BLAISE CENDRARS, IMPRESSÓES SOBRE SÃO PAULO EM 1922 ( O QUE MUDOU? )

   Em 1922 o Brasil tinha grandes intelectuais. Gente que transformou o nada absoluto das mentes tupis em alguma coisa, uma promessa. Paulo Prado foi um dos maiores, e em 22 foi à França. De lá trouxe o muito moderno, muito aventureiro e muito exótico Blaise Cendrars.
   No momento estou a ler a bio que Antonio Bivar ( um autor muuuito bom ), escreveu sobre Yolanda Penteado. O livro é tão delicioso que é dificil parar de ler. Transcrevo aqui o que Blaise escreveu sobre a São Paulo de então...
   "Estou verdadeiramente espantado! Este país é espetacular demais! A terra é vermelha, o céu é azul e o calor é dantesco! Aqui não há tradição, não há preconceito. É o país das loucuras! Os politicos são totalmente corruptos, a economia não funciona... A arquitetura é ridicula e grotesca... São Paulo constrói mil casas por dia. Adoro viajar por este país...Minha curiosidade não tem limites. Os mestiços indolentes nas estações. Buzinas, buzinas, buzinas azucrinando os ouvidos! Aqui não se respeita o silêncio. E o café? Alguns homens vieram e tacaram fogo na mata. Não deixaram uma árvore de pé. Exterminaram os peixes. Expulsaram os índios e plantaram milhões de mudas de café. E pra que tanto café? Será que a humanidade não pode prescindir dessa toxina? Mas é essa toxina que tráz da Europa o luxo e o progresso! ( ... ) Na fazenda de Paulo Prado era meio-dia. Nada se mexia, nenhum ruído, nenhum pássaro. Tudo devastado pelo café. Ninguém imagina um país assim..."
   Se trocarmos o café pela cana de açucar ou pelos bois de corte, temos um retrato exato do Brasil de 2012. Em 90 anos perdemos a beleza art-nouveau de SP e a urbanidade chic do Rio. E o que ganhamos?

O FLÂNEUR, UM PASSEIO POR PARIS COM EDMUND WHITE

   Eu sou um flâneur. O que é isso? É o cara que anda pela cidade sem objetivo nenhum a não ser o de ver. Ele não caminha para perder peso ou para encontrar alguma coisa ou alguém. Não deseja descobrir coisa alguma, não tem rumo estabelecido. Ele simplesmente vai andando... uma rua leva a outra rua que leva a outra rua.... É uma arte refinada. Não são todos que conseguem fazer isso. Deixar que os pés o levem, a curiosidade de ver o que existe além e depois desse além, o que há depois e depois e mais depois.... levado não só pelo desejo dos pés, mas também pela vontade de ver. O flâneur é um estudante, ele educa seu olhar.
  Paris é a melhor cidade do mundo para essa arte. Porque ela é interessante como Roma, mas é tão grande como Londres. Ela é plana, cheia de recantos, de segredos, de lendas. Edmund White não fica nos cansando com descrições. Ele anda e fala do que pensa em cada rua que passa. Cada capítulo é um aspecto de seu caminho, e que bom!, o livro é solto e vago, interessante e vivo, como flaneur!
  Começa falando da atração que Paris exercia sobre artistas de todo o mundo e depois constata que hoje New York ou Tokyo são centros muito mais relevantes. Paris se debate entre a dúvida: ou se torna uma Roma, um tipo de museu a céu aberto, ou admite sua cor mestiça e se faz a capital multicultural do século XXI. White conta histórias enquanto anda ( apesar de o bom flâneur não falar. O flâneur é um solitário ). Fala dos exsitencialistas, de Colette e de Baudelaire. Do jazz. De Sidney Bechet, o sax negro americano, que em Paris encontrou a fama, a fortuna e onde foi aceito. Josephine Baker e o sexo. O livro fala das diferenças entre o racismo americano e o francês, a raiz puritana da América e o catolicismo light francês. Ele fala então dos escritores negros que foram viver lá: Baldwin. Himes e Wright.
  Edmund White penetra então nos bairros árabes, no antigo gueto judeu. Relembra a questão da Argélia, a cultura que os árabes têm trazido e nos emociona ao falar da saga de famílias judaicas. Algumas extintas durante a segunda-guerra.
  Ele enumera a quantidade absurda de museus que há em Paris. Vai em dois, um deles é uma antiga mansão, decorada como casa do século XVIII, e o outro é um museu dedicado ao pintor Gustave Moreau. A descrição ferina que ele faz das "obras" desse pintor é talvez o melhor capítulo do livro.
  White é um escritor gay ( ele se apresenta assim ), e então ele nos exibe o mundo gay de Paris. E mais uma vez expõe as diferenças entre a abordagem americana e francesa ao tema. Para nós há a única referencia ao Brasil: uma das coisas mais divertidas em Paris é apreciar os glamurosos travestis brasileiros...weeelllll....
   No final Edmund White visita os realistas e monarquistas, fala das histórias desses herdeiros, de suas particularidades. Com humor, com penetração, com amor também.
   Edmund White viveu 15 anos em Paris. Hoje ele mora na América, que é onde nasceu. Ele fala de Proust, de Degas e de Genet como se os tivesse conhecido. Ele nunca pinta a cidade como um paraíso na Terra, mas consegue colocar diante de nossos olhos aquilo que ela tem de mais original, sua humanidade, sua complexa mistura de passado e futuro, de requinte e individualismo puro. Uma cidade toda planejada, racional, e ao mesmo tempo uma rede de sombras, de memórias e de recantos esquecidos. É um livro que dá o prazer de se flanar, de se olhar e olhar... sem rumo, sem objetivo e sem hora. Leia que voce vai gostar.

