Andando pelas ruas desta cidade. Observo cada cor. Noto toda variação de luz que não cessa seu cambio infinito. A sombra que bate naquela parede. Uma folha que se move.
Procuro nada deixar escapar. A beleza está em toda parte. Basta saber para ONDE OLHAR.
Mas ainda SABEMOS ?
Dois exemplos de deseducação do olhar :
Um rosto em big-close. Uma boca linda. Uma bela mão sobre uma bela mesa. Close rápido em seio nú. Um belo mar azul.
Exemplo dois :
Estrada longa com cactus verde musgo. O sol se põe. Corte. Neve cai sobre pinheiros. Corte. Crianças brincam ao anoitecer. Close. Um sorriso.
Tempo de duração dessas duas cenas acima descritas : 1 minuto.
Consequencia : voce ACHA que viu coisas belas. acredita. compra a idéia. o filme vende isso. seus olhos, domados e passivos, olham aquilo que é JOGADO SOBRE VOCE. Não existe escolha. Seu olhar não é educado porque não existe como PROCURAR o belo. voce está passivo.
PROBLEMA CRUEL : VOCE SE ACOSTUMA À PASSIVIDADE. Belo se torna o que parece belo. Não existe escolha. Nada de apreciação. Voce desaprende a olhar e quando algo de genuinamente belo se lhe apresenta - voce não percebe- está cego para a vida.
DOIS EXEMPLOS DE DEMOCRATIZAÇÃO DO OLHAR :
45 minutos de um baile. Imagens amplas, vastas, sempre em movimento. Seu olhar tem A LIBERDADE DE ESCOLHER para onde olhar : o belo décor ? as roupas de época ? o movimento dos corpos que bailam ? as faces dos atores ? a luz de velas e de janelas de autentico cristal ? A CAMERA GENEROSA MOSTRA TUDO E DEIXA QUE NÓS ESCOLHEMOS O QUE APRECIAR. O diretor confia em nosso bom gosto. AO MESMO TEMPO : 8 linhas narrativas se sobrepõe - se voce for muito inteligente conseguirá seguir todas as 8. Uma sensibilidade mediana seguirá 3. HÁ A TRAGÉDIA- um homem realmente nobre perde seu porque na vida. Seus dias se foram MAS ELE SABE E NÓS SABEMOS que ele é melhor que aqueles que lhe tomam o lugar. HÁ A COMÉDIA BUFA- uma bela porém ridicula moça torna-se o símbolo da vulgar beleza que nasce alí. É a beleza burguesa em oposição a nobre beleza anterior. NASCE A LINHA NARRATIVA POLITICA - os novos ricos precisam do lustro cultural da nobrza e da respeitabilidade do sangue azul. Tristemente, o nobre se torna um empregado. SURGE O PURO PRAZER ESTÉTICO - todas as histórias contadas sutilmente. VOCE É CONVIDADO A USUFRUIR CADA MOMENTO. CONVIDADO E SEDUZIDO. Nada é jogado ou imposto. Todo esse drama está no rosto e no gestual de cada personagem. SUA INTELIGENCIA DEVE LER O FILME.
Voce passa então a LER A VIDA, percebendo todo o drama e toda a beleza que se desenrola ao seu redor.
EXEMPLO SEGUNDO:
Neve cai numa praça. Sem cortes. A camera caminha entre brinquedos. Balanços, gangorras, tobogã. É noite. Um velho se balança no brinquedo. Está só. Continuamos sem nenhum corte. Sem trilha sonora. A camera se aproxima da face do personagem. Ele chora. E começa a cantar uma canção que fala do tempo.
Sem qualquer pressa. O diretor, confiando em nosso espirito, deixa a nosso critério o julgamento da beleza ou não de tal cena. SERÁ POESIA OU SERÁ DRAMALHÃO PESADO ? Cabe a nós decidir.
