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NÃO ME FAÇAM FALAR..

Não, não meus caros. Não me façam falar sobre o que postei abaixo. Pois é um momento sublime, porém morto, de um mundo que não existe mais. Schubert diante de uma paisagem, simples, banal, pobre, cria do nada um monumento ao que dura e insiste. Ou...durava. Não vou falar nada sobre isso que agora é também mais um nada. Que se junta aos vários nadas deste nadificado mundo. O que vejo nas ruas e na redes é a confirmação de que isto morreu. A voz calou-se para nunca mais. O que digo? A sensibilidade que criou a canção calou-se? Mas não sou eu um brasileiro de 2021 sentindo na alma aquilo que me foi dado como herança? Não há mais de um milhão de visualizações? Mas insisto, não me façam falar sobre isto.

LORCA WHITMAN FERNANDO PESSOA

Em 1988 eu li meu primeiro livro de poesia. Até então eu evitava a poesia por não saber como a ler. Voce não lê poemas como quem lê romances, e também não são letras de música que voce sai cantando por aí. Demorou pra que eu entendesse que poesia se lê lendo. Lendo e entrando dentro da coisa, mesmo que as palavras, de começo, não façam muito sentido. Isso porque cada grande poeta cria sua língua e escreve hieróglifos que deverão ser desvendados por cada um. Não é preciso entender poesia, é necessário pegar o fio da meada e caminhar dentro do labirinto. Lorca foi meu primeiro poeta e depois, logo em seguida vieram Whitman e Pessoa. Até hoje não sei se realmente gostei de Lorca ou se me obriguei a inclui-lo na minha vida. Na época ele me pareceu tudo que um poeta deveria ser, e em minha fase espanhola, eu estava in love por uma menina de lá, Lorca era trilha perfeita para o que eu sentia. Mas confesso, ele jamais me comoveu. Leio hoje mais uma vez, e que coisa!, Lorca nada me fala. Já Fernando Pessoa é uma personalidade interessante e sua poesia é tão interessante como ele. Mesmo em seus momentos ruins, são muitos, ele é um espírito sedutor. Reler Pessoa pode não ser sempre inspirador, mas nunca eu o sinto distante. Lorca me cheira hoje a espanholismos de ocasião. Por fim Whitman. Dos três foi sempre ele aquele que mais me impressionou e sendo o pai dos dois, continua a ser e será o mais terra, o mais vital dentre eles. O velho Walt sempre convence, sempre instiga, sempre é real. Lorca, adiós. ( É interessante observar como Lorca é cada vez menos lido. Há autores que se vão e retornam, outros surgem do passado de susrpresa. Penso que Lorca não voltará ).

BORIS PASTERNAK

Era 1958 e Boris Pasternak ganha o Nobel de literatura. No ocidente sua vitória foi saudada. Era um grande poeta desde os anos 40 e em 1954 lançara Doutor Jivago, romance sobre a revolução, best seller mundial. Mas, para Boris Pasternak, nada podia ter sido pior que o prêmio. ------------------------------------ DOUTOR JIVAGO fora contrabandeado para a Itália e editado em Milão. Logo seria lançado na França, na Inglaterra, na Suécia. Mas não na URSS. Alguns poucos o liam escondido, em francês. Com o Nobel veio o olhar da URSS sobre seu escritor e começou o massacre. O Pravda o chamou de "Porco vendido", os outros jornais variaram de traidor da pátria até idiota acéfalo. Esperava- se um Estocolmo que Pasternak viesse receber o prêmio e talvez pedir asilo. Não. Boris Pasternak recusou o prêmio e também o dinheiro. Publicamente pediu desculpas a Krushov e morreu na URSS como um pária. ----------------------------- Jean Paul Sartre, mal caráter até o fim, aplaudiu a pressão soviética e disse que o Nobel fora mera questão política. Neruda e Saramago seguiram também a ordem do partido. --------------------- Foi uma escolha política? Sempre é. O próprio Sartre ganharia alguns anos depois numa clara decisão política. Mas o que o francês não sabia é que Pasternak vinha sendo proposto desde 1946, muito antes de Jivago existir, quando ele ainda era apenas um poeta soviético conhecido por poucos. Nunca havia lido Boris. Adoro o filme de David Lean, e isso era tudo que eu conhecia dele. Pego uma pequena bio escrita por ele mesmo. Ele não fala de si mesmo, discorre sobre famosos que conheceu. Queria ser músico, estudou filosofia, virou poeta. Lembra-se de Tolstoi em sua casa, quando criança bem pequena. --------------------------- ESTAR VIVO, NADA ALÉM DISSO, VIVER É TUDO, ATÉ O FIM. ---------------------------- E A VIDA SERÁ OUTRA COISA, ALÉM DE UM INSTANTE SEM PESO, ALGO MAIS QUE FUNDIR-SE AOS OUTROS QUAL DOM DE SI MESMO?

