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FUTEBOL MADE IN BRASIL

   Toda a fama, glória e história do futebol brasileiro repousa em duas gerações. A geração de Garrincha, Nilton Santos e Zito, e a geração seguinte, que vai de Pelé até Rivellino. É a geração que venceu 3 copas em 4 disputas. Até ontem o Brasil vivia em sonho, ainda, de que a amarelinha tudo podia. Que bastava vestir a camisa com cinco estrelas e entrar em campo. O resto os deuses dariam. 
   Nós vencemos em 1994 e 2002. Eu sei. Mas foram vitórias com a herança da fama de 1970. A grife ainda era forte. Ela tem enfraquecido, ano a ano, só não vê quem não quer. Nos USA vencemos com a ajuda do calor, da retranca e do oportunismo de Romário. E mesmo assim, jamais demos show. E em 2002 tivemos apenas sorte. Não nego a classe de Ronaldo e de Rivaldo! Mas a vitória naquela copa nos fez mal, muito mal. Sentamos numa glória morta e pensamos que a arte do futebol voltara. Nada disso! 2002 foi um epitáfio. Uma ilusão. Foram dois bons jogos e um monte de adversários muito fracos. E só.
   Agora falam do exemplo alemão. Da retomada dos alemães a partir de 2002. Pouca gente fala que essa retomada se dá com uma reinvenção. Os alemães não estão imitando os espanhóis ou os brasileiros de antigamente. Eles simplesmente recordaram de Beckembauer, Overath, Breitner e Seeler. Adaptaram aos dias de hoje, mais velozes, a classe de toque e passe preciso que sempre tinham tido. Entre 1994 e 2002 eles haviam esquecido disso.
   Não sinto pena de um time ruim. Pena sinto de times como a França de 82, a Holanda de 74 e do Brasil de 82. Sentirei pena se a Alemanha não vencer domingo. Como posso sentir pena de um bando de garotos mimados e perdidos? 
    A recuperação da identidade nacional passa pelo estudo do futebol de 58/70. Adaptado a velocidade de 2014. Quem tem essa coragem?

COPAS

   A tabela da Copa de 1970, dos cigarros Continental. Crianças, como eu, gostam do som das palavras e não do que elas significam. Assim como amam as cores e não o desenho. São duas sensibilidades que os artistas preservam e que os adultos perdem. Naquela tabela da Copa eu amava as palavras Bélgica e Suécia. Ficava fascinado com esses dois nomes. Essa a mais antiga lembrança de Copa que tenho.
   Então ela começou, e me recordo de que na TV em P/B, eu torcia por Pelé e não pelo Brasil. Estou no tapete em frente a TV e meus pais estão no sofá, atrás de mim. Lembro de meu pai falar após o gol dos tchecos: -Pronto! Acabou! Mas não acabou não papai! Jair marcou e eu recordo muito bem do momento em que vi esse gol. A luz clara da sala, os gritos nos vizinhos, minha mãe contente.
   Depois lembro do jogo com o Perú, visto na casa de minha madrinha, cheia de sol, no Brooklyn. E da final, num domingo quente. Jogaram espaguette na fachada da casa de um italiano.
   E o que mais me tocou foi uma festa junina feita no quintal de casa. A fogueira, o churrasco, o quentão, balões e meu pai na sala vendo Alemanha e Itália, o tal jogo do século. Eu ia espiar e voltava pro quintal. Picos de felicidade que só crianças podem ter. Porque eu ainda não sabia do tempo, da morte, das partidas e da injustiça.
   Salto para 1974 e o mundo é outro. Eu sou outro. 1974 é gibi. Homem Aranha e Superman. 1974 é rádio. E a copa. Lembro de uma repetição: Meu pai vê na sala Alemanha e Suécia, talvez o mais emocionante jogo daquela copa. Eu não. Eu corro no quintal com meu irmão. A gente jogava bola. Na chuva era melhor. Frio pacas! E a final, vista sem entender nada, uma sensação de que fora feita uma injustiça. Palavra nova que eu comecei a entender via futebol.
   1978 foi detestável ! O primeiro jogo vi na diretoria da escola. E a lembrança depois é da raiva de ver a Argentina ser conduzida ao título.
   E veio 1982. A mais bela das Copas. Não só pelo drama brasileiro, não só pela morte de uma era de modo de se ver o jogo, mas pelo sol da Espanha, por ser uma Copa com cara de férias, de Ibiza, de laranjas doces, de gente com cara de praia nos estádios. Foi linda.
  E daí pra frente já sou eu. E se sou eu as lembranças se fazem cotidianas, nitidas demais, sem mitologia.
  E voce como eu, sabe que sem mitologia o esporte vira apenas jogo. E nada mais.