Citei cenas de O Leopardo de Visconti e de Viver de Kurosawa.
Filmes que desenvolvem nosso olhar, nossa inteligencia. Eles nada empurram sobre nós. Educam. Fazem com que percebamos a beleza e o drama da vida do dia a dia. Seus diretores nada vendem. Suas cenas dão a POSSIBILIDADE DA ESCOLHA : para onde vou olhar ? onde está o belo ?
O filme nobre jamais grita : _Olhe que coisa linda!!!!!!!!
O filme nobre apenas diz : _ Olhe...
Voce precisa procurar a beleza nesse filme. Para a encontrar, é necessária inteligencia e refinamento. E quando voce percebe, é como se o artista lhe dissesse : BEM VINDO .
rápidinho-, comentários e notas
.QUEIME DEPOIS DE LER dos Coen. Em ano muito ruim, se destaca fácil. nota 8.
VICKY CRISTINA BARCELONA de Woody Allen. Um tipo de Eric Rhomer pop. Woody acerta na leveza, Scarlet naufraga, Bardem brinca e Penelope estraçalha. nota 8.
AGENTE 86 de alguém que não importa. Uma lástima. nota zero.
THE READER de Daldry. Com Winslet. Kate está caricatural. Sua alemã parece uma alemã feita por uma inglesa. O filme aborrece e agita sempre um cartaz onde se lê : arte! - pois não o é. Trata-se de presunção do pior tipo. Risquem o nome de Daldry do meu caderno. nota 1.
CLUBE DOS PILANTRAS de John Landis com Belushi. Nunca foi dos meus favoritos. Penso que John Belushi nunca fez um filme a altura de seu potencial. nota 3.
YOUNG MAN WITH A HORN de Michael Curtiz com Kirk Douglas, Doris Day e Lauren Bacall. Filme sobre jazz. É baseado na vida de Bix Beiderbecke. Kirk se esforça, mas voce percebe que o diretor não entende de jazz. E nem se interessa. nota 2.
O MAIOR AMANTE DO MUNDO de Gene Wilder. Um tímido americano caipira se torna o novo Valentino. Gene dirige sem inspiração. Parece Mel Brooks de segunda mão. 3.
O IRMÃO MAIS ESPERTO DE SHERLOCK HOLMES de Gene Wilder. nota zero.
EXPRESSO DE CHICAGO de Arthur Hiller com Gene Wilder, Jill Clayburgh e Richard Pryor. Funciona. Muito agradável, é o que chamo de pop honesto. Assume o que pretende e o atinge. nota 6.
CENAS EM UM SHOPPING de Paul Mazursky com Woody Allen e Bette Midler. Um casal discute a relação num shopping. Só isso. O filme é um tipo de análise pop para trintões. Mazursky surgiu em 1970 como enorme promessa. Ficou pelo caminho. Nota 3.
OURO É O QUE OURO VALE de Walter Graham com James Coburn. Faroeste de humor. Mas o pastelão passa do ponto. fuja!!!!!! zero.
SARGENTO YORK de Howard Hawks com Gary Cooper.
York fez enorme sucesso na época da segunda guerra e deu a Cooper seu oscar. Conta a saga de um caipira que se torna herói. Sem querer e sem ter noção do que faz. Ele é um tipo de Garrincha da guerra. Todos que me acompanham sabem do meu amor pelo cinema falsamente simples de Hawks. Quem já tentou fazer qualquer tipo de arte sabe que o mais dificil é transformar o grande trabalho em prazer. Parecer fácil o que é dificil. Hawks sempre consegue isso. Relaxar e deixar rolar. Mas York não me agrada. Há algo de muito carola, de muito falso aqui. Provavelmente Hawks se sentiu pressionado pelo clima de guerra e fez um filme travado. Um anti-Hawks. Gary Cooper está muito bem. nota 3.
