ícone

O que faz de um ator um ícone é sua estranheza, não sua excelência.
Qual o maior ícone do cinema? Bogart. Olhe para ele. Feio. Baixo. Careca. Voz de Patolino. Mas... Ele caminhava de um modo que só ele caminhava ( inclinado para frente ), acendia o cigarro e tragava de forma única, tinha o lábio superior paralisado, enfiava as mãos no bolso...
Eram gestos únicos. Podem ser copiados. E quando alguém copia, sabemos: eis Bogey!!!!
Em seu tempo, Henry Fonda, James Stewart, Spencer Tracy eram melhores atores, mas não são mitos, são estrelas; não são esquisitos.
Katharine Hepburn com seu corpo esquálido, seu queixo de pedra, e sua voz que é como cristal desafinado. Tudo nela é freak, desagradável, diferente; e tudo nela é adorável.
Bette Davis com seus olhos enormes, o corpo pequeno e marrento, a voz redonda e muito clara, o andar orgulhoso.
E Marlon? Tudo nele é errado! A voz de pato ( pior que a de Bogey ), ele sussurra, jamais fala; o corpo troncudo-de estivador, a cabeça muito grande, o ar de bissexualismo flagrante. Voce não encontra alguém assim na rua!!!!
Mas voce encontra Jack Lemmon na rua. Gregory Peck ou Kirk Douglas.
John Wayne andava de um modo estranhíssimo! Cambaleando, quase caindo. A voz era sempre autoritária e os olhos quase fechados. Um mito.
Hoje, entre os atores em atividade, potencial para mito há em Johnny Depp, que apesar de imitar Brando, tem certa originalidade e esquisitice só dele.
Jack Nicholson é outro. Ele é todo diferente. Um olhar demoníaco, andar de bêbado, voz fácilmente reconhecível.
O mito se torna mito pelo fato de ser fácilmente reconhecível. Então ele começa a ser imitado por humoristas. Depois nas escolas por jovens atores. E surgem os discípulos. E eis o mito.
De Niro e Pacino não são mitos por serem da escola Brando. Clint não o é por ser da corrente Gary Cooper. Penn e Cage são da linha Pacino ( ou seja, terceira mão ) e por aí vai.
A maioria dos mitos é do cinema antigo pelo fato óbvio de que num meio em que tudo ainda estava por fazer, ser o primeiro a tentar e obter era muito mais natural.
Como acontece hoje na música, ser original após tanta produção se torna muito difícil.
A SOLUÇÃO SERIA DEIXAR O PÚBLICO BEM IGNORANTE! SE VOCE DESCONHECER O PASSADO, TUDO LHE PARECERÁ ORIGINAL!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

o lugar do pai

Não é fácil.
Recordo um poema de Seamus Heaney. Ele diz que o pai se foi, e o bastão agora é dele.
É exatamente essa a sensação. O bastão pesa. Dá poder. E dor. Agora eu defendo a família. Agora posso ser como ele. Me pego com seus trejeitos, suas piadas. As repito. Me observo orgulhoso de minha origem. Meu sangue, meu sotaque.
Mas não é simples.
Um iluminado como Ozu passou trinta filmes descrevendo esses laços, essas transições, esses dramas discretos.
Nada é mais importante.

