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A BELEZA NÃO IMPORTA?

Publicam uma frase de Roger Scruton no Facebook: Sem a beleza o mundo se tornará um lugar desesperador para se viver. Coincidências significativas: vejo numa tela no shopping center uma notícia: a primeira miss Inglaterra eleita sem maquiagem nenhuma. Um rosto feio. Bem feio. Meses atrás um grupo reclamou porque na eleição da miss França houve a escolha por beleza. ---------- O mundo não era tão maluco e anti lógico desde quando se queimavam bruxos. O que causou isso? Não há como saber. Estamos dentro do processo e por isso não há como ver com distanciamento abrangente. O que se pode é constatar um fato: há um grupo, pequeno e estridente, histérico e mentiroso, que tomou as salas de jornais e de marketing. E esse grupo foi educado com apenas duas crenças: Tudo pode ser relativizado. Querer é poder. ----------------- Desse modo, conceitos simples como Beleza, Honestidade ou Justiça podem e devem ser relativizados. E se voce quiser voce pode transformar o preto em azul e o dia em noite. Se nos anos de 1960 o adolescente tomou o poder, agora o que berra nos meios de comunicação é o infantilismo mais bocó. ------------ Não se encara o mundo como ele é, mas sim como ele deveria ser. Pior ainda, como deveria ser para si mesmo. Quando um pacifista diz que não deveria haver guerra, isso é utópico, mas ainda se justitica, pois é um desejo geral desde que o cristianismo tomou posse da história ocidental. Porém, quando um lacrador berra que o miss França deve desprezar a beleza física, o que ele quer é moldar o miss França à seu desejo de criança que não suporta a ideia de não ser bonita. Como criança chorando, seu único pensamento é: mate a menina-menino que é mais bonito que eu. É o modo de pensar mais simplório que existe. É o que faz um menino operado querer ser chamado de "mulher". Mude uma palavra, tire a beleza da passarela, e magicamente eu deixo de SENTIR DOR. A dor de ser feio. Ou a dor de me sentir no sexo errado. -------------- Mas a dor não passa. E por isso a lacração nunca irá se sentir satisfeita. É um saco sem fundo. -------------- Voce pode queimar todos os dicionários. A noite continuará sendo negra. Pode tirar todas as mulheres bonitas da TV. Voce continuará se sentindo "fora do padrão" ( esse padrão é simples e básico: beleza é aparentar saúde e felicidade ). Pode ser "chamade" de mulher, continuará tendo nascido com um pênis e sem útero. E o mais importante, nas ruas as pessoas, por mais que sejam proibidas de se expressar, continuarão amando a beleza e fugindo do que é feio ou doentio. -------------- Se o que escrevo parece cruel é porque quero deixar claro que não encarar a verdade e viver no ódio é mais cruel ainda. Como disse, a lacração destroi a beleza e não resolve nada. A verdade continua sendo a verdade. -------------- Roger Scruton está certo porque sem a beleza, sem a busca da beleza, sem a beleza dos belos gestos, dos belos corpos, da harmonia, da criação, a vida perde seu sentido. Acho que foi Dostoievski quem disse que a beleza salvaria o mundo. Coloco um adendo típico de 2022: e a feiúra nos aniquilará. Sexo sem amor, arte sem inspiração, vida sem olhar, música sem escuta, não se justifica ser um humano sem essa beleza imensa que a vida dá. ------------- Para encerrar dou um conselho, algo que muito raramente faço: não deixe que rabisquem sua auto imagem. Não pare de admirar a menina bonita. Procure na música o prazer. E veja filmes simplesmente bonitos. É isso.

AB-REAÇÃO, ANÁLISE DOS SONHOS, TRANSFERÊNCIA - CARL GUSTAV JUNG

Em termos de descrição daquilo que é o inconsciente, este é o texto mais claro de Jung que li até agora. Existem como que dois campos dentro de nossa mente, ou melhor, que constituem nossa mente: o consciente e o inconsciente. No ideal de bem estar, ambos estariam em equilíbrio, cada um existindo em seu campo. Mas isso raramente ocorre. O consciente, sobrecarregado, perde energia e nesse momento o inconsciente começa a se fazer perceber. Nosso consciente se assusta com os conteúdos do inconsciente e nasce a neurose. Tentamos escapar das imagens, das sensações, do universo irracional do inconsciente, nem que para escapar tenhamos de criar sintomas, manias, a ilha da neurose. Perdendo toda fé na razão, cheios de medo, dividido em dois, no meio de uma guerra interna, procuramos ajuda. O terapeuta assume a função de nossa consciência, começa então a transferência. ------------- Primeiro fato que percebo: O povo muito deslumbrado que pensa seguir Jung tende a hiper valorizar o inconsciente. Jung deixa claro que cabe ao médico salvar a consciência. Somente doentes têm a prevalência do inconsciente, o que se deve fazer é perder o medo do outro lado da mente, abrir algum tipo de entendimento entre os litigantes, mas sempre tendo a razão como guia. Penetrar no mundo escuro da inconsciência é sempre destruidor e a maioria jamais retorna dessa viagem. --------------- O que seria o inconsciente? É aquilo que resta de nossa história de milhôes de anos passados. O começo do homem como ser não-animal. Dentro desse mundo, não verbal, pois falamos de um homem sem linguagem verbal, o que existe é o medo do fogo, da chuva, o canibalismo, o incesto, a possessão demoníaca, a morte ritual, a inanição por fome, o não-eu, a não-compreensão. Tudo é imagem, é fagulha, é corpo. Não há o "Porque" e nem o "Para que". Não há tempo ou distância, tudo é sempre aqui e agora. Não é animal, pois é humano, mas é o mais primitivo dos humanos, o homem puro impulso, ação sem planejamento, instinto solto, fomes e desejos. Um mundo de fantasmas, de cavernas, de frio, de fuga e caça, de sujeira. ------------ Então, de forma muito lenta, e não se saberá jamais porque, o homem começa a criar a consciência. Primeiro ele se vê como um outro diferente daquele a seu lado. Depois ele planeja uma ação. E então começa a desenvolver um discurso. Acontece a cisão. Para poder sair do estado de natureza, ele precisa calar seu lado puramente instintivo, aprender a esperar, a negar, a se adaptar. A luta interna deve ter sido dolorosa. Não mais comer a carne humana. Não mais deitar com a irmã. Não mais roubar. Se submeter a lei. E passam os séculos....e cada vez mais o inconsciente fica lotado de tudo aquilo que o consciente não mais aceita: não bater em quem te ofende, não caçar, não guerrear, negar desejos. Explodem as neuroses, lógico. Nossa história não pode ser apagada. Nossa herança genética, espiritual, histórica, dê o nome que quiser, vive e respira. Ela mora nos sonhos. Nas neuroses. Na arte. E em ações sem sentido como a guerra e a auto destruição. Em todo homem moderno ocorre a guerra interna entre luz e sombra. E muitas vezes vamos à sombra pensando ser ela a luz. E vice-versa. ------------------ A religião cristã tinha um modo maravilhoso de lidar com isso. O consciente era o Paraíso. O inconsciente era o Inferno. Luz e trevas. De forma sutil, forma que não cabe aqui descrever, a Igreja pacificou o conflito dando aos fiéis sua escolha pacífica. Mas isso terminou no século XVI com a ruptura da Igreja em dois lados: Católicos e protestantes. Desde então a própria fé tomou partido e a cisão interna de cada homem se refletiu na cisão cristã. Para os de Roma são os protestantes os seres da sombra. Para os evangélicos, são os católicos os partidários do engano. Ambos jogam no adversário aquilo que não aceitam em si mesmos: sua sombra. --------------- Ainda não terminei de ler todo o livro e neste momento leio sobre a alquimia. Jung analisa imagens de antigos volumes alquímicos e nos explica toda a mensagem ali expressa. Breve posto mais.

PREVISÃO DO TEMPO : NÃO IMPORTA, SEMPRE SERÁ RUIM

Uma amiga que vive em Londres me manda um post bem interessante. Na primeira foto, vemos a previsão do tempo na TV em 1981. Um mapa britânico com vários "sois" sorridentes. Previsão de 31 graus. Verão. Aproveitem! Depois uma foto da previsão em 2022: o mapa todo pintado de vermelho, previsão de 30 graus, fujam, é o aquecimento solar. Não é preciso mais nada. Não é necessário ler autor nenhum. Essa simples imagem exibe e a falência de todo um modo de vida. Ou, se formos ver um outro lado, a vitória de um grupo que se alimenta do medo. -------------- Eu não sei o porque disso. Mas sempre me incomodou esse fetiche, que vem desde os anos 80, de filmes sobre doenças, sobre o fim do mundo, sobre a falta de sentido na vida.Junto à isso, a moda do rock deprê, da dance music suicida, do pop masoquista. Por décadas era como se toda a cultura dita séria nos preparasse para a morte. Eros perdia vez. Thanatos era rei. ----------- Então veio o noticiário. Não importa mais equilibrar o bom e o ruim, o avanço e a guerra, tudo se tornou um tipo de "mundo entrópico". Educação para o fracasso. Não se pensa em saúde como prevenção à doença, mas apenas em cura de algo que voce já é: um doente. Por que? Por que temos hoje a geração mais triste, suicida, sem prazer da história? O que aconteceu foi um acaso ou foi pensado? Por ser conservador eu tendo a ver a história como acaso, são os esquerdistas que imaginam que tudo que ocorre foi planejado por alguém, mas que acaso vagabundo esse!!!!! O sol, o antigo deus, o mais hedonista dos seres, se tornou um mal. Verão não é mais prazer, é perigo. E posso mostrar um parelelo interessante, o sol é a figura viril, e toda virilidade hoje está sendo reduzida a perigo e inconsequência. -------------- Uma pessoa honesta não tem como obter um motivo para este estado de coisas. O que podemos é alertar para os sinais. E o sinal é claro: o ocidente tem se tornado um tipo de rebanho distraído. Já o mundo oriental, árabe e chinês, se mantém firme no que sempre foram. Eles se afirmam, nós nos "divertimos". Sexo-droga-turismo, esse é todo o mundo pseudo real de um europeu ou americano classe média hoje. O único desejo é se distrair. Não há objetivo, não há desejo verdadeiro. Pois o sentido único é FUGIR DO MEDO. Não é desejo salvar o planeta, é medo de o perder. BINGO! O medo motiva o tipo de sexo-droga-turismo que se faz agora. Por isso é um sexo sem história, droga sem revelação e turismo seguro e familiar. Cercados pelo medo ( secas, terremotos, tsunami, terrorismo, cometas, ETs, tarados, virus, câncer ) Tudo o que se quer é um ansiolítico. Mas esse remédio dura pouco, pois logo vem o mapa em vermelho lembrar que o verão é um inferno. ------------------ Cômico é que os males reais, aqueles que podem ser solucionados, pouco importam a essa geração. Desemprego, inflação, guerra, roubos, tráfico, filhos sem mães, isso pouco ou nada interessa a quem se preocupa com porcos no matadouro, emissão de gases dos bois no pasto ou direitos sexuais dos XYZ. São lutas de brinquedo, besteirinhas para distração. Não soube de voluntários para defender a Ucrania. ----------------- Minha geração, sim, MINHA geração se torrava no sol. A gente amava o verão e o inverno. E achava que ETs seriam uns monstrinhos bobos que seriam vencidos pela gripe. E quer saber? Era melhor. A gente não sofria por medo, a gente sofria por querer viver mais e muito. Desejo demais. Saudosismo meu? Com certeza. Vamos ver em 2050 do que eles irão falar.

