafia seu mundo por vir de outro universo. É o outro lado do espelho. A estrela negra. A sombra sedutora. A morte. Estar com ela é como morrer ou matar. Pois ela nega o que voce foi até então. Ela é o encontro com o complemento. A formação do ser andrógino. Não há futuro nessa relação, mas ela é o próprio evoluir. Haverá um obstáculo: Ela será casada. Ou muito jovem, muito velha ou de classe social-cultural muito distante. De todo modo, seus amigos-família terão suspeitas sobre ela. Ou melhor, nem mesmo irão a conhecer. Pois ela é secreta. Voce é dela ( mesmo tendo outra, mesmo longe dela sendo o de sempre ), mas ela jamais será sua ( mesmo se dando completamente). Há muito de maldição aqui. De pecado. De sina. De erro aparente. É desafio, guerra, luta, vitória na derrota. Detalhe: a união sexual poerá jamais ocorrer. A interdição pode ser grande demais e tudo ficar na expectativa que não se deixa resolver. Mas o encontro das almas ocorreu. A promessa foi cumprida. A maldição foi vivida. ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- Estava nas estrelas. ( Escrito ao som do CONCERTO PARA PIANO NÚMERO UM - LISZT - O MAIS FANTÁSTICO DOS CONCERTOS E O MAIS SENSUAL DOS COMPOSITORES )

AFINAL: O QUE É SINCRONICIDADE?

Sempre, desde criança, houve em mim uma sensação estranha. Vou tentar a descrever de um modo bem simples, sem poetizar, embora esta sensação faça parte do que chamamos de poesia, forma fácil de colar rótulo naquilo que deixa nossa razão confusa. Pois bem: Deitado em minha cama, no meu quarto azul, eu tinha a nítida sensação de que por detrás da parede que dava para a cozinha, havia um compartimento secreto, um local da casa que ninguém conhecia, onde ninguém jamais havia estado, e mais, lugar que somente eu suspeitava existir. Cedo em minha mente, esse é apenas um exemplo, se criou a ideia de que NOSSA MENTE CRIA AQUILO QUE CHAMAMOS DE REALIDADE. O mundo real, o mundo dos fenômenos dos sentidos é uma escolha. Explico melhor. ---------------------- Quando saio à rua e vejo uma rua eu tenho duas escolhas: andar á esquerda ou a direita. Uma rua serve para isso, e apenas para isso. Pois eu te digo, uma criança ainda não DOMESTICADA, verá na rua a possibilidade de ir em qualquer direção. Ela achará invadir um quintal ou entrar num bueiro escolha tão válida como esquerda ou direita. NOSSA MENTE CRIA A REALIDADE DA RUA COMO ACHAMOS QUE ELA É E DEVE SER. No ponto mais extremo, nossa mente acredita que A REALIDADE É A PALAVRA E APENAS A PALAVRA. A VIDA É UM TEXTO E LINGUAGEM TEM REGRAS FIXAS. O que não é texto não existe. ---------------- Quando um físico olha a realidade ele a olha dentro das regras de física, e mesmo os aparelhos por ele feitos serão conforme sua mente. O mesmo se dá em qualquer outra ciência, e por isso a realidade última, aquela pura e simples nos é inalcançavel. Vemos o mundo de acordo com os conformes de nossa mente. Não olhamos o céu como ilimitado espaço, mas sim como um azul com nuvens. Mas mesmo o ilimitado espaço é uma criação de nossa mente, pois talvez ele seja algo que não conseguimos captar. ------------- O mundo do meu cão me é completamente distante. Ele reage a mim e eu a ele, mas o universo onde ele vive é outro. ------------- Vou dar agora um salto: falarei de história, okay? ------------ Nós, que moramos nas Américas e na Europa temos um grande trauma. Éramos povos, seja voce negro africano, celta alemão ou indio dos Andes, que vivíamos dentro de um certo universo. Falarei dos celtas, meus antepassados, mas isso serve a qualquer um que tenha sofrido esse salto traumático. -------------- Pois bem...lá está meu tatatatataravô. Ele vive no bosque. Sente que as árvores têm