quando o cinema frances é bom, ele é ótimo!

Dois filmes, dois momentos, dois mestres.
Primeiro: Henri Georges-Clouzot. Diretor massacrado pelos críticos da nouvelle-vague. Hoje é considerado um mestre. Tem uma obra-prima : O Salário do Medo. Uma aventura digna do melhor cinema americano. Mas hoje eu falo de outro filme : AS DIABÓLICAS. Magistral diversão. Porque ?
Uma escola. Um casal. O marido tem por amante uma professora. A esposa tem um caso com a mesma professora. As duas se voltam contra o marido. E mais não posso contar.
O clima é opressivo. E depois se torna de um suspense hitchcockiano. Voce se pergunta em estado de hipnose : e agora ? o que vai acontecer ? Um final chocante. Fantástico.
Segundo : Claude Chabrol. Um diretor da nouvelle-vague. Ainda na ativa. São 50 anos de uma carreira exemplar. 50 anos !!!!!! Imagine Aronofsky ou Daldry filmando em 2049 !!!!!!! ( começaram por volta de 1999... cinquenta anos mais : 2049 ! Tempo pacas ! ).
QUEM MATOU LEDA ? É o nome do filme. Fotografia em cores de Henri Decae. É um dos filmes mais bonitos que já ví.
Na Provence. Um castelo restaurado. Um pai que trai a mãe com a vizinha. Na cara de todos. O filho é um voyeur. A filha uma sonsa que namora um aproveitador hedonista. Leda será morta. Leda é a vizinha.
Momentos de genialidade : Jean-Paul Belmondo. Quem tem mais de 40 anos sabe : Belmondo foi tão famoso quanto Tom Cruise. Mas era muito muito muito simpático. Jovial, sorridente, e fez filmes melhores que Cruise. Sim- a Europa tinha super-stars !
Belmondo entra ( ele é o aproveitador ) em cena : pede comida à mãe. Invade o quarto da filha. Come como um porco. Rí. Vive.
Veja a cena em que ele dirige um Jaguar por Aix. Ele fala com os transeuntes. Acena para as moças bonitas. Canta. Corre. Tudo em um minuto. Câmera na mão. Figurantes que encaram a lente. Então o clima muda : O pai e a amante passeiam pelo campo. Um clip brega e meloso.
Belmondo bebe num café. Com seu amigo desempregado. Uma fanfarra desfila pela rua. Genial : Belmondo improvisa : corre atrás da fanfarra e arrasta seu amigo. A cãmera continua a filmar e esse acidente é usado por Chabrol. Não é editado. Eu vibro : eis a transcendencia do tempo no cinema !!!!!
Bernadette Lafond é a empregada. Pura sensualidade. Pura canastrice adorável . É um símbolo. A eterna musa.
Como nunca irei parar de repetir : os franceses de 1960 têm uma elegancia não- formal despojada que o mundo jamais tornou a igualar. Veja os sapatos de Belmondo. O paletó cinza com blusa preta. O corte de cabelo. Estamos a séculos da bermuda com havaianas, da cueca com jeans caindo, do mulambeiro como ícone ( ou pior : o pimp de Miami ).
O filme é policial. O filme não tem um tiro. É suspense. Mas não dá nervoso. Dá prazer.
Viva Chabrol. Num movimento que tinha Goddard e Truffaut, quem durou foi Chabrol. E Resnais.
Leda é puro luxo, calma e prazer. Aprecie.