USUFRUA SUA VIDA

Tenho uma amiga, escritora, de direita, então voce não a conhece, que fez um belo texto sobre algo que muito a surpreende. A incapacidade das pessoas usufruirem uma experiência. Ela tem amigos que passaram por aventuras, viagens incríveis, conheceram pessoas fantásticas, mas que não tiraram nada do que viveram. Ela não está falando de aprendizado. Fala de simples narrativa, de ter o que contar, lembrar, descrever. Mais que falta de vocabulário, são pessoas cultas, que possuem leitura, o que ela precebe é a incapacidade de maravilhamento. A alma, ou coração, está morto. Ela diz que nunca houve tanta quantidade de maravilhas ao nosso alcance, mas estranhamente, nunca houve tantos zumbis no mundo. ------------ Falo à ela da minha experiência, tudo que escrevo neste espaço sempre é baseado em minha história pessoal, e lhe conto que meu ano mais rico em memórias, maravilhamentos, descobertas, foi aquele que aparenta ser o mais rotineiro e que sem dívida foi o mais solitário. Passei um ano, por razões que não cabe aqui dizer, sem amigos. Larguei a escola aos 15 anos e me distanciei dos amigos que tinha. Foi um ano em que minha rotina consistia em ler, ver TV, pouca, ler mais, ouvir música, ler. E dentro dessa vida, tão aparentemente banal, eu tiro os momentos mais mágicos, plenos, ricos, complexos, de toda minha existência. O que me faz crer que a pobreza atual se deve a ausência de solidão física, de tempo morto, de nada para fazer, de vazio espacial. De silêncio. Eu sei por experiência própria que a internet mata a alma. A telinha nos aliena de nós mesmos e nos torna um objeto que capta coisas e não as usufrui. É preciso vazio, vazio de tempo e de espaço para se absorver um livro, um filme, uma canção. É vital ter vazios para amar uma paisagem, a cor de uma manhã, o ar frio de uma noite. O aumento da velocidade diminui a apreciação. Comer com pressa é viver com pressa. -------------- O córrego que cruzei, numa estreita ponte de madeira, aos 10 anos, é uma lembrança muito mais rica que a primeira viagem à Paris. Porque cruzar aquela ponte foi um momento parado na vida, foi uma ação de total concentração, foi uma narrativa sem acessórios. Já a viagem foi uma ação entre várias, uma imagem em meio a centenas de outras imagens, uma corrida dentro do tempo que voa e se desfaz. Desse modo, o eu que cruza a ponte vive para sempre dentro de seu tempo particular, e o eu que desce do hotel em Paris faz parte da história do mundo, não da história dele. -------------- Acho que aí está o segredo. A vida do garoto de 15 anos que fui ERA DELE É SÓ DELE. A vida do cara de hoje, conectado no mundo 24 horas por dia, é a vida de todos, do planeta, do mundo. O que ele vê é aquilo que o mundo vê, portanto ele não pode e não sabe mais ter uma experiência só dele. Aos 15 eu lia meu livro, livro que eu pensava só eu ler, só eu ter, só eu ser como eu era. Hoje leio sabendo quentos mais estão lendo, quantos mais comentam, quantos mais estão comigo. O livro não é meu, é do mundo. A experiência não é minha, é geral. ---------------- Hoje é preciso uma força imensa para criar algo de único, particular, individual, só seu. Por isso a pobreza de experiências. Ver um disco voador no Vietnã não é mais uma coisa úncia e sagrada. É só mais um post sobre ovnis na net. Graças a Deus eu vivi meus 15 anos em 1977. Completamente isolado. Só. Com um Voltaire só meu. Um Truffaut que só eu conhecia. Um Roxy Music que cantava só para mim. Minha casa parecia ficar em uma rua sem vizinhos. Meu quarto era uma caverna secreta. Eu era o descobridor e inventor de uma vida, a minha. Foi um ano mágico. Porque foi e continua sendo parte de mim e só de mim. Dura. Vive. Respira e é pra sempre. E é assim.

WILLIAM JAMES E O PRAGMATISMO

Andei lendo William James, filósofo americano dos anos 1900. Irmão de Henry James, este, talvez, o melhor escritor americano da história. ----------- William é pragmatista, e nós, como somos herdeiros da filosofia mais anti pragmática possível, vassalos da França eternamente no berço, não temos a menor ideia do que seja o pragmatismo. Achamos que seja "utilitarismo", quando na verdade é a busca do real. ------------- Muito mais interessante que ficar expondo o que seja tal filosofia, vou dar exemplos na vida real e virtual de hoje. Os assuntos que vou tocar são espinhentos. E ao mesmo tempo constrangedores de tão óbvios. Não mereceriam uma linha de discussão. Mas em nosso mundo infantil, são considerados temas relevantes. ----------------- Primeiro devo falar do inimigo do pragmatismo, o idealismo. Grosso modo, no idealismo o real é construído de dentro para fora. Voce tem uma visão ou uma ideia e a constroi mentalmente. Depois irá erguer todo um universo de palavras e jogos mentais para o validar. William James diz que nessa filosofia há um imenso esnobismo. É uma filosofia de escolhidos, um tipo de clube exclusivo, garantia de que se voce faz parte, voce é um nobre. É uma filosofia de mãos limpas. Evita tudo que seja contraditório e sujo. Se voce edifica uma teoria, ela se torna verdade. O MUNDO REAL DEVE ENTÃO A PROVAR. E ESSA PROVA SE FAZ ADAPTANDO O MUNDO À TEORIA. ----------------- Idealistas, voce já percebeu, vêm em tudo um universo paralelo, como um tipo de fantasmas. Por detrás de cada ato ou objeto, vive uma sombra, uma ideia. Nada que acontece ou existe é uma coisa em si mesma. Tudo é o que não parece ser. Esse modo de ver o mundo garante ao idealista a sobrevivência de suas teorias mais delirantes. Pois se voce NÃO PERCEBE A VERDADE DE SUA TEORIA, É PORQUE VOCE NÃO POSSUI A SABEDORIA DE PERCEBER O QUE ESTÁ ESCONDIDO. ----------------- Garantia de eterno estado de paranoia, todo idealista vive vendo segundas e terceiras intenções em tudo, e cria as mais absurdas imagens para justificar suas fantasias mentais. ----------------- William James destroi isso dizendo que A VERDADE FUNCIONA, A MENTIRA NÃO. E então, claro, ele discute o que seja funcionar. Para isso ele usa alguns exercícios, e eu exibirei dois. --------------- Primeiro ( para grande irritação dos idealistas ), o ser humano tem tendência a querer que tudo fique como está sempre. Ele aceita o novo desde que esse novo não modifique o funcionamento geral. Dou uma prova disso no mundo cotidiano de 2022. : Novidade: Casamento gay. Registrado e assumido. Tendência conservadora: É uma dupla gay, mas que se casa, forma família e se adapta ao bem estar geral. São dois homens ou duas mulheres, mas que se obrigam a fazer o papel tradicional: pai-mãe-filhos-lar. ------------- Qual a prova de VERDADE desse fato? A família é VERDADEIRA E REAL. Ela vence o teste. Continua existindo. Observe que não há aqui um jogo de palavras, uma construção de imagens ocultas, nada disso. É apenas uma constatação dentro do TEMPO E DO ESPAÇO. -------------- Segundo exemplo é a funcionalidade. A família funciona? Sim. O que nos leva a esse sim? Dois fatos: ela dura e ela não entra em choque com o mundo como ele é. Quando casais gays ou amigos vivem dentro de uma "chamada nova família", são eles que se adaptam à familia tradicional e não ela que muda. Portanto são duas verdades: a família, coisa real e verdadeira; e o mundo homossexual ?, ele é tão real e verdadeiro quanto a família? Atenção agora: ELE PODE ENTRAR DENTRO DA FAMÍLIA,NA REALIDADE PORTANTO, SEM COLOCAR A PRÓPRIA REALIDADE EM RISCO. Vai durar. E não vai destruir a verdade. É portanto, real. --------------- Um transexual dá mais um exemplo disso. O mundo ideal teima em dizer que um homem que virou mulher é uma mulher. Uma óbvia e infantil construção mental de uma filosofia que precisa crer que basta PENSAR E ARGUMENTAR PARA QUE ALGO SEJA REAL. Para um pragmatista, um trans será sempre um homem-que-virou-mulher e que hoje é nem homem e nem mulher, mas sim um homem-que-virou-mulher. Isso porque, por mais que ele negue, ele tem uma memória e uma experiência de vida que uma mulher não tem. O simples fato de ele precisar ser operado ou enfrentar a imagem corporal já lhe dá uma história, concreta e real, que nenhuma mulher teve ou terá. Sim, ele pode gritar ter uma ALMA de mulher. Mas constate, é o argumento do idealismo mais uma vez. Por detrás das aparências há sempre algo que apenas pessoas superiores como eles podem ver. Trans existirão para sempre, é provável, mas para se tornarem uma verdade e uma realidade, deveriam parar de querer ser uma ideia ou um desejo, e se tornarem uma coisa que funciona, ou seja, um homem-que-se-tornou-mulher. ------------------- No Brasil, como em toda América Latina, o pragmatismo é visto como algo pobre demais, chão demais. Aqui a ideia do querer é poder se afirma como um tipo de lei. Não se constata se uma coisa funciona e dura e o fato dela não funcionar pode ser visto até como uma vantagem. Não funciona porque o mundo está errado, pois a ideia é perfeita. Cole essa frase na sua memória. Não funciona porque o mundo está errado, a ideia é perfeita. Essa frase explica 500 anos de erros no continente. --------------- O mundo não é perfeito, ele é real e verdadeiro. As ideias podem ter uma aparente perfeição, mas elas não são reais e nem verdadeiras. ---------------------- Hora de falar da verdade? Falemos de Deus. Ele existe? É uma Verdade? ---------------- Um idealista construirá toda uma obra de citações, imagens, intuições, provas físicas, tentando assim dizer ser Ele real ou não. Como William James procede? Deus faz parte da civilização desde sempre e sua presença garante seu funcionamento. Ele dura. Permanece. Volta. Não desaparece dentro da vida das coisas. Pragmaticamente Ele é real e é uma verdade. Existe desde sempre e faz diferença no âmago do tempo e do espaço. Teste final: Deus funciona? Sim, funciona. Tanto funciona que é Ele sempre o inimigo daqueles que desejam destruir o mundo como ele é. Idealistas revolucionários sabem que com DEUS não há como partir do ponto Zero. Para se refundar o mundo e se zerar a história, Deus deve ser abolido. Burramente os idealistas dão assim, de barato, aos pragmatistas, o maior argumento sobre a funcionalidade real de Deus, é Ele quem garante este mundo, o mundo real, não o das ideias delirantes. ------------------ A próxima vez que voce ver na rua um idealista, hoje eles costumam ser faceis de ser identificados, têm rosto de maluco e falam slogans sem nenhuma conexão com a realidade, saiba que esse idealista bronco não irá jamais mudar a realidade ou colocar em risco a verdade. A não ser que ele crie um modo de entrar no mundo da realidade, aceitando o real, sem modificar a verdade ( modificar a verdade, eis uma ideia absurda do idealismo ), esse idealista bronco será sempre aquilo que ele é agora: uma ideia sem função e uma vida sem verdade nenhuma. -------------------- Um PS aqui. William James faz parte também do mundo da psicologia. Sua ideia, nova em 1900, era: O cérebro humano é físico e é nele que se encontra a raiz de toda doença nervosa. Dentro dele ( eis sua influência sobre Jung ), há uma parte só do ser, ou seja, incomunicável, e outra que é comum à todos ( o inconsciente coletivo ). Em nossos pensamentos somos sempre sós. Não há solidão maior que aquela do pensamento. O que pensamos é incompartilhável. Tratar um doente é tratar um sintoma e o objetivo do médico é se ater ao que funciona- o que é real. James chega perto da moderna psiquiatria e dá uma banana aos teóricos da palavra, autores que tentam adaptar o cérebro humano às suas teorias. Na psicologia inglesa e americana sua influência será grande, na alemã e francesa, nula. ---------------------- Países que amam revoluções utópicas jamais entenderão o pragmatismo.