A CONDESSA DESCALÇA de Joseph l. Mankiewicz com Bogart e Ava Gardner. Bem... Mankiewicz é o maravilhoso diretor de clássicos como A Malvada e O Fantasma Apaixonado. É considerado um mestre do diálogo, da interpretação. Mas este muito pretensioso filme erra em sua análise do que seria Hollywood. Conta a história de uma espanhola que via publicidade se torna grande estrela. Mas ela é ninfomaníaca e se casa com principe italiano impotente. Bogey está sobrando neste filme. Ava está bonita. Mas o filme não evolui. 3.
A IDADE DA REFLEXÃO de Michael Powell com James Mason e Helen Mirren. Escrevi um comentário mais longo sobre este delicioso filme abaixo. Procure. Se voce achou que o pintor feito por Bardem no filme de Woody é muito chavão, veja James Mason neste filme. Aqui vemos aquilo que um pintor realmente é. Helen resplandece. Sua sensualidade é uma aula para JessicasBiels e NataliesPotmans. Ela é de carne e osso. E brilha como o sol deste filme feliz. Mais uma dentre a dúzia de obras-primas de Powell. Nota DEZ.
O FIO DA NAVALHA de Edmund Goulding com Tyrone Power, Gene Tierney e vasto etc. O livro de Someset Maugham é uma deliciosa novela pop que fala da falta de sentido da vida. O personagem, Larry, volta da guerra traumatizado e roda o mundo atrás do nirvana. Lí o livro já 3 vezes e se trata de um best-seller com suprema habilidade e vasta ambição. O filme pega tudo isso e transforma numa pecinha escolar sobre ciúmes e dor de cabeça. Chato e ofensivo. Um detalhe: Power interpretou dois de meus mais amados personagens : larry aqui e o narrador de O sol também se Levanta. O fato de ele afundar os dois filmes diz muito sobre o que Hollywood é. nota 1.
A FACA NA ÁGUA de Roman Polanski. Trata-se do primeiro longa de Polanski, feito ainda na Polonia num maravilhoso preto e branco. 3 personagens e aquele clima claustrofóbico do qual ele é mestre. ( aliás, Roman já nasce mestre aqui. o filme tem a segurança de um veterano ). Casal dá carona a jovem e o leva para velejar. Nasce o suspense. Todas as enquadrações de cameras são belíssimas, os atores estão muito bem orientados, e a história nunca se trona monótona e nos hipnotiza. Um filme muito barato, muito simples, muito original e totalmente acessível de um diretor que nos daria a obra-prima Chinatown. nota 8.
QUEM MATOU LEDA? de Claude Chabrol com Bernadette Lafont e Jean Paul Belmondo. Crítica escrita abaixo. Leia que vale a pena. O filme é direto, vibrante, profundo e inesquecível. Fotografia de Decae genial e um Belmondo divetidissimo. nota 8.
AS DIABÓLICAS de Clouzot com Simone Signoret. Foi refilmado com Sharon Stone e Isabelle Adjani. Um desastre essa refilmagem. Este é asfixiante, paranóico, muito habilidoso e um prazer absoluto. nota 7.
VICKY CRISTINA BARCELONA de Woody Allen. Um tipo de Eric Rhomer pop. Woody acerta na leveza, Scarlet naufraga, Bardem brinca e Penelope estraçalha. nota 8.
AGENTE 86 de alguém que não importa. Uma lástima. nota zero.
THE READER de Daldry. Com Winslet. Kate está caricatural. Sua alemã parece uma alemã feita por uma inglesa. O filme aborrece e agita sempre um cartaz onde se lê : arte! - pois não o é. Trata-se de presunção do pior tipo. Risquem o nome de Daldry do meu caderno. nota 1.
CLUBE DOS PILANTRAS de John Landis com Belushi. Nunca foi dos meus favoritos. Penso que John Belushi nunca fez um filme a altura de seu potencial. nota 3.