AS PALAVRAS AO VENTO

Estou lendo um livro, raro, sobre os celtas. O autor tenta não ser mais um new age. Ele procura nos fazer conhecer a verdade sobre os druidas. Ainda no começo, pego uma frase que me toca. " OS CELTAS TINHAM UMA ESCRITA. MAS A USAVAM APENAS PARA MARCAR QUANTIDADES E VALORES DE COMÉRCIO. NÃO ESCREVIAM NADA SOBRE HISTÓRIA OU TEXTOS ARTÍSTICOS. ELES ACREDITAVAM QUE TODA NARRATIVA VINHA DOS DEUSES E QUE A ESCREVER SERIA UMA TRAIÇÃO". ---------------------------------------------------------------------- Ouça uma canção que voce ama. Qualquer uma. Eu vou escolher Walk on The Wild Side, do Lou Reed. Pode ser uma do Cazuza, Dylan ou Beatles. Caymmi ou Bowie. Ouça e depois leia a letra. 100% das vezes voce sentirá uma perda. Lida, impressa no papel, aquele Take a Walk in The Side parecerá sem feitiço. E o Hey Baby, que na canção é como um canivete, ao ser lido se torna apenas bobo. -------------------------------------------------- Celtas cantavam sagas e poemas. Sua história, aquela que as crianças aprendiam, era cantada. Não se esqueça: Homero era cantado. Nenhum grego a recitava sem que uma flauta e um tambor a acompanhassem. As peças, Ésquilo ou Eurípedes, eram todas cantadas. Nossa ópera é na verdade o que mais se aproxima do que seria o teatro grego. Mas, racionais, os gregos escreviam sua história e sua obra artística. Romanos idem. Mas os celtas, esse povo muito mais aberto à natureza e ao mundo dos mortos, não escrevia nada que tivesse valor. Intuitivamente eles já sabiam aquilo que todo poeta moderno sabe: A escrita mata o sentimento. ------------------------------------------------------- Por isso escrevemos quando estamos deprimidos ou desesperados. A escrita mata o veneno. Aplaca a dor. Seca o sentimento. No caso, um mal sentimento. Mas o grande pensamento, o grande ato heroico, a lembrança brilhante, tudo empalidece quando preso em letra e metro. ------------------------------- A luta de todo poeta sério: conseguir obter o milagre de eternizar o sentimento. Mas ao reler o escrito ele sente: Mais um fracasso cometido. Toda literatura é uma tentativa fracassada. Os grandes quase chegam lá. Mas esse quase é tão pouco. ---------------------------------- Então os celtas ensinavam sem escrever e criavam sem pensar em eternizar. A memória guardaria o sentimento. Ficaria aquilo que os deuses assim permitissem. Poderiam ter escrito: a saga de seus reis, as canções de seus poetas, as magias de seus druidas. Mas não. Para a escrita apenas o quase nada: Aqui Lywann obteve duas cabras. Esta cidade se chama Parii. MacDonnegal é filho de Donnegal de Limerick. Mais nada. --------------------------------------------------- Fato que sinto: escrevi um diário de 1980 até 2008. Depois não mais. A vida se tornou tão dura, a vida se fez tão real, que palavras não servem mais. É o que sinto. ------------------------------------- Mais depois.

PEIXE GRANDE, LIVRO DE DANIEL WALLACE ( PAI )

Nossa época está jogando no lixo um dos símbolos mais sublmes que a humanidade amou: O Pai. Por culpa de homens fracos e acomodados, ruiu a beleza desse ser que se dividia em dois papéis: O Provedor protetor e o Homem da Lei. Ele era o duro mestre do conceito de realidade e ao mesmo tempo o Maravilhoso Mago que promovia milagres. Lembro que meu pai era o cara que trouxe um dia uma tartaruga pra casa, e isso foi um milagre. Ele apareceu com um grande carro vermelho e nos levou pela cidade inteira à noite, nos conduzindo por luzes e sombras e vazios imensos. Isso era magia. Quando doente eu me curava ao escutar sua voz em casa e era mandado ao inferno quando ele brigava comigo e me dava um de seus olhares frios. Sim, eu odiei meu pai profundamente. Não houve no mundo alguém que eu tenha odiado tanto. Me senti morrer de tanto ódio. E no entanto, morto a já 12 anos, é dele o amor mais constante e vivo e claro e bonito que sinto. O amor entre pai e filho é sagrado. Diferente do amor de mãe que é só carinho e aconchego, é um amor feito de raiva e disputa, ciúmes e dor, ódio e bondade. A nobreza vive neste campo. Tim Burton leu este livro quando seu pai morrer e fez o filme para ele. Daniel Wallace o publicou em 1998 e não é um grande livro. Mas é bonito. E eu chorei lendo as últimas cinco páginas. E enquanto chorava tudo que conseguia pensar era Pai eu Te Odeio! Como te odeio, amor da minha vida, desgraça da minha vida, exemplo da minha vida, estúpido, teimoso, frio, amoroso, meu pai. O livro fala de um filho. Seu pai está à morte e ele recorda das incríveis histórias que seu pai lhe contava. Um pai distante, que viajava só, que voltava e ria de sua próprias piadas. Wallace usa o exagero e a fábula. As histórias são fantásticas. Wallace acerta o tom: é um filho de 40 falando com o sentimento de um filho de 7. E aos 7 anos, até os centavos que seu pai te dá para os doces são moedas mágicas. Elas vêm do mundo lá de fora, daquele mundo vasto e incrível onde seu pai vive. Ele tem a chave. Meu pai morreu brigado comigo. E a última coisa que ele me disse, horas antes de partir, foi : Filho, me dê um copo de água....Quem ler o livro entenderá porque chorei tanto.