MARILENA, O SER QUE NÃO EXISTE, DERRAMA BURRICES PELO ORIFÍCIO BUCAL

Sim meu querido, este texto tem de ser irado. Pois foi essa fala de Marilena, a Idiota, que me fez perder todo respeito por gente como ela. Ao revelar seu ódio preconceituoso à classe média, Chaui, a inutil, revela possuir uma constrangedora burrice. -------------- Todo pobre quer ser classe mèdia. Então, pelo pensamento asnento de Marilena, ao se tornar classe média, o pobre se torna, de forma automatica, um ser que deve ser destruído. Ele, o pobre, ao receber um salário melhor, se faz burro, preconceituoso e fascista. Então me diga Marilena, a Repolha: O pobre deve permanecer pobre? Ou saltará direto para um tipo de aristocracia fantasiosa, exatamente o mundo e a classe social ao qual Marilena, a Jagunça, e seus amigos birrentos bixiguentos, pensam fazer parte? -------------------- Marilena, a Chaui-que-fede-ali, deve querer que o pobre melhore de vida SEM SE TORNAR CLASSE MÉDIA. E é aí que ela revela sua ansia stalinista. Que seja: o pobre deve ser e fazer o que meu projeto dita. Ganhar dinheiro e continuar a não ser classe média. Pois Marilena, a Lampiã, como todo intelectual de esquerda, se dá o direito de saber aquilo que é melhor para quem nunca precisou de seus conselhos. E nem da ajuda de uma filósofa de pouca filosofia e de muita decoreba. ------------------------ Marilena, a ameba. ------------ Ao assistir esse video, anos atrás, fiquei estupefato. E confesso que agradeço todo dia por ela ter tirado a máscara e me exibido sua cara sulfurosa. Nela há vaidade, empáfia, onanismo, auto satisfação gordurosa, crueldade latente e uma burrice que beira a patologia. Isso porque foi e é a classe média quem deu e dá garantias à liberdade, à igualdade e à dignidade do povo. Foi ela quem destruiu o sistema de castas, a escravidão, quem instituiu o direito a felicidade e a saúde para a maioria possível. Atacar a classe média é debochar da civilidade, da possibilidade de melhora, debochar da liberdade de ser e de querer ser. Mas, como eu bem sei, o sonho dessa gente é o retorno a um tipo de idade média, onde o intelectual pode brincar de ser nobre e o povo é constituído de vassalos obedientes. Marilena a rainha da cocada podre. ------------------ Em tempo: Eu odeio essa gente estúpida.

O ARISTOCRATA DA TELA: ALAIN DELON SE DESPEDE DA VIDA

Não há e nunca houve ator mais bonito que Alain Delon. E por vivermos em mundo que cada vez mais odeia a beleza, não teremos ninguém para ocupar seu lugar. Sendo tão belo, Delon tem o dom básico do aristocrata de verdade. -------------------- A beleza é injusta. Ela premia de forma aleatória. O ódio atual contra a beleza se deve a não aceitação do mundo real, mundo que é injusto e também é belo. A aristocracia, aquilo que faz de alguém algo ACIMA da média, começa pela beleza. Existem aristocratas fisicamente feios, mas não há aristocrata que não ame a beleza. Alain Delon é não apenas belo, ele se educou e criou um halo de frieza e de indiferença estudada que o tornaram o mais aristocrata dos aristocratas. Quando se imagina um conde de linhagem secular se pensa em Delon. Melhor ainda, quando se imagina um nobre que perdeu seu título mas manteve sua alma, também se pensa em Delon. ---------- Sua origem foi plebéia, ele nasceu em meio aos bandidinhos do sul da França, terra da Camorra. Mas, por ter vindo ao mundo com uma casca de beleza, logo percebeu que seu corpo era um trunfo. Era inteligente. E ambicioso. Uniu-se às pessoas certas, muitas eram nobres empobrecidos, havia disso na Europa dos anos 40-50. A TV e o mundo do sucesso mundano ainda não haviam poluído as mentes mais refinadas. Delon fez-se. Entre velhos gays, mulheres perdidas e tipos suspeitos. Todos ricos, todos sedentos por beleza, todos aos seus pés. ------------ Foi amigo de boxeadores, mafiosos, meretrizes de hiper luxo, corredores de rally, ciclistas, ladrões. E fez filmes. Muitos ruins. Vários bons. ------------- No cinema ele conseguiu ofuscar estrelas como Brigitte Bardot, Romy Schneider, Burt Lancaster, Jean Paul Belmondo. Quando entrava em cena a gente pensava: chegou um vigarista refinado. Ele nunca parecia violento, mas sempre transpirava crueldade. Delon foi mais uma prova de que a beleza verdadeira está sempre temperada pelo mal. -------------- O SAMURAI, O SOL POR TESTEMUNHA, O LEOPARDO, são talvez seus mais perfeitos filmes. Mas há ainda A PISCINA, STAVISKY, ROCCO, A GAROTA DA MOTOCICLETA...são muitos. Em todos ele é o mesmo cara: bonito, maldoso, frio, quieto. Misterioso. Delon passava mistério em cada olhar e em cada gesto. A PRIMEIRA NOITE DE TRANQUILIDADE é o filme onde ele prova ser também um verdadeiro ator. Mas não era atuar aquilo que o interessava. Ele ambicionava poder. E o obteve. Foi durante trinta anos o mais famoso ator europeu. ( 1958-1988 ). Nem Mastroianni ou Yves Montand, nem Gassman ou Belmondo foram tão famosos. E foi o mais rico dos tempos. Havia ainda Tognazzi, Sordi, Gabin, Trintignant, Volonté, Von Sydow, Schell, Froebe. ------------- Agora, aos 86 anos, após um AVC, Delon pede por sua eutanásia. Na Suiça isso é normal e Delon quer sair da vida "com dignidade". Aristocrata que é, ele não divulgou a data. Pode já ter deixado nosso mundo, não saberemos. Na carta ele diz não suportar a ideia de precisar depender dos outros para viver. Prefere apagar as luzes agora, enquanto ainda é o dono de si mesmo. ----------- Covarde? Precipitado? Quem tem o direito de julgar um aristocrata? Alain Delon faz aquilo que gente de seu mundo faz: decide. Escolhe. Opta. Faz na solidão. Friamente. Sem drama. Sem nada de choroso ou espetacular. ------------------ Para a geração que precisa de audiência 24 horas por dia, isso é incompreensível. Não haverá mais ninguém assim. Pena. Pena de nós, nunca dele.

