O ROSTO

Ingmar Bergman confia em nossa inteligência. Ele realmente acredita em nosso poder de entendimento, de atenção e de raciocínio. Seus filmes são um tipo de homenagem a quem os assiste.
Se houvesse um tipo de paraíso do cinema, Bergman teria a companhia de Kurosawa e dos Irmãos Marx nesse céu. Isso porque seus filmes me fazem bem, me dão paz, prazer, bem estar ( é claro que os trabalhos de Groucho, Ingmar e Akira são diferentes entre sí, mas me dão o mesmo nível de prazer ).
Em seu filme, O ROSTO, um grupo de mágicos ambulantes se defronta com um cientista e o chefe de polícia. O grupo é acusado de charlatanismo e será posto à prova.
Pois bem, Bergman nos coloca em dúvida todo o tempo.
Afinal, Vogler,o mágico, é um mentiroso? A magia que ele faz, é real ?
Dificil continuar elogiando esta obra de arte sem contar seus segredos ( segredos que não posso contar. ) Basta dizer que Bergman assume uma posição corajosa no final, subvertendo toda nossa expectativa.
Conduzido de forma lógica, sem conceder jamais ao melodrama ou ao coração, o filme termina da melhor forma possível. Da única forma cabível.
No mais, a fotografia em P/b de Gunnar Fischer chega a tirar o fôlego, ela é aveludada, suave, quase tátil.
Max Von Sydow está genial, como de costume, e sua face no primeiro confronto é inesquecível ( e reparem como ele muda de cara na segunda parte ).
Um comentário inevitável : onde Bergman conseguia tantas atrizes tão maravilhosamente lindas e tão genialmente talentosas ?
O ROSTO fica assim, como um testemunho de uma mente brilhante que acredita no brilho de quem o assiste.
É necessário mais ?

ASSASSINOS POR NATUREZA

Um dos filmes chave dos anos 90 é este Assassinos por Natureza. Ele é um retrato da época e uma antecipação do futuro.
Neste século, Assassinos é o único tipo de filme possível, relevante. Ele é ágil, vazio, nervoso, tolo, e profundamente neurótico. E desprovido de qualquer sinal de humor ( que às vezes surge meio " sem querer " ).
Não há diretor mais desagradável que Oliver Stone. Ele é sempre exagerado, irado e parece estar com o dedo em riste toda a vida. Porém ele tem coragem. Porém ele tem ambição. E isso destoa do cineminha-para-meninos-entediados de hoje.
Sua crítica à TV é ingênua, mas é sincera. Interessante ver a história de uma família incestuosa contada como série de tv ( Um amor de Família ). E é uma cena de gênio aquela em que a entrevista do assassino é bruscamente interrompida pela singela imagem do urso polar ( Coca-Cola ). Essa cena diz tudo sobre a vulgarização, a falta de seriedade que a tv sempre tem e terá. A rebelião no presidio vale tanto e tem tanto espaço como o ursinho bebendo Coca.
Stone é profundamente niilista, seus filmes são crispados, secos e é por sua falta de humor que ele sempre parece limitado e desagradável. Tarantino renega este seu roteiro exatamente por isso : Stone exagera na fúria e no peso, leva tudo muito a sério, está sempre nos incomodando. Tarantino teria feito o filme mais fluido, mais sutíl.
Outro erro está na escolha do elenco. Woody Harrelson e Juliette Lewis são bons, simpáticos, porém quando Robert Downey Jr. aparece como o repórter de Tv, o casal desaparece. O filme se desequilibra então, pois vemos um grande ator, em papel secundário, roubar todas as cenas. Sua fuga com os dois é momento de antologia.
Se Downey Jr. rouba as cenas, falar de Tommy Lee Jones chega a ser covardia. No papel do diretor da prisão ele nos dá o desempenho mais delicioso da década. Ele é depravado, careteiro, profundamente engraçado e patético. Um ator de gênio que nos hipnotiza, e o filme valeria só por sua atuação.
Na trilha sonora, Cowboy Junkies, Janies Addiction, Specials, Barry Adamson, L7...e Leonard Cohen, coisa maravilhosa!
Oliver Stone não crê em seu público. Não crê no homem. Sua visão de mundo é a de um adolescente irado. Ele joga as imagens na nossa cara. Não tem nenhuma elegancia, nenhuma poesia, não tem tato e é pouco inteligente.
Mas ele é grande. Ele é diferente. Ele é original. E ele não é chorão.
Assassinos é então um monumento ao cinema atual, ao cinema dos 90 e ao devastado mundo amoral e fútil de hoje.
O casal de Bonnie e Clyde de Stone é inevitável.

