PLATO E VICO

Uns dias depois do livro de Frenkel, releio um pouco de Vico e já nem sei se Frenkel não estaria errado. Ele é completa e assumidamente platônico. Para ele a Matemática existe independente do homem. Um mundo ideal, perfeito, um continente que cabe ao homem descobrir e procurar traduzir. Mas Vico me recorda que não é nisso que acredito.
Vico conta que o homem pode conhecer completamente apenas aquilo que ele produz. Um homem saberá tudo sobre um trem, mas não sobre o que seja a energia que move o Cosmos. Saberá tudo sobre um coração mecânico, mas não poderá jamais criar um coração de carne a partir do nada. Do que não fizemos saberemos apenas uma ínfima parte, e a cada parte compreendida, milhões de novas duvidas virão. Isso é Vico, dizendo que o homem poderá compreender todo o mecanismo da historia, da sociologia, mas nunca tudo sobre a física ou a biologia, pois se nós construímos a historia e a sociedade, não fomos nós os criadores da vida ou da mecânica do universo.
Creio nisso. E para mim a matemática é uma criação humana, abstrata, e suas leis existem dentro do mundo do homem, em sua razão, e morrerão se um dia o homem sumir.
Como sempre disse, o Um existe apenas como invenção racional, e o Zero é uma soberba convenção humana. Fora de nosso cérebro inexiste o Um e o Zero.
Vico sabia disso.

FISH RISING...STEVE HILLAGE. A CARA DO LSD.

A capa surge em meu caminho. STEVE HILLAGE? Esse guitarrista tocou no GONG! E com um monte de gente. Faz parte da cena de Canterbury.
Canterbury... Sul da. Inglaterra. Centro da igreja. Foco de romaria na idade média. Nos anos. 60 viu o nascimento do rock mais LSD da ilha.
Steve Hillage...e é um LP nacional. Não sabia que lançaram coisas assim por aqui em 1975. Esse tipo de som vendia pouco. Era muito bagunçado para os Progs,  muito leve para os Heavy, e nada Pop para os demais.
Olho a capa. Parece coisa de cigano. Feia. Desenho de peixes. Varas de pesca. Rio. Letras mal escritas. Viro o disco e vejo a capa de trás. Fotos. Steve no mato, pescando e tocando. Roupas largas, touca de lã. Barba e o olhar. Cara de ácido. Sabe como é? O sorriso LSD. Membros da banda. Parece gente voltando de rave em Ibiza em 1992. Vou com a cara de todos. Um está com seu cão.
O som.
Os títulos dizem tudo: Song of the Salmon. I love the Holy. Song Sacred.
Steve sola o disco todo. Sem parar. O resto da banda cria ritmos. A sensação, primeira, é de aversão, mas após dez minutos você começa a viajar. O vocal lembra Perry Farrell. O som é  meio Soft Machine, meio Janes Addiction, com doses de Gong. Gosto.
A gravadora é Virgin. Virgin? Poda! Richard Branson! Foi aqui que o hippie Branson começou sua saga! A gravadora mais hippie de Londres! E que em 1977 iria ser a única a ousar gravar os PISTOLS!
E hoje Branson é o cara que 99% dos caras queria ser.
O povo da cena de Canterbury acreditava em magia. Bruxas. A história da Virgin provou que eles estavam certos.