O NOVO PARAÍSO ( ASSISTINDO GREASE )

Voce deve saber mas vou contar: ao fim da guerra, 1945, houve o tal do baby boomer. Soldados de volta pra casa tiveram filhos, muitos filhos e a população em geral, tomada por otimismo, botaram crianças no mundo. Nunca nasceu tanta gente em tão pouco tempo. Assim, em 1950, 1951, montes de crianças brincavam nas ruas e a sensação era de que o planeta havia se tornado um playground. Em seguida elas se tornaram adolescentes e o mercado logo começou a vender milkshakes, camisetas e bicicletas como nunca. Os pais enriqueceram ( no primeiro mundo....aqui no Brasil esse salto se deu com atraso, mais ou menos em 1969-1976 ), e pais com melhores salários instituiram a mesada para os moleques. A mesada era gasta em cinema, lanchonetes, bolas, tênis e em discos. Nasce aqui o rock, o primeiro gênero musical específico para adolescentes. Cria-se uma imagem: ser adolescente é a melhor coisa que existe. Celebre isso. Tenha orgulho de ter 16 anos. Não é preciso FAZER nada, basta SER um teenager. ------------- Como consequência vieram o ódio à autoridade, a raiva dos pais e o medo de ser adulto, pois se ter 16 anos era o máximo, dali pra frente só poderia vir o inferno. Ser adulto era sofrer em vida. ------------- Freud e Jung não tinham como prever isso, mas a psicologia só pode ser levada a sério se colocar como ponto central o fato de que ter 16 anos é o cume da montanha. A partir daí observamos, cada vez mais, que essa idade, de forma ilusória, se estica, e hoje vemos gente de 50 anos vivendo e pensando como se tivesse 16. Há até presidentes assim ( Macron e Trudeau ). Toda a arte passou a ter espírito teen, seja cinema seja literatura. Mesmo filmes que parecem sérios possuem a seriedade de um adolescente deprimido. Observe que não há mais filmes sobre casais adultos com filhos. ------------------ A Europa e os EUA na atual guerra se comportam como teens birrentos. " Vou me vingar da Russia lhe proibindo de usar o Facebook e de comer no Mac ". ----------------- GREASE, o delicioso filme de 1978 vende esse paraíso adolescente a perfeição. Tudo nele é celestial e voce deseja ser como eles e viver dentro daquele mundo. ( Okay, se voce se acha mais sofisticado talvez queira viver dentro dos filmes de Wes Anderson ou de Tim Burton....muito adultos eles são, não é? ). --------------- A cena que posto exemplifica o que falo de forma linda. Tudo ali, a dança, os rostos, a canção, nos traz a certeza de que aquela é a felicidade suprema e possível. Para ter esse paraíso basta ser uma pessoa de 16 típica. E é aí que vive a armadilha. Isso porque o Paraíso sempre foi um lugar e um estado de alma e desde os anos 50, o paraíso é um TEMPO. E o tempo muda, passa, não se pode obter. Então somos um mundo em que nosso paraíso escorre, escapa, se vai. Pior, sabemos disso. É um paraíso com data de vencimento: os cabelos brancos, a barriga, a careca, as contas pra pagar. Por isso a louca mania de tentar esticar o tempo. Não envelhecer, não amadurecer, jamais sair dos 16 anos. ---------------- Eis o porque do sucesso tão grande dos herois de quadrinhos, Harry Potter, música POP, jeans e tênis, academias, professores moderninhos de filosofia, partidos libertários, drogas. Todos prometem a mesma coisa: me siga e tenha 16 anos para sempre. Caramba! Haja depressão!!!! A disputa estará perdida sempre! Não se vence a biologia. Não se vence o tempo. ( Hey! Mas há uma NOVA ciência que promete acabar com a biologia e com o tempo! Wow! É tudo que queremos não é? Eterna juventude! Obaaaa! ). Aliás a palavra NOVO ou NOVIDADE designa um bem em si. Se tornaram a qualidade máxima. Nada, nem o BEM ou o JUSTO é mais valoroso que o NOVO. -------------------------- E pensar que em 1930 o desejo de todo garoto de 14 anos era ser adulto como seu pai era....Hoje o pai inveja o filho. --------------- Tudo isso não valia para o mundo árabe ou russo e nem para a China ou Africa. Por questões religiosas ou financeiras, a maior parte do planeta não conheceu esse novo pseudo paraíso. Mas tiveram a ilusão de que americanos eram mais felizes. ----------------- Em 1978, ano de Grease, eu tinha 16 anos. E vi TODO MUNDO usar a camiseta preta com taxas de John Travolta. A febre não foi menor que a que voce, jovem, viu com Harry Potter ou Homem Aranha. Todos tentavam viver a vida de Grease. Porque aquela parecia ser a melhor vida possível. Um segredo: eu não era feliz. Meus 16 foram a cobrança, imposta por mim mesmo, de ser feliz. ---------------- Pensando melhor, no mundo de hoje não se quer ter 16 anos para sempre. Os 11 anos são o novo paraíso. Aos 16 meninos são meninos e meninas são meninas. Aos 11 a diferença entre os sexos não se afirmou. Melhor ter 11. Sexo como brincadeira inocente, arte como fantasia de contos de fadas, a vida como um parque da Disney. --------------- Quem for adulto domina essa população com facilidade.

O OBEDIENTE E O REVOLTADO

PrA começo de conversa cito Johnny Rotten ( John Lydon ), um homem que sempre se notabilizou por falar a verdade sem pensar no medo: " Eu nunca achei que viveria para ver o dia em que a direita se tornaria os caras legais ( cool ) que mandam o dedo do meio para o sistema, enquanto a esquerda se tornou o chorão hipócrita que anda por aí perseguindo todo mundo". --------------- Eis a síntese do que acontece. O esquerdista hoje obedece. O cara da direita questiona tudo. A direita incomoda. A esquerda obedece. A direita discute e põe em dúvida. A esquerda se cala e manda calar. E obedece. Ah sim, voce pode dizer, mas a direita obedece seu líder. Pensar isso mostra o quanto voce está longe de nosso mundo. Discutimos com ele o tempo todo. Discutimos inclusive com a igreja. Sem parar. Em 2022 somos nós os insatisfeitos. --------------- Sou de um tempo em que ser de esquerda era ser contra a TV. Contra os jornais burgueses, de banca de jornais. Contra os professores e a escola. Contra as indústrias químicas e os bancos. A esquerda era chata, inquisitiva, via defeitos em tudo, questionava até a verdade. Tudo se inverteu hoje. Bancos conseguiram cooptar a esquerda. Indústrias químicas os calaram e fizeram deles doceis aliados. Professores viraram gurus que não podem jamais ser questionados. Artistas são sábios infalíveis. Triste dizer, mas ser de esquerda hoje é obedecer. Usar o cabelo azul, engolir toda ordem de qualquer minoria vingativa, sem discutir jamais claro, seguir como ovelhas ou cobaias qualquer novidade em nome do "Bem", da "Igualdade", da "Justiça". ------------- Não vou entrar no tema do que seria esse bem que traz em si a vingança, da igualdade que jamais aceita a dúvida e a originalidade, ou da justiça que segue leis mutáveis e sempre cambiáveis. O que afirmo é que para ser bom, justo e igual voce precisa obedecer. Na esquerda inexiste a discussão do que sejam esses valores. Eles são impostos. Engula e cale sua boca. Seja bom como eu exijo que o bem seja. Seja justo de acordo com esta justiça minha. E seja igual a mim mesmo. Sem colocar nada em dúvida. ---------------- Se voce costuma me ler sabe, essa é uma situação inumana. O homem só existe enquanto coloca a dúvida na mesa. O ser humano é por natureza questionador. Se o sonho da esquerda, como diziam Orwell e Chesterton, é a criação do ser inumano, do homem máquina, então estamos finalmente vendo o objetivo final do sonho marxista. O homem anônimo. Obediente. Programado a repetir slogans. --------------------- Aliás, nunca vi tanta gente fisicamente igual. É uma pseudo diversidade de coques, barrigas, franjas e blusas coloridas que fazem de todos seres intercambiáveis. Difícil diferenciar um aluno do outro. ---------------------- Mas a alma se revolta. Ela quer a experiência da individuação. Ela almeja ser. Mesmo que precise morrer para isso. Essa é a direita. Aquela que hoje é atacada, censurada, perseguida, ridicularizada, e que mesmo assim, resiste. Porque sua força não vem da aula de um professor de filosofia. Ou de um filme chato de Hollywood. Não vem de um partido ( ele nem existe ) e nem de uma moda "do bem". A força vem da alma. Do espírito. Do duvidar sempre. Questionar. Ser o chato. O bobo. O que incomoda. ------------------ Johnny está certo hoje como estava em 1977.

MOZART, SERENATAS K 239, 388, 525. ( PENSANDO SOBRE VICO E MOZART ).