ALMA LIBIDO E ANIMA

Ande comigo minha alma, anima, sombra que espreita minha vida. Se falo demais, então é voce calada, se penso demais, então é voce impulso. Espelho, imagem invertida, se sou viril é voce pura feminilidade. Fértil. Olhe para mim alma que me dá libido, libido que não é sexo apenas, é investimento, energia que injeto em algo que está em mim. Ou não. Mulher que vejo na rua agora, e onde projeto a minha alma. Invisto energia. Libido feito imagem fora de mim. Beijar minha alma em voce. Ouvir minha alma em voce. Unir. Se eu sou a pedra é voce água. Se eu sou mudança é fixa sua presença. Indomável alma, feminina alma, todo homem tem alma mulher, toda mulher tem alma homem, abraça-me. Imagem à janela que me encanta desde que vim ao mundo. Olhar lânguido que é um lago e uma fonte. Alma minha eu sou seu.

O LIVRO QUERIDO

   Eu gostava era da Bagdá Books. Foi meu primeiro sebo.  Fechou as portas em 2004. É meu favorito até hoje. Sou fiel. Ficava no Itaim, na Joaquim Floriano. Vitrine, fachada de tijolos. Longo corredor atulhado de livros. Logo na entrada, à esquerda, uma estante cheia de edições de Shakespeare. Enormes Cervantes ilustrados. Milton e Chaucer. Por ser um sebo antigo, muitas edições raras, edições que o dono mal dava valor. Foi lá, que em 1992, comprei uma edição de peças de teatro de William Butler Yeats. Capa dura, o livro estava bem judiado. Cinco peças com um mini biografia do autor, por Franck Kermode. Lembro de o ler sentado ao quintal, sol fraco, em duas tardes de maio.
  Abro esse livro hoje, quase 30 anos depois. E percebo que suas frases estão gravadas na minha alma. São filosofias, frases que me guiam, que repito em pensamentos todo dia, frases tão "minhas" que já não sabia serem elas "dele". Eu vejo que anotei todas as vezes que o li e reli: 1994, 1996, 2008. Não vou falar da biografia de Yeats pois contei sua vida em algum outro post aqui neste blog. Mas as peças...Yeats apresentou quatro delas no Abbey Theatre, a famosa casa de Dublin que ele e Synge ajudaram a fundar. Outras duas foram apresentadas no castelo de Lady Gregory para os amigos. O ideal de Yeats era aristocrático. Teatro que não tivesse por alvo o público e muito menos a crítica. Teatro feito para ele e seus amigos, peças para vinte pessoas. Yeats brigou pela independência da Irlanda, foi senador, copilava contos folclóricos do país, estudava a cultura celta, mas sempre foi um aristocrata do espírito. Simbolista, saudoso, e ao mesmo tempo modernista.
  As peças conseguem nos fazer entrar em outro mundo. Fantasmas surgem nelas como fossem uma visita comum. Almas dos mortos continuam a agir sobre a vida das pessoas. Aparições, sensações, maldições. É um mundo remoto, e ao mesmo tempo, ele parece estranhamente vivo. Seriam imagens de nosso inconsciente?
  A linguagem é simples. Toda poesia de Yeats é de sintaxe e vocabulário claro. Cinco personagens no máximo. Um cenário quase nu. Meia hora de duração. Sem nada de dramático, são peças quase silenciosas, equilibradas, plácidas. Não existem grandes frases, discursos, cenas violentas. O destino se cumpre. O certo acontece. O fim chega.
  A mais bela fala da morte de um herói. Que não acontece. Há outra sobre uma fada má que tenta uma jovem esposa. Marujos amaldiçoados no mar. Um espírito que baixa numa vidente. É um mundo além. Fora daqui, Fora daí, onde voce está. E ao mesmo tempo conhecido. Com poucos meios e poucas palavras, Yeats cria algo muito raro. Uma presença.