O MELHOR FUTEBOL DO MUNDO

   E descubro que ainda dói. Numa noite de sábado, em 2013, revejo, mais uma vez, o jogo da minha geração, Brasil 2X3 Itália, na ensolarada e muito alegre Espanha, julho de 1982.
   A ESPN tem reprisado jogos de Copa inteiros. Esses jogos fazem com que alguns mitos vão por terra. Por exemplo, Brasil e Holanda em 74 foi um dos piores jogos da história. Uma violência imensa e um jogo onde o que se viu foram discussões, provocações e entradas para matar. O pior jogo da Holanda de então. Outro mito? Este jogo, em 82.
   Dizem que o Brasil não sabia defender. O que vejo é o oposto. Todo o time defende. Os atacantes marcam, de verdade. E logo percebo que o time de 82 jogava o futebol mais moderno do mundo. Até hoje. Não a toa é modelo do Barcelona e agora do Bayern. O gênio Telê Santana fez a ponte do futebol da Holanda para o Brasil. Na concentração ele exibia lances de Cruyjff, atacar bem e defender bem. Foi o que o Brasil fez. Leandro entra pela esquerda, Cerezo de centro-avante, Sócrates de zagueiro, Oscar de meia, Junior na ponta direita, eles giram e giram e giram... Perdeu porque a Itália foi nossa Alemanha. Jogou muito bem, uniu vontade com habilidade e nunca errou. O Brasil errou duas vezes e nas duas os italianos estavam ligados. Aproveitaram.
   Antero Greco comenta o jogo e diz ao final que o jogo foi tão eletrizante que ele se pega ainda torcendo, achando que vai dar, que a bola vai entrar. Eu torci de novo, parece que o tempo ficou parado, vai dar, vai dar, tem de dar!
   Revendo o jogo percebo que aquele foi o melhor time do Brasil. Muito melhor que o sortudo time de 2002 e melhor que o aplicado time de 94. Tirando Pele, talvez melhor que o de 1970, sim senhor! Cerezo foi melhor que Clodoaldo, Falcao equivale a Rivellino. Gerson ganha de Socrates, Zico perde de Pele e Tostao foi muuuuuuuuuuuuuuito maior que Eder. Mas a defesa toda de 82 era bem melhor que a de 70. E Tele vence Zagalo...Basta olhar. A bola rolando redonda, mesmo em meio a um mar de marcadores. O futebol de Brasil e Italia se parece, muito, com o de hoje, muito mesmo, não é lento e sem defesa como se pensa, os dois jogam como o melhor futebol de hoje joga. Velocidade e movimentação, simplicidade. Com uma diferença em relação a 2013, a técnica brasileira ainda é refinadíssima, e a seleção italiana é a melhor de sua história. Perto desta a campeã de 2006 fica como um bando de pernas de pau. Ninguém dá chutão.
   Naquele dia, em 7 de julho, fazia muito calor em Barcelona e sol no inverno daqui. Todo mundo sabia que o Brasil ia ganhar, o que importava era saber de quanto. O campeonato era nosso. Certeza que nunca mais tive. Nem agora, em casa. Foi a mais bela copa, com jogos que nunca esqueci, com 4 times que tinham futebol digno de vencer. Afinal, foi uma copa que tinha Zico, Socrates, Falcao, Rossi, Cabrini, Zoff, Scirea, Platini, Giresse, Rummenigge, Breitner, Boniek, Milla, Maradona, Passarela, jogadores lembrados ainda agora.
   Perdeu.
   E a derrota mudou todo o nosso futebol. Ficamos cada vez mais italianos. E os europeus, encantados, eu fui pra lá em julho, dia 18, ouvi os comentários, se tornaram alunos aplicados de Falcão, Zico, Junior, Cerezo e Sócrates.

ARSENAL X AJAX, FUTEBOL HISTÓRIA

   Como é o Flamengo de 81, o São Paulo de 93 ou o Santos de 62, segundo Nick Hornby, o Arsenal atinge seu auge em 72 e este jogo, que posto inteiro, é seu momento mágico. Não é o melhor Arsenal, é o mais querido. Como o Corinthians de 77, longe de ser o melhor, mas para sempre o mais especial.
   O velho Highbury. Aquelas cabeças com suas expressões de pub à beira do gramado. Um mar de fanáticos, bêbados, apertados, mal vendo o jogo. E cantando. Os grossos do Arsenal dominando os dandys do Ajax.
   A beleza das camisas sem patrocínio. O vermelho puro dos londrinos, a faixa sagrada do Arsenal, a camisa histórica de Crujiff. 14. A grama péssima, lamacenta e irregular, a bola quica. Uma surpresa: o jogo é mais objetivo que hoje. É um anti-Espanha. O que se quer é resolver logo a jogada. Chegar ao gol rápido, poucos passes. Não se domina o tempo, tenta-se encurtá-lo. Pouca cera. O jogo é todo feito de área a área. As chances de gol se acumulam.
   Não se marca tão mal quanto se pensa. Se ataca com muita gente. Quase não ocorrem passes para trás. Gol, gol e gol. Só se mira o gol.
   Ruy Castro diz que só no Brasil se confunde história com saudosismo. Cultura é inevitávelmente olhar a história e compará-la ao presente. Aqui isso é descartado como saudosismo. Modo tonto e burro de se zombar da Cultura.
   Este jogo é uma narrativa histórica. Um momento em que os ingleses eram ainda 100% britãnicos e os holandeses criavam o futebol rebelde ( e dandy ). Mundo perdido, serve para percebermos o que ganhamos e o que perdemos. Essa gravação, por sua antiguidade é hoje arte. Pois tem originalidade, surpresa e história. Postarei outras. O futebol é às vezes uma emoção.