AMOR E MATEMÁTICA, O CORAÇÃO DA REALIDADE ESCONDIDA- EDWARD FRENKEL

Primeiro peço que não se confunda física com matemática. A física lida com aquilo que pode ser mensurado no mundo real, a matemática procura descobrir aquilo que sempre existiu, independente do homem, no mundo das idéias perfeitas. Platonismo? Sim, Frenkel defende o platonismo puro da matemática. É a única coisa conhecida no mundo que nada tem de física ou de mental. A matemática não está numa caverna para ser encontrada, não mora no mundo microscópio, não é acessada por telescópio, portanto ela não é solida. Ao mesmo tempo, a matemática não é criada por alguma mente genial. Pitágoras nunca inventou nada, ele descobriu algo que já estava lá desde antes do homem. O mesmo se dá com toda a matemática, nada nela foi criada, inventada, ela existe independente de nossa existência. É atemporal. Nosso cérebro jamais poderia a ter criado, ela vai além de nosso entendimento. Tudo o que fazemos é tentar conhecer seu universo.
Desse modo, todo conhecimento matemático não tem e não pode ter dono, ele é parte de todos, é uma linguagem sem tempo e sem fronteira, mas, ao contrário das línguas gramaticais, a lingua dos números não foi inventada, ela é desvendada.
O que se percebe é que o universo é todo feito de matemática, e este livro tenta nos fazer perceber alguma coisa do que seja essa matemática.
Esqueça a velha matéria da escola. Frenkel diz que o que nos ensinam são rabiscos sem sentido. O que o livro dá é aquilo que surgiu nos últimos 50 anos. Feixes, cordas, planos, campos morfológicos, correspondências. Claro que entendi pouca coisa, sou um homem da linha e do ponto, da palavra, a abstração, um número que simboliza dez dimensões...isso me é quase inalcançável. Mas percebi a nobre humildade desse conhecimento, a quase assustadora imensidão de seu questionamento. A matemática procura as perguntas certas e vai atrás do mundo das idéias puras, dos segredos menos humanos, os segredos matemáticos.

HOBBIT/REX HARRISON/ AL PACINO/ RAY/ SODERBERGH/ DORIS DAY

JUMBO de Charles Walters com Doris Day, Jimmy Durante, Martha Raye.
A vida no circo, onde Doris é a filha do dono, que por sua vez gasta tudo em jogo. O filme é simples, alegre, e entretém. O trio central brilha com sua simpatia. Nota 6.
O ENXAME de Irwin Allen com Michael Caine, Henry Fonda, Richard Widmark.
Abelhas africanas botam pra quebrar no Texas. Caine é um cientista. O filme tem uma direção inábil. Tão trash que fica até funny.
O ÚLTIMO ATO de Barry Levinson com Al Pacino
Birdman? Ator em crise tem ataque no palco. Fica preso do lado de fora, vai morar isolado, se envolve com gente doida... O filme é o mais árido da boa carreira de Levinson, e Pacino está interessado. Confuso, não é um bom filme, mas é interessante. Nota 4.
ADEUS À LINGUAGEM de Godard
Incompreensível. Cenas de um casal, muita nudez, frases inteligentes, imagens trêmulas, confusão. Godard aina é difícil, rebelde, ácido. Atira contra tudo e parece concluir que a linguagem se desfez, não faz mais sentido.
O HOBBIT, TODOS OS TRÊS. de Peter Jackson com Martin Freeman, Ian McKellen
Jackson tem coragem! Após os anéis ele arrisca os dedos. Volta à Tolkien e usa um livro muito mais pobre do autor. E o estica em quase nove horas de cinema. A parte um é boa, a segunda é ruim e a terceira é a melhor. Um erro está no elenco. Freeman é um hobbit ótimo, mas o líder dos anões é fraco. De todo modo, há uma beleza estética que não cansa. O maravilhamento dos anéis se perdeu, mas é boa diversão. Nota 6, 3 e 6.
FULL FRONTAL de Soderbergh com Julia Roberts, David Duchovny,Catherine Keener
Soderbergh e seu medíocre lado artístico. Ele brilha quando pop, mas, inseguro, acha que precisa provar ser arteiro, e faz suas besteiras metidas à Cassavetes ou Godard. Aqui é um filme dentro de um filme. Só what?
THE CHESS PLAYERS de Satyajit Ray
No século dezenove enquanto a Inglaterra se apossa da Índia, dois nobres se distraem jogando xadrez. O filme é chato e é forte. Ficamos entediados, mas depois que ele acaba não nos larga. Lembramos dele com admiração. Isso é arte. Nota 7.
ASFALTO de Joe May
Filme mudo alemão de um dos mais poderosos nomes da época. Um tenente de policia é seduzido por uma mulher fatal. O filme tem um belo clima sensual. Pode ser um bom começo para aqueles que desejam adentrar o mundo do cinema dos anos vinte. Nota 6.
ANNA E O REI DO SIÃO de John Cromwell com Irene Dunne e Rex Harrison.
Primeira versão da historia da professora que vai à Tailândia ensinar rei a ser moderno. Lindo, dramático, serio e muito bem interpretado. Rex consegue ser duro, frio, e frágil ao mesmo tempo. Envelheceu nada esta produção Fox. Nota 8.