INFÂNCIA E WORDSWORTH

   Wordsworth teve uma longa vida. 1770 até 1850. Oitenta anos que no século XIX equivaleriam a viver uns 100 hoje. Sua melhor poesia foi feita entre 1790-1820, ou seja, enquanto sua memória ainda estava fresca. Wordsworth não escreve nada sobre sua infância como biografia, mas ele só é poeta quando revive o sentimento de ser uma criança. Mas não pense que ele compactua da moda de então, aquela de que toda criança é inocente. Não. O que o poeta inglês tenta preservar é a sensação de estar vivo DENTRO da vida e não FORA do elan vital. Para Wordsworth a vida só é plena enquanto somos crianças. O hábito mata esse dom. O tempo nos obriga a viver numa eterna repetição,  e essas repetições destroem a memória. Nascemos vindos da divindade. Quanto mais jovens mais podemos sentir essa nossa origem.
  Fazer poesia, para ele, é rememorar. A emoção e o casamento entre criança e natureza, na idade adulta, estão perdidos. Mas calmamente voce pode relembrar e assim reviver, mesmo que a distância e de um modo frio, o que foi aquele encanto natural.
  Wordsworth faz assim dois movimentos na época revolucionários. Primeiro tira o poeta do pedestal do classicismo. Todo ser humano pode ter essa experiência. Pois toda infância vive dentro desse encanto. Segundo fato: Fazer poesia é memória e não arte de pura técnica. Essa é outra pedrada nos clássicos.
  É aceito hoje que todo artista verdadeiro tem acesso à um tipo de espírito da infância. O homem tende a perder esse espírito com a idade. Segundo Wordsworth o que o degrada é a pura e simples repetição. Somos presos numa rotina diária que embota nossa emoção. Horários, estudo, ruídos da cidade, distrações, tudo nos faz ESQUECER. Para ele, a infância é sagrada simplesmente por estar próxima ao outro mundo, o universo de onde viemos. Esse porque é para mim o único ponto discutível do que Wordsworth diz. Para mim o simples fato de sermos jovens cria o encanto. Vemos tudo pela primeira vez, sentimos pela primeira vez. Para esse encanto não é necessária nenhuma memória de outro mundo. Mas, de todo modo, Wordsworth cria uma bela imagem poética. E quem poderá negar essa verdade?
  Desse modo, em nossa vida de adulto, e agora quem fala sou eu e não o poeta inglês, só tem valor poético TUDO AQUILO QUE É ALGUMA RECORDAÇÃO DA INFÂNCIA. Não posso cometer o erro de dizer que minha experiência é a experiência de todos. Mas só consigo habitar o meu mundo de contentamento, paz e sensação de absoluto, quando mergulhado em algum tipo de rememoramento da infância. Ás vezes provo a felicidade total simplesmente por sentir em minha carne uma espécie de calor ou sono COMO DO DA MINHA MAIS REMOTA INFÂNCIA. É como se minha pele ou minha barriga voltasse a sentir o calor de uma tarde de 1970 ou o cheiro de uma fruta sentida em 1968. A sensação é de uma porta que se abre dentro de mim, e então olho dentro daquele mundo outra vez. O que vejo lá dentro não é alegria ou dor, felicidade ou melancolia, é A SIMPLICIDADE ABSOLUTA DE SE ESTAR VIVO. Eu não penso em nada de especial. Nenhum fato dramático é lembrado. O que sucede é somente uma sensação sem história. Um estar aqui. Viver.
  A frase mais famosa de Wordsworth é a que diz O MENINO É PAI DO HOMEM. Isso porque todos nós tivemos um menino antes de ter um homem. Nascemos de um menino, fomos esse menino, ele veio antes e nos abriu as portas. Para não perder todo o encanto da vida, é necessário que esse menino-pai permaneça a nosso lado, mão com mão, sempre.
  Isso me recorda muito as sessões de terapia que tive durante 1986-1989. Quem já fez sabe que 80% das sessões não são proveitosas. Mal nos lembramos delas. Mas que existem tardes em que uma porta se abre. Li mais de uma vez que a linguagem de nosso inconsciente é sempre poética. Nossa mente mais profunda fala e enxerga por poesia. Pois eu diria que ao tocar nosso inconsciente nos tornamos uma criança novamente. Nos tornamos básicos. Puro sentimento. Pura sensação. É aí que mora o pior medo. E a mais bela recordação.
  Wordsworth intuiu isso. Ler esse poeta é sempre uma terapia.