paul auster e 4 filmes

Em seu novo livro ( Paul Auster é um autor que eu simpatizo, quero gostar mas não consigo. Eu o acho brigado com a vida, pouco criativo, quase enfadonho ); mas como eu ia dizendo, no seu livro ele tem uma bela sacada: Grandes filmes dão vida a objetos. E para provar isso ele cita 4 filmes ( que são seus favoritos e dos quais um está entre meus favoritos ).
Ladrões de Bicicleta, A Regra do Jogo, Apu e Contos de Tokyo.
No filme de De Sica, ele descreve magnificamente o início da fita. A esposa carregando dois estafantes baldes de água. O marido pega apenas um. Depois a esposa leva os lençóis da família para o prego. A câmera se afasta e vemos centenas de lençóis no prego. A relação do casal e a situação de Roma no pós-guerra mostradas por objetos mudos.
Na obra de Renoir, os pratos sujos abandonados sobre a mesa, evocando a solidão da amante abandonada.
Em Satijad Ray, a troca de cortinas no quarto do casal e o grampo de cabelo acariciado pelo noivo, como provas de um casal que se ama.
E no poema fílmico de Ozu, todo o filme é uma ode aos objetos, ao silêncio e ao fato de que numa família não existem culpados, sómente vítimas.
Quatro grandes filmes, que como Auster diz, aproximam o cinema da literatura, dos contos de Tolstoi ou da grandeza de Stendhal.

revolucionários de verdade

Em 1981, diz o líder do Run-DMC, ele e seus amigos foram em NY assistir um show do Kraftwerk. O que viram naquela noite mudou sua vida para sempre.
Saíram daquele clube com um novo conceito de som e de show. Não era mais necessário ter uma banda, não era necessário fazer um show com instrumentistas. Tudo era possível e nada era obrigatório.
O século xxi nasceu em Dusseldorf com o Kraftwerk. No show de 81, os 4 integrantes, de pé com sua maquinária, apertavam botões em lugar de tocar instrumentos. Um telão ao fundo mostrava imagens aleatórias e o palco era ocupado por máquinas. Nada de suor, gritos ou reis da guitarra.
Na história do pop pós Elvis, só existiram duas bandas profundamente inovadoras : O Velvet Underground e o Kraftwerk.
O Velvet mostrou que para fazer um som de alto valor não é preciso tocar bem. Trouxe o ruído, o inesperado, o desagradável e o doentio para o pop. E os alemães mostraram que guitarras e percussão eram desnecessárias.
Ambos foram heróicos. Do Velvet veio desde Stooges até White Stripes. Do Kraftwerk veio do Grandmaster Flash até os vários estilos eletrônicos de hoje.
Procure o tal show no Tube : Kraftwerk- pocket calculator; e depois veja o nascimento do mundo atual em 1980, com Grandmaster Flash e os Furious Five com planet rock. Delire!

O tempo e o viver hoje

Quando os primeiros trens rodaram pelos campos ingleses, as pessoas enlouqueciam com seus 20 quilômetros horários. Sentiam que sua percepção de espaço e de tempo se modificava. A vida não poderia ser a mesma de antes, mas seus sentidos eram os de sempre.
Veio o cinema, onde tudo acontece depressa e mesmo o tédio é editado para se parecer com um tipo de " tédio com interesse ". Surgiu a tv e então tínhamos dentro da sala e do quarto a noção do tempo fragmentado, sem silêncio nenhum, sem reflexão ou morosidade. E a possibilidade de fugir de tudo que significasse perigo, estranhamento, chatice.
Mas nossa alma e nosso cérebro não acompanharam essa velocidade. A Terra continua nos dando 24 horas para dormir e viver, continuamos a envelhecer e morrer e a gravidez dura 9 meses. Porém estamos eletrizados numa adrenalina visual, num hipnotismo anti-relaxante, numa euforia deprimida e deprimente. O ritmo da vida ( estações, marés, ventos, crescimento das plantas, cios dos animais ) se divorciou do ritmo que nós pensamos ou procuramos ter. É como se fôssemos cavalos que pensam ser Ferraris e vivem obrigados a ser nem o animal e nunca a máquina.
É impossível imaginar que cem anos atrás era possível conhecer apenas a velocidade de locomoção de um animal. Que uma pessoa pudesse jamais ter visto qualquer imagem do espaço, de um massacre ou de vísceras expostas. Hoje podemos assistir tudo, mas fixamos e vivenciamos quase nada.
A descoberta do sexo era um terrível mistério, hoje ele é banalizado em horas e horas de vídeos pornôs que transformam o ato sexual em ginástica exibicionista e levemente tediosa.
E o tempo, o mais natural fator de existência, passa a ser um inimigo, que não pode ser editado, retardado, deletado, preenchido, como ele é no cinema ou na tv. Perdemos o dom da paciência, não dançamos conforme as estações e tememos sua passagem. Minha rua não existe mais, minha escola foi demolida, meus amigos moram em Paris e minha ex mudou seu rosto com vinte cirurgias e se tornou uma boneca que não me comove mais.
Onde eu fico ? O que recorda e afirma o que sou ? Meus rastros foram todos varridos. Editados. Mudaram de canal e estou fora do ar. É esta a vida possível : a absoluta perplexidade, a total descartabilidade.