criação- um livro de gore vidal

Fazia muito tempo que não me apaixonava tanto por um livro. CRIAÇÃO foi lançado por Vidal em 1982 e logo se tornou um sucesso. Do que trata ?
Em 500 ac. um senhor de 75 anos conta sua vida. Ele é persa e tem um belo desprezo pelos gregos. Através de sua história ficamos sabendo o porque de a civilização grega ter causado muito mal para nosso mundo, como erros cometidos por Xerxes e más escolhas de Dario mudaram o futuro da humanidade para sempre.
Num texto simples e cheio de humor pessimista, Vidal faz deliciosas fofocas. Ele desbanca Sócrates e Anaxágoras, eleva Pitágoras e nos dá um retrato colorido do que seria o mundo persa. Mundo que os gregos difamaram sempre.
Na segunda parte nosso herói serve Dario na India e temos todas as religiões pré-budistas muito bem explicadas. Gurus e charlatões são exibidos com todo seu ridiculo e com toda sua eterna atualidade.
Depois a China é explorada e acontece o retorno ao mundo do ocidente. Nosso herói volta transformado, sem poder mais encarar o tempo, a religião, a história do mesmo modo.
Todos os mitos fundadores são avaliados, todos os " e se... " da história são cogitados e no final percebemos algo de muito perturbador :
Se a vida tem por única função a obtenção da sabedoria... e se a sabedoria só pode ser obtida pelo afastamento daquilo que é futil, vazio, temporal... se a vida só pode ser verdadeiramente usufruida em quietude, solidão e calma... neste mundo de ruido, comunicação desenfreada e invasão de intimidade... em que absorvemos toneladas de conhecimento inutil e estamos sempre presos ao tic tac do momento... onde a sabedoria ?
Creio firmemente ( e foi a única coisa que aprendi em 35 anos de leituras ) que a maneira de transcender o tempo e a sina da existencia é obter contato com aquilo que nos convida a transcender o mundo real.
Quando olho uma tela de Chagall, quando ouço Satie ou leio um verso de Eliot estou indo além do lugar/ tempo/ espaço que ocupo. Estou entrando na esfera daquele iogue que meditou em 500 ac., do poeta que pensou sobre o espirito em 1770 ou do músico que ainda virá.
Pois se o tempo, ao contrário do que os gregos nos legaram, não é uma linha reta, mas sim um circulo perfeito, onde o começo mora no fim e todo final antecipa o começo, é através da obra de arte perfeita, do testemunho dos homens que enxergaram além das aparencias, que podemos nos aperfeiçoar, crescer, inspirar e vencer o tempo e a morte.
No tempo de hoje, que nos dá o acesso a toda essa riqueza, é obrigatório a qualquer homem comprometido com a vida e o viver, usufruir, mergulhar, compreender esses tesouros do tempo eternamente presente.
Sons, cores e palavras daqueles que guiam a eterna e imutável alma humana pela dor e pela loucura de se viver.

Inácio Araújo, Michael Chabon e Gore Vidal

A Folha publicou uma matéria sobre Michael Chabon. Parece que finalmente começam a levá-lo a sério por aqui. Ele escreveu Garotos Incríveis- que se tornou um dos meus filmes favoritos. O livro é tão bom quanto o perfeito filme de Curtis Hanson ( onde Michael Douglas dá um show ). Sua escrita é absolutamente viciante, deliciosa, pop, cheia de habilidade. Voce deve e precisa ler. Legal é que ele adora O Grande Lebowski !!!!!!! Pois Lebowski é o tipo de história que poderia ter sido escrita por ele mesmo.
Michael Chabon tem um gosto parecido com o meu. Muito parecido.
Assim como Inácio Araújo. Que diz sentir profundo tédio com Wong Kar Wai. Ora, isso é lógico. Um homem que ama os filmes de Hawks, Clint e Ford não pode ser enganado pelo doce perfume enjoativo de Kar Wai.
Me perguntam se ando lendo ou se apenas vejo filmes. Weeellllll.... descobri e me viciei em Sherlock Holmes. Um prazer. Finalmente entendo o porque de Georges Simenon ter sido tão famoso ( voce o conhece, não ? Bem, seu pai o leu. Autor belga, morreu nos anos 90. Livros de crime e mistério. Muito clima. Muito existencialismo pop. Ópio em forma de texto. ) Leio também Gore Vidal. O livro se chama Criação. 800 páginas hilárias e cheias de estilo superior. Ele situa o texto em 500 antes de Cristo. Grécia/india/China e Persia. O momento em que o mundo que conhecemos nasceu. Porém Vidal tira uma de tudo. Desmistifica a democracia, a filosofia, os deuses.
Gore Vidal é aquilo que um dia foi conhecido por aristocrata americano. Americanos bem-nascidos, bem-educados, finos e snobs. De família de senadores do século 19, ele prórpio tentou ser presidente nos anos 60/70. Vidal é anti-democrático ( como era Paulo Francis ) pois ele via no voto a porta de entrada da plebe decadente ao palco do mundo. A democracia tende a nivelar tudo por baixo ( cada vez mais baixo ). Para Vidal, a América foi grande enquanto foi governada por uma aristocracia bem formada e bem pensante ( Jefferson e etc. ) e teve em Kennedy seu último representante. Ele escreve como um nobre. Como alguém que está acima da vulgaridade. Mas escreve com verve, e portanto é delicioso.
Neste cada vez mais jeca e bárbaro mundo, ler Vidal, Chabon, Evelyn Waugh, Graham Greene é obrigatório.