ANO NOVO - DESLUMBRAMENTO

   Uma coisa é ter vivido 15 anos novos, réveillon. Outra é ter passado por mais de 50. Se voce não usa sua criatividade, tudo ficam entediante. Deus criou o tédio para que pudesse haver criação. Então eu penso ( pensar é criar ).
   Não há graça na vida sem a capacidade de se deslumbrar, e lembro que aos 12 anos eu me deslumbrava com o fato de um ano terminar e começar outro. Não era apenas uma piada boba, eu realmente sentia a magia de se acordar num ano e ir dormir em outro. Eu vivenciava na alma a distância, imensa, entre ter acordado em 1977 e ir dormir em 78. Era deslumbrante. Como era deslumbrante ver aqueles caras correndo por  São Paulo enquanto o ano morria. Pois ele morria, e eu sentia até mesmo pena do ano que se ia. Dentro do deslumbramento, um novo ano era um vazio onde tudo podia acontecer.
  É cliché artistas dizerem que fazer arte é manter viva a chama da infância. Poder ainda se deslumbrar com coisas cotidianas. Acho que Renoir foi o primeiro a dizer isso. Não sei. Mas penso agora o seguinte: Esse deslumbramento artístico é a capacidade de se deslumbrar com a simples mudança no calendário. Não vale o deslumbramento forçado e caro de ir ver o Taj Mahal ou o mar de coral. Mas, eu agora te pergunto, no mundo hiper exposto de 2020, ainda alguém se deslumbra com o Taj Mahal? Chegaremos à um tempo em que ir à Lua não causará mais espanto, muito menos deslumbramento. Já vivemos uma época em que a visão do primeiro corpo nú, ou a primeira noite fora de casa, não causa deslumbramento algum. Existe um tédio antes mesmo da primeira experiência. Culpa do quê? Talvez por sermos cobrados a não ser ingênuos. Talvez por termos de planejar a vida desde cedo. Eu não sei.
  Tenho sorte. Ainda me deslumbro com a Serra. Com um Sabiá levando minhoca no bico. Com o céu quando se tinge de roxo. A chuva violenta de verão. Penso que coisas humanas me deslumbram cada vez menos. Mas a natureza...ela é o deslumbramento absoluto.
  Portanto espero que 2020 seja deslumbrante. Que seu queixo caia e que as coisas façam voce parar e admirar. Olhar. Olhar sem pensar.

MINHA VELHA VELHA ESCOLA

   É um final de tarde de primavera. O sol generoso parece fazer sorrir o chão e as fachadas dos edifícios anos 50 das ruas. Passo pelos portões e estou de volta após 40 anos distante.
  Não há emoção nos primeiros passos, mas após alguns segundos olho para o lado esquerdo e vejo uma alameda. Os pequenos prédios de tijolos marrons, as árvores com suas sombras calmas, as escadas que levam às portas de madeira escura, as janelas altas...meu coração se alarma. Sim, eu estou de volta ao lugar onde fui completamente infeliz. E o que sinto é apenas alegria.
  Lágrimas brotam nos meus olhos. Eu poderia me ajoelhar e chorar. Eu sorrio então. Minha alma sente-se em casa. Como posso sentir coisas boas se estou aqui?
  Lá está a construção onde eu estudava. Seu aspecto limpo e funcional. Uma fachada que sorri, aberta, clara, permitindo luz. Aqui a praça cercada, bancos, e depois os caminhos onde eu me escondia. E então a biblioteca. Alta, o aspecto de igreja sem Deus. Elegante e vitoriana. Escura, sombria, úmida, linda. Eu a beijaria se estivesse só. Nela tenho lugar. Ninho. Completamente em casa.
  Se lá fui tão infeliz, e sei que fui, e agora me sinto em casa, então a conclusão me vem: É porque a tristeza que eu sentia então, hoje me parece acolhedora. Naquela escola nasceu a pessoa que sou, e esse parto foi dolorido, sofrido, solitário, quase um trauma. Muito tempo se passou e agora, hoje, a alegria vem não só da vitória de ter sobrevivido e retornado, mas principalmente por conseguir reconhecer nos tijolos marrons e nas árvores escuras, um berço. Sim, aquele local maldito é minha pátria mãe.
  Tenho de sair de lá. Me conduzem para fora. Olho os muros que não mudaram. Os porões onde existiam os laboratórios. Me lembro da minha incapacidade para aprender. E do quanto era duro fazer um amigo. A timidez que me sufocava, o medo das meninas bonitas, a sensação de que eu sobrava. Mas houve um outro lado. O nascimento do que eu sou. A luta para ser. A vontade de sobreviver.
  Pego o metrô e volto para casa.
  Em todos esses anos sonhei muito com essa escola. Eu sonhava sempre estar nela e não conseguir voltar para casa. Estar fora dela, na rua, mas sem conseguir sair de onde me encontrava. Pois hoje entrei e saí. Estive e retornei. E sinto que mergulhei em mel.

CREPÚSCULO - STEFAN GEORGE.