Serenatas eram aquilo que parecem ser, pequenas peças musicais para uso noturno. O objetivo era o amor. Esquecemos que música tinha e tem uma função e que no tempo de Mozart era a de elevar ou entreter. ( Não pense que me contradigo. Mesmo a música absoluta e livre de Beethoven tem uma função: expressar. A palavra função não rebaixa a música. ) . É música bela que almeja a beleza. Mozart aqui não tenta o absoluto como em seus concertos para piano. E não quebra o limite como nas óperas. Ele faz, de modo sublime, o que dele se espera. Penso que o faz com alegria. Quando falamos de Mozart nunca devemos esquecer que ele amava o amor. E não era o amor que almeja a nobreza hetérea como se dá em Chopin ou Liszt. É o amor totalmente erótico, sexual, picante. Por isso que acho Mozart o mais honesto dos gênios. Ele não pinta de dourado o que é vermelho sangue. Enquanto toca seu teclado ele olha um seio e imagina um traseiro ( tinha tara por traseiros ). Mozart cria por dom. -------------- Aplicar Vico à Mozart é muito interessante. Mozart cria sua obra. Mas saberá tudo sobre ela? Conseguirá recriar tudo que fez? -------------- Para quem não leu, Vico diz que só podemos saber a verdade sobre aquilo que fazemos. Nós fazemos a matemática, as leis, a engenharia, então podemos saber tudo sobre um cálculo, o direito ou uma ponte. Mas não sabemos tudo sobre nosso corpo ou nosso planeta pois não os criamos ou construimos, estamos neles. -------------- Então pergunto: Mozart criou o concerto 20 para piano. Ele sabia tudo sobre ele? Ou um gênio se surpreende com sua própria obra? Penso que sim, ele se surpreende. Se um gênio tivesse o segredo de sua obra em mãos, ele criaria vários Dom Giovanni e vários concertos todo dia. Bastaria querer. O gênio não o faz porque sua obra nasceu em sua mente e sua mente não é criação sua. E quando falo mente eu falo o fundo de sua alma. ------------- Paganini poderia e criou na verdade, várias obras como quis. Ele tinha domínio sobre aquilo que criava. Isso porque sua obra não o surpreendia. Ela era um molde, uma receita, algo que ele inventou e fez, e assim poderia reproduzir quando quisesse. Paganini dominava sua música. Mozart era por ela dominado. Paganini fazia algo que podemos aprender a fazer. Algo que se constroi. Mozart fazia algo que só ele mesmo poderia fazer. Não havia uma fórmula ou uma invenção racional. Ele fazia o que fazia sem saber como ou quando fazer. Sua mente, indomável e inapreensível fazia livremente. ------------ Essa a diferença entre o artesão e o artista. -------------- Vico estava certo. Nunca produziremos outro Mozart. Mas toda forma musical tem seus Paganinis. Domine a técnica e saia produzindo solos. Mas dominar a técnica não te fará compor Dom Giovanni. Pois podemos aprender a solar, é uma invenção humana, mas não podemos aprender a criar, pois a criatividade é componente daquilo que chamamos de alma e isso não foi por nós inventado.

O QUE NÓS SABEMOS É AQUILO QUE NÓS INVENTAMOS

O que nós sabemos é aquilo que inventamos. Essa a afirmação de Vico contra Descartes. Em pleno século XVIII, aquele em que a razão prometia tudo saber ou poder saber, o italiano Giambatista Vico dizia que não, Descartes errara. Penso Logo Existo é uma tolice porque nos será sempre impossível entender a nós mesmos. --------------- A base de toda filosofia de Descartes, como é toda filosofia racionalista, se dá no conhecimento da matemática. Os números seriam a prova da possibilidade de se conhecer tudo, para tanto, bastaria se reduzir a realidade à matemática. A estatística, o cálculo, a aplicação da equação certa, tudo seria possível. Vico destroi essa ilusão dizendo que " O homem pode conhecer tudo sobre a matemática porque foi o homem quem criou a matemática, mas isso não significa que tudo o mais seja matemática". -------------- O que podemos realment conhecer a fundo, é aquilo o que inventamos. Saber é criar. Tudo aquilo que não criamos está, e estará sempre, fora de nosso saber. Isso, claro, não impede que devamos tentar saber, que não iremos saber muito mais, porém, o domínio total de um tema só será possível sobre aquilo que nós mesmos inventamos. ------------- Assim, podemos saber tudo sobre o direito, pois fomos nós quem criamos leis, mas jamais saberemos tudo sobre nossa mente, pois ela não foi criada ou feita por nós. Ao estudar a mente partimos daquilo que já existe independente de nós mesmos, e pior, estamos usando a ela mesma para tentar entender ela mesma. Não sabemos porque ela existe, como ela foi criada e para que ela serve. Tudo que fazemos é tentar abstrair para "imaginar" como seria a observar "de fora". Muito poderá ser aprendido, mas saber tudo jamais. -------------- Poderemos, e de fato muitos sabem tudo sobre um carro. Sobre suas peças. Sobre o aço. Sobre o plástico. Pois é tudo criação nossa. Mas não saberemos como fabricar ferro, petróleo, ou vencer o desgaste das peças. Pois são coisas que não criamos. Inventamos o plástico e o aço, o carro e a gasolina, mas não o ferro e o petróleo. ------------- Por isso a medicina remedia mas não cura. A doença é invencível porque não criamos nosso próprio corpo. Jamais saberemos tudo sobre o corpo humano porque nascemos nele, somos condenados a viver nele, e claro, não o inventamos. Mas há fetiches modernos que se aplicados a Vico caem por terra. ------------- Não temos como vencer o clima. Ele é incriado por nós. Não temos como saber se estamos secando ou inundando, se caminhamos para uma era do gelo ou do fogo, se ao fazermos isto provocamos de fato aquilo. Usamos estatísticas e estatísticas servem para apenas isso, matemática. Sabemos tudo sobre estatísticas, nós a criamos, mas nada sobre o clima, ele nos escapa. Hoje é 24 de outubro e chove e faz frio. Uma estatística previu isso uma semana atrás. Jamais poderá saber porque. Mas faz de conta que sabe. E muito mais importante, jamais poderemos mudar o clima. Porque não o inventamos. ---------------- Bill Gates em julho, no auge de sua megalomania, disse que iria criar um escudo para controlar o clima da Terra. Preciso comentar o quanto isso é ridículo? Quem controlaria Bill Gates? E quem controlaria a ação do clima sobre o mecanismo que controlaria o clima? Eis uma ideia tão imbecil quanto a invenção de uma máquina do tempo. Gente como Bill Gates prova a validade de Vico. Gates sabe tudo sobre aquilo que ele inventou. Porém, sobre todo o resto é uma besta. Mas seu ego faz com que ele pense saber bem mais. Pobre tolo. ------------ Para Vico não há como provar que Deus exista porque não criamos Deus, assim como não há como criar vida, pois não a inventamos. ------------ Fazemos pão e sabemos tudo sobre a panificação, mas somos incapazes de entender o que seja uma semente de trigo. Podemos hoje, em 2021, modificar uma semente, mas não a criamos de algo que não seja ela mesma. O pão será sempre de trigo. O trigo da semente. E a semente de outra semente. A verdade da semente nos escapará sempre. Faremos cálculos infinitos e não iremos criar uma semente de trigo de um grão de sal ou de uma folha de feijão. Tudo o que poderemos fazer é melhorar a semente. ------------- Penso que Vico criou então uma verdade que Wittgeinstein levaria ao extremo: não conseguimos falar sobre aquilo que não foi criado por nossa língua. Falamos tudo sobre O Direito ou sobre Uma Ponte, mas não conseguimos expressar tudo sobre a DOR ou sobre o AMOR. Nesta crise atual, desconfie sempre de quem diz saber tudo sobre algo. Quem fala coisas como ESTA VACINA CURA, ou ISTO ESTÁ TOTALMENTE CERTO tenta apenas convencer a si mesmo de um fato que lhe escapa. Em crises o honesto diz que está tentando, está querendo acertar. O perverso fala com falsas certezas. O homem bom fala com bom senso. Vico está sempre certo.

MORRER NA HORA CERTA ( em Roger Scruton we trust )

Acabo de ler um lindo texto de Roger Scruton sobre a morte. Não, não se assuste, nada de deprimente aqui. Juro pra voce. ------- Scruton fala do prolongamento da vida. Do modo como as pessoas hoje vivem mais, vivem muito, vivem demais. Ele começa falando sobre o suicídio e ao final fala sobre o modo mais digno de morrer. Segundo ele, nossa visão da morte, a visão moral da coisa, não cabe mais nos dias de hoje. Isso porque toda nossa moral sobre a morte foi criada quando se morria cedo e se morria muito. A morte era rápida e nunca parecia ser "na hora errada". Então Scruton fala brilhantemente sobre o que seria uma morte na hora errada. Me permitam mas agora quem fala sou eu ( sempre tendo Scruton como guia ). --------- Uma pessoa que está velha e que foi famosa um dia, mas que hoje ninguém mais a conhece, ou pior ainda, descobre que tudo que ela fez foi irrelevante. Essa pessoa sobreviveu à sua morte. O momento de sua morte foi perdido. Um homem que um dia foi amado e respeitado, digamos um político, mas que hoje, ao ser descoberto como mentiroso ou indigno, esse ser agora patético, sobreviveu ao seu momento de morte. Mas há algo ainda pior, e isso eu conheço bem de perto, que seja: Por vivermos mais tempo, o mundo ficará cada vez mais cheio de gente que já se foi espiritualmente, mas que insiste em viver como um tipo de fantasma de carne. Uma triste lembrança daquilo que já foi. Velhos que não mais recordam quem foram, que não se conectam a mais nada, que não sentem empatia ou medo, que apenas respiram, comem e adormecem. Velhos presos no pavor da morte ou na indiferença à própria vida. Esses, sinto dizer, deveriam ter morrido à muito. Perderam a vida, mas não morreram. --------------- Scruton diz que não há como morrer na hora certa ANTES DE HAVER MORRIDO. A ironia é que só sabemos ter morrido em hora certa após termos partido, ou seja, são os outros que saberão disso. ( Meu pai morreu na hora perfeita ). Mas podemos, de certo modo, nos preparar para não viver além do que devíamos viver. E este é um esforço, se é que se pode chamar de esforço, cada vez mais raro. ---------- Mas que esforço seria esse? Para o explicar, melhor primeiro dizer o que está nos levando a viver além do que valeria a pena. O pavor de morrer. O excesso de cuidado com a saúde. A higiene extrema. O não correr riscos, sejam emocionais, sejam físicos. O esforço, estafante, em adiar o fim. E qual seria o tal esforço para morrer em seu momento certo? ------- Scruton usa uma imagem exata em sua precisão: gastar o corpo e aumentar a mente. Envelhecer bem seria o ato de deixar o corpo se desfazer enquanto a mente cresce sem parar, ou seja, exatamente o contrário do que acontece com a maioria hoje, em que a mente se deteriora e o corpo insiste em se manter vivo. Scuton fala coisas simples, mas que penso serem genuínas: beba vinho e menos água, não se proiba de comer carne e gordura, ande não para melhorar sua forma, mas para ir e ver lugares, celebre e se permita exagerar, viva sua vida gastando seu corpo. Não se destrua, ele jamais fala em sucídio lento ou inconsciente, mas não se poupe para ganhar mais cinco anos. Nunca abra mão de um prazer real por um ganho que no futuro de nada te servirá. Em suma, e falando de forma mais poética e filosófica: não deixe de construir a sua morte. Pois edificar a morte é parte, e talvez a mais importante, da vida. ----------------- Todos os velhos que admiramos, poucos, viveram assim. Não foram loucos desvairados destrutivos, mas jamais advogaram da moderna religião da saúde e longevidade a qualquer preço. Não fumavam até criar um efizema, mas também não deixaram de beber seu vinho e comer seu filé. Viveram enquanto a vida era possível de ser apreciada. E por não se pouparem, ao ficar doentes, morreram rapidamente. ( Por rápido entenda seis ou sete meses, e não os anos e anos de asilo ou de demência ). ---------------- A medicina caminha para a utopia da promessa da vida eterna, e eu, que já tenho mais de 50, já sinto que a vida eterna seria uma maldição. Não porque eu não goste da vida, sou curioso e quero ver onde tudo vai dar, mas sim porque a vida sem saúde ou sem prazer não vale nada. Se torna apenas tédio e teimosia. Viver 150 anos ou mais, transformaria tudo em cinza anônimo ou em repetição, e viver eternamente faria da vida algo sem qualquer valor ( Que graça haveria em um aniverário se voce soubesse que ele iria se repetir para sempre? Para que procurar um amor se voce poderá o encontrar daqui a 100 ou 200 anos? Para que ver um amigo hoje se voce poderá o ver sempre? É a possibilidade da perda que dá valor à vida e quanto mais provável a perda mais ela vale ). ---------- Esse o sentido da morte, parte de nossa vida e não sua inimiga.