séries de tv

Começo contando que Seinfeld foi eleita mais uma vez a melhor série da história. O que penso disso? Vamos ao que acho.
Toda arte melhora com o tempo. O David de Michelangelo parece melhor a cada século, as cantatas de Bach têm mais magnitude hoje do que em seu momento e Shakespeare é mais analisado a cada década.
Tv é produto e produto tem data de validade. Consumir antes que seu tempo se vá.
Recordo das várias decepções que experimentei ao rever séries que eu tanto amei. Coisas como Ultraman, que hoje parece tão entediante; Monkees que não são engraçados ( mas as músicas são para sempre ) ou Jeannie é um gênio, Kung Fu, As Panteras; todos insuportáveis.
Mas ao rever A Feiticeira encontro um encanto que na época em que a assistia ( ainda criança ), jamais percebí. Descubro o talento superlativo de Peter Falk fazendo Columbo e de Telly Savalas como Kojak. Essa permanencia de algumas poucas séries faz delas algo quase mágico, raro, muito especial.
Considero Seinfeld o mais criativo texto de toda história da tv. Tudo nele parece inesperado, os enredos sempre se dirigem ao desastre total e seus personagens são absolutamente cativantes; mesmo sendo feios, neuróticos e egoístas. Mas não sei se é a melhor série.
Um Amor de Família era mais engraçada, anárquica, cínica. Alguns momentos eram realmente ousados, cruéis, arriscados. Frasier era agradabilissima, bateu recordes de prêmios e possui o melhor último episódio da história da tv. Mary Tyler Moore não envelheceu nada. Seus personagens são apaixonantes e a abertura é linda. Os dois primeiros anos de Will and Grace são hilários, assim como o primeiro ano de That's 70's Show.
Monk é uma boa série, House tem um bom ator e My Name is Earl é muito bom. John Doe merecia ter durado e Carnivale era bacaninha. Mas duvido que 24 horas ou Lost sejam assistidas em 2020.
Alguém aguenta rever Barrados no Baile ou Dinastia ? Mas Waltons é uma delícia e Agente 86 ainda é passável. Perdidos no Espaço faz dormir, mas Starsky e Hutch são ótimos.
Como saber então o que sobreviverá ? Qual a série que não nos deixará com vergonha de ter gostado tanto e jogado noites no lixo diante da tv ? Ninguém pode saber.
Anos Incríveis...eis uma série com algo de mágico...