   Foi difícil achar este livro de Stefan George. Foi editado em 2012, mas logo sumiu das prateleiras. Não por ser um sucesso, quem lê no Brasil um poeta alemão simbolista?, mas por sua edição de poucos exemplares. Bem, o acho num canto da livraria Cultura em 2018.
  George é o simbolista mais conhecido e destacado em língua alemã. Ele e Rilke, claro. George nasceu no fim do século XIX e viveu até 1933. Teve a vida que quis, mas ela foi triste. Nada trágica, apenas melancólica. Seus pais nunca desaprovaram sua escolha e ele viveu de rendas. Viajou, escreveu, amou, escreveu. Teve um caso com uma mulher, mas sua vida era a de musos, dos quais o mais marcante foi um menino de 14 anos. Não é uma poesia que fala de casos gays, então não podemos chamar sua obra de homossexual. É antes uma poesia assexuada, ou talvez, hiper sexuada. Às vezes sinto que a Lua e a Música são falos ou vaginas.
  É enganosamente simples ler George. Seu vocabulário é acessível e sua sintaxe fácil. Mas suas imagens são rígidas, frias, e a construção é engenhosa. Tem metro e tem rima. Inflexível. Rilke é quase latino, George é hiper alemão.
  Voce deve notar que meu texto está um tanto perdido. E contraditório. É complicado falar de Stefan George. Ele não se deixa amar. É liso como peixe.
  O livro traz fotos dele e seus amigos. George foi impressionante. O rosto é inesquecível. Feio além da feiura. Forte. Ancestral. As fotos falam do além. Parecem fotos tiradas em um mundo que nunca houve. As pessoas não se parecem com gente. Lembram arquétipos.
  Acho que George gostaria de ser arquétipo. A poesia simbolista não procura nada mais que isso.

VIDA SEXO E MORTE

   Estou lendo um livro de Amos Oz, e nele um dos personagens diz que o contrário-complementar de vida não é morte, mas sim sexo. Isso porque o oposto de uma coisa é aquilo que existe com ela, uma não pode existir sem a outra. Não há luz sem antes haver escuridão e a luz destrói a escuridão ao mesmo tempo. Onde há luz a escuridão não há, mas onde há escuridão, a luz também não existe. Simples isso. Mas vamos à vida e morte.
  A vida quando nasce, eis o pensamento comum, traz em si a morte, seu oposto. Onde haveria vida não haveria morte. Ou se está vivo, ou se está morto. O personagem diz que não é assim. Como?
 Por bilhões de anos a vida existiu sem que a morte existisse. Os primeiros organismo vivos, os unicelulares, não morriam. Eles se dividiam em reprodução assexuada. Cada um se tornava vários e esses vários eram os mesmos que os uns. E mesmo esse um original, misturado a seus descendentes, não morria. Pode haver um vírus original que ainda vive por aí. Não há como saber, pois ele é igual a seus descendentes. Isso prova que a morte não surge no universo junto com a vida. Ao contrário da luz, que só pode existir em oposição ao escuro, ou da alegria, que só pode ser percebida em meio a tristeza; a morte passa a existir muito depois da criação da vida.
   A morte começa a existir apenas nos organismos sexuados, sejam vegetais ou animais. É com a reprodução sexual que nasce o envelhecimento dos organismos e a inevitável morte. Portanto o oposto à vida é sexo e não morte.
  Por intuição, todo poeta sabe disso. Que ao entrar na vida sexual começamos a morrer. Mas o mais impressionante é a intuição da Bíblia, onde a morte nasce com a expulsão do Paraíso, que é consequência da consciência da diferença entre os sexos. Adão perde a imortalidade ao conhecer, e o conhecimento traz o tempo que traz a morte.
  Eis um tema digno de uma vida.

O DOCE FIDALGO, ESSE SER TÃO ESQUECIDO...