Jane Eyre - Charlotte Bronte.

Charlotte, irmã mais velha da grande Emilly, criadora do monumento literário que é o Morro dos Ventos Uivantes, cria aqui um livro que mistura horror gótico e amor frustrado em doses iguais. Charlotte Bronte escreve melhor as cenas de medo, de mistério e de escuridão. Já quando nos mostra o modo como o amor se afirma ela é menos eficiente. Jane passa fome, trabalha, luta, foge e quase morre. As pericias são muitas, o livro é rico. Vitoriano em todo seu caráter, ele joga com valores morais, com dinheiro, familia e sociedade. E, claro, tem o lar como céu desejado por todos. No romance vitoriano a casa ocupa o centro. Veja que até o seculo dezoito a casa mal se descreve, é um nada sem muito valor. A trama ocorre em sociedade ou na natureza. No seculo dezenove, temos a casa como personagem central, ou sua ausência como dor maior. Jane Eyre tem toda sua dor e toda sua motivação nessa instituição, o paraíso da casa, o reino da privacidade.

Herança Vitoriana

Uma poltrona junto à janela. A lareira. Abajures. Mesa com um Porto. Aparelho de chá. Um cão fiel. Flores. Cartas. O ursinho Teddy Bear. Beatrix Potter. Peter Pan. Charutos e brandy. Holmes e Drácula. Bigode. Chess. Manta e cachecol. Atkinsons. Tecido xadrez. Trens. Planos e táticas. Diplomacia. Espiritismo. Pragmatismo e fotografia. China. Fabergé. Cavalos. 

Linguagem. Adestrados e Engasgados.

A coisa tem nome: adestramento. Somos adestrados com uma linguagem, violentamente somos treinados a falar, mais e acima de tudo, passamos a aceitar a ideia de que o real só é possível se for um discurso. Adquirimos,  compulsivamente a lingua e o pensamento vira discurso e o sentimento vira palavra e a intuição vira verbo. Fora da lingua nada mais existe. Se não fala é bicho, é morto, é pedra. Fora da palavra o vazio. E nessa linguagem vem a linha, a vida se torna compreensível apenas na linha, na forma da linha discursiva, começo, meio, fim. Linha. Mas hoje se começa a se perceber que não. Embora ainda seja cedo para ver, começamos a suspeitar que a lingua é apenas um modo, arbitrário de se poder conviver, pensar, fazer parte, mas que o universo fora da lingua Existe e é um outro. Fora da linha infinitas possibilidades. Converso com dois físicos e eles me dizem que a Física não aceita há muito o positivismo, ou seja, o conceito LINEAR de progresso, de tempo ou de certeza. O Universo é incerto e em nossa Pobre lingua. Inexiste uma forma linguística. Que Dele dê conta. Somos coisas que são porque falam e que pensam Como falam. Mas a coisa desanda. A lingua é uma ideologia que nos faz Ser aquilo para que a palavra é.  Com a lingua eu posso falar Contra a própria lingua, mas continuo dentro dela e seguindo suas leis. Não seria a historia da modernidade uma luta contra a lei da lingua? Mas o modernismo perdeu, não havia como sair da linha sem se tornar incomunicável. Não conseguimos pensar duas coisas ao mesmo tempo porque a lingua não o permite. E nunca abarcaremos o infinito porque a lingua é impotente. Do nome vem um adjetivo e tudo se faz no verbo. É assim que podemos pensar, falar e ver: De um começo um fim e de uma ação a devida consequência. É pouco. O universo é mais que nossa. Pobre

Peter Gay, Os Vitorianos.