ESBOÇO PARA UM AUTO-RETRATO, LIVRO DE BERNARD BERENSON

   Bernard Berenson viveu 94 anos. Nasceu no apogeu da Europa do século XIX ( 1865 ), e faleceu só em 1959. Judeu da Lituânia, filho de uma das famílias mais ricas do mundo, Berenson cresceu nos EUA, em Boston, estudou história da arte em Harvard e foi viver na Itália. Casou-se e se tornou o mais famoso esteta de seu tempo. Quando algum bilionário precisava saber se aquele quadro era mesmo de Ticiano, ou se não seria uma obra de algum discípulo, era a Berenson que ele consultava. Foi o árbitro do gosto, e mais que isso, foi o responsável por uma nova abordagem às obras de arte, os desenhos passaram a ser analisados por seu valor em si, e não como ensaios de obras maiores. Este livro, com introdução de Daniel Piza, é uma não-biografia escrita pelo próprio biografado.
   Berenson discorre sobre seus pensamentos. Sobre sua vida material, pouco fala. Mas ao ler essa agradável obra, sentimos conhecer verdadeiramente quem ele é. Ao contrário de certas bios, que encavalam datas e casos e nada mostram de motivações e sentimentos, aqui nada há de histórico, de corrido, de fofoca; mas o espirito de Bernard Berenson é exposto. Escrito durante os quatro anos da segunda-guerra, na Toscana, é o relato de alguém que ama a vida. Alguns pensamentos de Bernard Berenson merecem ser destacados.
   Primeiro o fato de que ele é o autor que mais se aproxima daquilo que senti em minha infância. Ele descreve a sensação de plenitude, do eu ligado a tudo que existe, de se sentir dono do mundo, de que todo o universo é aquilo que eu vejo, de deslumbramento com a vida, com o ato de ser. O livro, em poucas linhas, consegue explicar ( ou seria melhor: demonstrar, já que é inexplicável ), essa sensação de felicidade absoluta. Bernard Berenson diz que sempre que se depara com uma obra-prima tem a recordação viva dessa alegria da infância. Não conheço melhor definição de arte superior: o reencontro consigo mesmo, a valorização da experiência de viver.
   Berenson se debate muito com duas coisas que sempre o perturbaram: a preguiça de escrever ( apesar de escrever todos os dias, ele sente que desperdiçou seu tempo, que escreveu pouco ) e a impossibilidade de se auto-conhecer. É impossível saber quem somos. Mais, é impossível que alguém nos conheça. O eu interior, que é imutável, que é idêntico ao eu dos seis anos de idade, esse eu é incomunicável. Sempre nos surpreendemos com o modo como os outros nos vêem. Sempre nos assustamos ao nos ver no espelho.
   É claro que ele faz críticas ao mundo moderno, e uma delas é surpreendentemente premonitória. Ele diz que há um excesso de "fazeres" no mundo. As pessoas fazem coisas demais e não sobra tempo para a fruição. E o mais importante, as pessoas se entopem de informação e não conseguem se livrar de toda essa massa de coisas... precisam vomitar palavras, imagens, sons, se livrar, eliminar tanto material supérfluo. Não conseguem. Não existe um anus mental.
   A outra crítica é sobre a morte da arte da conversa. Nosso tempo valoriza o homem de ação, o homem que faz muito, que age por impulso. Esquecemos que tudo o que realmente constrói é fruto de diálogo, de discussão, de conversa. Jesus, Buda, Maomé, Confúcio falaram muito e quase nada fizeram. Os grandes líderes mundiais estão perdendo o dom de conversar, de falar, de demonstrar. As pessoas não sabem mais o que dizer e sequer lembram do porque se deveria dizer. Animalização do homem.
   Um pensamento de Berenson que transcrevo:
   " Se tivéssemos a certeza de que todo dia nasceria uma nova obra-prima, não teríamos a necessidade de guardar o que foi feito. Sabemos que essas obras não só são raras, como cada vez se tornam mais impossíveis. E é isso que nos diferencia dos animais. A consciência do valor, a consciência da história, de que há um passado e de que haverá um futuro. Um animal sente que o que ele fez hoje será feito igual amanhã. O homem sabe que o que hoje foi feito amanhã não o será."
   Berenson diz ter tido sempre em vista a eternidade. Ele queria ser Goethe. Não foi, mas isso lhe deu uma visão abrangente da vida, o dom de não se prender ao aqui e agora, de perceber o global, o atemporal. Isso lhe ajudou a enfrentar crises, a superar obstáculos, a colocar as coisas em sua perspectiva real. O que é esta guerra em relação a 5000 anos de história? O que é este sucesso em relação a Goethe?
   Bernard Berenson fala sobre alguns amigos famosos ( nada de fofocas ), Edith Wharton, Bernard Shaw e Oscar Wilde. Lamenta a prostituição que Wilde e Shaw cometeram, a roda viva de conferências em que eles tentavam impressionar os jecas.
   Ao terminar de redigir o livro ( que é curto ), Berenson está com 75 anos. É claro que ele não sabe que ainda viverá mais de uma década, então esse final tem um ar de despedida da vida. E é então que o livro atinge seu melhor ponto. Ele sente que as percepções que ele vivera na infãncia retornam com a velhice. Ele volta a ser parte do todo, a apreciar sem julgar, a usufruir sem pensar em motivos e objetivos. A luz volta a lhe envolver, o tempo a ser abstrato, as ações a serem pausadas. Bernard Berenson se reconcilia.
  É um livro sobre um amante das artes que pouco fala de arte. Ele fala de vida.

LIVROS DE VIAGENS, DE PIONEIROS, DE CORAGEM

   Há no mercado editorial do Brasil uma irritante falta de livros de viagens em catálogo. Não estou falando de guias de viagem, falo de relatos sobre viagens, experiências on the road. Frequento muitas livrarias e alguns sebos e posso dizer que no verão, quando me dá vontade de ler esse tipo de livro, preciso recorrer aos meus velhos volumes e reler o que já conheço. O que na verdade é sempre um prazer.
   Talvez o mais heróico de todos que já li seja o relato da expedição de Shackleton ao Polo Sul. A bordo do Endurance, eles ficaram presos um ano e meio no gelo, sem contato com ninguém de fora, e com um detalhe: ninguém morreu, um mérito do capitão e da união da equipe. É uma aventura de arrepiar, eles inclusive tiveram de comer os cães. O livro que tenho tem fotos maravilhosas da viagem, da tripulação, do gelo infindável. O que mais impressiona são as faces daqueles homens: duros, determinados.
   Outro que me marcou é o livro de Thor Heyerdahl, sobre sua viagem a bordo de um tipo de jangada de juncos pelo Pacífico. Esse norueguês realizou essa travessia para provar ser possível os índios da América terem vindo das ilhas dos mares do sul. Então a gente acompanha esse herói em sua navegação solitária, o Pacífico o desafiando e seu barco que mais se parece com uma cabana de folhas.
   Peter Fleming tem um livro maravilhoso em que ele vai a região do Mato-Grosso para tentar encontrar os restos do capitão Fawcett. Fawcett era um inglês que desapareceu na região em fins do século XIX. Fleming parte em sua busca na década de 1920. É uma história absorvente. Voce não consegue largar o livro. Como também não larga o grande livro de Edward Rice sobre Sir Richard Burton ( não é o ator ), um inglês de espirito complexo, estranho, e com uma das vidas mais aventurosas já vividas neste planeta.
   O livro é a bio desse homem, mas como o que Burton mais fez foi viajar, o livro é do gênero viagem e aventura. Burton falava 40 linguas e dialetos, foi cônsul da Inglaterra em Santos ( ele odiou a cidade de Santos. Achou-a feia, suja, com gente estúpida ), e desbravou Oriente e Africa. Foi o primeiro europeu a ver um pigmeu, o primeiro a mapear a região do lago Vitória, o primeiro em dezenas de empreendimentos. Lutou em guerras tribais ( ele tinha uma cicatriz no rosto feita por uma lança que lhe atravessou a cara de bochecha a bochecha ). Quase morreu de inúmeras doenças tropicais e era dado a crises de melancolia. Posso dizer que raras personalidades, de ficção ou não, se comparam a Burton. É um dos melhores livros que li, em que gênero for.
   E não posso esquecer dos livros de Saint-Exupéry, aquele mesmo, do Pequeno Principe, que foi piloto de avião nos anos 30, e tem dois livros maravilhosos, um em que ele descreve a instalação da linha de correio aéreo entre Paris-Rio-Buenos Aires ( cada vôo era um risco de vida ), e outro sobre seus vôos sobre a Africa do Norte, esse livro uma verdadeira obra-prima existencial.
   Mais recentemente conheci os romances de Bruce Chatwin, que infelizmente morreu muito cedo e que escreveu alguns livros soberbos sobre suas viagens solitárias. Há Le Clézio, que às vezes escreve sobre a vida em movimento e Paul Theroux, que está sempre na ansiedade de relatar uma vida na estrada. E é óbvio, os muito bons livros de Amyr Klink livros que devorei nos verões de 91,92.
   Mas eu quero mais. Quero os relatos sobre as ilhas do Hawaii escritos em fins do século XIX, quero as expedições do Polo Norte, quero a conquista do Oriente. Onde os encontrar? Essas sagas sublimes de um planeta ainda por conhecer, de rotas sendo ainda desenhadas, de possibilidades sem fim.
   Nada é melhor para se ler no dolce far niente do verão.
  