the wrestler, um filme de Darren Aronofsky

Trata-se de um quase documentário. A câmera não desgruda de Mickey Rourke. E ele funciona não só como personagem; é também o cicerone daquele mundo. Mundo de derrotados ( ? ).
O estilo de direção é simples, sem qualquer afetação ( e carente de alguma criatividade ). Mas funciona. É um estilo pobre que exibe a pobreza de vidas tolas, vazias, erradas. Mas que ainda mantém alguma humanidade.
O filme não é com Mickey Rourke. Não é para Mickey Rourke. O filme é Mickey Rourke.
Aquele que foi um grande símbolo sexual ( por quanto tempo ? 2 anos ? 3 ? ), hoje se parece muito com Luciano do Valle !
O filme me fez recordar David Lee Roth...
Marisa Tomei está maravilhosa. Mas Mickey... ele brilha...
A produtora do filme se chama Wild Bunch. No Brasil, o filme Wild Bunch se chamou " Meu Ódio será sua Herança ". Velhos cowboys lutando para não desaparecer.
O filme é simples como Bresson. E não foge do óbvio. Nada nele surpreende. Nada.
Quando tocam " Sweet child o' Mine "... é lindo...e quando ele voa na última cena... entra Bruce com uma nova canção... daquelas que só Bruce sabe e pode fazer.
Ao contrário do muito tolo filme de Roth, Marshall e Fincher; e do muito vazio filme de Boyle; este é um filme de verdade. Nota 8.

SLUMDOG MILLIONAIRE/WILDER/TRUFFAUT

Que saudade do tempo em que comprei meu dvd ! Como foi magnífico o tempo em que comprei as caixas dos Marx, do Tarzan, do Bogey !!!!! Como foi delicioso colecionar Hitchcock, Lang, Ford. Descobrir os tesouros: Vigo, Clair, Murnau...
Invejo a inocencia de quem tem tudo isso para descobrir. Mas, vamos lá...
SLUMDOG MILLIONAIRE de Danny Boyle.
Fiz uma enorme força para adorar este filme. Danny é um cara legal, o filme está causando alguma sensação, quero gostar dele. Mas... após 10 minutos de encerrado voce o esquece. Porque ? Porque este filme padece de nada ter a dizer. Sua técnica existe enquanto ele roda. Depois que ele pára, nada fica. É como um corpo sem alma.
A influencia de Cidade de Deus é óbvia, como também o exibicionismo do camera-man. Toda tomada é elaborada, moderninha, diferentex. A câmera não trabalha em função da história, ela existe por si-mesma, presa em seu narcisismo futil. As crianças são ok, e a cena inicial ( na verdade a terceira cena ) da queda na bosta é muito bem ritmada. Mas depois cansa, e o filme parece muito mais longo do que é.
Me diga alguém : quem lançou a obrigatoriedade de que toda cena deve ser gravada como se a câmera estivesse dentro de um barco em mar agitado ? Pra que ? Eu quero poder olhar as cenas, pensá-las, observar o trabalho dos atores. Mas não: lá vem a onda tsunami, as cenas chacoalhando atrás do trio elétrico, a rapidez que nada mostra e nada conta, os cortes rápidos que impedem qualquer pensamento. Uma chatice esse jeito de filmar!!!!!
Mas o filme se salva pela simpatia dos atores. Nota 6.
A PRIMEIRA PÁGINA de Billy Wilder com Jack Lemmon, Walther Mathau e Susan Sarandon.
O texto de Ben Hecht e Charles MacArthur é um clássico. Aqui ele é filmado pela terceira vez. Este, um dos últimos filmes de Billy, foi massacrado na estréia e se tornou um dos seus grandes fracassos. Injustiça! O filme é de uma maravilhosa leveza!!! Todos os diálogos ( ferinos, duros, diretos, brilhantes ) pulam como bolas de ping-pong e os atores que os dizem ( cheios de alegria e vontade de atuar ) se divertem com a lucidez da coisa toda.
Espertamente, Billy liga a máquina e deixa o show rolar ( em sua biografia ele conta várias vezes gostar de diretores que dirigem sem chamar a atenção ao seu próprio trabalho ). Duas horas de completo prazer. nota 8.
O MORRO DOS VENTOS UIVANTES de William Wyler com Laurence Olivier, Merle Oberon, David Niven.
O livro é infilmável. Como filmar a paixão obsessiva ? Como ?
Wyler é um grande diretor ( o mais premiado da história, ao lado de Ford ), mas falta ao filme a paixão louca que o livro tem. Olivier está correto, mas Merle é um completo desastre! É como dar Macbeth para Ben Affleck. Fotografia estupenda do mestre Greg Tolland. nota 6.
O MUNDO EM SEUS BRAÇOS de Raoul Walsh com Gregory Peck e Anthony Quinn.
Caraca! Quanta ação! Walsh foi uma das figuras mais míticas da velha Hollywood. Tapa-olho na cara, megafone na mão, começou como ator ( nos filmes mudos ) e ao perder uma vista virou diretor. Antes disso fora aviador e corredor em Indianápolis ( o legal é que os caras do cinema antigo não sonhavam em ser autores, portanto não eram ratos de cinemateca- eles viviam e tinham muita coisa pra contar ). Este filme tem brigas, viagens, traições, muito mar, socos e bebediras. nota 8.
MY BLUE HEAVEN de Herbert Ross com Rick Moranis e Steve Martin.
Martin passa todo o filme imitando De Niro. Mas colocar Moranis no papel principal... ele é um grande vazio na tela! Roteiro de Nora Ephron, ou seja, ruim. nota 1.
O AMOR CUSTA CARO de Joel Coen com George Clooney e Zeta Jones.
Assiti no cinema em 2002 e desgostei. Errei. É uma bela comédia frívola. Bons diálogos, boa direção, boa diversão. Clooney dá um show e mostra ser o Cary Grant de sua geração. 7.
UMA JOVEM TÃO BELA COMO EU de Truffaut com Bernardette Lafond, Charles Denner.
O maior fracasso de François. Mas não é tão ruim. Uma comédia doida, bastante amoral, corrida e até histérica. Os primeiros 30 minutos são excelentes. nota 4.