alma. Sacrifica humanos aos deuses da guerra. Ama a luta e a coragem. Morre aos 30 anos, em combate. Tem xamãs que lhe ditam imagens. Se guia por presságios. Vê naquela rocha a alma de seu antepassado. Dentro desse mundo, não importa valor aqui, há uma história. Talvez, após séculos e séculos, esse homem se tornasse outra coisa. Talvez ele passasse a odiar a guerra ou a ter vinte esposas. Talvez ele cultuasse os mortos ou então os negasse. O certo é que ele CRIARIA SUA HISTÓRIA E COM ELA SEU UNIVERSO. Mas um dia lhe foi cortada essa história. Uma cultura e uma fé ESTRANGEIRA lhe foi imposta. Uma LÍNGUA alienígena ensinada e exigida. Eis o trauma. Sua história sofreu um aborto. -------------- Mas esse CELTA não morre porque nada morre no mundo. Antes se adapta. A guerra permanece, mas sem o caráter de dever ou de cerimônia. A magia se conserva, como astrologia, busca por religiões não oficiais, drogas que criam visões, arte fantástica. Mas observe: tudo é jogado no QUARTO OCULTO, e é isso o INCONSCIENTE COLETIVO. Mundo onde a língua não tem acesso porque ele é iletrado. Onde o tempo nada modifica, pois ele não faz parte da história. Mundo imortal pois está preservado em sua morte que não foi morte, foi antes um ocultamento. ---------------- É nesse inconsciente arcaico, eterno, que se dá a SINCRONICIDADE. Pois se nossa razão se ocupa do AQUI E DO AGORA, DO PARA QUE E DO POR QUE, o inconsciente vive no ISTO É. E assim, nossa mente, que seleciona e cria a realidade perceptível, é pega desarmada pelo inconsciente, que lhe assalta e joga na cara AQUILO QUE É NOSSO E AO MESMO TEMPO NÃO É. -------------------- Complicado? Palavras não servem aqui. Então falarei do sonho que tive ontem.No SONHO eu havia conseguido um diamante. Uma pedra do tamanho de um ovo. Não havia a comprado, tinha ganho. Então encontrava minha namorada e dizia à ela que não eram aneis, que não ia casar com ela, era um diamante só meu, valioso. Surge então uma outra mulher, mais bonita, formando-se assim um triângulo. A minha namorada se torna alguém menos atraente. Fim do sonho. Nada demais não é? Será? Logo esqueço do sonho e vou ao trabalho. De volta pego um gibi do Fantasma para ler. Na história, 3 ladrões roubam o tesouro do Fantasma. Baús e sacos cheios de diamantes. Nesse momento recordo o sonho. Acho engraçado a coincidência. Durmo e no dia seguinte pego um livro para ler. Logo no início é narrado um sonho onde o heroi pega um diamante de uma árvore. Eis a sincronicidade. ------------------- Como acontece? Mera coincidencia? Estatisticamente qual a probabilidade de eu pegar um gibi e um livro, em sequencia, com diamantes como tema? --------------- Segundo Jung, meu inconsciente coletivo me guia a encontrar aquilo que DEVO ver. Ele cria a minha realidade. Ele sonhou e ele sabia que aquele gibi e aquele livro me convinham naquele momento. Parece magia? É MAGIA bebê. -------------- Nada na vida é por acaso. Cada encontro e cada fato faz parte de uma sincronia de eventos, eventos que não temos como entender racionalmente, mas que apreendemos por intuição. Ninguém entra em sua vida sem ter nenhuma afinidade com seu destino, voce não dá um passo sem a autorização de seu inconsciente. Melhor dizendo, sim, voce vai ao trabalho por ato racional e de vontade consciente, mas é seu inconsciente que a longo prazo, DIA A DIA, lhe guiará para o desastre ou o sucesso espiritual. Simples observar alguém bem sucedido que se dirige inconscientemente à falência. Simples ver uma pessoa apaixonada plantar a desarmonia dia a dia. O CELTA feroz, o iletrado guerreiro se manifesta sempre. E seus desejos nem sempre são os seus. ---------------------- Espero ter sido entendido.