O LUGAR FELIZ

A primeira vez em que desci a Serra do Mar foi de Kombi. Chovia, era fim de tarde e a viagem durou cinco horas. Cinco horas na Serra, apenas. Porque nós fomos pela estrada velha, o Caminho do Mar. Naquela época esse caminho ainda era aberto aos carros. Não consigo lembrar porque meu pai foi por lá, acho que ele errou a entrada da Anchieta. Eu tinha sete anos de idade e na Kombi iam meu pai, minha mãe, meu irmão e mais uma tia, e três primos. Minha mãe gritava em cada curva dada. Aquela estrada tinha pista e mão dupla, só cabia um carro por via, e pior, não havia guard-rail. Se o carro derrapasse era adeus... Os vidros embaçaram, escureceu. Mas chegamos em São Vicente. Era 1971.
Quando subimos a Serra, dez dias depois, e agora pela Anchieta ( não existia a Imigrantes ), pude então ver, assistir o que a viagem me mostrava. Descobri aquele lugar. As nascentes que pude ver da estrada, água correndo branca, o cheiro das árvores que se abraçam umas nas outras, os abismos perdidos e de onde eu via pássaros que levantavam vôo. Aquele caminho era cansativo, longo e muito perigoso, mas passávamos dentro da Serra, costurando as encostas, sentindo o lugar. Próximos da mata e dentro da vertigem da sua vida.
Depois as viagens foram pela Anchieta, até que em 75 veio a Imigrantes. Agora eu corria longe das árvores, e me acostumei a admirar a Serra de longe. Não havia mais como sentir seu cheiro e nem se percebiam suas corredeiras. Mas eu me hipnotizava com o verde dos montes imensos e com a luz do sol banhando as encostas que iam mudando de cor a todo momento. Eu olhava a cidade lá embaixo, o mar visível no entardecer e pensava: "Sou feliz!" Por pior que minha vida pudesse estar, lá, na Serra, eu sempre fui muito feliz.                                                                                                            Eu deixo de ser eu, perco minha certeza, me torno parte de outra coisa.
E ao terminar a descida havia o mangue. A longa e plana região dos caranguejos, da lama negra, do cheiro de barro e de água parada, dos pássaros de pernas compridas. Árvores baixas e o calor na pele aumentando. Uma euforia, vontade doida de sair do carro e correr pra dentro do mangue, me sujar na lama, me perder, pirar. Sentia como se o que estava lá fora me convidasse, um convite a viver, a me perder, a me deixar de mim. E no meu rosto um sorriso, os olhos abertos, um brilho.
A Serra é o lugar mais lindo do mundo. Eu não vi o mundo todo, não vi nada, mas a Serra é mais linda que o resto do mundo. Lá tem pegada de bandeirante, tem resto de indio, tem sombra de bicho que não mais existe. Mortes e cantos de vida, insetos e humidade, aranhas e macacos. Ela me apequena, me espanta sempre, me canta. E anuncia o mar.
O mundo dos homens jamais vai conseguir canalizar o mar. Não construirão uma estrada sobre ele lhe domando e matando. O mar é o mesmo. Quando César andou na Europa, era o mar como o vejo hoje. E era a Serra essa Serra. Aquele pássaro que voa agora era o mesmo que voou enquanto na Grécia Hesíodo cantava. Esse pássaro voava do mesmo modo e emitia o mesmo grito. E a curva daquela encosta era como a vejo hoje. A Serra esteve aqui ao mesmo tempo que Buda e Jesus estiveram aqui.
Eu passo pela Serra e sempre me sinto feliz. Ela me espera, ela me abençoa e ela é do mar.

O QUE É CINEMA. UMA OBSERVAÇÃO SOBRE SUNRISE E UMA DIVAGAÇÃO SOBRE MONEYBALL

   Aurora foi feito em 1927. E é muito mais moderno que Moneyball, feito em 2011. Porque?
   Aurora, e sei que é covardia comparar os dois filmes, mas não estou comparando-os, estou analisando tendências; como dizia, Aurora concorreu aos Oscars de 1928, como é possível que aconteça com o filme de Brad Pitt. Então ambos são dois momentos na história do cinema, dois eventos no tempo. O que os diferencia? Falarei sobre o filme de Murnau.
    Aurora é um filme silencioso. E conta sua história com o uso de três cartelas de diálogo no inico e mais uma ao final. Todo o resto ( uma hora e meia ) é narração com imagens e movimento. A história fala de desejo e de perdão. No campo, um homem se envolve com garota da cidade. Ambos planejam a morte da esposa, afogada. Na hora do crime, o marido se arrepende. A esposa percebe sua intenção e foge dele. Ele a persegue e vão a cidade. Lá se divertem em parque e vão a restaurante. Na volta acontece uma tempestade. Esse é o enredo. Ele fala de emoções e de valores imorredouros: desejo, ambição, arrependimento, reatamento, azar e sorte. Culpa e absolvição. E como isso nos é dado? Com uma riquesa e complexidade visual que beira o milagre.
   Cena sobre cena, Murnau vai desenvolvendo seu poema visual sobre dois humanos ( o sub-título do filme é "Uma canção sobre dois humanos" ). Ele cria, e observar um grande artista criar nos dá um prazer imenso. Cada cena é uma criação. São imagens sobre imagens, truques, efeitos de luz, movimentos de câmera, vôos de imaginação. Cenas como a do bonde rodando pelas ruas até vermos a cidade, ou o casamento, em que a esposa cede à dor do marido. Cenas como as do parque, dezenas de pessoas passando sem parar, um frenesí de jogos, brinquedos e movimento.  A tempestade no lago, nuvens e ondas e o vento. O encontro dos amantes no brejo, a câmera andando por entre a mata e a névoa. O trânsito na cidade, uma confusão de trens e carroças e carros e gente... Murnau expande a imagem, enriquece a tela com movimento que acontece em cada milimetro filmado. Os cantos são todos usados para inserir informação, beleza, requinte e mensagens. A tela se expande, explode, vai para onde Murnau deseja, e nós vamos com ele. Mas acima de tudo ele conta uma história, atemporal, muito comovente, que resvala na pieguice, mas que acaba por se erguer acima disso, graças a maestria desse gênio do cinema.
   Murnau fez na Alemanha, entre outros, Fausto e Nosferatu. Em 1926 foi para Hollywood e começa com este Aurora. Em 1931 morreu em acidente de carro. Tinha pouco mais de 40 anos.
   Agora falemos de Moneyball. Várias vezes Brad Pitt é visto dirigindo seu carro. E o que o diretor cria? Nada. Todas as cenas são idênticas. Palavras e mais palavras e imagens que são apenas um suporte para o que é dito. Imagens fechadas, pobres, preguiçosas. Nada é tentado, nada sai do eixo, nada. Rostos e vozes, e não são os rostos como os dos filmes de Dreyer ou de Bergman, transformados em máscaras de emoção, são os rostos de telejornal, da Tv, rostos não trabalhados, banais. E o que vemos é apenas uma história banal. Banalmente contada. Não há nada para ser descrito. Nada para ser lembrado.
   O marido e a amante se encontram. Murnau coloca ao fundo o lago, sujo e escuro. Depois insere imagens da cidade. Orquestras que tocam, gente que dança frenéticamente. Confusão. A amante se ergue e começa a dançar, em meio ao junco, louca e assassina. O marido a abraça e eles caem no chão. A lua brilha entre nuvens e a cidade miserável e pobre ao fundo. ..Aqui não há preguiça. Murnau cria, faz, tenta, está irriquieto. Mistura informações, divaga, tenta. Fertiliza. O que acontece? Nós respiramos com o filme, nos alimentamos, sentimos e pensamos, viajamos.
   Daqui a mais oitenta anos ainda lembraremos de certas imagens de Aurora. A sensação que o filme dá, de melancolia profunda misturada com admiração e alegria criativa, ficará viva. O que a gente vai lembrar de Moneyball a não ser da cara de Brad Pitt e de que tinha algo a ver com beisebol ?