YOUNG MAN WITH A HORN de Michael Curtiz com Kirk Douglas, Doris Day e Lauren Bacall. Filme sobre jazz. É baseado na vida de Bix Beiderbecke. Kirk se esforça, mas voce percebe que o diretor não entende de jazz. E nem se interessa. nota 2.
O MAIOR AMANTE DO MUNDO de Gene Wilder. Um tímido americano caipira se torna o novo Valentino. Gene dirige sem inspiração. Parece Mel Brooks de segunda mão. 3.
O IRMÃO MAIS ESPERTO DE SHERLOCK HOLMES de Gene Wilder. nota zero.
EXPRESSO DE CHICAGO de Arthur Hiller com Gene Wilder, Jill Clayburgh e Richard Pryor. Funciona. Muito agradável, é o que chamo de pop honesto. Assume o que pretende e o atinge. nota 6.
CENAS EM UM SHOPPING de Paul Mazursky com Woody Allen e Bette Midler. Um casal discute a relação num shopping. Só isso. O filme é um tipo de análise pop para trintões. Mazursky surgiu em 1970 como enorme promessa. Ficou pelo caminho. Nota 3.
OURO É O QUE OURO VALE de Walter Graham com James Coburn. Faroeste de humor. Mas o pastelão passa do ponto. fuja!!!!!! zero.
SARGENTO YORK de Howard Hawks com Gary Cooper.
York fez enorme sucesso na época da segunda guerra e deu a Cooper seu oscar. Conta a saga de um caipira que se torna herói. Sem querer e sem ter noção do que faz. Ele é um tipo de Garrincha da guerra. Todos que me acompanham sabem do meu amor pelo cinema falsamente simples de Hawks. Quem já tentou fazer qualquer tipo de arte sabe que o mais dificil é transformar o grande trabalho em prazer. Parecer fácil o que é dificil. Hawks sempre consegue isso. Relaxar e deixar rolar. Mas York não me agrada. Há algo de muito carola, de muito falso aqui. Provavelmente Hawks se sentiu pressionado pelo clima de guerra e fez um filme travado. Um anti-Hawks. Gary Cooper está muito bem. nota 3.
A CONDESSA DESCALÇA de Joseph l. Mankiewicz com Bogart e Ava Gardner. Bem... Mankiewicz é o maravilhoso diretor de clássicos como A Malvada e O Fantasma Apaixonado. É considerado um mestre do diálogo, da interpretação. Mas este muito pretensioso filme erra em sua análise do que seria Hollywood. Conta a história de uma espanhola que via publicidade se torna grande estrela. Mas ela é ninfomaníaca e se casa com principe italiano impotente. Bogey está sobrando neste filme. Ava está bonita. Mas o filme não evolui. 3.
A IDADE DA REFLEXÃO de Michael Powell com James Mason e Helen Mirren. Escrevi um comentário mais longo sobre este delicioso filme abaixo. Procure. Se voce achou que o pintor feito por Bardem no filme de Woody é muito chavão, veja James Mason neste filme. Aqui vemos aquilo que um pintor realmente é. Helen resplandece. Sua sensualidade é uma aula para JessicasBiels e NataliesPotmans. Ela é de carne e osso. E brilha como o sol deste filme feliz. Mais uma dentre a dúzia de obras-primas de Powell. Nota DEZ.
O FIO DA NAVALHA de Edmund Goulding com Tyrone Power, Gene Tierney e vasto etc. O livro de Someset Maugham é uma deliciosa novela pop que fala da falta de sentido da vida. O personagem, Larry, volta da guerra traumatizado e roda o mundo atrás do nirvana. Lí o livro já 3 vezes e se trata de um best-seller com suprema habilidade e vasta ambição. O filme pega tudo isso e transforma numa pecinha escolar sobre ciúmes e dor de cabeça. Chato e ofensivo. Um detalhe: Power interpretou dois de meus mais amados personagens : larry aqui e o narrador de O sol também se Levanta. O fato de ele afundar os dois filmes diz muito sobre o que Hollywood é. nota 1.