MAMMA MIA!/MYRNA LOY/POWELL/PETER WEIR

Freeway de mathew bright
o que leva alguém a fazer tamanho lixo? feito por imbecis e recomendado a retardados.
Pic nic na montanha encantada de peter weir
primeiro filme da digna carreira de weir. e que filme! é de longe seu melhor trabalho e o assistí por recomendação do grande crítico roger ebbert. muita sensualidade ( sem nenhuma nudez ), na história de uma excursão escolar onde 3 alunas desaparecem. a austrália nunca foi filmada de modo mais bonito e mais assustador. o filme tem algo de muito oriental, muito ancestral, muito profundo mas é de uma simplicidade chocante. nota 8.
Ensaio sobre a cegueira de meirelles.
fui raptado e levado ao cinema para assistir esta coisa enfadonha. excelente sonífero de um diretor que se revela um grande chato. cidade de deus foi um acidente ( talvez seus méritos fossem unicamente a fotografia e a edição ). nota zero.
Linha de passe de walter salles.
o cinema de salles é extremamente conservador. ele faz filmes que remetem a de sica e o bunuel do méxico. em seu cinema nada surpreende, todos são bacanas e de coração puro ( mesmo os maus têm pureza ). ele é um disney dos estudantes de sociologia. nota 3.
Longe dela de sarah polley com julie christie.
maravilhoso. polley dirige com maestria este filme de tema tão duro e tratado de maneira sóbria e adulta. podem escrever : assim como previ que keira knightley era a nova meryl streep ( oscars certos no futuro próximo ) e que joe wright é um diretor que construirá uma grande obra; prevejo um futuro brilhante para esta ótima diretora. julie dá show, mas isto é o esperado. nota 7.
Mamma mia!!!! philida lloyd com meryl streep
que delícia! existir um filme como este é um atestado de que as pessoas ainda sabem sorrir. que prazer ver meryl atuar! como ela é maravilhosa, uma atriz que nos deu tanto!!! que bela banda pop o abba foi e que maravilhosa ironia eles serem tão cult enquanto rush, genesis e yes estão totalmente esquecidos. o filme é chacrinha em seus melhores dias. nota 7.
O centro do mundo de wayne wang
gosto muito dos filmes de wang. mas este... insuportávelmente maneiroso. nota 1.
Desejo voce de michael winterbotton com rachel weisz
este diretor tem algum talento, mas para seu mal ele carrega os piores vícios de sua ( minha ) geração: preguiça, pretensão, muita tv e pouco livro. este filme tem os primeiros 30 minutos muito bons, mas ele é tomado pela falta de convicção e naufraga em tédio mortal. nota 4.
Uma leitora particular de michel deville com miou-miou
afetadíssima fita de arte sobre o prazer erótico que há na leitura. nota 2.
Casado com minha noiva de jack conway com jean harlow, spencer tracy, clarck gable e myrna loy.
um jornalista inventa uma história falsa sobre herdeira. temendo o processo, ele faz com que essa falsa notícia se torne verdade. para isso contrata um malandro que deverá seduzir a herdeira. era este tipo de bobagem que roteiristas geniais transformavam em deliciosas comédias nos anos 30. tudo acontece em ritmo de correria, as falas são vomitadas como metralhadoras e os atores fazem aquilo que seus fâs esperam: harlow é bonita e burrinha, spencer é agressivo e frio, powell é fino e levemente alcoolizado e loy é linda e esperta. diversão garantida para quem procura escapismo inteligente. nota 8.
Contos de hoffmann de michael powell.
powell é o diretor que martin scorsese mais admira. e é, ao mesmo tempo, o menos parecido com martin. durante os anos 40/50, powell fez uma série de maravilhosos filmes fantasiosos na inglaterra. filmes caros, luxuosos, metidos a grande arte e que nos anos 60/70 se tornaram símbolo de tudo aquilo que o cinema não deveria ser: gigantesco. Na década de 80, scorsese promoveu uma mostra no moma de seus filmes e nasceu aí a recuperação do nome de michael powell. hoje ele é considerado um dos grandes e o melhor cineasta que a inglaterra já possuiu ( visto que hitchcock é apátrida ). este filme é a transposicção de uma estupenda ópera para a tela. sim! uma ópera. filmado em forma de sonho, com a fotografia maravilhosa que powell sempre apresenta, o filme é um longo poema sobre a dor de amar. nos dá um imenso prazer, uma euforia visual e a sensação de atemporalidade absoluta. lindo, antiquado, datado e arrogantemente metido. soberbo. nota dez.