o melhor momento da música pop

Pessoas com pouco conhecimento tendem a " achar " coisas. O " achismo " faz com que elas pensem que na música pop dos merry-sixties os únicos rivais dos Beatles fossem os Stones. Essas pessoas confundem sua prórpia ignorância com a verdade.
Primeiro que os Stones eram cumpadres dos Beatles. Segundo que os rivais declarados eram os Beach Boys. Terceiro que em termos de vendas eram os negros das gravadoras Stax e Motown quem vendiam tanto ou mais que os ingleses.
Quem eram esses pretos? Eles eram vozes estratosféricas ainda não alcançadas, vozes treinadas em coros de igreja, vozes calejadas pela perseguição policial. Eram as vozes de Marvin Gaye, Otis Redding, Aretha Franklyn, Smokey Robinson, Arthur Conley, Sam and Dave, Al Green, e do master mor : Wilson Pickett.
Um vídeo do Youtube dá uma bela idéia do que foi o som negro : Pickett, ao final de um show, tem o palco invadido pelos fãs, enquanto canta FUNKY BROADWAY. A câmera, pega de surpresa, treme e se sacode, entre rostos que suam, riem, gritam, se aturdem. Brancos e negros dançam juntos, num tempo em que Steve Cropper e Duck Dunn apanhavam na rua por serem brancos sulistas e tocarem com " pretos sujos ".
São os melhores três minutos que já tive o prazer de ver em qualquer tipo de midia. Voce escuta a pura espontaniedade de gritos e de risadas autenticamente reais. Voce ouve a voz de Pickett raspar e rasgar e não perder o feeling e o groove. Voce vê os metais exalando fogo e a banda inteira pulsando como sangue e como fúria de viver. É poderosamente real. É maravilhosamente sublime. É loucura pura e a pureza de existir livre. É tudo!
Assistam se quiserem viver/existir/ser/estar. Mas assistam de joelhos, assistam com velas acesas, peçam proteção à Wilson e orem pela música.