A FACA NA ÁGUA de Roman Polanski. Trata-se do primeiro longa de Polanski, feito ainda na Polonia num maravilhoso preto e branco. 3 personagens e aquele clima claustrofóbico do qual ele é mestre. ( aliás, Roman já nasce mestre aqui. o filme tem a segurança de um veterano ). Casal dá carona a jovem e o leva para velejar. Nasce o suspense. Todas as enquadrações de cameras são belíssimas, os atores estão muito bem orientados, e a história nunca se trona monótona e nos hipnotiza. Um filme muito barato, muito simples, muito original e totalmente acessível de um diretor que nos daria a obra-prima Chinatown. nota 8.
QUEM MATOU LEDA? de Claude Chabrol com Bernadette Lafont e Jean Paul Belmondo. Crítica escrita abaixo. Leia que vale a pena. O filme é direto, vibrante, profundo e inesquecível. Fotografia de Decae genial e um Belmondo divetidissimo. nota 8.
AS DIABÓLICAS de Clouzot com Simone Signoret. Foi refilmado com Sharon Stone e Isabelle Adjani. Um desastre essa refilmagem. Este é asfixiante, paranóico, muito habilidoso e um prazer absoluto. nota 7.
o japão, o brasil e um outro mundo
Estudei em escola pública até os 13 anos de idade. Meu bairro, o Caxingui, era formado de casas com longos quintais no fundo. Galinhas, coelhos, limoeiros e couves. Toda casa tinha um porão e todo porão tinha um reino de fantasia.
Em minha escola não havia um só negro. Onde eles estavam eu não sei.
O Brasil parecia distante, ficcional, inexistente. Foi sómente aos 12 anos que falei com um brasileiro. Um mulato, Juscelino, filho da empregada de casa. Aliás, devo a Juscelino a descoberta dos quadrinhos da Ebal.
Em minha infancia, todos os meus amigos eram japoneses. Mauricio, Wilson, Donato e Celso. Todos falavam e escreviam japones. Eram filhos de japoneses e suas casas eram atulhadas de bonequinhas, samurais, pinturas do monte Fuji.
Jogava beisebol na rua com eles. Todos tinham bonés azul-marinho e usavam meias tres-quartos branca bem esticada. Riam muito. Os pais adoravam pescar. E pareciam muito unidos.
Assistíamos Nacional Kid. Ultraman. Samurai Kid. Speed Racer e Super Dínamo. Eu era Hawata nas brincadeiras. Eu pensava que todo o Brasil fosse japonês.
Aos poucos foram surgindo alguns italianos para bagunçar tudo. Eu me sentia mal com sua estridencia, sua falta de tato, sua indiscrição. Mas logo meu lado latino acordou, comecei a me soltar, a falar alto, a relaxar.
O Japão se tornou o império de minha infancia.
O Brasil, hoje, não tem mais japoneses. Tem coreanos e chineses. E eles são bem diferentes. Por isso, sempre me emociono ao ver um ancião nipônico andando na rua. Ele é sempre um viúvo. Leva um guarda-chuva e um jornal da colonia. Cheira a sakê. E tem o porte nobre de um ex-imperador.
O Brasil, hoje, é um país estranho para a criança que fui. E o olho com olhar estrangeiro. Me parece muito sensual demais, muito colorido demais, violento demais, latino americano demais.
Sei que parece uma pequena loucura minha. Mas quanta gente de minha geração é assim sem ter a consciencia do porque ?
Na idade adulta conheci os filmes de Kurosawa, Mizoguchi, Ozu, Oshima, Imamura, Ishikawa... foi como voltar a meu país. Foi como reencontrar meu quarto. E Mauricio, Celso, Wilson, Mario...
Portanto, não me fale da distancia do pensamento japones para o brasileiro. Sempre morei entre os dois.