cary grant, george clooney e clarck gable

Quem já assistiu algum filme de Cary Grant sabe do que falo. Ele parecia ter nascido dentro de um terno feito sob medida. Tudo nele era pura elegancia. Nunca afetado, sempre simples.
As mulheres o adoravam porque ele parecia ser protetor, adulto, confiável. Era bonitão, mas não tinha traços femininos. Jamais corria atrás das mulheres, parecia não precisar delas, parecia poder viver bem e ser feliz sem ninguém. Passava a imagem de alguém que sabe viver, sabe ter prazer, mas sempre com discrição, suavidade, tato.
Muita gente diz que George Clooney é a reedição de Grant.
Realmente ele tem o mesmo queixo, usa bem ternos sob medida, não ostenta sua natural elegancia e envelhece sem drama algum. Mas ele tem uma certa infantilidade que Cary jamais exibiu. Clooney é muito mais um Clarck Gable, mais macho que Grant, menos suave e um pouco desleixado.
De qualquer modo, George Clooney é o único ator com menos de 50 anos que une elegancia a virilidade, boas atuações com charme inteligente, um certo " não estou nem aí " que nele parece autentico.
Os outros atores de sua geração parecem muito pouco viris se comparados a ele ( Depp, Keanu, Pitt ) ou destituídos de qualquer sombra de atração ( Hanks, Carrey, Spader ).
Ele é uma anomalia neste tempo em que todo ator fala grunhindo, se veste como um pedreiro e se comporta como um presidiário.

quando voce cresce

Quando voce cresce as mulheres não te assustam mais. Aquela raiva impotente que voce sentia sempre, e exibia em forma de petulância inutil desaparecem. Voce não grita como gritava e passa a procurar a qualidade e não a quantidade.
Novidades só irão lhe seduzir se forem absolutamente originais e não a repetição do velho travestido em maneirismos cheios de botox. Voce quer o que vale a pena, o que é bonito, bom, durável.
Quando voce cresce aprende a escutar e a olhar. O brilho fácil perde seu encanto e o ruído se mostra aquilo que sempre foi: nada.
Nessa hora o rock se torna outra coisa. Deixa de ser uma ansiedade surda e se torna um prazer sensorial. Voce descobre o que realmente importa.
Se voce conseguir largar parte da adolescencia, é nessa hora que voce percebe que a música é muito mais que o pop dos moderninhos ou a saudade do punk dos 70.
A música é um universo e o rock/soul/eletro, o pop enfim, é apenas um planeta desse universo. Um maravilhoso planetinha, feito de ruído, ritmo e nervosismo, mas apenas um ponto em meio ao infinito.
Voce descobre a canção. A canção americana criada no começo do século vinte. A música que é simplesmente música. Que é bonita, bem feita, adulta. Que seduz, jamais estupra; que chama e nunca berra; que pensa mas não se exibe.
Se apaixonará pela extrema elegancia de Cole Porter com suas rimas inesperadas, seus paraísos de navios, champagnes, caviar e praias vazias. Um mundo se tuxedos, sedas, ressacas e amores perdidos. E voce sentirá prazer por envelhecer, gosto por saber viver e admiração pela inteligencia com brilho, com finesse, pelo chic.
Descobrirá que Gershwin era um gênio da melodia, que quando ele canta o amor voce ama aquilo que ele canta. Vai perceber que a música não foi criada para gritar ou pular. Música é acasalamento-sedução.
Voce vai se apaixonar pela voz de Fred Astaire, com seu fraseado perfeito, uma voz que faz de qualquer cantor um plebeu. Uma voz que te leva para o mundo da pura fantasia.Vai vibrar com as vozes de Nat King Cole, Joe Willians, Mel Tormé, Bing, Dean, Ella, Billie, Sarah, Johnny...
E então, e só então, voce terá o privilégio de compreender aquilo que Frank diz, aquilo que Frank viveu, aquilo que O HOMEM sentiu. E vai notar que todos ( Elvis, Paul, Dylan, Lou, Bowie ) eram meninos e que Frank é UM HOMEM.
Bem vindo.