FUTEBOL, PAUL MACCARTNEY E ROLLING STONES NO HYDE PARK

   Tão tentando, e conseguindo, transformar estádio de futebol em arena de entretenimento. Tá um pé no saco. Nada mais de samba, nada mais de charanga, sem o urubú e sem a turma pobre da geral. Padronizaram tudo, a torcida do Arsenal é hoje idêntica aos bundões do Chelsea. Jogo na Itália ou na Alemanha parece o mesmo, Juve ou Borussia, só muda a cor. O futebol vira picolé de xuxú, coisa que a fórmula um se tornou faz tempo. Sem cor local, sem perigo, sem originalidade.
   Falei em perigo? E os shows de rock? Viraram o que? Festinha de quinze anos? Show em Vegas?
   A sujeira abunda no Hyde Park neste show de 69. O palco é tosco e o povo tem uma multidão de tipos em overdose de ácido. Na última música Jagger flerta com Dionisius. E tem um grupo folk da Jamaica que não é samba! ó ingleses... Paul MacCartney aparece em meio ao povo no gramado...sempre são...não é funny? Tempo em que o cara da banda mais popular via um show em meio aos simples mortais...
   Os Stones chegam dentro de um carro forte! Ou é uma carrocinha de cachorros? O camarim fica com as janelas cheias de fãs e o luxo dado às estrelas são duas dúzias de laranjas!!!
   Keith está quase morto e ainda não criou sua persona de palco. Portanto, Mick brilha sózinho. Lê Shelley como homenagem a Brian, que morreu dois dias antes. Soltam borboletas brancas no palco, centenas que saem de caixas de papelão...sim, é patético.
   Moças feias sobem ao palco e são expulsas. Tudo é mal feito e mal executado. Hells Angels fazem a segurança. Mick Taylor faz sua estréia aos 19 anos. O filho de Jagger e Marianne, Nicholas, parece adorar o tio Charlie Watts. ( Uma pesquisa diz que em 1967 Bill Wyman dormiu com 236 mulheres diferentes. Brian com 170 e Mick com 86. Keith com apenas 3 e Charlie apenas com sua esposa ).
  Sexo é perigo. O show é uma merda mas é fascinante por ser perigoso. Os Stones sempre foram sexys como uma banda black. Não é apenas diversão, é uma experiência. Se deu certo ou errado não importa. Há alí uma história para ser narrada.
  Hippies místicos se reúnem em Chelsea. Velhos very british pescam alheios a tudo. Atores pregam contra o capitalismo. E uma criança, da minha idade?, olha para a câmera com seu lenço vermelho amarrado no pescoço e a barriga gorda de fora.
  Shows hoje são limpos demais!
  O mundo está ficando tão clean, tudo tão bem feito, tão correto, que ver esse show, feito na Londres hiper-educada de 69, é como ver gente de outra raça e de outro planeta em ação. Mundo irreconhecível.
  Tem de ser visto e revisto.
  Como dizia o grande Ezequiel Neves, é descaralhante!

ÁFRICABRASIL- JORGE BEN, COMPLICAM OS BOÇAIS, JORGE SIMPLIFICA

   Em 1976 Jorge resolveu eletrificar. Pegou a guitarra e chamou uma nova banda ( Dadi entre eles ). Homem-Gol. O que ele sempre anunciara se explicitou: ritmo dominando melodia. Ritmo inclusive no sentido das palavras. A letra interessa se ritmar, não rimar. O Homem -Alegria revela seu segredo: Ser feliz é ritmar, ser infeliz é perder compasso. Como diz Octavio Paz, a vida é um ritmo. Só não sabe quem sai do compasso. Surdo de alma.
   Menos misticismo aqui. Jorge deixa de lado sua fascinação por Hermes e a alquimia e mergulha mais em São Jorge Guerreiro e Zumbi-que-vai-chegar. O disco é de briga. Briga de Jorge, briga de ginga centra ginga, briga de sorrisos. Grandes artistas são vozes de uma espaço. Eles brotam do chão e do ar para dar voz àquele local. Jorge Ben é a voz do Rio. Ele só poderia ser de Madureira. Pensar em Jorge nascido em outro espaço é como pensar em Goethe não-alemão ou em Debussy não-francês. Condensação de uma alma local. Jorge é samba, futebol, mar, calor, sorriso, malandragem, Rio.
   O disco pulsa. E a guitarra manda. Ela é usada como percussão. Mais que em James Brown, a guitarra é espancada, ribombada, baqueteada, ritmada. Sapeca. A banda é do cacete! Cavaleiro do Cavalo Imaculado tem uma linha de baixo que é obra-prima de swing. E a percussão desaba. Africabrasil Zumbi, faixa final, é um escândalo. Jorge agride com a voz, se enraivece, lança raios e lavas e a gente dança enquanto isso. ( Um segredo que Jorge cedo sacou: A Dança é o caminho mais direto ao céu. Quer conhecer tua alma? Dança! ).
   Zico merece a Camisa 10 da Gávea. Não se fazem mais jogadores como Zico. Não se fazem mais músicas para jogadores como as que Jorge fez. Mas também não se cantam mais meninas como as que Jorge cantou-canta. Ele não cata as meninas. Ele chega chegando. Não ganha uma mulher. Ele se deixa levar...
   Estudante de alquimia e de filosofias herméticas, Jorge sabe que magia é transformar e que portanto a natureza é mágica por ser transformação que se transforma. Viver é transformar e quem não muda, quem não faz de noite dia ou de chuva sol está morto. Esse o segredo de Hermes, mudar pedra em ouro, lágrima em riso e dor em renascimento. Jorge fez isso na música. Do nada se fez som e do som se fez ritmo. O ritmo vira dança e o corpo que dança vira alma que se torna imagem e se desfaz. A música é som que quer ser vida e a dança é vida tornada música. Faz-se o círculo. Jorge sabe.
   Profundezas abissais? Não. O mais sábio faz simples aquilo que um boçal complicaria. Ele é simples.