AMEM!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

o melhor humor da história de hull-on-trent

Surgindo debaixo da cama de um casal que faz as pazes ( após brigarem por causa da visita de uma dupla de vizinhos palhaços ), um apresentador sisudo de telejornal apresenta um debate sobre o seguinte tema : HÁ VIDA APÓS A MORTE ? com muita seriedade ele apresenta os debatentes : um filósofo que acabou de morrer; um padre ainda fresquinho e um teólogo conservado em formol. O debate é feito e o programa concluído.
Em seguida, numa loja de selos, o imperador Julio Cesar tenta comprar chá. No meio da discussão, um escocês sovina tenta vender um sketch por uma libra.
Um tocador de orgão toca um acorde- pelado- enquanto o apresentar anuncia algo completamente diferente: A SAGA DE NJORD, HERÓI DA ISLANDIA. Apresenta-se o filme e ele é interrompido por um mendigo que tenta chegar em Canterbury-upon-the-thames com um patinete.
Duas donas de casa, tomando chá e passando roupa, discutem Pascal e Sartre. Uma discorda da outra e acabam indo à Paris ( que fica num distrito de Surrey ) encontrar Sartre para tirar a dúvida. Sartre é uma nuvem de nicotina e uma baguete amanhecida.
Isto é o CIRCO VOADOR DO MONTY PYTHON ( que um dia, na faculdade,prestei tributo escrevendo O CIRCO VOADOR DO MONTE PITÚ ). Jamais houve humor melhor. Nada foi ou é mais anárquico, saudável, viciante, inspirador. Após assistir toda a série ( 9 discos ) meu nível de exigência humorístico se torna perigosamente alto.
John Cleese ( sempre sério e contido. o homem-militar, o nazista, a vovó ranzinza), Eric Idle ( o chato, o apresentador de tv russo- impagável, o filósofo do futebol), Michael Palin ( meu favorito-o juiz gay, o eterno pelado, o mendigo, a dona de casa moderna), Terry Jones ( o mais atarefado, o cantor que pensa ser Trotsky ), Graham Chapman ( o eterno Brian ) e Terry Gilliam ( o freak das animações ). Foram gênios e dignificaram o país que criou o humor satírico, o país de Laurence Sterne, Dickens, Coward, Evelyn Waugh e Wodehouse.
Tudo que escreví ou escrevo em humor é Pythonesco, sua genialidade desconhece preconceitos, limites, pudor.
HIP HIP! HOORAY!

urubús

A salvação do mundo está num MARAVILHOSO URUBÚ AMARELO.
Meu querido Kevin Ayers lançou um dia a filosofia da Banana. Pois eu acredito no URUBÚ.

aritmética do futuro ( pessimismo já ! )

Paulinho se casou com Marcinha. Os dois são burrinhos e vulgares. Os dois têm cinco filhos. E soltam suas crias no mundo. Como bichinhos.
Lopes casou com Mirela. São neuróticos. Estudaram filosofia, história e psicologia. Resolvem não ter filhos e torram sua grana em bebida e viagens pra Europa.
Dos cinco filhos de Paulinho, um consegue se formar em computação. Ele tem dois filhos. Os outros quatro ( um borracheiro, uma dançarina de funk, uma dona de casa, um balconista e um cambista de bicho ) tiveram no total dezesseis filhos. E aí...
E aí que são dezesseis novos consumidores das piores besteiras que o mundo pode oferecer. Serão 16 fãs do big brother, dos novos filmes imbecis, de pagodes e afins, de revistas de fofocas e séries de tv. A burrice- sempre alegre e deslumbrada- caminha a passos aritméticos rumo ao futuro. Se hoje é assim, se prepare, amanhã será bem pior. Vejamos.
Entrei, em 1985, numa faculdade famosa pelo número de maconheiros e pela facilidade de ingresso. Na época que entrei, metade da escola lia Bukovski-Kerouac-Ginsberg e a outra metade lia Heminguay-Kundera-Pessoa. Quando saí, quinze anos depois, encontrar alguém que soubesse quem eram esses autores se tornava muito difícil.
É saudosismo de quarentão ? Claro que sim. Porém o trágico é que esse pessoal ( que hoje tem 15/18 anos ) aos quarenta vai ter saudade do que ?
As revelações daquela época eram Renato Russo, Cazuza, Roger e Herbert Vianna ( não gosto de nenhum deles, mas os caras sabiam o que dizer ). Agora é o que ?
Qualquer cara do futebol da faculdade ou dos campeonatos de surf ( que eu adorava ) sabiam quem eram Fellini ou Bunuel e acompanhavam as revelações ( Lynch, Ridley Scott, Jarmusch, Wenders ). Hoje acompanham Homem-Aranhas, Batmans, Potters, e um eterno parte 2,3,4...
Tem muita coisa boa hoje. Muita. Mas são menos do que aquilo que o futuro prometia. Alguma coisa desandou. Alguma coisa se tornou muito fake.
As pessoas estão sendo ensinadas a esperar o mínimo de tudo. Voce pede seu Big Mac e ele vem pequeno e murcho. Voce finge acreditar que ele é o que a tv prometia. E engole feliz.
Voce finge que aquele ridículo bonequinho, feito com modernos meios digitais, se parece com a vida real. Afinal todos dizem que parece real. E engole. Não percebendo que os cenários parecem brinquedinhos de criança e que a função do cenário digital é a de baratear custos ( nunca é opção estética ).
Voce é treinado a engolir, a acreditar, a participar da onda.
Então surge um novo presidente. E sua expectativa é tão baixa que mesmo ele jamais tendo falado ou escrito nada de relevante, mesmo ele nunca tendo demonstrado nada de muito brilhante ou original, bem... voce o engole como um novo lider carismático. Afinal, voce suportou uma besta no poder por 8 anos- sem jamais protestar de verdade- apenas se lamentar como um velhote sem fibra.
E suas exigencias vão pro buraco. Voce consome a nova série de tv que é um engodo completo. E assiste passivamente, acreditando que ela é o máximo de novidade possível ( e de certo modo é ). Voce compra um apartamento feito para durar 10 anos. Mas voce acredita que ele tem uma arquitetura realmente luxuosa ( quando na verdade esse luxo é um barateamento de materiais ) e voce lê coisas que no dia seguinte voce mal lembra do que se tratava.
E então, o pior dos piores, a menina que voce sai tem de ser uma perfeita atriz pornô. Pois voce não tem tempo, saco e sutileza para conhece-la, aprofundar-se, viver com ela. Voce está educado para engolir, não para apreciar.
Engole esperando emoções imediatas, rápidas e pré-digeridas. Gozos simples e funcionais.
Os netos de Paulinho ( 37 pimpolhos ) se tornaram galos de granja. Engolem, botam e ciscam e cacarejam numa linguagem limitada e sempre igual.
Pois eu sou o urubú dessa história.