vômito

Na noite da festa ela era a menina loira que diziam que me amava.
Quando criei coragem e me aproximei dela, antes de qualquer palavra ela vomitou no meu tênis. Um vômito vermelho, de vinho barato.
Um amigo a levou, envergonhada, enquanto eu percebia que o vômito atingira minha calça também.
Entrei na roda que se formara na rua e fiquei balançando minha cabeça ao ritmo de Ace of Spade, do Motorhead. Quem nunca balançou a cabeleira molhada de suor ao som do Motorhead jamais viveu de verdade.
Ao fim da noite, eu estava meio zonzo de sono, frio e vinho barato. Então o amigo da menina veio me chamar. Eu estava de carro ( eu era o único maior de idade alí ). - Será que eu podia levá-la em casa ?
Fomos os 3, ela quase desmaiada.
Os pais não estavam, o irmão estava no vizinho, fiz café bem forte. Bom, quando voltei pra sala, o amigo da menina já tirara parte da roupa dela. Eles se conheciam desde crianças e ele era gay, então tudo ok...mas eu nem sabia o nome dela direito! Tudo que conhecia era seu suco- gástrico.
Ligamos o chuveiro e encharcamos sua lingerie ( meninas usam lingerie, quero dizer, calcinha e soutien de algodão branco é lingerie ? ). Ela gemia, chorava, balbuciava. Ele a enchugou.
Depois a deitamos no sofá e ela bebeu o café muito amargo e muito quente.
Fiquei segurando sua mão pequena e muito branca. Ela, às vezes, abria os olhos verdes e me olhava. Apertava minha mão e voltava a dormir. Lhe arrumava o cabelo na testa.
Fui embora quando amanheceu.
Até hoje, tanto tempo depois, segurar a mão de uma menina bêbada é a imagem do amor perfeito. Para mim sempre vai ser.
Começamos a sair e eu estraguei tudo. Fui realmente ruim com ela. Bom...eu era muito jovem, muito vaidoso, muito idiota.
A reencontrei anos mais tarde, casada e gorducha. Não havia o que falar. Ela não era mais a menina bêbada, eu não era o fazedor de café amargo.
Mas ela fica neste lugar, fica para sempre naquela madrugada fria e de sono atrasado. Ela permanece como imagem e como vômito de vida, como balançar a cabeça sem nenhum controle, como fé e como esperança irrealizada.
Ela permanece bonita.

alfred hitchcock, a bíblia do cinema

Se voce ama o cinema sofisticado, artístico, cheio de significados; poderá ler seus filmes como compêndios de taras, aberrações e uma crítica à paranóia do mundo atual.
Se voce procura o puro prazer estético, encontrará aqui o tipo de filme perfeito. Todo plano, toda cena é meticulosamente realizada. Tudo é planejado. A trilha sonora é sempre a melhor possível, a fotografia belíssima, os atores fantásticos.
E se seu caso é pura diversão, voce achará motivos fartos para se distrair, vibrar e ficar satisfeito.
Alfred Hitchcock foi o único diretor a equilibrar extremo apelo popular com requinte artístico superlativo.
Ele é compreendido por todos e amado pelo verdadeiro conhecedor de cinema.
Se eu citar os diretores que o idolatram ficarei citando nomes sem parar, mas basta Truffaut, De Palma, Chabrol e Gus Van Sant para percebermos sua abrangencia.
Porque? O que é tão especial nele ?
Ele domina a arte. Faz do filme, dos atores e da platéia o que quer.
Quando quer nos distrair, nos distrai. Nos engana e nos faz rir. Cria simpatias e aversões à vontade. E é o rei das imagens.
Quando digo imagens, não digo saber filmar um belo pôr-do-sol ou um close bonito. Isso qualquer diretor de fotografia experiente faz. Nem filmar uma longa perseguição de carros ou uma batalha de duas horas de duração. Isso é mérito do editor.
Falo em criar a imagem que informa, a imagem que dialoga com o público que assiste.
São cenas que nos dizem, sem nenhum discurso verbal, quem é aquele personagem, o que ele pretende, onde ele está e o que pode acontecer com ele. Essa é sua maestria. Esse é o tipo de cinema mais difícil de ser feito e é aquele que mede o grau de habilidade do diretor.
E nisso Hitch era/é imbatível.