E de forma lógica, aos 12 anos me apaixonei por Sueli e depois por Marc ia... escrevia hai-kais para elas, sem saber que eram hai-kais. E plantava bambús.
Ainda tento encontrar a beleza dos bambús pingando orvalho em manhãs geladas de maio.
Onde encontrar?
Em minha escola não havia um só negro. Onde eles estavam eu não sei.
O Brasil parecia distante, ficcional, inexistente. Foi sómente aos 12 anos que falei com um brasileiro. Um mulato, Juscelino, filho da empregada de casa. Aliás, devo a Juscelino a descoberta dos quadrinhos da Ebal.
Em minha infancia, todos os meus amigos eram japoneses. Mauricio, Wilson, Donato e Celso. Todos falavam e escreviam japones. Eram filhos de japoneses e suas casas eram atulhadas de bonequinhas, samurais, pinturas do monte Fuji.
Jogava beisebol na rua com eles. Todos tinham bonés azul-marinho e usavam meias tres-quartos branca bem esticada. Riam muito. Os pais adoravam pescar. E pareciam muito unidos.
Assistíamos Nacional Kid. Ultraman. Samurai Kid. Speed Racer e Super Dínamo. Eu era Hawata nas brincadeiras. Eu pensava que todo o Brasil fosse japonês.
Aos poucos foram surgindo alguns italianos para bagunçar tudo. Eu me sentia mal com sua estridencia, sua falta de tato, sua indiscrição. Mas logo meu lado latino acordou, comecei a me soltar, a falar alto, a relaxar.
O Japão se tornou o império de minha infancia.
O Brasil, hoje, não tem mais japoneses. Tem coreanos e chineses. E eles são bem diferentes. Por isso, sempre me emociono ao ver um ancião nipônico andando na rua. Ele é sempre um viúvo. Leva um guarda-chuva e um jornal da colonia. Cheira a sakê. E tem o porte nobre de um ex-imperador.
O Brasil, hoje, é um país estranho para a criança que fui. E o olho com olhar estrangeiro. Me parece muito sensual demais, muito colorido demais, violento demais, latino americano demais.
Sei que parece uma pequena loucura minha. Mas quanta gente de minha geração é assim sem ter a consciencia do porque ?
Na idade adulta conheci os filmes de Kurosawa, Mizoguchi, Ozu, Oshima, Imamura, Ishikawa... foi como voltar a meu país. Foi como reencontrar meu quarto. E Mauricio, Celso, Wilson, Mario...
Portanto, não me fale da distancia do pensamento japones para o brasileiro. Sempre morei entre os dois.
E de forma lógica, aos 12 anos me apaixonei por Sueli e depois por Marc ia... escrevia hai-kais para elas, sem saber que eram hai-kais. E plantava bambús.
Ainda tento encontrar a beleza dos bambús pingando orvalho em manhãs geladas de maio.
Onde encontrar?
o oscar, um vovô muito chato!
Acompanho o prêmio desde 1976 !!!!! ( caramba ! ). Foi o ano de Rocky e de Faye Dunaway. A entrega acontecia às segundas e durava várias horas. Não existia essa mania de se agradecer agentes, contadores, produtores. E na platéia as câmeras mostravam gente como Jack Lemmon, John Wayne, Laurence Olivier, Gregory Peck, Charlton Heston ou Audrey Hepburn. Uma nova geração se afirmava. De Niro, Pacino, Diane Keaton, Travolta e Stallone. Paul Newman, Warren Beaty e Steve McQueen eram muito quentes ! E Jack já exibia seus óculos escuros.
No ano seguinte ví Annie Hall vencer tudo, Lucas e Spielberg despontarem e o mundo do cinema começar a se infantilizar. Se acomodar ( e com isso reconquistar o público que os anos 60/70 haviam afastado ).