histórias pra boi dormir-will self

Para quem não sabe, Will Self é um escritor inglês com cerca de quarenta anos e que publica desde os anos 90.
Sua linha é satírica, dentro daquele estilo que nasceu com Sterne e Swift e tem nos Monty Python geniais representantes. Voce cria uma situação cômica e vai gradativamente aumentando o absurdo até chegar ao completo disparate.
O estilo de Will Self é maravilhoso. Ele alterna frases chulas com outras escritas com grande maestria e elegância. Vai do minimalismo ao quase barroquismo sem jamais parecer afetado ou tolo.
O livro é composto de duas novelas que versam básicamente sobre confusão sexual, inversão de papéis e o absoluto vazio do tempo que corre.
Por falar em tempo, vale a pena citar esta frase :
" ... Juniper tem um senso de história cultural tão amplo quanto o porta-luvas de um fusquinha. E para esse tipo de gente, cada novo modismo adolescente parece ser tão significativo quanto o declínio do Antigo Regime ou a espansão do império russo sob Pedro, o grande."
Detalhe importante: a tal Juniper tem trinta anos.
E é aos trinta, acossados pela sombra da maturidade, apavorados com as responsabilidades de ser adulto, aniquilidados pelos primeiros sinais de idade, que, feito fúteis consumidores de bagatleas pueris, nos jogamos a qualquer coisa que prove ao mundo e a nós mesmos que continuamos jovens, antenados, atualizados, fresquinhos e novinhos.
Nada mais trintão que adorar toda novidade!
Nada mais velha Inglaterra que novos modismos!
Isso tudo está em Will Self, mas isso faz lembrar meus trinta anos. E pasmem! Fui assim!
Recordo que na época eu somente escutava rap, grunge e coisas como Happy Mondays, Stone Roses, Inspiral Carpets, Charlatans, Soup Dragons. Mas o que eu amava era Beastie Boys, Public Enemy, Beck, Red Hot, De La Soul, Cypress, coisas novinhas em folha ( na época ).
Era voraz leitor da Trip, Fluir, Rolling Stone; e adorava Seinfeld, Frasier, Mad about You.
Achava, exaltadamente, que Pulp Fiction era o melhor filme de toda a história do cinema, seguido de perto por Assassinos por Natureza e Singles.
O melhor ator do mundo era sem dúvida Gary Oldman ou Johnny Depp. Eu ria por já ter levado a sério musicais ou westerns...
È... nada mais antigo que ter trinta anos...querer ser novo sempre e acabar sendo um arremedo de adolescente...