BRAD PITT/ MICHAEL POWELL/ JERRY LEWIS/ SOFIA COPPOLA/ MURNAU

   O HOMEM QUE MUDOU O JOGO ( MONEYBALL ) de Bennett Miller com Brad Pitt
Não se trata de cinema. E nem mesmo de TV. Isto é rádio. Se a arte cinematográfica consiste em contar uma história com imagens, aqui o que temos são imagens que falam o absoluto vazio. O filme tem uma pobreza visual absoluta. São closes sobre closes e mais closes. Desafio alguém a se recordar de uma só imagem do filme... Hitchcock dizia que um grande filme é aquele que pode contar a mesma história com o som desligado. Se tirarmos o som deste filme ele morre. É rádio, voce pode acompanhar a história de olhos fechados. A cena mais "emocionante" é aquela da negociação de jogadores, dois babacas fazendo transações em telefones...wow! Nossa, que demais!!!! Serão esses os heróis do século XXI ? A moral do filme é infantil: em tempos de crise dá pra ser um campeão com pouco dinheiro e muita organização...caramba! Que novidade!!! É a velha moral made in the USA: não seja um loser. O filme seria rebelde se o cara largasse tudo e fosse tentar outra vida. Ah sim, tem uma cena emocionante, aquela em que o cara rebate a bola do recorde... triste filme, essa cena emocionante é da Fox Sports... É um dos filmes mais deprimentes já feitos ( para quem como eu adora cinema ). Nota ZERO. PS: Brad Pitt, que é um bom ator, faz o que pode. O filme fica o tempo todo focado em seu rosto. Entediante...
   THE RED SHOES de Michael Powell com Moira Shearer e Anton Wallbrook
Um dos maiores e melhores filmes da história. Ele dá uma estranha sensação de alucinação, de febre. "Tem atuações que beiram o sublime", ( palavras de Scorsese ), "algo de muito mágico acontece aqui". O filme possui um visual louco, exagerado, barroco, LSD, hiper-colorido e exultante de tanta vida. O filme após encerrado te acompanha, passa a fazer parte de voce, as cenas se fixam na sua memória. É cinema, cinema de verdade, imagens em movimento contando uma história. E essas imagens são complexas, ricas, detalhistas. É uma obra-prima inesgotável. E é o último suspiro do romantismo. Brilhante! Preciso dizer a nota? ( Mais comentários em outra postagem abaixo )
   A ÚLTIMA CAÇADA de Richard Brooks com Stewart Granger e Robert Taylor
Western com mensagem ecológica. Talvez seja o primeiro a defender os animais. Taylor é um caçador. Ele adora matar. E mata, mata e mata mais...Os búfalos são mortos às dezenas e o filme exibe mortes reais, cada animal que cai morto está morrendo de verdade. Granger é um ex-caçador, que por necessidade volta a matar. Mas ele odeia aquilo tudo, embora nada tente para parar a matança. Dá para ver o prazer sexual nos olhos de Taylor ao matar. Ele exibe um gozo absoluto. Uma índia entra na história, e após Taylor matar seus companheiros, ela se torna uma escrava sexual dele. O filme é de 1954 e foi um imenso fracasso de bilheteria. O público não suportava ver seu passado exposto. Brooks, amigo de Huston, sempre seguiu o mesmo caminho, filmes de macho. A diferença é que Brooks sempre exibiu consciência social. A cópia em DVD tem imagem muito ruim. Mas é um filme fantástico por sua coragem e originalidade. PS: os bichos são mortos com autorização do governo dos EUA. Todo ano uma porcentagem é sacrificada para controle de população... Nota 7.
   OS SONHADORES de Bernardo Bertolucci
Saudades de 68...apenas isso. O filme é muito bem dirigido ( compare-o com Moneyball, comentado acima ), Bernardo cria imagens, movimentos, mesmo sobre um roteiro pobre. Os extras do DVD são melhores que o filme. Comento este filme com mais detalhes numa postagem abaixo. Nota 5.
   DEMORA-SE A CEGONHA de Henry Koster com Betty Grable e Dan Dailey
Casal que trabalha em TV tenta adotar criança. É apenas isso, um casal estéril tentando conhecer as alegrias da paternidade. Tudo em tom de comédia musical. O filme é alegre, colorido e tem a curiosidade de vermos as Tvs de então, enormes móveis de madeira que eram vistos como decoração da sala e não como tecnologia. O filme é desfrutável, mas bastante banal... Nota 4.
   O MENSAGEIRO TRAPALHÃO de Jerry Lewis com Jerry Lewis
Em OS SONHADORES, há um momento em que o americano diz que Lewis é ruim e o francês o chama de gênio. Os americanos erraram, Jerry nunca é ruim, mas os franceses erraram também, Jerry era irriquieto e criativo, mas nunca genial. Pobre Jerry Lewis, enquanto comediantes como Keaton e Tati são reavaliados e hoje têm enorme popularidade, Jerry Lewis, que já foi o mais famoso humorista do planeta, é hoje um desconhecido para quem tem menos de 40 anos. Nas Sessões da Tarde dos anos 70, seus filmes eram reprisados toda semana. E revendo-o hoje descubro o porque de sua queda. Ele perdeu a graça. Hoje admiramos o arrojo e a habilidade de Keaton. Se não rimos não importa, são grandes diversões. Com Tati amamos sua poesia e seu visual. Mas os fimes de Jerry Lewis precisam fazer rir, se não dermos gargalhadas nada há para se admirar. Pior, ele passa todo o tempo fazendo caretas, fazendo caras e bocas, exigindo nosso riso. Cenas que poderiam ser de belo cinema, são estragadas pelas caretas de Jerry Lewis. Ele deveria ter aprendido com Keaton, com Tati, com Stan Laurel, a simplesmente fazer a cena e NUNCA tentar ser engraçado. Nisso os americanos acertaram na mosca: Jerry era histérico. Nota 4.
   MARUJOS DO AMOR de George Sidney com Gene Kelly e Frank Sinatra
Tenho um amigo que adora os filmes de Gene Kelly e não os de Fred Astaire. Entendo o porque. Astaire dança sapateado e ballet pop. Gene Kelly dança sapateado e é um grande atleta. Astaire é "apenas" elegante e cool. Gene Kelly é muito mais quente, simpatico e humano. Astaire é um ideal. Kelly é quase real. Neste filme, a famosa história de dois marujos que conhecem garota e se envolvem com ela, há a cena de Gene Kelly dançando com o rato Jerry. É muito bem feita e fez a fama de Hanna e Barbera. Sinatra, muito jovem, faz um marujo virgem, tímido, que quer aprender com Kelly a ser malandro. O musical é chato. Pedimos por mais Gene Kelly e menos enrolação. Nota 4.
   MARIA ANTONIETA de Sofia Coppola com Kirsten Dunst e Marianne Faithfull
Será que um dia Sofia chega lá? Pelo menos ela tenta fazer cinema. Foge das imagens de TV. Mas lhe falta a habilidade básica: contar uma história. Todos os seus filmes dão a sensação de serem uma coleção de cenas, de clips, e jamais uma história interligada. Aqui acontece mais um problema: ela critica a tolice da adolescencia via Maria Antonieta, rainha futil por excelência; mas faz um filme que é fútil também. Tem a profundidade da rainha que critica. É um bobinho, engraçadinho e fofissimo filminho. Nota 3.
   AURORA de FW Murnau com George O'Brien, Janet Gaynor e Margaret Livingston
Há um movimento atual que pede para que este filme, e não CIDADÃO KANE, seja considerado o maior filme da história do cinema. Eu não sei qual o maior filme da história. Dificil decidir entre ATALANTE, VIVER, MORANGOS SILVESTRES, 2001, RASTROS DE ÓDIO, VERTIGO  e tantos outros... Mas este pode ser ele. Porque ele é imenso. E essa é a sensação que uma obra de gênio dá. Ela é como um mar, vasto, de horizontes que não têm fim. E todas essas obras dão vontade de ver e rever e rever e rever... Há tanta riquesa visual neste filme, as imagens são tão cheias de detalhes, de sombras e luz que nós ficamos impressionados com a imaginação e o dominio técnico de Murnau. É o ponto mais alto da arte da imagem em movimento. É uma obra que dá orgulho a quem ama o cinema. Nota acima de sublime....