PREVENDO DEPOIS QUE ACONTECE

Não tenho dúvida alguma sobre o fato de que a história da humanidade não se explica pela razão. Sempre que leio bobagens do tipo: O cérebro humano se desenvolveu por ser carnívoro; a revolução francesa se deveu à ação de Voltaire e Rousseau; comunismo é a evolução natural do capitalismo ( essa até os comunas fizeram questão de esquecer ); dou gostosas gargalhadas. O que vejo, sempre, são pessoas prevendo a evolução histórica depois que ela já aconteceu. ---------------------- Não há planejamento que suporte o kaos natural da história. E quanto mais um grupo político tentar controlar a vida, maior será seu fracasso. Eis o porque do capitalismo sempre vencer ao final. A esquerda não consegue sequer imaginar ( eles não são muito bons em imaginação ), que o capitalismo não tem e jamais teve um plano global. O que o capital faz é dançar conforme a música, se adaptando de forma rápida àquilo que o kaos demanda. O capitalismo vive na crise, o socialismo necessita da ordem e do planejamento a médio e longo prazo, por isso sempre fracassa. A vida não comporta planos. ------------------------ A história, vista sob o ponto de vista da esquerda, ou seja, por 90% dos professores, é uma lógica sequência de ações e reações. Mas não é assim na realidade. Esse modo de ver a história só funciona se voce ignorar imensas fatias da realidade e se editar o tempo. Não há uma razão clara para o surgimento de Napoleão logo após a revolução de 1789, assim como não houve um motivo lógico para a Russia se tornar comunista e não a Alemanha ou a Espanha. Qualquer explicação será forçada agora, muito tempo depois da coisa haver ocorrido. ------------------------------------ Em 1980 não havia uma só pessoa no planeta que prevesse a queda do muro de Berlin. Depois, em 1992, um monte de sábios explicou o porque. Inventaram desde motivos religiosos até a ação da CIA. Não aceitam que a URSS caiu porque ela tinha de cair. Ela era a tentativa absurda de domesticar o indomesticável, a vida. --------------------------- No atual momento global pouco me importa se a China planejou a crise para ter vantagens ou não, se ela assim o fez irá fracassar completamente. Nunca funcionou esse tipo de objetivo. Do nazismo à União Europeia, toda tentativa de impor regras rígidas à história não sobrevive. A vida do mundo é como a vida de um só ser humano: imprevisível. ----------------- O capitalismo tem essa imensa vantagem: ele precisa do kaos para existir. Ele vive de crises, de novas ideias, da substituição de planos, do sucesso que ocorre por acaso. Ele é um espelho fiel daquilo que acontece na natureza e também dentro de nós. Ele é natural, instintivo. O socialismo é racional, portanto, artificial. --------------------- Nada explica a eleição de Bolsonaro como nada explica a eleição de Lula após tantas eleições perdidas. Explicar em 2021 algo que aconteceu ontem é muito, muito fácil, basta escolher uma teoria e insistir nela. Simples baboseira. ------------------------- O sucesso dos USA não pode nunca ser desvendado por uma teoria onde tudo faça sentido e pareça claro e lógico. Na sua evolução há muito de acaso, de improviso constante, de sorte, de imprevisto. Nunca houve um plano para ser o país mais rico do mundo, o que houve foi o desejo por sucesso liberado de forma como nunca antes na história do mundo. Liberou-se a ambição, o resto aconteceu. --------------------- Do mesmo modo, o domínio da Inglaterra já foi explicado até pelo fato de terem carvão nas ilhas ( a falta de senso de ridículo não tem limites ). A Espanha caiu por acaso, a Inglaterra tomou seu lugar porque foi levada à isso. Uma série de eventos aleatórios foram se acumulando, e sua ocorrência nada teve a ver com planajamento. Foi uma sequência de acasos, de sortes e de azares dos outros. Mesmo a educação: quando o reino criou Oxford e Cambridge, não houve um plano do tipo: OH! Vamos criar Oxford para dominar o mundo!.... Não!!!! O que houve foi um bando de padres e monges se unir para tentar preservar algum saber do passado. O plano era apenas esse: amor à cultura antiga. Nada de Hey! Vamos desenvolver este pedaço de terra!!!! ----------------------------------- Viver bem, tanto para um homem quanto para uma nação, é dançar conforme a música, sem planejamentos que não levem em conta o improviso, a anarquia e o acaso. Meu país, o Brasil, sofre desde sempre por ser um país naturalmente do improviso, mas que é obrigado a se adaptar às mais bobas teorias lógicas e delirantes. Nunca em nossa história fomos deixados livres para exercer nosso rumo natural. Sempre fomos domados por planos mirabolantes, teses importadas, objetivos artificiais. Soltem o brasileiro, ofereçam à ele 100 anos da liberação dos EUA de 1850, que voces verão um gigante acordar.

A GRANDE DATA DO SÉCULO XX

Leio um artigo sobre a grande data do século XX. Quando leio o título penso logo em qual será essa data... o tiro no arquiduque que deflagrou a primeira guerra mundial? A bomba de Hiroshima? A chegada do homem à Lua? A queda do muro de Berlin? Mas não, para o autor, a grande data aconteceu logo em 1900 e foi obra de um homem só: Max Planck. Em 1900, esse alemão percebe que alguns átomos sofriam um decaimento sem aparentemente motivo algum. Eles se transformavam, simplesmente se transformavam. Indo mais fundo com suas equações e aparelhos, Planck notou que o átomo que decaía era aleatório, não havia um motivo para sua escolha. Nascia a física quântica. Planck derrubava dois mil anos de física: coisas poderiam ocorrer sem motivo. -------------- Isso foi uma paulada não só na ciência, mas no próprio modo de pensar e entender o mundo. A partir de Planck, filósofos passaram a parecer crianças. Não havia mais a necessidade de uma ação para deflagrar uma reação. Em seu nível mais microscópio, a realidade não funcionava em termos lógicos, ela era aleatória. A vida não surgiu por um motivo, ela surgiu porque surgiu. Ao contrário do que dizia Einstein, Deus joga dados sim. --------------------- Tudo passa a ser uma probabilidade. Nunca uma certeza. Se eu jogar água no fogo há uma probablidade imensa de que o fogo se apague, mas não pode haver a certeza infinita. Parece bobo? Pois não é. Nosso cérebro está geneticamente conformado a só pensar e entender em termos de " se duas vezes foi assim, será sempre assim", ou então " é preciso um porque para aquilo ser como é". Planck jogou o acaso no centro da física e da ciência em geral. --------------------- A vida é então assim: Mozart é um gênio porque ele o é. Um acaso, não há um porque. Um homem se mata porque aconteceu de ele se matar. Sua dor, que em outro seria suportável, era para ele insuportável. Por que? Porque sim. A atual condição absurda do planeta não se deve à um plano chinês ou a uma revolta da natureza. Simplesmente não há motivo. Rolou de ser assim. O vírus é mutável por um acaso biológico e sua cura seria mais um acaso. ------------------ Observe que pensar em termos quânticos joga por terra 99% dos romances psicológicos, todas as teorias da sociologia e grande parte da filosofia. Não houve um motivo para a revolução ter ocorrido na França em 1789 assim como Hitler é inexplicável. A vida macro, assim como a micro, é um lance de dados. O melhor que voce pode fazer é narrar o ocorrido. Explicar não haveria como. ------------------ Insistimos em dizer porque José ama Maria e não ama Isabel. Mudamos essa explicação ao sabor dos dias. Mudamos porque o amor é acaso, não há porque José amar Maria. Ele a ama porque ama. ------------------ O tempo todo átomos estão decaindo e virando outro átomo. Alguns, não todos, e não se sabe quando, nem porque. Planck correu um risco imenso. Mas 2021 tem milhôes de aparelhos e experiências que provam seu acerto. ------------------ A vida? Uma sequência de acasos que ocorreram aleatoriamente. Conviva com isso: Deus seria o único motivo para quem Nele crê. O resto seriam cartas voando no espaço.