GINGER ROGERS/ROGER RABBIT/WANDA/RIO LOBO/ STEVE MARTIN

En cas de Mal-heur de Autant-Lara com Jean Gabin e B.B.
Que bomba insuportável ! De todas as grandes musas do cinema ( Marlene, Garbo, Rita, Ava, Marilyn, Deneuve, Loren ) ninguém fez piores filmes que Bardot. Foi contra este tipo de lixo que Godard e Truffaut se ergueram. Nota zeroooooooooooooooooooooo!
Vivacious Lady de George Stevens com Ginger Rogers e James Stewart
Agradabilíssima comédia. O tipo de roteiro que Clooney, Reese, Spacey, Hanks, Os Coen, dariam a alma para ter. Passatempo que não te chama de idiota. 7.
The Rocky Horror Show com Tim Curry e Susan Sarandon.
Finalmente assisto o mitico Rocky Horror. Curry tem uma das maiores atuações do cinema. Sua entrada em cena, como o vampiro ultra-glitter-marc bolan-gay é antológica! Se Velvet Goldmine tivesse algum senso de humor ele seria assim. No mais, espero que voces saibam a história deste musical: um fracasso na estréia que se tornou cult, ficando vinte anos em cartaz na mesma sala, onde os fãs assistiam interagindo com a história. Há quem o tenha visto mais de cem vezes. Nota 6.
Um Rei Em NY de John Landis com Eddie Murphy e Arsenio Hall.
No período 73/93 se fizeram toneladas de grandes/excelentes comédias. Esta é uma das melhores. Todos já a viram, todos já gargalharam. Puro prazer e uma atuação histórica de Eddie lembrando o melhor de Alec Guiness. As cenas na barbearia e na igrja são antológicas.
Inesquecível. Nota 9.
Uma cilada para Roger Rabbit de Robert Zemeckis com Bob Hoskins e Christopher Lloyd.
Todos conhecem este filme. Resistiu ao tempo? Sim, resistiu, e é essa o único julgamento válido a qualquer obra de qualquer arte : resistiu ao tempo? nota 7.
Um Peixe Chamado Wanda de Alexander MacKendrick com John Cleese, Kevin Kline, Jamie Lee Curtis e Michael Palin.
Ele começa devagar. E vai crescendo, ficando cada vez mais doido, mais exagerado, atingindo ao final um frenesí de loucura e humor irresponsável. O trabalho de Kline beira a perfeição e todo o elenco brilha estupidamente. nota 8.
Alien de Ridley Scott com Sigourney Weaver, Tom Skerrit e John Hurt.
Segundo filme de Scott. Bela carreira tem esse inglês. No teste do tempo, Alien sobreviveu? Mais ou menos. Não provoca medo ou nojo, pois nos acostumamos a pornografia de visceras e sangue aos borbotões. Mas mantém seu clima claustrofóbico e a elegancia de uma direção enxuta e matemática. nota 7.
Rio Lobo de Howard Hawks com John Wayne.
Último filme de Hawks. É seu pior. Um western comum em que só se destaca a simpatia de Wayne. nota 5.
Longa Jornada Noite Adentro de Sidney Lumet com Kate Hepburn, Ralph Richardson, Jason Robards e Dean Stockwell.
A terrível peça de Eugene O'Neill levada inteira por Lumet. O filme é muito desagradável, árduo´,cruel, sem concessões. Mas há Kate. Mágica. Em minutos ela passa da estrema fragilidade para pura maldade egoísta; de jeito de criança para uma velha anciã. Tudo feito sem qualquer esforço. por ela o filme vale ouro. ( robards também dá seu show de sempre, como o filho alcoólatra ) nota 6.
Star Wars de George Lucas com os dois robots e mais alguns robots de carne e osso.
O filme que inaugurou a total simplificação do cinema ( com Tubarão ). Os atores estão interpretando como se fossem robots, os robots são os astros. O texto chega a ser ridículo e algumas falas com sua pseudo filosofia oriental, beiram o ridiculo. Tudo é infantil, jogado na tela sem qualquer senso de elegancia, ritmo ou psicologia de personagem. Lucas ( péssimo diretor) mal sabe cortar as cenas. Então o porque do sucesso?
Star Wars surge no auge do cinema deprê, intelectualizado, paranóico. Dá ao público a estética infantil da publicidade, o clima de tv e a profundidade das hq. A música de Willians, a foto de Gil Taylor e a batalha final ( uma obra-prima de montagem ) resgatam suas gritantes falhas. Para o bem ou para o mal, este filme antecipa tudo que se fez nos últimos 30 anos. 5.
O Panaca de Carl Reiner com Steve Martin.
A melhor comédia de Martin ( o que não é pouca coisa ). nota 9.
Oliver! de Carol Reed.
Reed é o genial diretor de vários filmes ingleses sobre o sub-mundo londrino, sobre a vida dos pequenos malandros derrotados. O chamaram para dirigir este imenso ( longo, caríssimo ) musical. Venceu quilos de oscars em 68, derrotando o 2001 de Kubrick. Mais uma das papagaiadas do prêmio. Este musical é tudo aquilo que um musical não pode ser : pesado, arrastado, sem simpatia. Mas faz cair o queixo sua cenografia: john Box ganhou o único oscar justo com seus imensos cenários. Uma maravilhosa Londres vitoriana, cheia de córregos, pontes, vielas, barracos e centenas de figurantes. O tipo de cenário que hoje seria inviável. Fariam tudo digitalmente, barateando os custos e frustrando sensibilidades mais afinadas. É o cenário que Tim Burton não pode fazer em seu último filme. nota 4.
A Roda da Fortuna de Joel e Ethan Coen com Tim Robbins, Paul Newman e Jennifer Jason Leigh.
Chatíssimo filme. Os Coen quando tentem fazer algo profundo sempre se tornam chatos. Perdem a leveza e o humor se torna óbvio. nota 2.
A Culpa é dos Pais de Vittorio de Sica.
Vittorio entendeu o que os homens são. Ninguém no cinema conseguiu como ele, mostrar a dor sem culpados, a injustiça sem vilões, como fazemos o mal sem perceber e como sofremos sem poder evitar a dor. Seus filmes são peças de música, poemas de água e fogo, encadeamentos lógicos e simples daquilo que a vida sempre é e sempre será.
Este é seu primeiro grande filme. Uma criança perdida entre seus pais. A total incomunicabilidade que existe entre o adulto e a criança ( mesmo que o adulto a ame, ela sempre será INACESSÍVEL). O filme dói, o filme exalta, faz recordar e é absolutamente delicioso. Mostra como ser criança é dificil, como ser pai é errar sempre, como amar é em vão, como a solidão é constante. Um filme de hoje e de amanhã, o sonho de Salles, Meirelles, Almodovar iranianos e chineses. Só não leva dez por ser modesto, um ensaio para as quatro obras-primas absolutas que Vittorio faria em seguida. nota 9.