   Em tempos de Neymar, nada melhor que lembrar da figura do fidalgo. Tipo de homem que na Itália recebeu o nome de "cortesano" e na Inglaterra de "noble man". Esse termo começou a se popularizar por volta de 1520, e popularizar é modo de falar: a literatura cortesã é a mais aristocrática de todas. Se voce quer ler aquilo que um verdadeiro aristocrata leria, o século XVI é seu século.
  Antes, em plena idade média, a literatura e as artes variavam entre o popular ( aquilo que nasce das tradições das ruas, das festas ) e a igreja. O povo era religioso, mas a igreja, dentro de suas catedrais e seus mosteiros, não. Daí viria o nascimento das universidades, todas religiosas, e depois das nações, todas começando em um centro universitário. ( ´Portugal não. Nasce antes de todas as outras nações. Portugal, a mais antiga nação europeia, começa no século XII. A consciência de ser francês ou ser inglês só nasce cem anos mais tarde ). Voltemos então ao fidalgo...
  Quando a imprensa é inventada, a Europa é inundada por Bíblias. E por livros de cavalaria. No centro de tudo isso, dessa revolução mental e espiritual, nasce a figura do fidalgo, do cortesão. Uma literatura voltada para o aristocrata. Uma literatura contrária ao comerciante, ao padre e ao artesão.
  Já naquela época, principalmente na Itália, pessoas mais atentas percebiam que o mundo era do dinheiro, e que o dinheiro era do banqueiro, do comerciante e do navegador. A igreja precisava se aliar ao dinheiro e os reis eram financiados pelo capital. A nobreza, antes símbolo do poder e donos do destino, foram jogados de lado. Se transformaram em testa de ferro da burguesia ou em adereços de desfiles cívicos. Nasce então a literatura que sonha em manter a aristocracia viva. Que já percebe o começo do fim de uma época.
  Pense bem. Se o mundo de Deus é dos padres e o mundo da matéria é dos burgueses, o que resta ao aristocrata? A história. O passado. O mundo dos sentimentos puros. O mundo platônico. Mas, como viver e agir dentro desse mundo imaterial? Sendo um homem imaterial. Viver dentro do universo dos símbolos.
  Garcilaso de La Vega é um aristocrata exemplar na mais aristocrática das nações, a Espanha de 1550. Nobre, rico, mas sabendo que a fartura minguava, De La Vega é poeta, é soldado, é amante, é viajante, e morre jovem, aos 32, no campo de batalha. Como ele, muitos nobres de Portugal, França, Itália, têm esse mesmo ideal de vida. Viver pelo e para o Amor.
  Em Garcilaso só se fala do amor. Em todo lugar, em todo canto, em toda mulher, é o Amor quem surge. O universo existe pelo Amor e por ele se morre. A obra e a vida de um fidalgo é refinada, filtrada, pelo Amor. Um fidalgo existe como ser que ama, todo o tempo. Ele acorda e se prepara para o Amor. Ele se exercita para a luta em defesa do Amor. Suspira por Amor e morre em nome dele. Todas as regras de vestuário, de etiqueta à mesa, de conversação, são criadas para ser um amante vinte e quatro horas por dia. O fidalgo se comporta entre homens, seja numa caçada, seja numa guerra, como se na presença da Amada, sempre. Esse o nascimento do homem nobre, tão ridicularizado a partir do iluminismo. E tão grotescamente exagerado na França de Luis XV e XVI. Como tudo que é humano, portanto imperfeito, o fidalgo com o passar das eras foi sendo facilitado. Tudo o que era mais difícil foi esquecido e o menos penoso, ressaltado. O nobre se torna apenas uma máscara. O espírito da coisa desaparece.
  Mas em 1550 está vivo. E ainda se deve não só ser elegante, mas também lutar, defender, arriscar, se sacrificar. E saber conversar, fazer rir e escrever sobre o Amor.
  De certo modo a fidalguia destruiu Espanha e Portugal. A casta dirigente se encantou e se platonizou. Nada de mundo real, apenas cartas de amor e batalhas perdidas.
  PS: Todo adolescente é aristocrata em algum momento da vida. Nem que seja só por seis meses. Os mais infelizes carregam isso para toda a vida. Mas é uma aristocracia sem elegância, claro, e sem batalhas para vencer ou perder. Uma aristocracia hiper platonizada.
  PS2: Nobres davam regras sobre etiqueta e gosto para a burguesia que os invejava. No mundo virtual, todos nos comportamos como nobres. Não admitimos que nos ensinem, queremos ditar. Sabemos tudo e ansiamos por uma corte de seguidores. Cada post é um ato de sedução. Mas NUNCA EM NOME DO AMOR. EM NOME APENAS DO ORGULHO.
  Pense nisso.

TOMAS TRANSTOMER NO BRASIL ( ENFIM )

   Ao contrário da maioria dos estudantes de línguas, eu não creio que um dia a linguagem foi mais viva do que é hoje. Palavras, o verbo, foi criado para tratar de trabalho e da vida em comunidade. Sonhos, sentimentos, intuições jamais couberam em linhas, sentenças, sujeitos e adjetivos. Desse modo, posso dizer que a poesia sempre foi um ato em que tentamos dizer o indizível. Todo poeta faz uma atividade fadada ao fracasso, palavras nunca dirão exatamente aquilo que ele sente dever dizer. Mas na tentativa, falha, ele cria uma terceira possibilidade. Ele dá vida à algo que não é inefável, mas que também não é apenas verbo e objeto.
  Transtomer finalmente chega em tradução. Eu o espero desde 2011, ano em que venceu o Nobel. A editora promete lançar mais obras. Eu aguardo. Me identifico com ele. Suas intuições são irmãs das minhas. Ele nunca é emotivo. É como se ele virasse a esquina antes da emoção fluir. Escreve a sensação que nasce antes da emoção plena. Ele olha e recolhe. Ele vê e escreve. Está aberto aos estímulos, atento às pequenas coisas, mas mantém um certo distanciamento, calma dentro da sensação.
  Sua sintaxe é apurada e seu vocabulário simples. É direto. Não se perde em requintes exibicionistas. Tem o rigor do norte.
  Um poeta maravilhoso.