NELSON FREIRE, WOODY ALLEN, FUTEBOL E RAFINHA

   Nelson Freire talvez seja o maior brasileiro vivo. Ele voltou a São João del Rey para tocar no museu da cidade. Após 60 anos. Na verdade ele tocara lá aos 6 anos em 1950. Mozart. O Estadão escreveu sobre isso, hoje, uma página com várias e emocionadas linhas. Todo o texto, lindo, é calcado sobre a memória e tem como centro o reencontro do pianista com o velho piano usado em 1950. Freire o encontra em sala escondida e toca nela Mozart, só para recordar.... Depois, no palco, ele tocará Beethoven, Chopin e um bis com Grieg.
   Esse belo texto serve de contraste com o texto da Folha, mesmo dia. A folha usa também uma página inteira, mas com metade das linhas. Mas o diferencial maior vem no tom. Quando Nelson encontra o velho piano se fala de saudade e de reencontro, no Estadão. Já a Folha conta apenas que o velho piano estava desafinado... O texto da Folha é frio, distante, oco. Claro que rasga elogios a Nelson, mas exemplifica a "teen-agerização" da Folha. Blá!
   E é ainda no Estadão que vem um comentário soberbo sobre o novo Woody Allen. Não vi o filme, mas é dito que ele detona a tola superficialidade da comunicação e da internet. Lendo dá uma vontade de ver....
   SNL não dá!
   Os convidados fazem pose de convidados americanos, Rafinha faz caras e bocas de Chevy Chase, as moças lutam para ser Gilda Radner. E tem a banda...que não tem G.E.Smith. Tudo se parece com novela mexicana. Cópia, humor made in Paraguay. Eu amo o SNL de Dan Akroyd, Bill Murray, Steve Martin e Belushi. E depois as fases com Eddie Murphy, Martin Short, Will Ferrell....mas Rafinha não dá! O programa é fake. E começa a imitar o Pânico, o que é sinal de desespero.
   Roberto Carlos, o lateral, disse que a seleção de 2002 foi melhor que a de 82. OK. Uma venceu e a outra não. Porém, a seleção de 2002 jogou a copa mais fraca da história. Basta dizer que Coreia e Turquia ficaram entre os quatro top. Alguém pode me citar um craque da Coreia? E a final foi com a pior Alemanha. E com frango do goleiro....
   A seleção de 82 jogou uma copa maravilhosa, onde quatro seleções mereciam ser campeãs. E entre as quatro ( Itália, Alemanha, Brasil e França ), havia Rossi, Zoff, Antognoni; Breitner, Rummenigge e Littbarski; Boniek e Deyna; Platini e Tigana. E Maradona, Roger Milla, Passarella...que nem chegaram entre as quatro. Aliás o Brasil não chegou, a terceira foi a Polônia. Acho que não dá pra comparar. ( E quem pensar que é puro saudosismo digo que a copa de 1978 foi um lixo, assim como foram as de 1990 e a de... 2002!)
   Pondé fala de gente que entende de vinho como o plus-ultra do tolo. Falar de terroir, acidez, merlot e pinot-noir....blá!
   Existe também o "conhecedor" de arte. É aquele cara que vai no Masp, vê Van Gogh e sai vomitando teses sobre expressionismo. Há quem fale de Pollock com autoridade só por ter visto o filme de Ed Harris. Aliás a maioria fala de tudo só por ter visto em algum filme. Ou na TV.
   E é sobre isso o filme de Woody Allen. Que não vi...
  

TRANSFORMER, FUTEBOL, SEXO E AL GREEN

   Parece que afinal foi descoberto o óbvio, 1972 foi o melhor ano do rock. Uma série de shows, inclusive no Brasil, comemoram os 40 anos do ano que enterrou o passado e definiu o futuro do futuro. 1972 acabou de vez com as ilusões hippies mostrando ao universo a cara cínica, hiper-profissional e metida a besta do rock. Foi ano que deu aos tempos vindouros o caminho em estilo e produção.
   Harold Bloom, que não gosta de rock mas entende de mundo, diz que durante quinze anos o rock foi uma experiência mistica-transcendental. Seus amigos e alunos iam a shows de Grateful Dead ou Jefferson Airplane como quem ia a um momento decisivo em termos de existência. Procuravam uma reviravolta, um renascer. Em 1972 esse povo botou as botas na Terra. A experiência passa a ser carnal: sexo, drogas e ação.
   Exile on Main Street dos Stones, Harvest de Neil Young, Transformer de Lou Reed, Roxy Music 1, Let's Get It On de Marvin Gaye, Music of My Mind de Stevie Wonder, Catch a Fire de Bob Marley, Ziggy de Bowie, Slider de T.Rex, Superfly de Curtis Mayfield, Gram Parsons, o primeiro do Kraftwerk, Honky Chateau de Elton John, Funkadelic.... uma multidão de discos que ecoam sem parar nessas quatro décadas. Não há nada feito nos últimos milênios que não beba dessa fonte.
   Os Vingadores batem o recorde de bilheteria....em 1972 esse recorde foi batido pelo Poderoso Chefão....alguma coisa ruiu desde então. Falar de cinema hoje é falar de saudade ou de futilidade.
   O Bandido da Luz Vermelha é o maior filme já feito neste Brasil. Hoje estréia sua tardia continuação. Não vi ainda mas já adorei. Tem o sublime Ney Matogrosso fazendo o Luz Vermelha. Segundo Ney, o bandido passou 40 anos na prisão lendo Baudelaire, Nietzsche e Kant. O filho do Luz segue os passos do pai. Faz tudo o que ele fez...em 2012. Não conheço melhor definição do mundo de hoje. Fazemos tudo aquilo que em 68/72 foi feito. As mesmas passeatas, as mesmas rebeldias, as mesmas caretices, as mesmas bandas, as mesmas atitudes. Mas com rostos sem rugas e sem marcas de história. Vazio portanto. Apenas cópias.
   No youtube tem uma cena em que George Best solta gargalhadas enquanto joga bola pelo United em 1968. Ele vai bater uma falta e um amigo do mesmo clube lhe rouba a bola e o dribla. Entendeu porque descrevo esta cena aqui?
   Dylan veio ao Brasil e fez o melhor show da década. Pouca gente viu. Em 1965 ele dizia que o mundo estava empenhado em morrer e que ele estava empenhado em viver. Em 2012 ele continua vivo. Recria suas músicas em cada show, percorre a estrada e renasce a todo dia. Dylan é a prova viva de que viver é possível.
   Ando com um amigo por ruas escuras. Um insight: Dylan repete Rimbaud e Whitman. Renascimento. Morte em vida, mortes em vida e a ressurreição antes da morte. Dylan é um exemplo de gnose.
   Neymar nos recorda que o futebol é uma brincadeira. Ele chega ao limite do jogar por jogar, onde a vitória é um detalhe e o gol uma celebração. Neymar não é um turista. É um peregrino.
   Quando aquela menina anda com seus jeans esfarrapados grudados nos quadris eu sinto que o sexo é uma chance para se deixar de ser bobo. Eu me afundo nela, me esqueço de mim nela, me engulo nela e me perco de mim nela. E depois volto pra mim-mesmo mais eu do que nunca. Quero que ela faça o mesmo. Ela faz. O sexo existe pra gente morrer nele. E aprender a reviver nele. Carne e suor também é religião.
   1972 teve Al Green. E quando se tem Al Green não se precisa de mais nada.