AGRADECENDO À DEUS E À FAMÍLIA. PORQUE TANTO ATLETA É TÃO CONSERVADOR?

Eu odiava meu pai. Odiava mesmo, de forma assumida. Odiava também igrejas, todas. E famílias comuns. Eu tinha ódio por burgueses felizes. Por artistas felizes e bem sucedidos. Portanto eu sou prova viva daquilo que um certo tipo de educação faz: A destruição de qualquer chance de ser feliz. --------------- Porque para mim, aos 12 anos, ser jovem era ser contra tudo. E aos 18, ser jovem era ser briguento. Me via como um tipo de artista maldito. Era esse meu modelo. Viver era sofrer e a culpa da minha dor era do mundo de meu pai, aquele que ele me legou. Tudo de errado era obra de gente como ele. ------------------ Depois tudo isso se suavizou, tornou-se mais complexo, mas o mal já estava feito em mim. Eu fora educado para me ver como UM SER ÚNICO, ESPECIAL, INVULGAR. O povo me dava nojo. Eu era um aristocrata do espírito. ---------------- Cresci no meio de pessoas que eram mais ou menos como eu. Alguns até amavam seus pais, mas sempre havia essa super valorização do EGO, essa coisa narcisista de se achar especial, esse umbigo onipresente. NINGUÉM MANDA EM MIM. NÃO OBEDEÇO NADA. MEU MUNDO EU FAÇO. Esses os slogans centrais. -------------- Mas, por acasos da vida, fui obrigado a sair desse mundo, mundo aliás que eu achava ser o único possível. E aos poucos fui notando que fora do meu grupo social não havia a tal crise de sentido do século XX. Que o universo de meus ídolos, gente como Bergman ou Proust, só era válido para quem fora educado como eu fora, se achando especial e tendo tempo livre para sentir um tédio sem fim. Gente, que como eu, crescera odiando sua raiz, porque toda raiz é antiga-velha e podre. -------------- Todo atleta parece conservador porque fora da BOLHA, Deus permanece vivo. Fora do Leblon e da Augusta, a família comum ainda conta. Saindo do mundo das aulas de sociologia, ainda se chama pai de senhor. No universo, imenso, que vive fora das séries chiques da Net, ainda se crê no bem e na virtude. --------------- Meu mundo, aquele onde fui educado, o dos filmes de arte, discos de rock e livros niilistas, nele o que mandava e manda, é o vazio existencial ou a loucura anarquista. Esse mundinho existe e é real, meu erro foi crer que era o único que havia. -------------- Antes ainda podíamos ver nos filmes do tipo John Ford, ou em certas novelas da Globo, esse mundão mais vasto. No cinema popular e nas novelas se dava algum espaço para a vida fora da bolhinha elitista das aulas de filosofia e arte. Mas a partir dos anos 90, tanto cinema como TV, foram ignorando e depois matando esse mundo "mundão". Era como se em todo o planeta, toda a Terra, todos fossem niilistas, existencialistas ou rebeldinhos sem documento. Demorou para eu notar que esse mundo, que chamo de "chique inteligente sem razão", é predominante apenas para eles mesmos. É feito pela turminha para consumo da turminha. Quem é de fora até assiste às vezes, mas a turminha ficaria chocada se soubesse o que o MUNDÃO pensa desse povinho chique. -------------- Atletas choram pensando nos pais e citam Deus porque a maioria do povo é assim. Protegem seus pais e se orgulham de sua família. Amam Jesus Cristo e oram para Deus-Pai. Querem filhos. Querem dinheiro. Querem saúde. Mais nada e isso é mais que tudo. Vivem a anos luz da turminha da bolha. E garanto, estão muito mais próximos de viver uma vida plena. Porque vivem em relativa paz com seus instintos, com seus sentimentos e principalmente com seu passado. Não romperam a linha da vida com os dentes do ódio. Nunca acreditaram que para ser livre é preciso negar seu pai. Não foram educados para a tristeza.