SÊNECA

Primeiro que fique claro: a filosofia estóica só se parece com o cristianismo em superfície. Cristo diz que a salvação está em Deus, Sêneca diz que a salvação reside em nós mesmos. O cristianismo, como toda religião, almeja a anulação do ego, o filósofo romano pede que mergulhemos em nós mesmos. ------------------------------------------------------------- Releio Sêneca em momento difícil de minha vida. Por motivos diversos, talvez tenha de me separar das minhas coisas. E no cerne do pensamento de Sêneca, existe a certeza de que as coisas nos escravizam e portanto nos fazem infelizes. Para ele, a receita da felicidade pode se resumir numa frase: Não se apegue. Pois a tristeza nasce do medo de perder. Não se apegue inclusive às pessoas, aos lugares, à própria vida. Tudo que voce possui de fato é voce-mesmo e é isso que te basta. A felicidade é conviver com esse eu-mesmo, enriquecer seu eu do único modo possível: pelo saber, pelo aumento de seus conhecimentos, por experiências. A infelicidade não é medida por aquilo que voce não tem, mas sim por aquilo que voce teme perder. Quem nada tem a perder é feliz. Não há infelicidade maior que o horror à perda. -------------------------- Aquele que teme perder teme a vida. Pois a vida é tempo que passa e tempo significa perda. No correr dos anos ele perde saúde, perde vitalidade, perde amigos que morrem, perde amigos que o traem, perde coisas que se desfazem, perde dinheiro que é gasto, perde sonhos, e por fim, perde a própria vida. Já quem não teme perder, quem nada tem a perder, nada perde. O tempo se torna ganho de experiência, o futuro se faz uma curiosidade, o dinheiro só existe para garantir a subsistência, os amigos passam como etapas da vida, os lugares mudam e são aceitos como fumaça. Quem se apega luta contra o tempo que tudo desfaz e tudo rouba. O desapego é entender que a única coisa que não muda e com que voce pode contar é voce mesmo. -------------------- Sêneca deveria ser obrigatório aos alunos de 16 anos.

ASSIM FALA ZARATHUSTRA - RICHARD STRAUSS

De forma básica a filosofia de Nietzsche diz que todos nós somos seres vivos, mas nem todos são homens. A maioria é um pato, uma ovelha ou um cão, mas para ser um homem é preciso ser livre, independente e trágico. Ser trágico significa ter consciência e de certo modo amar a precariedade da vida. Nosso destino é morrer, mas no caminho podemos ter a sabedoria de nos tornar homens. Essa filosofia, como todos sabem, é muito, muito perigosa. Na mente errada ela se transforma numa espécie de vaidade esnobe. Aquele que se considera um ser superior, um homem, olhará para os outros como meros animais. No extremo esse modo de pensar deu no Nazismo, mas toda tirania, inclusive todas de esquerda, tende a ver a massa como conjunto de bichos, burros e prontos para o abate, que precisam ser guiados rumo à verdade por algum ser iluminado, seja esse líder um general ou um intelectual. A filosofia de Nietzsche não tem culpa, pois todos esses assassinos não percebem ou não querem perceber o âmago de Nietzsche: O Individualismo. O homem que vê não vive dentro da sociedade, ele se isola mesmo entre outros seres. Guiar o rebanho é a negação absoluta de Nietzsche. O tal Super Homem volta as costas para a sociedade. Ele sabe que o caminho para a sabedoria é posse de cada um. O super homem está focado em seu percurso. Fazer política ou procurar formatar uma nação é coisa de lobo entre ovelhas, nada tendo a ver com a profunda humanidade do filósofo alemão. Tanto que ao perceber em Wagner o desejo de comandar uma revolução Nietzsche imediatamente rompe com ele. Não se iluda com o desserviço que seus herdeiros fizeram. A filosofia dele é irmã do budismo: cada um que encontre SEU guru e SEU caminho. ----------------- Richard Strauss não entendeu nada disso. Tão vaidoso quanto Wagner, de quem pegou muita influência, Strauss se via como um ser especial, superior, refinado, um heroi. Tanto que uma de suas obras fala das aventuras de um heroi, no caso, ele mesmo. No começo do século XX Strauss encarou colocar o livro de Nietzsche em música. Felizmente o filósofo já havia morrido. -------------------------- Não estou dizendo que a música é ruim. Strauss é um orquestrador maravilhoso. Aqui há música, muita música. É excitante, é instigante e jamais é entediante. É potente. Voce conhece seus primeiros acordes, a alvorada do homem. O modo como Strauss consegue levar adiante uma melodia que parece se encerrar em si mesma, é soberbo. Mas nada há de Nietzsche aqui. Strauss acha que o Super Homem é um tipo de alemão com espada e elmo, martelo e clava. Um homem que vence a neve, a fome e os inimigos. Nietzsche odiaria isso. O super homem de seua filosofia é um grego ou um romano, vive nú ao sol e bebe vinho. Ele dança. Ele navega. Ele pesca. A música de Zarathustra é mediterrânea. Jamais nórdica. Ela usa flauta, ela é leve e sensual, ela é quente. E trágica, claro, muito trágica. Ela dança à beira do vulcão, nunca à beira de uma geleira. Debussy está muito mais próximo de Nietzsche que Strauss. Ravel também. Alemães se irritam ao saber, mas França e Itália são mais super homem que a Alemanha. --------------- O cd que ouço tem a orquestra de Cleveland regida por Geroge Szell. Nota mil. Decca é a gravadora. Para completar o cd, temos Don Juan e As Alegres Aventuras de Till. Ambas são melhores que Zarathustra. São felizes. São sexy. São cheias de som. Ribombantes. Ouça.

O ROMANTISMO, ESSA COISA QUE DESTROI O MUNDO INTEIRO

Observar uma pessoa executar o trabalho para o qual ela nasceu. É uma espécie de espetáculo. A vida de uma pessoa, dessas que têm a sorte, a capacidade, a determinação, de trabalhar naquilo que desejam, é plena. Sua vida se justifica e o mais importante, ela não depende da metade de uma laranja. Nem da tampa de sua panela. Ela é, dentro daquilo que nossa vida permite, livre. ----------- Essa condição não impede que ela se case e tenha filhos. Na verdade até ajuda. Mas o tal do amor romântico não é e não será o centro de sua existência. Não sendo assim, ela é livre para ser ela mesma, única. Estou sendo radical? Ora, eu passei 40 anos vivendo dentro da adolescência. Tenho resquícios românticos que serão eternos. Ainda sou bastante infantil. Mas tenho consciência de que existe outro modo de viver. E afirmo ser ele muito, muito mais feliz. ---------- Faz 250 anos, pouco menos, que a praga romântica se instalou no mundo. Desde então, ser adolescente passou da condição de "luta contra o mundo", à "exigência do status quo". Antes, e isso até a segunda guerra mundial, ser adolescente era mal visto. Hoje, ser adolescente é a condição normal para ser aceito. Românticos enfrentavam a sociedade, hoje a sociedade pede que sejamos românticos-adolescentes para sempre. Mais importante que falar do romantismo é lembrar do classicismo. Isso porque voce sabe o que é hoje ser romântico: procurar um amor, ser dono da "sua verdade", não aceitar ordens, crer em alguma religião exotérica, lutar pela igualdade. Não é preciso analisar ou aprofundar nada disso. A ênfase romântica é no SER e nunca no ENTENDER. ----------- O classicismo é a condição adulta da vida. E o planeta internet favorece apenas o lado romântico da alma. A internet pede que sejamos todos pseudo Goethes. Pessoas que saibam um pouco de tudo, que estejam a caça do amor, afirmem seu ego de forma intensa, e principalmente, sejam originais. Cada um com sua obra: um blog, um canal, uma galeria de fotos, contos ou poemas, aventuras. Okay....mas Goethe não nasce em linha de montagem e o alemão era mais clássico que romântico. O que TODOS acabam sendo são adolescentes eternos. Uma alma em construção indefinida, sem prazo para acabar. Obras precisam de material, um adolescente consome. ------------- No classicismo, o mundo que perdeu sua preponderãncia por volta de 1810, ser adulto é a condição natural da pessoa. Antes de Rousseau, o perfeito imbecil, decretar que toda criança é perfeita e de certa forma angelical, tudo na vida era desejo de ser adulto. O menino de 10 anos era um pequeno adulto e a menina idem. Hoje um homem de 50 é um adolescente velho, ou pior, uma criança grotesca. Eu acho que perdemos nesse processo. -------------- Crianças sempre dependem de alguém que tome conta delas. Seja um adulto, seja o estado. E adolescentes nunca sabem quem são e o que desejam. Eis o nosso tecido social. Se tudo hoje parece precário ou fluido, a culpa se deve ao nosso desejo tolo de viver num eterno começo. Ele nos pede apenas uma coisa: "Siga seu coração. Afirme sua verdade pessoal. Procure o amor". Tudo que não seja isso deverá ser inimigo. Sobre esse tipo de vida tenho apenas um cometário: É o inferno! ----------- Adolescentes não conseguem ser pais. Não conseguem seguir ordens. Não sabem onde se situar. Têm uma vaga noção daquilo que desejam e por isso afirmam sempre o que não querem. Acima de tudo não querem responsabilidades. ------------ No mundo clássico o mais importante era crescer. Voce vivia para se fazer sábio. Não sábio no modo indefinido exotérico, mas sábio em termos de know how. O clássico lidava com o mundo sólido, material. Estoico, ele acreditava naquilo que se via, provava, experimentava. Seu desejo era ser adulto o mais rápido possível. Para assim poder saber. Mesmo quando esse ser se envolvia com magia ou bruxaria, o objetivo era entender um mistério. O ser humano de 1750 foi o mais perto do ser adulto que chegamos. Imperfeito, óbvio, mas foi o menos infantil. O amor era para ele um jogo, desejo sexual disfarçado em comvenção social. O casamento era uma forma de ter e criar filhos. Por isso estranhamos quando lemos poesia pré romantica. Há pouca, ou nenhuma ênfase no amor. A vida tem outros interesses maiores, o principal sendo "a sociedade". Não há a afirmação do EU contra TODOS. A coisa é EU em meio ao TODO. Não há enfrentamento e recusa, há JOGO e VITÓRIA. Ou uma terrível derrota. ----------------------- A atual pandemia está sendo enfrentada como pavor infantil. É uma das heranças românticas. Não quero encarar a verdade. Não quero aceitar a natureza. Que se cuide de mim!!!!! Romantismo que virou filme da Disney. Médicos super sábios de série de TV. --------------- Pensei tudo isso ao escutar suítes de Bach. Na interpretação de Sir Neville. Não há como escutarmos Bach do modo certo. Sempre o veremos como "um artista", e artista é para nós um "romântico", um tipo de ser especial. Bach era um trabalhador que trabalhava muito. Estudava seu ofício e tinha filhos. Bach precisava de dinheiro. Bach ganhava dinheiro. Suas músicas eram encomendas. " Bach, preciso de uma missa para o dia de São José", "Bach, preciso de uma suíte para um jantar que darei dia 30", "Bach, faça uma peça para que eu treine meus dedos ao piano". E Bach fazia. Ele não está expressando seu EU, ele está trabalhando. Ironia das ironias, faz 150 anos que ele é considerado o número um. Bach acima de todos. Depois Mozart e Beethoven. Haydn e Brahms. O resto varia. O sexto já foi Wagner. Já foi Schubert. Hoje é Mahler. ------------------------ Como Bach reagiria ao ser chamado de o maior? Provável que beberia vinho e pensaria: Obrigado Deus pelo dom do trabalho bem feito. ---------------- Mozart se soubesse ser um dos cinco maiores iria rir e dizer: eu agradeço! Mas....voce poderia me arrumar umas 2000 peças de ouro?.--------- Beethoven falaria: Eu sempre soube que era o maior. E eis aí o começo do romantismo. -------------- Para encerrar, tudo o que disse acima não se aplica ao povo mais pobre. Assim como eles nunca foram clássicos, não têm adolescência típica. Sonham em ter, mas ela é podada. A tragédia dos pobres é que hoje são dirigidos por uma elite infantilizada. Gente que crê no ideário romântico. "O que importa é minha verdade", lembram? ------ Crianças não dão bons pais.