TEUS EXCESSOS

Todo homem tem direito a um ódio.
Eu odeio OS MENINOS.
Mas o que são meninos?
Meninos podem ter vinte, dez ou cinquenta anos. Mas todos se vestem igual : blusinha justa com desenhinho esperto e crítico, calça caindo ou largona, tênis bacanas e cabelinho desarrumado com muito cuidado.
Meninos gostam de meninas que se parecem com meninos. Ou mulheres que são exuberantes ( para exibir para os meninos ).
Eles estão sempre meio tristes, meio rindo, meio doentes, meio dormindo.
Gostam de toda novidade, nem que seja para falar mal.
O cinema deles parece TV, e eles acham que sua tv se parece com cinema.
Só assistem filminhos de meninos.
Os atores têm de se parecer com eles mesmos ( nada de Marlon, Bogart ou MacQueen...eles se parecem com seus pais!!!! Credo! ); os ambientes desses filminhos têm de ser tipo descolado ( mesmo os filminhos que mostram gente pobre são descolados, são pobres que dançam e atiram bem. A verdadeira pobreza, que significa doença, desemprego e feiura passa longe desses filminhos ); meninos só enxergam espelhos, o que não os reflete não existe.
Música só britânica ( eles crêem que o rock, o pop, o eletro, o soul , tudo foi criado nas ilhas ), livros, só os que são legais ( meninos adoram livros legais- são aqueles que se parecem com arte, parecem profundos e são tão tristinhos ).
Meninos odeiam Western ( são tão simples esses cowboys...cadê sua arte ? ), odeiam rock'n'roll ( que música de perdedores ! Tão sem estilo ...), odeiam tudo que lhes foge do mundinho de meninos.
Eu realmente os odeio. ( Apesar de que eles não compreendem o ódio. Odiar é ser grande, é crescer, ew eles não odeiam- dão apenas risinhos afetados de desprezo vazio ).
Eles dominam a arte de hoje e a detestam sem saber. Pois eles enxergam a arte ( toda arte ) como coisa flácida, bonitinha, tristinha, inofensiva, vendável, controlável, bonita.
Sua cabeça é uma tela de tv- brilho, movimento, ruído e um imenso tédio.

WALL E , HITCHCOCK, WOODY ALLEN

Se The Apartment fosse feito hoje, o casal central seria uma dupla de peixinhos fofos ou seres de outro planeta. Isso porque todo tema sério e verdadeiro, no cinema atual, é desenvolvido em desenhos animados como Procurando Nemo, A Fuga das Galinhas e até o aparentemente simples Ratatouille.
Nada me diverte e me comove mais que as produções da Pixar, Disney, Fox, voltadas ao público aparentemente infantil.
Porque?
Quem faz tais roteiros está livre. Não precisa criar um papel para o novo ator da moda. E por outro lado, não tem a obrigação de agradar os modernosos-bem-antenados, para os quais a dupla de The Apartment teria de ser drogada, bissexual ou com algum problema físico.
Wall e é genial. Não o assistí ainda, mas sei que irei amá-lo.
Hitchcock dizia que o bom diretor não depende de diálogo. Ele pode dizer tudo com imagem em movimento. É isso que Wall E faz. Sua primeira parte é absolutamente muda.
Woody Allen é um diretor que adoro ( adorava ). Mas quando penso nos gigantes dos 70's, nunca lembro de o citar. Isso acontece porque Woody não tem, em filme nenhum, uma grande cena de pura imagem. São diálogos bons, atores bons, músicas boas, mas nunca imagens boas.
O que guardamos do cinema são imagens mudas. Burt Lancaster desmoronando diante de nossos olhos em O Leopardo, Mastoianni dirigindo o grupo de mulheres-amantes em 8 e meio, o jogo de xadrez em O Sétimo Selo, todo desespero de James Stewart em Vertigo... e tanto mais.
Falta aos filmes ditos artísticos de hoje essa sabedoria. Contar, comunicar sem palavras. Contar com clareza, não a imagem gratuita-bem-louca; mas sim a parábola, a narração muda.
Hitch fazia isso sem que notássemos ( alguém notou que Psicose é um filme mudo ? ). Onde Os Fracos Não Têm Vez quase chega lá. Tim Burton tem ótimas cenas que dispensam o som. Scorsese faz isso muitas vezes.
O renascimento do cinema virá por aí ( se vier ). A revalorização, o estudo do cinema sem som, sem explicação e claro como dia.

cinema livre, vida livre

Bande à Part de Godard.
O filme é chato. Verbo demais, imagem de menos.
MAS.......................................................................................
Numa lanchonete, o trio de ladrões perde o fio da meada e não tem mais o que falar. Fazem então, um minuto de silêncio... juro que é genial. Eu juro que esse minuto é uma lição de liberdade, de se brincar com o cinema e por consequencia, com a vida.
Em seguida, um deles coloca um jazz na jukebox e os 3 dançam.
Uma dança linda. Alegre, bonita...2 deles páram de dançar ( lógicamente quando Jean gritou corta. Mas Anna Karina continua a dançar só. Momentos assim fazem o cinema valer a pena ).
O final é on the road e o filme é cheio de erros e momentos preguiçosos.
Mas a cena na lanchonete justifica tudo!
E tem Anna...