anos 30

Conversando com minha amiga Marília ( grande fã do cinema dos anos 70 ), tomo consciencia do prazer imenso que devo ao cinema dos anos 30. Sim, dos 30! Pois assim como o melhor teatro foi escrito entre os séculos xvi e xvii e a melhor filosofia pelos gregos de séculos antes de Cristo; o cinema mais prazeroso foi feito em sua tenra juventude.
Bastaria dizer que foi nos 30 que se filmou o que vale a pena dos irmãos Marx ( e quem não idolatra Groucho, Chico e Harpo é um cretino ao cubo ). Mas os 30 ainda têm W C Fields, Mae West, Lauel e Hardy e os filmes de horror da Universal.
É a década de Fred Astaire e de Busby Berkeley; das screwball comedies de Hawks, MacCarey e Stevens; da elegância de Cary Grant e Gary Cooper; das loucuras kitsch de Von Sternberg; dos filmes de gangster da Warner com Cagney, Robinson e Raft; do melhor Tarzan; dos mais fortes Lang; dos sofisticados Lubistsch e Mamoulian; do começo sério de John Ford e do Hitchcock inglês; Chaplin faz seus melhores filmes e temos Capra e Clair.
É aqui que a série do Pernalonga nasce e Betty Boop, Disney e Popeye. Um cinema adulto, alegre, vivo, muito inteligente, ágil, inspirador. Tempo de Gable, Harlow, Garbo, James Stewart e Henry Fonda, Bette Davis e Kate, Spencer Tracy, Errol Flynn criando os filmes de piratas, Marlene, William Powell e Barrymore, Myrna Loy, Bogart e tanta gente mais... ou melhor, tantos mitos...pois são os 30 o Olimpo do cinema, o mundo dos ícones, dos modelos eternos, do Forever and Ever...

a primeira noite de tranquilidade

Ele é um novo professor. Começa a dar aulas numa nova escola. Ele é niilista. Em sua primeira aula diz que os comunistas são insuportáveis e os fascistas idiotas ( isso em um tempo 72, em que todo italiano do bem era obrigado a ser comuna ). Nessa escola ele se apaixona e tem caso com aluna. Ela é uma prostituta de luxo. Suicida. Bela como o impossível.
Ele é Alain Delon. Seu professor é feito com um olhar de Stendhal e uma voz com ecos de Proust. Caminha para o absoluto desastre, e não se importa com isso. Tudo em sua impressionante atuação diz : a vida nada vale... E tudo em sua atuação nos seduz.
Valerio Zurlini, o poeta da desesperança, dirigiu este poema em forma de cinema. Lindo, triste, doído. Sonia Petrova faz a aluna. Uma jovem que consegue ser mais triste que o professor. Mas não pense que o filme é deprimente ou choroso. Nenhuma lágrima. nenhuma reclamação, nenhum gesto de desespero. Melancolia confortável.
Um filme para se guardar no peito e se rever por toda a vida e com um final perfeito.