SOBRE A LIBERDADE

Muitos filósofos, principalmente os românticos, dos quais os existencialistas são herdeiros, colocam a liberdade como aspiração suprema do ser humano. Não vou discutir isso. Apenas descreverei minha experiência com esse valor. ------------------------------- Dizer que a vontade de ser livre é o que nos diferencia dos bichos seria tolo. Há muito mais coisa que nos diferencia. O conceito de liberdade é muito mais um troco que O Valor. Mas, sim, é claro e patente que quanto mais antiga nossa civilização se torna, mais nos vendem o desejo pela liberdade. Definir liberdade não é dificil: Liberdade é fazer aquilo que meu instinto e meu desejo pedem. Complicar em cima disso é apenas exibicionismo intelectual. ------------------------------- Começamos nos libertando do pai. Ou de quem faça esse papel. Vemos nosso corpo crescer, nossa força aumentar e como consequência desejamos poder ir mais longe. Explorar. Nosso pai nos imporá uma fronteira: na avendida voce não vai, subir no muro não, ficar na rua até as 9 não vai. Nos rebelamos. Nossa liberdade foi desafiada. Depois iremos lutar contra o horário escolar, a prisão da sala de aula, a opressão do professor. Virá a revolta contra as leis de Deus, a polícia, a constituição, o limite financeiro, a aliança do casamento. Não seria dificil, e é o tema base da literatura feita entre 1850-1950, descrever toda vida como a luta do ser contra o limite. --------------------------------- Falei de literatura? Livros escritos após 1950 lidam muito com a falta de sentido. É o preço da liberdade ilusória. --------------- Fui livre. Rompi com meu pai e com Deus. Não seguia regra nenhuma. Matava aula e era reprovado pois não suportava ter horários. Não namorava para não ter compromisso. Até amigos eu traía pelo gosto de me sentir livre. E ganhei a angústia como prêmio. Entendo essa literatura muito bem. ------------------------- Há um erro aqui. Liberdade é como comida, se voce se torna guloso voce engorda e o que era conquista e prazer se faz peso e dor. É impossível ser LIVRE, mas voce pode ter liberdades. Esse é o ponto. Liberdade absoluta nunca existirá por ser ela uma ideia abstrata, mas voce pode provar o gosto de ser livre, em gotas, minuto a minuto. -------------------------------- Ela é abstrata por ser uma criação de nossa mente. O escravo imaginava que ser livre do Senhor o faria pleno. Mas tornou-se preso à seu trabalho, dívidas, obrigações. Rompendo com o capitalismo, após a euforia da festa, ele se vê preso ao estado e sua burocracia. Livre do estado, ele se torna preso à família e ao dever. Rico, ele está preso a moral. Sem moral, ele fica preso à biologia, envelhece, fica doente, morre. Sempre haverá algo que nos tolhe, algum tipo de limite. E o mais irônico, é que quando nos libertamos e todos os limites mais aparentes, resta a fronteira mais poderosa de todas: o limite do eu mesmo. --------------------------------------- Hoje luta-se pela liberação das drogas como se lutou sempre pela liberdade em geral. Se deseja a liberdade , e como falei acima, em seu aspecto mais simplório, ser livre é fazer aquilo que dá vontade. Me drogo, me corto, faço um aborto, transo com meu padastro, xingo Deus, sou livre então, estou provando ao mundo que o sou. Mas cedo ou tarde, na verdade cada vez mais cedo, vem o limite. Me drogo mas não evito dever ao traficante e ficar doente. Me corto e fico preso ao medo e a culpa. Faço um aborto, mas dependo de um médico e por mais que evite pensar sobre, ele era meu bebê. Transo livremente, mas sinto que sexo também me prende a alguma coisa que não sei o que seja. ( Desejo fácil é desejo vazio ). Rompo com Deus, mas não rompo com a vida. E nesse momento vem o limite. Sou eu mesmo. Por mais que eu faça, por mais longe que eu vá, continuo sendo eu. ------------------------------- Quem tem a liberdade como deus supremo está fadado ao sofrimento sem fim. Porque ao contrário de valores como honra ou amor, liberdade não te dá nada em troca. Querer ser livre será sempre querer estar só. O outro será seu limite e mais que o outro, voce mesmo é um limite. Voce é dono de seu corpo? Não, não é. Voce vai envelhecer. Sentirá dor. Voce não é dono nem de seu nariz. A liberdade é um sorvete. Usufrua. Delicie-se. Mas não vai durar. E não irá te sustentar. ------------------------------------- Quando seu valor supremo é a moral ou o amor há mais durabilidade. Isso porque são valores que pedem e necessitam de uma outra pessoa. Eles também irão se mostrar finitos, mas duram. Permanecem. A liberdade é na verdade um caminho. O erro é vê-la como fim.

CHINA, DINHEIRO E ACASO ( E O PORQUÊ DE ATÉ A DIREITA SE DEIXAR LEVAR PELO PENSAMENTO MARXISTA )

Não sou marxista. No marxismo o acaso não existe. Todo o passado é explicado por forças que se atritam. Todo o futuro é adivinhado como continuação inexorável do passado. O presente é mecânico. Marxismo é positivismo em economia. Isso não me convence. Eu tenho a certeza que história é improviso. O futuro nunca é como o antevimos. O passado são centenas de versões, todas possíveis, todas erradas. Para marxistas típicos, NUNCA é admitida a possibilidade do não se saber algo. Um marxista jamais fala EU NÃO SEI. --------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- A crise atual é incompreensível em seu todo. Não me fale que voce previu que um vírus gripal pararia o mundo. Várias narrativas se fazem ouvir. Vou falar sobre duas. O estranho é que mesmo a direita crê na versão 1, bastante marxista, pois ela explica tudo crendo num mecanismo que engloba o planeta. --------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- VERSÃO 1 : A China lança um vírus. Em acordo com toda a esquerda mundial, chineses desenvolvem um vírus e o lançam na Europa. Governos esquerdistas ajudam. A imprensa ajuda. Companhias como Apple e Micrisoft ajudam. É o grande plano mundial: um tipo de socialismo em estilo de vida misturado à um hiper capitalismo para os líderes. Comunismo nas ruas. Capitalismo em grandes empresas e no consumo. Uma China mundial. Pandemia na China jamais houve, por isso ela cresce. As eleições americanas, roubadas, são o golpe de mestre no plano. Acho essa versão tão implausível quanto crer nas teorias da morte de Kennedy ou que há um ET preso no Colorado. ---------------------------------------------------------------------------------------- VERSÃO 2 : O vírus surge na China. Um erro. Ele se espalha e o governo chinês tenta esconder isso. Trabalhadores chineses o levam para a Europa. A pandemia mata aos milhares na China, mas ao estilo comum por lá, tudo é abafado. Mortes na China são escondidas. O governo, naquele modo chinês de ser, pouco liga. Que morram. Temos um bilhão de chineses. O trabalho que continue. Por isso a China ignora a pandemia. O governo deixa morrer. Uma cadeia de eventos começa a se unir ( como foi o começo da Primeira Guerra Mundial: atos que se unem a atos, se acumulam, e criam o imprevisível ). A mídia, sempre sedenta por sangue e tragédia, vê alí uma história para fazer furor: a peste está de volta. Num segundo momento ela percebe que pode culpar quem quiser pelo MAL. Essa narrativa será usada ao infinito. Indústrias químicas vêm a chance de faturar alto. Correm para desacreditar os medicamentos já existem, à disposção, e pegam verba para desenvolver a cura. A internet, que sempre sonhou com um mundo 100% virtual, vê na pandemia a chance de correr rumo ao futuro. Todos os serviços podem ser virtuais. As pessoas, se trancadas em casa, ficarão 24 hs on line. Comida, diversão, dinheiro, sexo, tudo na rede. Políticos medíocres percebem a chance de faturar com o medo. Receita simples: chame o vírus de super-vilão como nunca se viu, e pose de heroi que trará a cura. Mais? Ladrões em geral podem roubar em nome da cura. MAS HÁ AINDA O MUNDO PEQUENO, DO DIA A DIA: ressentidos podem vigiar os que ousam desafiar as ordens, covardes têm uma justificativa nobre para sua cotidiana covardia, os mal amados podem se consolar com a impossibilidade geral de amor, os tristes têm a satisfação muda de ver o mundo cinza, revolucionários de araque podem pensar que o universo é uma tela. --------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- Na versão 2, nada é planejado. As coisas vão acontecendo, e cada um tenta tirar vantagem da situação. Esse é o modo NÃO MARXISTA de ver a história. Nada é planejado porque não há acordo possível entre tanta gente. É cada um por si. A traição come solta. O roubo vira lei. É minha visão de tudo que ocorre, tudo que ocorreu e tudo que sempre irá ocorrer. Marx morria de medo da imprevisibilidade da vida. E é amado por aqueles que sofrem do mesmo pavor.