UM ATOR CHAMADO WILLIAM POWELL ( A INVENÇÃO DO CASAL MODERNO )

   William Powell nasceu no fim do século XIX. Filho de um contador e de uma alegre irlandesa, seu pai sonhava em vê-lo advogado. Mas não conseguiu. Powell acabou no teatro em começos do século XX. Fazia de tudo: vaudeville, dramas, comédias e até Shakespeare. Teve dois anos de fome absoluta ( o pai lhe cortara o dinheiro, descontente com sua decisão ). Até que surgiu em sua vida o cinema. Durante todo o período do cinema silencioso, ele foi um vilão. Era sempre o cara que a platéia deveria odiar. Mas havia algo nele, e o público meio que gostava dele. Quando surgiu o cinema falado, se escutou então sua voz. Uma dicção suave, clara, cultivada. Estava consumada a mudança, William Powell seria um herói das comédias espertas.
   Seu rosto não irá agradar os jovens inteligentinhos de agora. Ele tem a face de seu tempo. Bigode fininho, cabelo empastelado e dividido ao meio, magro e nada atlético, modos de gentleman. Aliás essa palavra é muito citada no livro de Lawrence J. Quirk que acabei de ler, gentleman. Na tela e na vida, Powell foi um cavalheiro. Casou-se ainda no tempo do cinema silencioso. Não deu certo e o filho que nasceu se mostrou instável ( acabou por se matar aos 43 anos, nos anos 60 ). Continuou amigo dessa primeira esposa. Depois, já famoso e trintão, se casou com Carole Lombard, a futura maior comediante dos EUA. Mas ela se mostrou muito imatura e o casamento durou apenas dois anos. O que não os impediu de serem amigos até a precoce morte dela ( em desastre de avião ). Foi quando Powell se apaixonou pela sex-symbol Jean Harlow. O casamento estava já planejado quando ela faleceu vítima de uma peritonite. Arrasado, Powell logo depois descobriu ser portador de um câncer no reto.
   Imagine o que deveria ser,  ter um câncer em 1938. Powell foi operado, passou dois anos em recuperação e acabou por viver até os 91 anos. Ele, que era dado como condenado, faleceu apenas em 1984. Após esse câncer, de volta ao cinema, ele se casou mais uma vez, com uma jovem atriz, 27 anos mais jovem que ele. Todos os amigos lhe avisaram: Não vai durar...pois bem, durou 40 anos, até a morte dele. Felizes.
   William Powell foi sempre um homem filosófico. Ele sempre teve a certeza de que não se deve culpar a vida ou o destino. Cabe a cada um fazer o melhor que puder. E o dever único é ser uma bela presença na vida dos outros. Em meio a toda essa ebulição de casamentos desfeitos e doenças, Powell se manteve são. Cultivava a solidão, tinha poucos e sólidos amigos e nunca perdeu de vista as ex-esposas. Abandonou o cinema aos 61 anos, quando achou que havia feito o que devia fazer e em paz, viveu mais 30 verões.
   No cinema o fato mais importante de sua vida foi o encontro com Myrna Loy. Juntos eles criaram o mito do casal feliz e moderno. Urbano, sofisticado, cínico. Explico.
   Até 1934 um casal feliz era um casal de pombinhos. Doce, amoroso, aconchegante, sem surpresas. Powell e Loy, com sua química sofisticada, inventam ( sim, inventam e espalham ao mundo via cinema ), um novo tipo de casal feliz, o casal que se agride, se separa, se ofende, se provoca todo o tempo, de brincadeira. O casal que joga. E ri, ri muito e faz os outros rirem também.
   Ele sai com quem quiser ( desde que seja fiel, claro ), ela idem. Ele tem sua vida pessoal, ela idem. E bebem, fumam, dançam, discutem, ameaçam se bater... mas jamais gritam, jamais perdem a pose, nunca deixam de ser elegantes. Eureka!!! O mundo se apaixonou pelos dois e eles fizeram então 13 filmes juntos. E até hoje os filmes tentam reprisar aquele casal. Não só os filmes, as novelas, as séries de TV e até muita gente na vida pessoal. E creia, não havia isso antes de 1934, que é quando foi lançado A CEIA DOS ACUSADOS ( THE THIN MAN ), o filme baseado em Dashiell Hammett que começou tudo. Os dois ensinaram ao mundo que o casamento podia ser mais que ser apenas feliz, podia ser engraçado, excitante, imprevisível. E sempre wit.
   Preciso falar de Myrna Loy.
   Os anos 30 tiveram Garbo. Bette Davis e Marlene Dietrich. Tiveram Joan Crawford e Claudette Colbert. Kate Hepburn e Carole Lombard. E na votação do público a mais querida era Myrna Loy. Porque? Fácil responder. Nós admiramos Davis e Kate, rimos com Lombard e Colbert, e somos meio que intimidados por Garbo e Dietrich. Mas Myrna Loy nós amamos. Ela não é apenas linda. Ela é mais que isso, ela é "simpática". Desejamos morar com ela, sair com ela, viajar com ela. Poucas atrizes têm esse dom. Mais que atração ou admiração, o que sentimos é um tipo de "amizade". Myrna Loy, em que pese todo seu sex-appeal ( que é enorme ), é uma pessoa da familia.
   E o mesmo acontecia com Powell. Ele é o tio maluco, sofisticado, esperto e calmo, que viveu em Paris e em Veneza e que vem nos visitar de surpresa. Com ele vem sua esposa, Loy, que ele conheceu em Vienna ou Praga e que é tão esperta e refinada como ele. O encontro desses dois só podia dar certo. 
   Existem "acidentes" no cinema que são maravilhosos. É quando se forma uma parceria insuspeita, mágica, definidora de um futuro. As uniões de ator e diretor são muitas ( Ford e Wayne, Huston e Bogey, Truffaut e Leaud, Scorsese e De Niro, Pollack e Redord ), mas existem aquelas de ator e ator/atriz... ( Laurel e Hardy, Bob Hope e Bing Crosby, Astaire Ginger Rogers ), William Powell e Myrna Loy, em termos de união homem e mulher foi a mais feliz, mais brilhante e mais festiva.  Poder ainda assisti-los é um privilégio.
  