O século dezenove começa com a derrota de Napoleão, 1815, e termina em 1914, com a guerra mundial. Peter Gay fala direto, é preciso fazer justiça, o século da burguesia, o século vitoriano foi um século feliz. Peter desmistifica a imagem comum do que seria esse tal de vitoriano. Primeiro deixemos claro, um meio que nos deu Darwin, Pasteur, Burckhardt e Baudelaire não e de todo mal. No centro da burguesia nasceu o voto feminino, o fim da escravidão e o conceito de vida privada. O autor é brilhante no modo como demonstra que até. O século XVIII dormia-se em publico, fazia-se amor detrás de cortinas. A ideia de privacidade era inimaginável. Nem desejável. Toda a vida era vivida em grupo, à vista de todos. O vitoriano, inimigo em tudo do aristocrata, abomina e teme a falta de privacidade. Ele precisa de segredo, de um lugar só seu. E mais que tudo, ele precisa da família. O vitoriano é o homem com uma pasta e um guarda-chuva, ele precisa de uma casa com recantos só seus, mas ele é também o homem que abre estradas na África, compra quadros de Cézanne e escreve artigos contra a guerra. Peter Gay mostra cartas que revelam vida sexual por detrás dos roseirais, sensualidade após o jantar e curiosidade em mulheres que não eram assim tão frígidas. Peter Gay, biógrafo famoso de Freud, diz que assim como Freud pensou que o particular fosse o geral, e cometeu o mal entendido de crer que o extraordinário fosse uma regra, os anti-burgueses, Flaubert, Zola, popularizaram a ideia de que todo burguês era um chato. Transformaram seus conhecidos em fato do mundo. Gay fala ainda dos diários, uma mania tipica da época, do surgimento do conceito de adolescência, dos colecionadores e das feministas. A leitura é deliciosa. Ao final, ele compara os séculos, e favorece o dezenove, tempo de otimismo. O seculo vinte passa como o mais cruel dos tempos e o menos vitoriano dos mundos. Deles, desse mundo ponderado, controlado e amigo do diálogo, mantivermos apenas a privacidade, que agora é solidão. Familia, cavalheirismo de camaradagem entre iguais é conceito morto. Eis o porque desse fascínio que a época exerce, ela é o ultimo tempo seguro, ela promete coisas como calma, lar e familia. Apesar de ser esse o tempo da ansiedade, foi nos anos pós Napoleão que se começa a falar de tédio e de nervosismo, ao contrario do século vinte, os vitorianos acreditavam no futuro. Eram humanistas. Amavam a inteligência. Hoje amamos o quê?

Ao Vivo No Village Vanguard- Max Gordon

Max Gordon veio ainda criança da URSS. Família pobre, trabalhou quando teen em pequenos empregos. Nos anos trinta abriu o Vanguard. A principio casa de poesia. Poetas, tipos esquisitos iam lá para declamar e principalmente para provocar…. Causa uma certa tristeza. Saber que esse tipo de casa não mais existe. Um lugar barato, onde gente idealista se sinta em liberdade. Max começou a causar frisson com Leadbelly o grande cantor de blues folk. Acompanhado por Josh White, o Vanguard vira referência. Quando em 1939, a muito jovem Judy Holliday se apresenta com seu grupo de sketches, o su sucesso se torna nacional.  No grupo,além de Judy, que em 1950 ganharia um Oscar, estavam Betty Comden e Adolph Green, no futuro roteiristas de Cantando na Chuva… Humoristas como Lenny Bruce e Woody Allen começaram por lá. O pessoal do folk, Pete Seeger, Burl Ives, Woody Guthrie. E, claro, o jazz. E é fantástico ler o texto de alguém que viu, conviveu com os caras. Miles Davis, orgulhoso, chic, frio, com sua voz gélida. O violento Charles Mingus, que socava músicos ruins, andava armado e não se sentia valorizado. Sonny Rollins, o cara que tocava sozinho em cavernas da Índia. E uma conversa incrível com Nica, a nobre inglesa que ajudava Thelonious Monk. De mais divertido há a hilária historia de Timothy Leary e a noite psicodélica. Um livro da Cosac, obrigatório para amantes de jazz e de u a boemia que morreu, segundo Max, com a TV, que passou a capturar o talento antes de seu aperfeiçoamento nas boates… melhor,Max escreve muito!