MEU MAIOR TIME

   Sobre os videos aí de baixo.
   Não tenho idade para ter visto o Botafogo de Didi ou o de Gerson. Como não vi o grande Santos ou o Brasil de 70. Mas vi a Holanda de 74, o Palmeiras da Parmalat, o São Paulo de Telê, o Napoli de Maradona, Milan de Gullit, Rejkaard e VanBasten. Vi o Bayern de Beckembauer, França de Platini e Giresse, e vejo o Barça de Messi.
   Mas devo dizer, não vi time como o Flamengo que exsitiu de 78 até 83. Era uma tal gana de vencer que dava medo nos adversários. Não era toque ou paciência, era uma coisa de matar ou morrer.

Flamengo 3x0 Botafogo - 1979



leia e escreva já!

Botafogo 4 x 1 Flamengo - Decisão Taça Guanabara - 1968



leia e escreva já!

BOTAFOGO, SERGIO AUGUSTO/ FLAMENGO, RUY CASTRO, O NASCIMENTO DA PAIXÃO NACIONAL

   Muito mais que bundas, samba ou cerveja, a grande paixão nacional é a bola. Em dois livros, com textos épicos, belas fotos e revelações emocionantes, o flamenguista Ruy Castro e o botafoguense Sergio Augusto ( um dos melhores críticos de cinema deste país, talvez o maior ), escrevem sobre suas paixões. Há uma foto de Didi, no livro sobre o Fogão que chega a ser pura obra de arte. Didi anda pela rua, terno e gravata. A esposa vai a seu lado e atrás dos dois, uma multidão de meninos caminha respeitosa e sorridentemente o "guardando". Didi acabara de dar mais um show no Maracanã lotado e voltava para casa a pé, no meio da torcida. A foto transmite a mesma impressão que nos causa a visão de uma pirâmide do Egito. A admiração pela arte de uma civilização perdida.
 Castro explica o porque do Flamengo ser o mais amado do Brasil. Paulistas rancorosos gostam de falar que o Mengo é o maior ( em torcida ) por causa do Rio ter sido capital e seus jogos correrem Brasil afora. Bem...o Flu veio antes, sempre foi elite e não se popularizou do mesmo modo. Why? O Flamengo nasce como time de remo em fins do século XIX. As meninas do bairro davam trela aos remadores do Botafogo e enciumados, os garotos do Flamengo resolveram fundar seu clube náutico. Nascia o Mengão. Na primeira travessia pelo mar alto eles se perdem e ficam dias à deriva. A população do Rio em suspense. Afinal todos conseguem ser resgatados ( por remadores do Botafogo ). Nascia aí a popularidade do Flamengo. Nacionalmente ela se fez porque logo na década de 10, com o futebol fundado no clube, o time passa a ser o primeiro a excursionar pelo nordeste. Quanto ao futebol, é verdade, o clube é cria do Fluminense. O Flu sempre fora do futebol e existiam jogadores do Flu que remavam pelo Flamengo. Quando os cartolas das Laranjeiras peitaram um jogador rebelde, todo o time do Flu se bandeou para o Flamengo e lá fundaram o futebol dentro do clube de remo. Não vamos esquecer que o esporte mais popular do Brasil entre 1880/1920 era o remo e o segundo era o ciclismo. Com um futuro que lhes traria Leônidas, Zizinho, Domingos da Guia e Zico a popularidade do Flamengo estava assegurada.
   A história do Botafogo é bem diferente. Ela começa com o muito aristocrático Botafogo de regatas e o "juvenil" Botafogo futebol clube. Na década de 40 os dois se unem e nasce o BFR, Botafogo de futebol e regatas. O clube de futebol é fundado por um bando de adolescentes, sendo o único clube do Brasil fundado por rapazes. É engraçado o tipo de nome que os jogadores da época têm: Olimpio Tavares Gomes, José Augusto Nunes Prado ou Oscar Smith-Clifford. Era a mais fina flor da aristocracia que jogava bola. Fora o Vasco da Gama, o patinho feio que tinha até negros no time. O Botafogo é logo visto como clube para poucos, de gente "diferente", intelectuais, desajustados e nobres decaídos ( os rivais dizem que é um clube para masoquistas ). Pouca gente sabe que é o Botafogo o clube que mais cedeu jogadores para a seleção nacional, dentre a lista imensa Garrincha, Gerson, Amarildo, Heleno, Jairzinho, Paulo César Caju e Nilton Santos. Clube que "faliu" várias vezes e que sempre renasce.
   São dois livros que se lê com sorriso nos lábios e um prazer idêntico ao de se ver um bom jogo. Times que deram alegria a todo uma nação, histórias de fundação que se movem entre a saga e a anedota. Mesmo não sendo flamenguista ( fui "Zico" de 1976 até 1983 ), ou botafogo ( tive uma admiração pelo fogão na mais tenra infância ), são duas leituras obrigatórias para quem gosta do jogo. Mais, para quem gosta de história.