a lista

Uma lista dos filmes que assistí ou reassistí ou treassistí em junho:
( notas de zero a 10 ).
Anjo Embriagado-Kurosawa....7
O Homem de Itú- a obra-prima das porno-chanchadas dos 70, com um Nuno Leal Maia hilário!...3
Tubarão- Spielberg, é o filme que criou o cinema pop atual. 7.
Sonhos de Mulheres- Bergman, 7.
Kill Bill vol.2- uma chatice ( e o primeiro é tão bom ! )... 2.
Picardias Estudantis- Amy Heckerling. Sean Penn aos vinte anos, Spicoli !!!... 7.
Ansia de Amar do Mike Nichols...3.
Noites de Circo, do Bergman e de Harriet...9.
Ed Wood...8.
O Tesouro de Sierra Madre, Huston, perfeito. Dez !
Conta Comigo, o típico filminho tristinho e fofo dos tempos fofos dessa geraçãozinha fofa...zero!
Bande a Part, Godard e Anna... finalmente o conseguí!!!!!...6.
O Segredo atrás da Porta, Fritz Lang...6.
Ovos de Ouro, Bigas Luna e um jovem Javier Bardem...6.
Os Pecados de Todos Nós, Huston...8.
Escola de Rock do Linklater...5.
Círculo de Fogo do Annaud...3.
Dias de Paraíso, Terrence Malick...7.
Golpe Baixo de Aldrich...6
Chinatown de Polanski, Nicholson e Evans...9.
Tommy do Who...2.
Death Proof do Tarantino e de Mac Gowan...primeira metade: 7, segunda parte: 2.
Terra de Ningém, Terrence Malick...7.
Mean Streets do Scorsese com um De Niro nota mil...9.
Alice não mora mais Aqui, do Scorsese com Ellen Burstyn divina e mais Keitel, Jodie...Dez!!!!!!!
Os Inocentes de Jack Clayton baseado em Henry James...9
A Palavra, do genial Carl Dreyer...9
Tootsie de Pollack, com Dustin arrebentando e mais Jessica Lange, Bill Murray...8
Caiçara, primeiro filme da Vera Cruz, com Eliana Lage numa Ilhabela deserta...3.
THAT'S ALL FOLKS!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

tim burton, depp e ed wood

Tim Burton ama o verdadeiro cinema. Ele ama o cinema mudo- expressionista alemão, os filmes baratos dos anos 40, Orson Welles, desenhos animados tchecos e os efeitos especiais de Ray Harryhausen.
E por tudo isso, eu respeito e admiro muito Tim Burton.
Nos anos 90, Ed Wood ocupa posição central. È um filme chave. Sem afetação, sem qualquer pudor, ele explicita seu amor ao cinema e seu amor aos derrotados.
Johnny Depp dá sua mais comovente interpretação, dotando Ed de fé ingênua, tolice visionária e suave loucura. Pura sedução.
Tim Burton mostra que o gênio ( Welles ) e o ruim- demais ( Wood ) se aproximam em sua coragem, em sua energia, em sua vontade.
No final, Ed Wood diz que será lembrado por Plan 9...
Tim, Depp e Arquette serão lembrados por Ed Wood e Ed será lembrado por eles. E isso é pura magia!
PS: Martin Landau fazendo Bela Lugosi... genialidade em estado bruto!

ROXY MUSIC E KEVIN AYERS

Foi o Roxy Music a banda que mais escutei na minha vida.
Uma banda estranha!
Phil Manzanera era um guitarrista de rock progressivo. Andy MacKay, um sax que adorava o pop dos 50. Paul Thompson, um baterista que tocava forte.
E Eno. Com seus barulhinhos, seus ambientes.
Bryan Ferry era um fã de Otis Redding que soava como Elvis cantando Bob Dylan.
O Roxy, da grande fase, era isso: uma improvável mistura que funcionava.
Com Bowie e Bolan, eles destruíram a imagem machona que o rock tinha, e trouxeram controle e frieza para o pop. Ao contrário de Morrison ou Lennon, eles não se expunham no palco, eles interpretavam ( Jagger e Dylan também fingiam, mas na época ninguém sabia ).
Os discos desse heróico Roxy, anunciavam o futuro ( anteciparam Talking Heads, Joy Division, Radiohead, Coldplay...).
Discos mlancólicos, mas jamais desesperados.
Belos. Porém sem afetação.
Pois bem...
Ano passado descobrí Kevin Ayers.
E quem ele é?
Um inglês de Canterbury ( e isso significa muito ).
Em 60, aos 20 anos, enquanto os Beatles ainda cantavam yeah yeah yeah, e os Stones moravam em Londres, Kevin já cruzara toda a Europa de carona. Experimentara viagens quimicas e morava em Ibiza, lançando a moda das festas psiodélicas na praia ( pré-pré-pré raves ).
Seus discos antecipam Roxy- Bowie-Bolan.
São um relaxado mix de Gainsbourg, Kurt Weill, Rock lisérgico e Velvet Underground.
Em 72 ( antes de Ferry) ele já se apresentava de smoking ( tuxedo ) e era o extra-cool dos cools.
Sua voz lembra Leonard Cohen e suas letras são piadas de non-sense ou romances baratos.
Kevin é surpreendente, viciante, indolente.
Ouça e sinta prazer.