enquete britanica ( filmes de todo o mundo )

O instituto britanico reuniu críticos e diretores e fez duas eleições.
Melhores filmes e melhores diretores.
Os críticos elegeram como melhor diretor da história:
Orson Welles.
Em segundo Hitchcock. Depois vem Godard, Renoir, Kubrick, Kurosawa ( é o 6, vá lá...), Fellini, Ford, Eisenstein e Ozu.
Já os diretores de todo o mundo escolheram:
Orson Welles em primeiro.
Depois vem Fellini (quem faz filmes sabe o quanto ele era especial ), Kurosawa ( 3 ! Que bacana!!!!!), Coppola, Hitchcock, Kubrick, Wilder, Bergman, Scorsese, Lean e Renoir.
A lista dos diretores é melhor.

Daí os críticos escolheram os melhores filmes.
Deu Kane.
Depois vem O Chefão de Coppola. Oito e Meio de Fellini, Lawrence da arábia de Lean, Dr.Fantástico de Kubrick, Ladrões de Bicicleta de Sica, Vertigo de Hitchcock, 7 Samurais de Kurosawa, 2001, e filmes de Wilder, Tarkovski, Ozu, Bergman, Chaplin.
Os diretores escolheram:
Kane.
Em segundo Vertigo de Hitchcock.
E depois A Regra do Jogo de Renoir e mais Coppola, Ozu, Kubrick, Murnau, Fellini, Kurosawa, Ford, Dreyer com Joana Darc, Godard, Vigo, Bresson, Keaton e Mizoguchi.
O que notamos?
Que entre os diretores o cinema europeu ainda dá as cartas.