FEBRE DE BOLA- NICK HORNBY

   Este é meu livro favorito de Hornby. Alta Fidelidade foi lido logo em seguida a um fora que levei, não tinha como ter boas lembranças dele. Grande Garoto eu gosto bastante ( talvez seja o melhor ), mas me identifico muito com o cara que narra esta "saga", que é Nick, aqui escrevendo seu primeiro livro. Ele é 7 anos mais velho que eu, e como aqui nos brasis sempre estivemos dez anos atrás, acabamos eu e Nick sendo da mesma geração. Ou voce nunca notou que nossa década de 60 foi a de 70, a de 70 foi a de 80 e nossos anos yuppies foram no governo FHC, em plena década de 90?
   Em 1968, o jovem, o muito jovem Nick Hornby, aos 11 anos, é levado pelo pai a um jogo do Arsenal. Contra o Stoke City. Os pais dele haviam se separado, ele estava down, e cansado de ir nas visitas do pai a zoos, lanchonetes e cinemas. No futebol ele descobriu um mundo insuspeito até então. Um mundo de homens, de palavrões, de multidões. Das enormes massas de torcedores de então. Mas foi somente alguns jogos mais tardes que ele se tornou um obsessivo, um fanático pelo Arsenal. E foi numa muito dolorosa derrota. Para o Swindon, exatamente o jogo que postei abaixo. Nick chega a uma conclusão: ninguém vai ao futebol para ter prazer. Futebol não é uma diversão, um passatempo e muito menos uma arte. Só pensa isso quem não torce. Voce sofre num jogo, tem medo, e JAMAIS espera que seu time jogue bonito, o que voce quer é vencer, vencer sempre. Jornalistas e intelectuais falam do jogo artístico, uma besteira!!!! Se futebol fosse uma arte voce vibraria ao ver Zidane exibir sua arte e destruir seu time. NÃO! Futebol é outra coisa.
   Cada capítulo do livro é um jogo e cada jogo é uma lembrança daquilo que ele vivia. O colégio, a faculdade, os primeiros amores. O futebol muda, o mundo muda, Nick admite nunca ter mudado. O futebol, como o rock, faz da pessoa um eterno crianção. Ele continua sendo o garoto que chorou ao perder uma final contra um time da segunda divisão.
   Ficamos sabendo o que é o futebol inglês. Hornby se lamenta de ter se apaixonado logo pelo Arsenal. Porque não o Tottenham, um time que tem fama de jogar bonito sempre, ou o WestHam, que é considerado um time de gente especial. Mas não, ele foi gostar do time que sempre teve a fama de ser violento, defensivo, maldoso, o mais odiado time da Inglaterra, o Arsenal. E lá vai ele, indo a Plymouth, debaixo de chuva e frio, numa noite de quarta, para ver um jogo que nada vale. Porque? Pra que? Ele admite, é uma obsessão e seu time, um perdedor na maior parte do tempo, é sua paixão.
   Highbury com seus cantos, suas ruas, as brigas. A raiva do Chelsea, do Leeds e do Tottenham, os amigos de torcida, as gozações nas derrotas, a raiva da seleção inglesa ( os ingleses têm o costume de abominar sua seleção, torcem apenas pelos clubes ), os sotaques de cada cidade, cada bairro, cada canto de Londres e dos subúrbios. Os times medíocres do Arsenal, as várias humilhações.  E as mudanças.
   A explosão da violência nos anos 80, violência que obrigou a mudanças, a diminuição das multidões, as grades de segurança, as câmeras. Nada disso havia em 68, as torcidas se misturavam, disputavam espaço e onde cabiam dois se metiam quatro. ( Eu cheguei em 1981 a ir a um Morumbi com 135.000 pessoas, sei o que é isso...e posso dizer? Era puro suicidio, mas era very fun ). Nick Hornby diz que o futebol tem matado seu verdadeiro amante, e sem ele não pode haver esporte. Ele explica. O sonho dos times agora é fazer do futebol um tipo de teatro, ingresso caro e super conforto. Mas há um problema: esse tipo de "show da Broadway" comporta apenas um tipo de torcedor vip, que enche o estádio num United e Liverpool, mas que jamais irá até Newcastle ou Cardiff para acompanhar seu time num jogo de segunda rodada. Sem o povo fanático teremos apenas a copa dos campeões e mais nada. ( E os ingressos em 1969 custavam a metade de um ingresso de cinema ). Outra coisa. Entre 68 e 88 o campeonato inglês teve como campeões: Liverpool, Arsenal, Leeds, Nottingham Forest, Manchester United, Aston Villa, Derby County e Everton. Oito campeões diferentes!!!!  Se a tendência se mantiver, teremos apenas um campeonato de quatro times: United, Liverpool, Arsenal e Chelsea. O que fará com que todas as outras torcidas se encolham, os estádios fiquem às moscas e toda a atenção se volte apenas para dez ou onze jogos ao ano. Isso não é futebol de verdade!!! Dez anos nessa rotina destruirá qualquer chance de que Forest ou Villa voltem um dia a contar. ( Acho esse processo irreversível e chatíssimo! A linha de títulos seguidos do United tirou a graça de um campeonato que era tão imprevisível quanto o brasileiro ).
   Ao final do livro, Hornby já quase quarentão, começa a perceber que seus hábitos mudaram. A idade faz com que ele queira conforto, mais segurança e menos apuros. Mas fica um gosto nostálgico, saudades dos passes de Brady e mesmo das jogadas ridiculas de Ian Ure. Pra quem como eu, gosta muito de futebol e cresceu vendo suas transformações, é obrigatório.