SAIU UMA COLETÃNEA DE WALLACE STEVENS.

   Dos grandes poetas americanos do século XX, Stevens é o menos conhecido, e para muita gente é o maior. E olha que a concorrência é enorme, de Marianne Moore à William Carlos Willians, de Robert Frost à ee cummings, de Pound à Eliot, o século XX foi imenso para os EUA. Stevens deveu, talvez, sua relativa obscuridade, ao fato de não ter tido vida de artista. Foi um executivo de seguros bem sucedido que escrevia apenas nos fins de semana. Não frequentava meios literários e publicou após os 40 anos. Mas sua poesia, amada pelos mais finos literatos, irá permanecer para sempre.
  Ela não é fácil. Se voce ler tentando encontrar um sentido irá se desesperar. O modo mais simples de ler Stevens é ler e se deixar levar pela sucessão de imagens. Ao final do poema, voce sente que entendeu alguma coisa muito abstrata e muito original, mas esse entendimento permanecerá vago, incomunicável, apenas e tão somente seu.
  A dificuldade não vem do vocabulário. Stevens não usa palavras difíceis e nem fica citando autores que poucos conhecem. A dificuldade vem da imensa riqueza das imagens. Stevens voa velozmente de luz à sombra, do branco ao negro, da alegria à dor. Cada verso é um universo e mora aí seu segredo: ele é completamente material.
  Stevens usa apenas os órgãos dos sentidos, descreve apenas o mundo real, sólido, e crê firmemente que este mundo, o visível, é tudo o que existe. Um cético portanto! Mas não! Ele crê e ama a imaginação e a partir da criatividade, que para ele é baseada no mundo real, sólido, palpável, ele embeleza e dá profundidade ao mundo sensível e sólido. Para Stevens não há Deus ou anjos, mas mesmo assim há beleza e dignidade no mundo. Ele transforma pela via da imaginação um lápis numa fonte de sentido, uma manhã numa maravilha e um rosto numa intriga. Realista, mas jamais corriqueiro.
  Poeta da vida como ela parece ser ( para ele da vida como ela é ), Stevens tem uma maravilhoso sabor de sala bem arejada, de maçãs no pomar, de leite com biscoitos. E, em que pese a aparente vulgaridade dessas imagens, ele faz, sem dificuldade, delas um monumento. 

Documentário Sophia de Mello Breyner Andresen O Nome das Coisas



leia e escreva já!

SOPHIA DE MELLO BREYNER ANDRESEN, CORAL E OUTROS POEMAS.

   Hoje de manhã fui ao jardim para ler as últimas 30 páginas deste livro recém lançado pela Cia das Letras. Então 3 borboletas amarelas começaram a brincar entre as flores e a minha cachorra. Ficaram por quase meia hora, soltas, leves, instáveis, rodopiando. Se uniram em trio e subiram, subiram, subiram. Sophia é sobre isso.
  Este livro faz um apanhado geral sobre toda sua obra e deixa claro que ela foi crescendo de ano para ano. Ao contrário da maioria dos escritores, ela melhora com a idade. Portanto, as últimas 30 páginas são as melhores, seus poemas dos anos 80-2000.
  Sophia faz uma oposição: mar e cidade. Para ela, a cidade é o mal, o feio, o desarmônico. O mar é o bem, o limpo, o claro. Grega de alma, ela ama o sol, o azul, a liberdade e o equilíbrio. Os poemas que ela escreve na Grécia são das coisas mais felizes já escritas.
  Pois ela nunca foi uma poeta triste. Oposta a Fernando Pessoa, ela é ela-mesma e ela é sólida. Ela escreve sobre a alegria do real, a felicidade de se olhar o azul aos 2 anos de idade. Na infância a comunhão da criança com a realidade do mundo, o olhar sem intermediários. A poesia é a volta desse estado, mas agora através das palavras, palavras que buscam o resgate do que se perdeu, a realidade.
  Existem poetas que escrevem como escultores. Eles têm uma ideia e trabalham sobre ela usando palavras. Fazem e refazem, tiram e adicionam. Outros, como Sophia, recolhem ideias que nascem no nada e escutam o poema ser escrito na alma. Eliot é um exemplo do primeiro tipo, assim como Wallace Stevens. Já Lorca e Burns são exemplos do outro tipo, o tipo marítimo. As imagens vêm como ondas. Elas brotam.
  Não costumo citar trechos dos livros que leio, quero que vocês os procurem; além do que citar fora de contexto é sempre um perigo. Os poemas de Sophia são curtos, breves, leves, simples, lapidares. E são feitos de água, sal e muito sol. Como ela mesma diz: " apesar da morte, minhas mãos nunca ficam vazias".