ANA KARINA, PORQUÊ ELA É...

Numa rua cheia de vida, cor, alegria.
Ela anda, linda, feliz, leve e canta. Encara a câmera ( Harriet ? ) e pisca o olho.
Pisca o olho para mim. Para você. E para mais ninguém.
Ana entra numa boate que é um bordel. Ameaça se despir, canta, seduz, e parece tão desamparada, tão corajosa, tão de verdade.
Em outro filme.
Ela anda com Belmondo ( há ator mais simpático ? ).
Ela lhe faz ser um revolucionário. Um anarquista suicida.
Mas é tudo tão colorido. Tão jovem. Tão cheio de vida.
Em outro ( na obra-prima VIVER A VIDA )
Ana se prostitui. Como quem vende bananas na feira. Sem dor. Sem sentido.
Mede seu corpo com a palma de suas mãos.
Fuma e sopra a fumaça.
E morre. Sem dor.
Existe algum mistério nessa mulher. Alguma coisa muito inocente e muito perversa.
Jean-luc nunca mais foi o mesmo sem ela.
E penso que os dois juntos nos exibem, em cada fotograma, o mistério risonho do verdadeiro e possível amor.
Eu sou apaixonado por Ana Karina.
Eu sou fiel.
E eu recebo seus filmes como beijos em meus olhos.

SERGE DE NOVO

No novo Tarantino tem duas músicas do Gainsbourg!
Precisa dizer mais?
Tarantino- Vanishing Point- Goddard- Gainsbourg.

SATIE AO SOL

Sem qualquer chance. Sem possibilidade de retorno. Eu havia fugido e era tudo um eterno já/agora/bem na hora/fim.
A volta era impossível, mas doía. Eu estava mudo. Não podia falar, não queria falar. Não havia motivo para falar. Pensava.
Nos ratos que brincavam no capim. Sim, ratos estão sempre brincando. Eles pulam, dão piruetas. Será que o homem não evoluiu do rato ?
Pensava nas formigas, que construíam belas estradas aos meus pés. E pensava que eu poderia estar me tornando um peso para meu amigo Fred, que era quem me arrumava comida.
Nunca me desesperei. Melancolia. Sim, melancolia amorosa. Eu estava cheio de amor. Eu amava Anita. Mas ela não.
Então fazia sol, era verão e meu cabelo pingava suor. O suor escorria.
Do sobrado, próximo, veio o som de um piano. Alguém tentava tocar. Hesitava, tentava, ia.
Foi nesse dia que conhecí Eric Satie. Acho que eram as Gymnopédies. A mais bela/melancólica/fria/amorosa/solitária/mortal/viva/infantil/eterna música já feita.
Naquela tarde eu me apaixonei por quem tocava aquele piano ( jamais me ocorreu que podia ser um velho gordo. Se era um velho gordo, fui um gay que amou um velho gordo).
Na época eu lia Voltaire e nasceu minha fixação amorosa/sensual pela bela França ( país que foi morto e enterrado na segunda guerra, mas eu não sabia...).
Satie compôs essa trilha. A trilha dos momentos mais verdadeiros que viví. Um brinde de Pernod e uma noite de fumaça de Gitanes.