AGORA EU FALO DA INGLATERRA PARA NICK HORNBY

   Se no seu ótimo livro Hornby elogia o Brasil, deixa agora eu elogiar a Inglaterra.
   Os brasileiros vão me xingar mas em 1970 a Inglaterra não deveria ter perdido. Ela teve mais chances de gol e um zagueiro brasileiro deveria ter sido expulso. Um empate seria justo e o saldo de gols resolveria a chave e quem teria de pegar a Alemanha nas oitavas. Assim como em 2002, em que num jogo bem pior que o de 70, o Brasil venceu os ingleses na sorte. Mas Nick Hornby sabe que o azar combina com o futebol inglês. Com o verdadeiro futebol inglês, e creia-me, isso ainda existe.
   Eu odeio, abomino o Manchester United e mais ainda o Chelsea. Por um motivo simples: eles transformaram o futebol britânico numa competição entre os donos de clubes. Como diz Hornby, as multidões de 100.000, 130.000 loucos-insanos dos anos 30/70 foram substituidas por 50.000 confortáveis torcedors vip. Mais que isso, o jogo se tornou uma bolsa de apostas onde as contratações são mais noticia que os jogos. Jogadores mimados, técnicos-burocratas, acionistas ávidos por lucro, torcida selecionada. Las Vegas. O futebol que era tipo Small Faces ou The Who, virou George Michael ou Beyoncé. Bonito, clean e frio. Voce investe 100 milhões e leva a taça. Quem gastar 20 não leva nada. Um mercado de ações com público.
   Postei um jogo em Highbury, 1969. O campo absurdamente lotado. Aquela multidão de cabeças brancas em meio a escuridão da arquibancada. Dá pra ver o lugar onde Nick ficava então, aos 13 anos de idade ( ele estava nesse jogo ), o lugar dos "estudantes", junto a bandeira do corner, na altura do chão. Eles viam só os pés dos jogadores, apertados, xingando todo o tempo, com uma sensação de júbilo na cabeça. E aguentavam o grotesco Arsenal, com seu jogo de chutões e correria, de gols tomados por pura estupidez. Um futebol feio, mas profundamente emocionante. Apaixonante. Dionisíaco.
   Em 1976 assisti a meu primeiro jogo inglês ao vivo. Não sei que Tv transmitiu, sei que era um sábado ( aos domingos não se jogava futebol nas ilhas, era o dia sagrado do cricket ), o que sei é que Ray Clemence era o goleiro e o jogo foi em Wembley hiper lotado. Inglaterra e Escócia? Me lembro que o jogo era a antítese do futebol que se jogava no Brasil da época. Aqui o jogo era lento, pensado, armado e malicioso; lá em Londres o que vi era um futebol muito corrido, instintivo, sem qualquer armação e levado na empolgação. Chutes do goleiro ao ataque e chuveirinhos, montes de carrinhos, e uma quantidade absurda de gols perdidos. A bola pingava nas duas áreas, sem dono, livre e solta, e ninguém a colocava pra dentro. A bola era matada no joelho, os passes eram rápidos e sempre "pra correr", o meio campo não existia ( parece que descrevo o futebol do Brasil de hoje ). No rosto de cada jogador, em meio aos cabelos sujos, às costeletas mal feitas e as camisas sem patrocinio, havia determinação, vontade de dar o sangue, luta. E risos ( não era futebol Felipão ). Os jogadores riam muito e Hornby diz que o futebol inglês dos 70 é considerado o auge dos cantos engraçados das torcidas. O Brasil todo detestou aquele jogo. Eu adorei cada chutão.
   Desde então, e para sempre, times como Tottenham, Aston Villa, Newcastle e Ipswich Town ( tem time mais inglês que Ipswich Town? ), se tornaram meus times. E principalmente o Arsenal.
   No futuro eu iria ver o Arsenal se tornar um time francês com tipo de jogo francês e resultados à francesa. Mas ainda era melhor torcer pelo Arsenal que pelo hiper-profissional United ou o artificial Chelsea. Havia uma história tosca naquela camisa. Uma torcida de patinhos feios.
   Acho que é isso que tenho pra dizer. E saiba Hornby, que aqui as coisas caminham igual. O estilo próprio do país também foi pro espaço e desde 1982 caminhamos para a "Milanização" de todos os clubes. Nossa opção não foi pelo Ajax ou pelo Barcelona, foi pelo Milan e Juve. Deveria ter sido pelo Brasil mesmo. Assim como fico triste ao ver que o estilo inglês só se mantém em times mais pobres, o estilo Brasil só existe em uns poucos jogadores e nunca em um clube ( o mais brasileiro dos times, o Flamengo, a anos é uma bagunça indefinida entre um passado de toque e classe e um "futuro" à la Grêmio ).
   É isso.
   PS: Vai Arsenal !!!!

1969-03-15 Arsenal vs Swindon Town



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NICK HORNBY E O FUTEBOL DO BRASIL