CORONEL JACK- DANIEL DEFOE

   Daniel Defoe escrevia para garçons. E para mulheres entediadas. E é essa sua maior importância. Antes de Defoe, livros eram escritos para eruditos. A literatura era específica. Homens, professores, religiosos, filósofos. Livros eram para gente do meio, gente de poder. E portanto, os textos eram como coisas fechadas. Com Defoe, que antes de romancista foi jornalista, livros passam a ser produtos. E como produtos devem ser vendáveis. O apelo precisa ser geral. O interessa variado. Daniel Defoe é portanto um escritor moderno.
   Este livro trata de um garoto que vive nas ruas de Londres. Ele rouba. Depois de várias peripécias ele vai aos EUA. Como escravo. E fica rico. Interessante o modo como Defoe vê a escravidâo. Brancos eram escravizados. Condenados ingleses eram enviados a colônia como forçados. E lá o personagem de Defoe descobre que negros têm alma! Essa parte pode chocar leitores de hoje. Mas é mérito do autor ser razoavelmente liberal. 
   O romance tem um esquema bem definido. Tudo começa nas ruas. Depois vem a fuga da lei ( e essa é a parte que mais gostei, uma viagem a pé até a Escócia ). A vida como colono na América. E só então, as mulheres. Casamentos que fracassam. Como em Robinson Crusoe, as mulheres pouca importância têm. Fala-se muito de dinheiro. O que importa é sobreviver. Comer. Ter onde dormir.
  Escrito no começo do século XVIII, época crucial em que o romance surge como manual do mundo burguês, Defoe exibe todas as qualidades e defeitos da sociedade que seria a dominante pelos próximos dois séculos.

A MAIS ODIADA DAS MATÉRIAS

   Inesperado este fato. Na faculdade de educação, que reúne gente de todas as áreas, é com o povo de exatas que me dou melhor. Deixarei de arriscar qualquer motivo porque pode ser mera coincidência. Mas é fato: eles riem mais!
   Faz dois anos que tenho me interessado cada vez mais pelas ciências exatas. Matemática. Há nela a beleza da abstração pura. E a criatividade da mais alta arte. Ela é vítima de preconceito. Pensam que ela nega a poesia, estraga o misticismo, deixa o mistério sem graça. Bobagem! Ela é poética, é irmã do mistério e em cada descoberta nasce um segredo cada vez mais obscuro. Seduz e mais que a filosofia ou a psicologia, torna a vida clara, nítida. 
   Darei uma rápida geral em Whitehead, um dos maiores gênios da lógica matemática para vocês entenderem o que me fascina.
   Inglês, trabalhou com Bertrand Russell e depois lecionou em Harvard. Viveu mais de 90 anos. Como Russell, ele parte da ideia de que tudo em matemática parte de premissas lógicas. Mas ele vai mais longe que Russell. Whitehead vai adiante.
    O Universo é uma experiência e como tal está em constante transformação. Duração, interpenetração, valor, organismo e objetos eternos, disso se compõe o Universo. Tudo isso propicia a eterna mudança, mas por baixo desse processo algo permanece sempre o mesmo. 
   Se uma montanha desmorona e desaparece ela jamais voltará a existir, pois nunca mais será a mesma montanha, e a matéria de que era constituída continua a formar outras realidades. 
   O Mundo portanto não é um conjunto de coisas, mas sim uma trama de acontecimentos sem um fim. Um corte transversal nesses acontecimentos é um momento único que nunca mais voltará a acontecer. Esse o acaso que acontece na arte, trabalho que a ciência faz, a captura de uma fatia da trama, congelamento de um momento da teia de eventos. Podemos, com sorte e sensibilidade, capturar uma fatia, mas jamais veremos o todo em sua mutabilidade. 
  Parece que não, mas isso é matemática, a tentativa de captar uma fração do todo, um momento da eternidade, o entendimento de um mínimo possível.
  Poesia? Não, pois aqui tudo é lógico. Mas há intuição, há sensibilidade e há ousadia.
  É bacana pacas!