QUERO SER SEGE GAINSBOURG

SEMPRE.
Sempre sonhei em ser alguém como Serge. Um cara que vai e faz. Um francês fedido, com odor de Gitanes, vinho e suor. Um homem que se atira na paixão sem qualquer moralidade ou vergonha. Que faz papel de tolo, de corno, de vilão, de cafa. Um poeta que fala de esperma e do sol, de mulheres fáceis e donzelas fúteis. Um feio, um belo, um vivo. Queria ser Serge e conhecer Jane. E amar amar amar amar amar amar. E morrer. Fui Serge duas vezes. Uma delas durou um ano. Sobrevivi. Outra foram 3 meses. Acho que morri.
Ainda amo Gainsbourg. Ele é o cara.
Se quero ser Serge ? Só quando encontrar Jane.
UM BICHINHO, UM PERIGO, UMA MULHER
Descobri a atriz sueca Harriet Andersson há apenas dois mêses.
Acho incrível ainda ser possível, após tanto tempo assistindo e estudando filmes clássicos, ainda existirem tesouros para serem descobertos.
Harriet iniciou sua carreira em 1951, e vou comentar exatamente esse começo através de 2 filmes : Monika e o desejo, Noites de circo.
Em Monika ela é uma adolescente tosca, com modos e aparencia de camponesa. Ela foge para uma ilha com seu tolo namorado. Engravida, tem um filho, se casam, trai o garoto.
Brigitte Bardot ficou famosa por representar, pela primeira vez, um tipo de mulher sexy que não era uma vagabunda e nem uma musa etérea. BB era uma garota saudável. Com desejos. Ela não fazia um tipo, ela era uma mulher.
Como Goddard escreveu nos anos 60, Harriet em Monika fez isso antes. Neste filme ela não é culpada por nada, não é boazinha, não faz pose de diva, ela é simplesmente uma mulher que deseja sexo. E consegue.
Sua sensualidade chega a ser hipnotizante, e ela tem uma cena de nú ( em 1953 ! ), do mesmo tipo das que BB faria. Ela não posa nua, ela caminha nua.
Bonita, belíssima ela é ( embora para os padrões dos meninos de hoje, ela seja fêmea demais ), mas é uma beleza real, sem artifício, animal.
Num de seus livros Bergman chama Harriet de um dos poucos gênios que o cinema já conheceu. Note bem, Bergman chama Harriet, uma atriz, de gênio. Eu concordo. Porquê?
Hepburn e Bette Davis foram as melhores atrizes que o cinema já viu, mas não eram geniais. Elas faziam tudo com arte e carisma, mas não criavam, não arriscavam. O gênio arrisca, faz o novo, tenta, procura e pode até ser ridículo. Brando era gênio. Giulieta Masina era. E Harriet.
O jovem Goddard nos 50, ainda crítico dos Cahiers, disse que Monika tem o mais belo plano do cinema. É quando, em meio a um diálogo, Harriet se abstrai da conversa e encara de frente a lente da câmera. Ela sai do filme, e como nossa cúmplice, nos encara. Nos tornamos seus amigos, olhamos sua alma, compreendemos Monika e participamos da genialidade.
Goddard faria isso com Ana Karina em diversas vezes, mas aquela foi a primeira vez que um ator sai da cena e encara a platéia ( não como Groucho, que nos olhava sendo Groucho e comentava o filme. Não. Harriet nos olha como Harriet ).
O filme em sí não é um dos grandes Bergman. É apenas isso, um solo de Harriet.
Noites de Circo, feito dois anos depois, é um filme melhor. De uma amargura sem saída, com algumas cenas belíssimas ( o perfeccionismo visual de Bergman é inigualável ).
Um velho dono de circo namora uma amazona ( Harriet Andersson ). Cansado da miséria, ele tenta voltar a ex-esposa, mas é recusado. Ela se envolve com ator rico e esnobe, é humilhada. Os dois, o velho e ela, acabam juntos e derrotados. Apesar desse tema árido, o filme é fácil de assistir, jamais enfadonho e muito bonito sem parecer afetado.
Harriet marca muito, como Ana, a amazona, dando seu show de total sensualidade, parecendo um bichinho mimado, depois uma menina sexy e então, uma camponesa vulgar.
Em tempo, mais um toque:
Mesmo nesses secundários filmes de Bergman, notamos com facilidade algo de original, de único, em cada take, em cada cena. Autoridade. Não houve diretor que passasse mais autoridade. Aquela impressão de que ele sabe do que está falando, que ele sabe segredos, pode nos ensinar a viver, pode desvendar a vida.
No cinema de hoje, a ambição máxima é ser um novo Spielberg, um novo Scorsese. Sinto falta da verdadeira ambição. A de ser um novo Bergman.