OS SONHADORES- BERNARDO BERTOLUCCI ( TAVA DEVENDO ESSA OPINIÃO PRA UM AMIGO )

   1968 foi o ano de 2001, Kubrick. Não precisava mais nada, mas ainda houve IF de Lindsay Anderson, KES de Loach e mais BEIJOS PROIBIDOS de Truffaut, VIA LÁCTEA de Bunuel, O ANJO EXTERMINADOR de Pasolini, e os primeiros filmes de Scorsese e De Palma. Peckimpah fez sua obra-prima e Steve McQueen era o ator mais famoso do mundo. E nesse mesmo ano, Bertolucci lançava PARTNER, um dos mais perturbadores filmes que já vi. E a chave é esta: maio de 1968 foi um momento perturbador. O bem e o mal se agigantaram e as consequencias de seus urros se fazem sentir até hoje. ( o que vi na USP é uma medíocre rememoração deste filme. Uma triste farsa. ) Mas para falar de 68 é muito melhor ter visto os excelentes extras do DVD. Eles são mais comoventes que o filme, filme que é bonito, mas filho dos anos 2000...frio.
   Os Sonhadores é muito bem dirigido. Bertolucci tira tudo o que pode de seus atores "mais ou menos". E faz maravilhas com seus floreios de câmera dentro dos corredores e das salas. Mas o roteiro é muito fraco. A impressão que se tem é que o filme poderia ser mudo. Se O CÉU QUE NOS PROTEGE era um filme de soberbo roteiro e de direção perdida, aqui temos o oposto.
   Nada no filme lembra 68. E as cenas que envolvem multidões se parecem demais com propagandas moderninhas. Os atores são frios demais, limpos demais, certinhos demais. Faltou Dionisio, deus que Bertolucci conhece bem, como mostrou no ÚLTIMO TANGO. PARTNER é 1968, OS SONHADORES é a lembrança de um senhor em 2004.
   De qualquer modo é emocionante, e digna de seu talento, o momento em que Bertolucci mistura as imagens de Jean-Pierre Leaud. Nós o vemos em 68 e em 2004, no mesmo discurso e com a mesma roupa. E isso me leva à história.
   Um cinéfilo americano conhece um casal de irmãos e passa a morar com eles. Rola sexo, pouca droga e algum rock. Vivem dos cheques dos pais que eles odeiam e no final saem à rua para participar da revolução. Só isso. Não pense que há algum simbolismo no filme, ele é o que é.
   Isso me leva à emoção que há nos extras do DVD. O abraço que Leaud dá em Bertolucci após gravar sua cena já valem todo o DVD. O menino de Truffaut, o Antoine eterno, velho, triste, abraçando Bernardo...Lindo. Os extras explicam o que foi 68 e tem cenas de arquivo maravilhosas. As barricadas foram bem maiores que as do filme e Paris se tornou uma cidade-kaos. Tudo parou de funcionar. Bertolucci diz que a grande diferença que ele sente no mundo de hoje é a solidão dos jovens. Em 68 tudo era feito em grupo, inclusive o sexo. Se drogar ou escutar música a sós seria impensável. Um sonho só era válido se fosse o sonho de uma multidão. Isso terminou.
   Ele diz ainda que a grande vitória do movimento foi o feminismo. Disso eu discordo. O feminismo já vinha ganhando corpo desde os anos 10. Seu roteirista diz algo melhor: que os jovens de 68 queriam levar o mundo à Pequim, e terminaram na California. A revolução terminou na politica da "revolução do Eu". Hedonismo, consumismo e depois o politicamente correto. Eu diria que além disso, 68 fez nascer o terrorismo europeu ( Brigadas Vermelhas, Baader Meinhoff ) e popularizou as drogas. Exterminou o terno e chapéu e liberou o corpo de toda amarra.
   Bertolucci diz que em 68 ele já era velho para a revolução ( tinha 27 anos ). Que seu maio fora feito cinco anos antes. E que ele se distanciou de amigos como Godard e Belochio, que ainda tinham fé em Mao. E realmente logo em 1970, vemos que os filmes de Bertolucci ( como os de Truffaut ), já são exemplos da tal revolução interior, revolução típica dos anos 70. Nesse ponto, deve-se dizer que Mathew, o personagem americano é a voz do futuro, de 1978, da América.
   Hoje, 2012, existe uma revolução permitida. Voce pode transgredir em certos pontos e ser radicalmente contra coisas "feias". Fazer sexo com sua irmã é uma coisa feia. E essas coisas feias são chamadas hoje de "doenças", e nada em 2012 é mais feio que uma "doença". Fumar, beber, transar com alguém de 17 anos, caçar, envelhecer, tudo isso são "doenças" que devem ser tratadas. Aliás, para os ateus a religião é uma doença, e para os frequentadores de cultos, ser ateu é uma doença também. Weeelll....
   A trilha sonora é fraca. Bertolucci nunca gostou de rock. Janis e Doors é coisa de quem vê a coisa de fora. O som de 68 passa por Stones, sempre. Godard os filmava enquanto a coisa pegava fogo. ( Não sabia ainda que eles eram o máximo do "vire-se sózinho" ).
   Dois detalhes finais.
   Buster Keaton é sim menos nobre que Chaplin, Mas ele não é uma engrenagem, uma máquina. Keaton é o homem estóico. Ele não chora, não se lamenta, não pede nossa pena. Chaplin é choroso. Ele implora para que o amemos.
   No fim do filme, na verdade um pouco antes, quando a menina vai se matar, a cena é intercalada com uma outra menina, em p/b, rolando na relva e finalmente caindo na água. Essa cena é da obra-prima de Robert Bresson, MOUCHETTE.  Junto com as cenas de Anna Karina correndo no Louvre e Fred Astaire dançando, são o coração de qualquer cinéfilo.
  