RENOIR/LOLITA/TRUFFAUT/KIRK DOUGLAS/LUMET

MULHER COBRA de robert siodmak
um clássico kitsch, referencia para Almodovar e filmes como Hairspray. os atores são hilários de tão ruins, os cenários são dignos da Imperatriz Leopoldinense e a história fala sobre maldições, erotismo e mitos. nota 1.
POSSUÍDOS de william friedkin
ashley judd no quase pior filme de todos os tempos. um filme que ofende qualquer inteligência mediana, com seu mix de modernices vazias, sustos previsíveis e diálogos de retardados. ZERO.
A CARRUAGEM DE OURO de jean renoir com anna magnani.
de todos os grandes é renoir o mais hiper-valorizado. seus filmes são bons, a regra do jogo é excelente, mas jean jamais é um gênio como muitos dizem. este é um filme de bela fotografia, humor leve e festeiro e com bonita mensagem pró-liberdade. mas não é genial ou especial. 6.
LOLITA de stanley kubrick com james mason, peter sellers, shelley winters e sue lyon.
todo aspecto político do delicioso livro de nabokov inexiste neste freudiano filme de kubrick. inexiste o humor que faz do livro uma obra genial e divertida, inexiste o barroquismo da linguagem do dandy nabokov, o que resta? uma lolita velha demais ( no livro ela tem 12 aparentando 11, aqui parece ter 17 ), um james mason sublime ( ele carrega o difícil personagem com leveza e humor- deve ter lido e entendido o livro ), um sellers asqueroso ( ter perdido o oscar é um vexame do prêmio ) e um clima geral de pesadelo e paranóia que o romance não tem.
mesmo com esses senões, é um filme adulto, bonito e que hipnotiza ( te conduz a algum lugar). 7.
O GAROTO SELVAGEM de truffaut.
seco e simples, truffaut dá a sensação de ter feito algo como um documentário de uma época em que não existia o cinema. nestor almendros dá um show de fotografia. 4.
DUELO AO SOL de king vidor com jennifer jones e gregory peck.
é western portanto é bom. uma ópera a cavalo, um história que beira o ridículo em seu exagero de taras e emoção. jennifer jones chegava a ser um crime de tão bonita e peck está ruim como sempre. mas se vê com prazer... nota 5.
ELEIÇÃO de alexander payne.
payne, coen, burton, hanson, wenders, clint, ridley, scorsese, wall e, o cinema de hoje tem alguns nomes interessantes, seu maior problema são atores ( muitos poucos tem algum carisma, o que abre campo para absolutas nulidades ) e o público atual, que não tem nenhuma sofisticação cinematográfica. este filme, com a maravilhosa reese witherspoon ( tenho um caso de paixão com ela- a melhor comediante de sua geração ) é uma diversão para adolescentes que- milagre- não fede a burrice e histeria. seu único defeito é que sua vilã ( reese ) que deveria ser irritante se torna adorável. nota 6.
MARCHA DE HERÓIS de john ford com john wayne e william holden.
o homero do cinema em filme menor. mas um filme menor de ford é um filme gigantesco para qualquer outro diretor. aqui ele trabalha com sua mitologia de heroísmo, liberdade e solidão. wayne está especialmente bem. filme para quem sabe o que significa uma palavra como virilidade. 7.
MACBETH de orson welles
talvez esta seja a melhor adaptação de shakespeare para a tela. um filme muito barato, um cenário apenas, poucos atores. sombras e escuridão, movimentos exatos de camera, falas claras e bem ditas, clima e emoção. uma aula de requinte, de cuidado, de perfeição. jeanette nolan como lady macbeth chega a arrepiar. 8.
ROMANCE E CIGARROS de john turturro com james gandolfini, kate winslet, susan sarandon. alguém precisa avisar kate que seu tipinho sujo já deu. ela faz sempre o mesmo personagem ( a gorducha gostosa ). este é um musical chato, vazio, pesadão, insuportável. ZERO.
EQUUS de sidney lumet com richard burton e peter firth.
lumet sabia filmar neuroses. este texto de shaffer foi imenso sucesso teatral em todo o mundo ( aqui feito por paulo autran e ewerton de castro ). burton está meio sonolento, mas sua voz era tão poderosa que ele leva o duro personagem do analista cansado com facilidade. um filme obrigatório para psicólogos, filósofos ou cinemamaníacos. um filme do tempo em que havia público sério para filmes simples, sem enfeites desnecessários. uma delícia intelectual. 7.
A SEREIA DO MISSISSIPI de truffaut com jean paul belmondo e catherine deneuve.
françois truffaut era fanático por hitchcock e aqui tenta fazer um filme de hitch. tenta criar um clima de vertigo. erra feio e dá vexame. o filme ´e aquilo que o mestre alfred nunca foi- chato. 1.
CAR WASH de michael schultz.
filme barato de latinos e negros dos loucos anos 70. a trilha sonora tem um arraso de ritmo e tudo aquilo que os filmes de tarantino e soderberg têm: funky. 3.
FUGA ALUCINADA de john hough com peter fonda.
um sub- vanishing point. 3.