houve uma vez um verão

HOUVE UMA VEZ UM VERÃO

Como alguém podia viver com 6 canais de tv.
Só seis!
Desliguei e fui pra rua.
Andei de bicicleta até escurecer.
As 19, fui jogar bola com meus amigos japas: Celso, Nelson, Hideo, Donato, Hugo e Luis ( sempre há um Luis na colonia ).
Voltei pra casa às 22, o joelho ralado, morto de cansado.
No quarto, terminei de montar o planador da Revell que vou soltar amanhã.
Moro de frente à tv Bandeirantes.
Na verdade, são 200 metros até a tv.
Acordo e levo o planador.
Faz sol. Lá bem longe, posso ver o relógio do conjunto nacional, na Paulista.
Ele voa! Ele voa! Ele voa!
Meu primo me leva a nossa lagoa. Vamos ver os caranguejos e nadar pelados.
Vemos caranguejos e nadamos pelados.
Ao voltar pra casa, posso comer um boi.
Na escola, jogamos bolinha de gude, futebol, queimada.
Mato as últimas aulas, e como o celular não existe, não preciso desligá-lo e criar uma desculpa.
Pego carona na avenida.
Juro que é verdade. A gente parava um carro ( de preferencia dirigido por uma mulher bonita ) e pedia carona para a cidade.
A cidade é tudo o que fica do rio Pinheiros pra lá.
Tenho 15 e uso o cabelo até os ombros. ( ah ... que saudades desses fios castanhos...)
Vou ao Astor.
O GAROTO SELVAGEM do Truffaut.
Não gosto.
Mas sei que é bom.
Então assisto até conseguir gostar.
Gosto.
Cinema.
Se fazia sexo no cinema.
Nas poltronas e na tela.
As cenas de sexo eram felizes. Ninguém era punido por ter pulado o muro.
A tela tinha cortinas e o lanterninha te ajudava a encontrar um bom lugar.
Bom...
Descí a Cosolação de carona e me perdí no centro.
Escureceu.
Fiquei olhando as meninas de rua, as damas da noite.
Não haviam travestís. Travestís, só em shows e na rua delas.
Voltei a pé.
Na Teodoro, muitas famílias na rua. Andando. Falando alto.
Um jogo de bobinho na rua Fidalga.
Muito sotaque de portuga, de italiano, de japa, de espanhol.
Como tinha estrangeiro em SP !!!!!
Meu amigo dormia de janela abaixada.
Eu abria o portão e pulava a janela. Era pra não incomodar os pais dele.
Caramba! Ele tinha conseguido um vinil do Ted Nugent!!!!
Que tesouro!
Escutamos 3 vezes e gravamos pros caras da escola.
Disco era vendido como artigo de respeito.
Valia o peso em ouro e ninguém pirateava.
As fitas eram dadas, jamais vendidas!
Voltei pra casa muito tarde...meu pai conversava na sala com minha mãe ( tinha faltado a luz )
Os sapos cantavam por todo lado ( sapo canta ! ).
Com luz de vela, relí Tom Sawyer.
Eram só 6 canais de tv.
Pintei uma telinha que eu tinha abandonado pelo meio um ano atrás. Vì que não sou pintor.
De madrugada, escreví uma longa carta para a Aninha.
Caprichei na letra, e pintei o papel de azul.
Jamais foi enviada.
Minha mãe foi a granja comprar um frango vivo e fui com ela. De manhã, cedo.
Nessa tarde, matei aula para jogar vídeo-game.
Voce tinha de jogar na rua, numa casa de diversões eletrônicas.
Voce jogava com neguinho te vaiando, torcendo contra, fazendo piada.
Era um frenesí.
Fizemos um baile na casa do Pedrão.
As meninas dançaram de rosto colado. Com os caras.
Fiquei muito vermelho.
Eu pegava uma vassoura e ensaiava no quarto.
Não existiam darks ou emos.
Eram rockers e caretas. Só.
As roupas eram muito vivas, os cabelos muito loucos e a gente cheirava a suor.
E tinha caspa.
Se transava nas escadas dos prédios.
Não existia câmera.
Quando voce batia uma foto, era pra sempre. Não podia ser corrigida. Era o momento decisivo.

Tempos depois, apresentei minha primeira peça.
Era 1985, mas ainda havia um rastro dessa era anos ingênuos e alegres.
O público aplaudia no inicio.
Vaiava os vilões.
Assobiava pras gostosas.
Respondia às falas.
Reagia.

O mundo nos congela, hoje, às telas solitárias, ao cinema fácil, ao estar só.
Tudo pode ser feito só. Até mesmo brincar.

Eu andava pela praia do Tombo e dormia na areia de Pitangueiras.
Não usava preservativo.
Voce entrava no tesão e ia instinto embora.
A sorte decidia o futuro.

6 canais de tv!!!!!!!

howard

howard hawks, diretor dos diretores

Ao citar meus diretores favoritos, deixei de fora 3 nomes que são dos mais perfeitos artistas que já filmaram.
Howard Hawks é considerado o diretor mais admirado por outros diretores.
Qual a razão ?
Pelo fato de que ele tira filosofia ( simples e prática ) de um nada de história.
Seus roteiros são sempre simples, falam sempre da luta do homem contra seu destino; mas suas obras não têm nenhum enfeite, nada de supérfluo.
Hawks conta uma história.
E numa era de complicações gratuitas, efeitos bolo-de-noiva e pseudo-filosofices para pseudo-intelectuais, a arte de Hawks se tornou rara e necessária.
Em tempo:
Apesar de sempre fazer parte do time classe A e de fazer muito sucesso popular, ele só foi indicado ao Oscar uma vez. E perdeu.
Em 1974 recebeu um prêmio especial, sendo ovacionado de pé ( num tempo em que isso era muito raro ).