THE RED SHOES, FILME DE MICHAEL POWELL ( O FAVORITO DE SCORSESE )

   Interessante perceber que escolho filmes, às vezes, como em cardápio. Tipo: "Hummm...vou começar o ano com..... ah! The Red Shoes!!!!"
   É a terceira vez que o assisto. Na primeira assistida, achei que era o filme mais gay já feito ( puro resquício de minha educação conservadora. Cresci numa casa onde até mesmo ler poesia era coisa de gay ), de qualquer modo, nessa primeira vez me decepcionei. Achei-o pedante, excessivamente snob, e pior: mofado. Gostei apenas da fotografia de Jack Cardiff.
  Na segunda vez descobri o filme. Entrei dentro do filme. Foi como encontrar a senha que me deu acesso a seu mundo. Senti o filme como uma viagem de LSD. Um delirio de cor, som e rostos esquisitos. Sim, é merecedor de sua imensa fama.
  Antes de dizer como foi minha experiência atual, direi que THE RED SHOES é considerado um dos, se não o maior, filme feito na Inglaterra. Ganhou Oscar de fotografia, num tempo em que um filme inglês ser premiado era raro. Tornou-se uma obsessão para Coppolla e Martin Scorsese. Martin pagou sua restauração em 1980, e mais que isso, organizou uma mostra de toda a obra de Powell no Museu de Arte Moderna de NY. Após vinte anos de ostracismo, Powell era justamente reabilitado. ( Seu ocaso se deveu ao filme maldito que fez em 1960, PEEPING TOM ). Mais que isso, o velho senhor de 75 anos, tornou-se um tipo de consultor da produtora de Scorsese e Copolla, ( dentre outras coisas, foi Powell que aconselhou Martin a fazer The Goodfellas ).  E ainda se casou com a montadora, a melhor dos EUA, Thelma Schoonmaker. Filmes de Copolla, como Dracula ou Rumble Fish, são filhos óbvios de Powell. Mas e Scorsese, o que ele vê em Powell? Há algo em comum entre os dois?
   Pela primeira vez eu noto similaridades entre dois gênios tão diferentes. THE RED SHOES tem movimentos de câmera velozes, cortes insuspeitos, closes assustadores. É uma técnica moderna, ousada, Scorseseana. Mas o principal é que, como nos principais filmes de Martin, o tema do filme é a obsessão. A terrível obsessão de um diretor de ballet por sua obra. Esse diretor tenta fazer da vida uma coisa ideal, fazer da vida pura arte. Não pode conseguir. O sexo e a morte o derrotam. THE RED SHOES é tão terrívelmente cruel quanto qualquer filme sobre a máfia. E é tão doentio quanto Taxi Driver.
   Então o assisto na madrugada deste dia 1. Ligo o aparelho as 6 horas. Após dormir apenas três horas. Começa....
   Estudantes invadem um teatro em Londres onde vai haver um ballet......e o resto é lenda....
   Há um diretor tirânico, que cobra de todos dedicação absoluta. Há cor. Verdes e azuis profundos, imensos, amarelos sombrios. E cortes. Uma cena aberta mostra a orquestra. Corta para um rosto mau. Corta para o palco. Corta para o camarim onde bailarinas se apressam. Corta e corta e corta. Mas não é o corte à video clipe. É o corte que narra, que expõe, que nada esconde.
   Uma nova bailarina. Torna-se uma estrela. Se apaixona pelo jovem compositor. É seu fim. A vida real, feita de sexo e de morte penetra o mundo do balet. É o fim. Mas antes....
   A apresentação após os ensaios.  O que dizer? O filme não parece deste mundo. As pessoas parecem extra-terrestres, são como seres ausentes, vampiros, parecem feitas de outro material que sangue e ossos. Os rostos, cheios de maquiagem, são irreais. E os cenários são como sonhos de droga potente. Explodem de beleza, explodem de insuspeito desejo, são sonhos, sonhos que não se esquece. Música, dança e cor em profusão, em desatino.
   O filme se parece com o tipo de filme que seria feito em 1810, pelos românticos alemães, se em 1810 houvesse cinema. É febril, perturbador, desagradável, inebriante, de uma tolice sublime, anti-racional, mágico, estúpido e de uma coragem cafona estupenda. Arte superior ou carnaval grotesco, que importa? Ele se grava em sua mente e se torna seu espirito. Obra de feiticeiro.
   Enquanto o assisto penso na loucura que deve ser vê-lo em tela grande. Ver aqueles rostos, as luzes, os saltos, em vários metros de tela. Sair do cinema após essa experiência e ver a rua...deve ser enlouquecedor!
   Mas por favor, não espere deste filme "emoção". Ele não fará seu coração disparar, não te dará vontade de chorar e nem te despertará pensamentos filosóficos. Ele te dará admiração, pura e superior admiração. Voce se admirará com sua beleza de delirio, com sua música potente, com a dança exultante. Voce o admirará, o respeitará, irá colocá-lo em pedestal. O filme passará a ser uma parte de sua alma. Não te dará emoções, te dará sentimentos.
   Sinto que vi, talvez, o melhor dos filmes, talvez.
   Moira Shearer fez a bailarina. Quando o filme foi lançado ( 1948 ), a sensação foi tanta, que várias meninas se tornaram bailarinas ao ver o filme. A geração de balet que hoje tem entre 50 e 70 anos deve muito a este filme. Moira está apaixonante. Um rosto de vulnerabilidade, um tipo de pequena princesa virgem. Olhos cor de avelã, expressão de inocência. Todo o elenco brilha, e é estranho, a sensação é de que eles não são atores, eles são aquilo que vemos, parte de uma alucinação.
   Boa parte do filme se passa em Monte Carlo e é fascinante ver a cidade no pós-guerra. Jardins a perder de vista, veleiros no porto, pouca gente nas ruas. Essas cenas, assim como um passeio de carruagem pela orla, aumentam ainda mais o aspecto onírico do filme.
   Quem detesta ballet deveria ver o filme. Ele fará com que voce tenha outra impressão da arte. Irá te conquistar. Porque não é apenas ballet....é cinema, é drama, e é acima de tudo o mais alucinante dos filmes. Michael Powell fez aqui ( com Emeric Pressburger ), um sonho de ilusão.
   Um filme parecido com este nunca mais será feito. Assitir é experiência para uma vida. E nesta terceira vez, passo a compreender a obsessão de Scorsese. Para quem ama o cinema, ele é jóia de destaque, tesouro de luz, momento de maioridade. Lindo, excessivamente lindo.... talvez não o mereçamos mais.