SINCRONICIDADE - JUNG

Não é um dos melhores textos de Jung. E antes que voce reclame, já aviso que gosto muito desse psicólogo suiço. Jung não teve tempo para desenvolver melhor esse conceito novo, a sincronicidade, e do jeito que está aqui, parece bastante precário. ------------- Do livro todo, a melhor intuição é a de perceber, muito antes que qualquer outro colega, que a matemática, a física e a estatística seriam as melhores ferramentas para a psicologia do futuro. Jung estava por dentro, e se sentia fascinado com as então recentes descobertas da física sub atômica. Wolfgang Pauli o ajudou neste volume, lhe deu dicas e informações sobre a física mais moderna. Jung percebeu que após a queda da física mecânica-newtoniana, o império da causa e efeito como lei única e imutável ruía. Assim como ocorria no espaço cósmico e no mundo infimamente pequeno, nossa mente teria processos misteriosos, que escapariam da lei observável. Ele passa usar dados estatísticos e observações in loco para tentar provar a sincronicidade. Sincronicidade sendo um tipo de fenômeno mental sem motivo, sem causa, sem porque. Se Jung tivesse vivido mais, ele entenderia, teria percebido que o campo do acausal não suporta coisas como prova, teste ou previsão. Para obter uma prova sicrônica ele usou o método clássico científico. Não poderia jamais dar certo. ------------- Grosso modo, Jung intui que nossos pensamentos, nossas percepções não racionais independem de tempo e espaço. Nisso ele acerta na mosca! Fato mais que aceito hoje, nossa vida emocional, espiritual, intuitiva não se insere dentro do mundo de tempo e espaço. Independe de local, distância ou data. Isso porque, e aqui Jung acerta outra vez, nosso inconscinete coletivo é anterior a criação da vida como tempo e local definido. Nosso espírito, chamemos esse campo assim, está além e antes do tempo, além e abaixo do aqui e agora. Bergson criou toda uma filosofia sobre isso. A física hoje aceita essa ideia sem qualquer problema. ---------------- Jung se arrisca mais ao tentar entender onde vive nosso espírito. Se o cérebro é substância dentro do tempo e do espaço, como pode ele criar algo que independe de tempo e espaço? Vários casos de experiêcias de coma, de trauma mortal, de parada cardíaca são relatados. Pessoas que viram seu corpo como algo independente de si mesmo. Casos que se repetem toda semana, todo dia, toda hora mundo afora. Jung parte daí para criar a sincronicidade. --------------------- Um dia eu estava andando na rua e pensei, não sei porque, numa amiga que não via fazia cinco anos. Assim que ergo os olhos vejo-a diante de mim, parada no semáforo. Isso é sincronicidade. Jung diz não haver para isso nenhuma explicação racional. Isso mesmo, ele não teme dizer que nossa razão jamais entenderá esse tipo de fenômeno. Na mente existe todo um universo incompreensível, milagroso. A sincronicidade é um deles. ------------- Ao pensar minha amiga eu adentrei, sem saber e sem querer, o mundo sem tempo e sem local da minha mente. Um lugar mental que não é um lugar, é um todo, um momento que não existe como momento, é um eterno agora. Nesse universo voce acessa, sem pensar nisso, símbolos, sonhos, visões, lembranças, futuros que são sempre presentes. -------------------- Bonito? Jung insiste que na verdade tememos muito esse mundo. ------------- Mas afinal, onde fica nossa mente espiritual? Jung diz que na sincronicidade, nosso espírito fica paralelo ao nosso corpo e não dentro de nós. Haveria um paralelismo sincrônico entre nosso cérebro, animal, sólido, funcional, e nosso espírito, intuitivo, inconsciente, sem tempo e lugar, sem ego. Ele evita levar isso ao campo da religião, nada de conversa sobre se esse espírito viveria sem um corpo etc etc. Mas ele não teme o risco. Essa tese é corajosa. ----------------- Não, não é um bom livro. As teses são interessantes, mas como disse, ele não teve tempo para o desenvolver. É um rascunho. A tão famosa sincronicidade de Jung é apenas uma ideia que não pode ser pensada à fundo. Pena.