Quero falar também de VITTÓRIO DE SICA.
Ele criou o verdadeiro neo-realismo.
Voce sabe o que é neo-realismo?
É aquele cinema que mostra a miséria, a dor e a coragem verdadeira da vida.
Entre 1944 e 1952, ele ganhou dois Oscars de filme estrangeiro ( uma histórinha pra voce: o prêmio de filme estrangeiro foi criado para de Sica. Seu impacto foi tão grande, ele mudou o cinema de uma forma tão devastadora, que os americanos precisavam premiar tal revolução. Para tanto, criaram o Oscar de filme com língua não-inglesa, e deram o prêmio para Ladrões de Bicicletas ).
VÍTIMAS DA TORMENTA conta a história de dois meninos de rua. Eles são recolhidos para uma espécie de Febem.
LADRÕES DE BICICLETAS. Um desempregado anda por Roma com seu filho. Ele consegue um emprego de afixador de cartazes. Para tanto, precisa de uma bicicleta. Ele a consegue. Ela é roubada. Ele tenta roubar outra. È pego no flagra. Leva uma surra dos populares na frente do filho.
MILAGRE EM MILÃO. Um órfão ingênuo. Ele cresce e se torna um tipo de bobo-alegre. Mas ele faz milagres. Transforma favelados em donos de casacos de peles e de limusines. Os favelados se voltam uns contra os outros.
UMBERTO D. Um velho professor é despejado. Não tem onde morar. È um velho desagradável e antipático. Tenta se matar. Resolve continuar vivo.
Pois é isso.
Todos esses filmes não têm nenhum ator profissional. Não usam qualquer tipo de cenário. E jamais apelam ao melodrama.
Todos fazem chorar. Todos despertam a fé no poder da arte.
De Sica era um nobre. Um poeta. Alguém para se reverenciar.
Para encerrar, uma historinha:
Pauline Kael ( a maior escritora-crítica de cinema da história. Foi ela quem abriu os olhos dos americanos para Coppolla, Scorsese etc ), disse que saía de uma sessão onde foi exibido VÍTIMAS DA TORMENTA.
Ela estava devastada. Chorava sem poder parar.
Ao lado, no lobby, ela ouviu uma mocinha comentar:
-Não ví nada de especial nesse filme!
Kael diz que sua raiva atingiu níveis estratosféricos!
Se um ser-humano pode ser indiferente a tal obra de tal poder, é sinal de que muitas pessoas começam a se tornar algo de muito insignificante. Alguma coisa muito pobre, vulgar, previsível.
Já passei por experiência como a de Miss Kael.
Minha reação foi virulenta.
Não amar De Sica é não saber o que significa ser humano. É ignorar a coisa gigantesca que um homem pode ser. È se tornar um idiota-imbecil. Um boneco de vento e de ruído. Uma besta quadrada.

JEAN COCTEAU
Jean foi poeta, pintor, costureiro, cenógrafo de teatro, ator, músico e diretor de cinema.
Em todos esses campos, fez parte do time A.
Seus filmes são uma homenagem a quem os assiste.
Mágicos, maravilhosamente simbólicos, belíssimos.
Eles são uma festa para pessoas com alguma cultura.
Um delírio visual e um discurso de poesia musical.
Afetados e metidos, sim.
Mas são bonitos pra caramba!!!!

ESQUECÍ DE CITAR
a belíssima ( chega doer a vista de tão bela ) VIVEN LEIGH ( que foi casada com Olivier. os dois foram terrivelmente infelizes juntos. ela era louca por sexo, ele era totalmente indiferente.) a terrível BETTE DAVIS ( a mulher que enfrentou o poder dos chefões. ela era melhor que Kate, mais atriz, mais concentrada ), GENE TIERNEY (provavelmente a mulher mais bonita que já surgiu numa tela. era esquizo ), CATE BLANCHETT ( a melhor da geração pós-Jodie Foster ).

E DIRTY HARRY ERA UM HOMEM VINHO.
QUEM DIRIA?

O MELHOR CLIP DA HISTÓRIA ?
Preto e branco precário.
Um galpão.
Ike Turner ( sim, ele, o odioso Ike ), toca violão sentado num banquinho.
A câmera não pára de se mover. Vai de Ike para as paredes, para o teto, para o chão, e para a jovem Tina Turner.
Ela entra de mini. Está com 25 anos. Ela se chacoalha inteira. Ela é uma mulata do Salgueiro, uma escrava da Geórgia, uma Lady de Orleans.
As Ikettes, 3 doidas de perucas imensas, entram no foco se sacudindo, berrando, suando, sexualizando tudo.
Ike está extra-cool. Indiferente a tudo.
Tina grita RIVER DEEP MOUNTAIN HIGH
E eu, 42 anos mais tarde, me emociono muito.
ENTENDEU O QUE SIGNIFICA ARTE, MENINO?

PARAÍSO É UM DISCO COM OS SIGLES PRODUZIDOS POR SPECTOR
River Deep é dele.
Phil Spector.
O garoto-produtor-gênio.
O cara que mandou no pop entre 62/66.
O cara que colocava 80 instrumentos no estúdio e gravava tudo junto.
Em River Deep, posso identificar violinois, castanholas, xilofone, sax, bumbo. acordeon. marimbas, bongôs, guitarra, violão, piano, órgão de igreja, trompete, flautas, apitos, chocalhos, pandeiros, violas.
Phil pirou em 67.
Tinha apenas 24 anos.