   Estou relendo Febre de Bola de Nick Hornby. É tão bom quanto eu lembrava. Falo do livro inteiro em outra postagem. Esta é só pra falar de um momento do livro. Quem leu sabe, Febre de Bola é um livro em que Hornby divide sua vida ( o livro é uma auto-bio ), em jogos do Arsenal. Cada jogo é um momento em sua vida.
   O Arsenal, um fracasso na década de 60, tem seu espirito. É time tosco, de jogo feio, grotesco, de jogadas ridiculas. Não ia falar disso agora mas falo: que Arsenal é esse? Tem uma hora em que ele diz que o Chelsea era o time dos artistas, a arquibancada cheia de stars, de modelos, de jovens alternativos. E do outro lado o Arsenal, um bando de sujos abnegados. O que quero dizer é: Na globalização existe um Arsenal? Na verdade não se tornaram todos o mesmo? Milans ou Bayerns, todos são times sem espirito. Weeelll..... Como brasileiro, o que me emociona mais é ler o que ele escreve sobre junho de 1970, Brasil x Tchecoslováquia. Transcrevo trechos para voces....
   "Até 1970, quem tinha a minha idade, ou era pouco mais velho que eu, sabia mais sobre Ian Ure que sobre o maior jogador do mundo.  A copa do mundo de 1970 inaugurou uma nova era do futebol. O esporte sempre fora global, no sentido de que ele era jogado em todo o mundo, mas em 1962 quando o Brasil fora bicampeão no Chile a TV ainda era um luxo e não uma necessidade. E em 1966 Pelé fora expulso da copa pelas botinadas dos portugueses. 1970 é na verdade a primeira copa em que se dá o confronto Europa x América do Sul testemunhado pelo mundo inteiro.
   Quando a Tchecoslováquia abriu o placar, David Coleman na BBC comentou: "As previsões sobre o Brasil se confirmam", ele falava sobre a defesa desleixada do Brasil. Nos 80 minutos seguintes tudo o que ouvíamos falar sobre aquele time também se confirmou. Igualaram numa falta batida por Rivellino em que a bola veio descaindo, virando e deslizando ( alguma vez eu já vira um gol de falta? Não lembro de nenhum ). ..... Venceram por 4 x 1, e lá na nossa vizinhança ficamos literalmente assombrados.
   Não foi só pela qualidade daquele futebol, foi pelo jeito como eles encaravam as firulas mais engenhosas e desconcertantes como se fossem tão funcionais e necessárias como um lateral ou um escanteio. .... até a maneira brasileira de comemorar os gols, uma corrida de quatro passos, um pulo no ar, a mão para o alto, era esquisita, engraçada, invejável, tudo ao mesmo tempo.
   ....num torneio que forneceu dúzias de superlativos- o melhor time de todos os tempos, o melhor jogador de todos os tempos, até os melhores gols perdidos de todos os tempos- tivemos duas contribuições próprias, a melhor defesa de todos os tempos ( Banks contra Pelé, claro ) e o melhor e mais elegante desarme de todos os tempos ( Moore contra Jairzinho ). É significativo que nossa contribuição a esse carnaval de superlativos se deva à excelência defensiva, mas não importa- durante 90 minutos a Inglaterra jogou tão bem quanto o melhor time do mundo. Chorei depois do jogo....
    De certa forma o Brasil estragou a festa de todos nós. AQUELE TIME REVELOU UMA ESPÉCIE DE IDEAL PLATÔNICO QUE NINGUÉM, NEM OS PRÓPRIOS BRASILEIROS, SERIA CAPAZ DE ATINGIR NOVAMENTE. PELÉ PENDUROU AS CHUTEIRAS, E NAS COPAS SUBSEQUENTES ELES SÓ MOSTRARAM PEQUENOS LAMPEJOS DAQUELE FUTEBOL, COMO SE 1970 FOSSE UM SONHO SEMI-ESQUECIDO QUE UM DIA TIVERAM DE SI-MESMOS.
   Um sonho semi-esquecido que tiveram de si-mesmos... é preciso que venha um inglês doido por futebol para nos lembrar desse sonho.
   Neste mundo em que só um único time tenta jogar diferente, bonito, voces podem, brasileiros chatos, estar pensando: Ora, não foi tudo isso.... E eu recordo da final com a Itália. Alguém já viu alguma final em que a seleção perdedora, após um 4x1, corre para os adversários, e como fãs pede por favor uma camisa, um autógrafo?
   Nick Hornby, louco pelo Arsenal, lá nos frios bancos da zona norte de Londres, escreveu o que foi uma visão de sonho para ele. Cabe a nós aplaudi-lo.

CONSIDERAÇÕES SOBRE DEZ MINUTOS DE TV EM 1982.( FUTEBOL, CARROS E CIGARROS )..

Tento não falar sobre o futebol, minha intenção é falar de um momento do país, momento em 1982, demonstrado pela propaganda. Mas não resisto e falo: um time de homens que não se preocupa com cortes de cabelos e sobrancelhas lapidadas. Turma de gente que ainda se parece com os caras do buteco ou da esquina... Era um time mais bonito...
Em 1982 a ordem no Brasil, saindo da repressão, era só uma: hedonismo. Politicamente demos com os burros n'água, Tancredo morreria em 85 e Sarney instituiria o vale tudo. No futebol o jogo ingênuo seria enterrado e a época do jogo de resultados valeria para sempre.
É engraçado ouvir Luciano do Valle ainda com voz e é fantástico observar o jogo destravado, sem tosqueira. Vêm as propagandas:
Bamba, tênis. Dançarinos. Nada de esporte radical. Eles rodopiam em disco. Hedonismo puro. Hedonismo de desbunde. Depois o Fusca. Um desenho infantil, corações. Nada de futurismo, nada da fria eficiencia do mundo cinza, apenas corações e infantilismo. Coca-Cola. Na praia. Praia que tem uma abundancia de sorrisos. Hedonismo de sorrisos, ainda não se fez a ditadura dos tanquinhos. Continental mostra um jogo. Aí o contraste se exarceba. Em 2010 se falava em TIME DE GUERREIROS, neste anúncio de 1982 todo o destaque é dado ao drible e ao jogo de pés. Caráter do Brasil. El Gol, é anúncio que marcou época, carro que é um touro. Nada de jovens frios com seu jeito de robot, apenas emoção quente e solar. Hollywood: esportistas fumando???? Eu sei o mal que havia nesse tipo de propaganda. Mas o que quero dizer é que me parece estranhamente saudável um mundo que exibe o esporte como um grande foda-se... Hedonismo de novo, velejar é um prazer, nada competitivo aliás.
É necessário repetir uma giria antiga que é usada na peça da Coca: curtição. Curtição é usufruir com prazer, usufruir com o espirito do foda-se. Nossos anúncios não pregam mais a curtição, eles pregam a hiper-eficiencia, e pior, nosso futebol não é feito para ser curtido, é exibição de egos eficientemente propagados.
O mundo da curtição jamais voltará. Mas caraca! Um pouco menos de seriedade e eficiencia!
PS: e não deixa de ser interessante uma copa sem o patrocinio de um banco e de cerveja.

Intervalo Copa 1982 - Brasil x Argentina (RBS - Rede Globo Porto Alegre ...



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