EM BUSCA DE MEU PAI- STEPHEN HUMPHREY BOGART

   O American Film Institute, em 2008, elegeu pela terceira vez seguida, Humphrey Bogart como a maior estrela masculina do cinema. Kate é a atriz, e Bogey deixou para trás Cary Grant, Spencer Tracy, James Stewart e Gary Cooper, ( dos atores em atividade o melhor colocado é Jack Nicholson, ele é o 17 ).
   Como é ser filho do mito? Stephen é o único filho homem de Bogey e este livro é um ajuste de contas entre os dois. Pois Stephen, hoje produtor da ESPN, cresceu com um imenso rancor em relação ao pai. O motivo é muito simples, Bogey morreu aos 56 anos e Stephen tinha apenas 8. O que o filho mais queria o pai não pode lhe dar: tempo.
   Humphrey Bogart era um homem à antiga. Ele gostava de estar com sua turma, com seus amigos homens ( Huston, Sinatra e Spencer Tracy eram os mais íntimos ), o negócio dele era whisky, cartas, bares e piadas. Bogart falava sem parar, adorava provocar, dizia sempre o que pensava e por causa da lingua solta, vivia se metendo em brigas. Adorava ser ator e quando tinha tempo livre, se dedicava a seu maior amor: navegar. Humphrey Bogart era louco pelo mar e acima de qualquer coisa, se dedicava a seu veleiro, o Santana. E o tempo para seu filho?
   Quando se casou com Lauren Bacall, 25 anos mais jovem que ele, Bogey já tinha 45 anos. Ja´fora casado 3 vezes, e em seu último casamento fora muito infeliz. Mayo Method, alcoólatra, tinha a mania de jogar copos, pratos e facas nele. Mas eram ótimos na cama, e ele aguentou 8 anos. Foi pai pela primeira vez aos 48, e é cômico ver a falta de jeito que Bogart demonstra com crianças. Vários amigos dizem que ele olhava para Stephen como se o filho fosse um tipo de ET. Essa distância, esse tempo apressado que o pai passava com ele, marcaram Stephen. ( O que o marcou também é ter crescido com milhares de pessoas lhe dizendo: "Esse é o começo de uma bela amizade", " Toque de novo Sam", "Sempre teremos Paris", ou lhe provocando: "Então voce é o filho de Bogey? Vamos ver se voce é durão...").
   Há uma história engraçada que demonstra quem foi Bogart. Uma vez um amigo pediu para que ele tomasse conta de seu filho, só por duas horas. Apavorado, Bogey perguntou: "Mas o que eu falo com ele?", o pai disse: "Sei lá...voce é o padrinho dele, fale de religião". Quando o pai voltou, duas horas depois, viu Bogart sentado dizendo para o garoto: "Então Kid...existem dez mandamentos, certo?"
   Humphrey Bogart era filho do mais famoso cirugião de New York, e de uma renomada ilustradora de revistas. Cresceu em casa com mordomo e chauffeur. Aos 8 meses de idade, Bogey se tornou famoso em todo o país, sua foto foi usada como rótulo de comida de bebês. Mas seus pais não se davam e Bogart cresceu ouvindo suas brigas.
   Ele serviu na primeira guerra e era um aluno culto e bom leitor, porém indisciplinado e brigão. Foi na guerra, que num acidente bobo, ele feriu seu lábio, que ficou paralisado. De volta pra casa, tentou vários empregos, até que um dia, um amigo, filho de um amigo de seu pai, o levou para o teatro. Bogart foi contra-regra, assistente de direção e ator. Começou fazendo pontas e era ridicularizado por alguns críticos. Aos 30 anos se destacou na peça A FLORESTA PETRIFICADA, e quando ela foi levada para o cinema, lá estava Bogart.
   Sua atuação nesse filme é das coisas mais fortes que já vi em cinema. Ele entra em cena e o resto desaparece. Mas a Warner não soube usá-lo e Bogart passa anos como coadjuvante, fazendo papéis de bandido e de vilão. Até que Raoul Walsh e depois Huston lhe dão a grande chance. Bogart estoura e se torna o ator mais bem pago da Warner. Em 1956 morre de câncer. Tinha 56 anos. Como estrela ele só viveu 15 anos. Quando fez O FALCÃO MALTÊS já tinha 41.
   Quando Bogart morreu, as grandes estrelas do cinema eram Marlon Brando, John Wayne, Burt Lancaster e William Holden. E nos anos 40, essas estrelas eram Gary Cooper, Cary Grant, Henry Fonda, Clark Gable e Tyrone Power.  O mito Bogart nasce após sua morte. Quando ele morreu, o que se noticiou foi a morte de um bom ator, um ator digno, durão, único, mas não um mito. Ninguém se matou por ele, ninguém desmaiou. No enterro, discreto, estavam apenas os amigos, Huston, Sinatra, Kate e Spencer Tracy. O que fez dele um mito?
   Uma corrente diz que o mito nasce com Godard e o filme ACOSSADO. Jean-Paul Belmondo idolatra Bogey no filme e depois em ALPHAVILLE temos essa idolatria repetida. Stephen discorda. Para ele o mito nasce logo em seguida a sua morte. Nasce no MIT e em Harvard, com um festival Bogart organizado para o homenagear. As sessões lotam e mais incrível, durante os filmes os estudantes repetem os diálogos, vão às sessões vestidos de Bogey e assistem os filmes dúzias de vezes. Logo universidades de todo o país fazem festivais Bogart. Nascia o mito.  Será?
   Há também uma terceira corrente, que diz que Bogart encarnou, sem querer, o "espírito do século". No rosto de Bogart se espelha o homem que viu tudo, que sofreu tudo, e que descobriu que a vida não pode e não deve ser levada a sério. Ele é o existencialista encarnado, personagem de um mundo vazio, ele pega a vida nas mãos e faz dela o que quer e o que pode fazer. Será?
   Stephen ainda fala de uma outra tese, a que fala que Bogey representa o pai que todos nós perdemos. Ele é o adulto que nos dá segurança, é o modelo viril a ser seguido.
   Penso que é tudo isso junto. Um mito não se faz com um fator. É uma soma de várias teses, de acasos e de acertos propositais. O que sabemos é que dá para se fabricar uma estrela, mas jamais um mito. O mito escapa ao controle da razão. ( E cá entre nós, Bogart era baixo, feio e careca. Se fosse para escolher um mito seria muito melhor Cooper ou mesmo Errol Flynn ). Mas ele é um mito. Crianças que nasceram no Brasil, décadas após sua morte, que foram expostas a Beatles, Hendrix e Bob Marley, a tantos outros "mitos", descobrem Bogart, que aparentemente seria tão estranho a elas como Carlos Gardel, e se descobrem adorando seus filmes e imitando seu estilo. Isso e´fantástico, isso faz de um ator um mito.
   Por fim, após a reconciliação com seu passado e com a imagem de seu pai, Stephen descobre que Humphrey Bogart era Humphrey Bogart. Que o segredo de Bogey é o fato de que por mais que se escave, o que se encontra não é surpreendente. Ele não tinha um lado gay, não era comunista ou nazista, não se drogava, não deixou filhos ilegítimos. Tinha sim, um lado muito culto que disfarçava com palavrões, mas era exatamente o Rick Blaine de Casablanca: duro, viril, desencantado, lingua solta, macho romântico, lider. E quando um ator consegue ser na vida o que ele é na tela, bem... o caminho para o mito se torna muito mais natural.
   PS: Veja qualquer filme com Bogey. Repare como quando ele entra em cena toda a sua atenção se volta para ele. Voce fica na expectativa, voce fica esperando pelo que ele vai falar e fazer. Isso faz de um ator uma estrela. E para isso não há curso que dê conta.