Tive tempo de ver Hitchcock ser homenageado, assim como Bergman, Kurosawa, Fellini. Recordo um aplauso de 5 minutos para Olivier ( num tempo em que só ele, Chaplin ou John Wayne faziam o público aplaudir de pé ). Eu me maravilhava em poder ver na tv, na minha sala, aqueles ícones tão distantes, tão elegantes, tão irreais.
No oscar deste ano, a primeira ovação de pé, tão já em seu final, foi para Sophia Loren e Shirley MacLaine. Finalmente a emoção se fazia notar. Porque até então o que víamos era aquela festinha tipo encontro escolar. Xoxo e morninho.
O que acontece ? Eu mudei ou o oscar mudou ?
Sentí falta de Jack e seus óculos. De Scorsese elogiando algum diretor genial. Sentí falta de ícones. ( e mesmo de estrelas como George Clooney, Johnny Depp ... )
É trágico notar o fato de que as pessoas não conseguem mais vestir um terno e se sentir confortável. E não terem a coragem então de não usar o tal terno escuro. A caipirice impera.
Falar dos prêmios ? O bom moço venceu. A boa moça venceu. O filme dos meninos bonzinhos venceu. Penn é bom ator. Mas Milk é mal cinema. Kate é boa atriz. Mas O Leitor chega a dar vergonha. Slumdog tem talento. Mas erra muito mais que acerta.
O verdadeiro futuro vive nas animações. Wall e foi de longe a melhor coisa nas telas em 2008 ( e o futuro provará isso ). Atores não se tornarão desnecessários : já o são.
A academia não teve os culhões de votar no arrogante e não=bonzinho Mickey Rourke. Sua atuação se tornará clássica. Milk será esquecido ( mas não os outros papéis de Sean Penn ).
Oscar sempre foi propaganda. Mas agora tem um jeito de relações públicas terrível.
E fico tentando reencontrar a emoção de ver Lucas e Spielberg homenageando Kurosawa ou Cary Grant dando prêmio ao amigo James Stewart...
Foi perdida a chance de se fazer justiça a Jerry Lewis. O primeiro ator que conhecí. Um gênio criativo, um gênio da comédia para franceses e alemâes. Mas a academia o esnoba. Como sempre esnobou Chaplin, Buster Keaton, Os irmãos Marx, Cary Grant, Steve Martin, Jim Carrey...
De bom o prêmio para Penelope. Quantos atores foram premiados em filmes de Woody ? Diane Keaton, Michael Caine, Dianne Wiest, Mira Sorvino, Judy Davis...e devo ter esquecido alguém.
Meus indicados teriam sido Gran Torino, Vicky Cristina, Wall e, Queime depois de Ler e talvez Slumdog ou o western de Ed Harris. Mas...
Aplaudiram De Niro de pé. Daniel Craig parece Barney Rubble e Hugh Jackman chegou a dar pena... Nicole Kidman é mais bonita que Angelina Jolie e o vestido de Penelope Cruz era o mais bonito. Que mais ? Dormir é bem melhor !
No ano seguinte ví Annie Hall vencer tudo, Lucas e Spielberg despontarem e o mundo do cinema começar a se infantilizar. Se acomodar ( e com isso reconquistar o público que os anos 60/70 haviam afastado ).
Tive tempo de ver Hitchcock ser homenageado, assim como Bergman, Kurosawa, Fellini. Recordo um aplauso de 5 minutos para Olivier ( num tempo em que só ele, Chaplin ou John Wayne faziam o público aplaudir de pé ). Eu me maravilhava em poder ver na tv, na minha sala, aqueles ícones tão distantes, tão elegantes, tão irreais.
No oscar deste ano, a primeira ovação de pé, tão já em seu final, foi para Sophia Loren e Shirley MacLaine. Finalmente a emoção se fazia notar. Porque até então o que víamos era aquela festinha tipo encontro escolar. Xoxo e morninho.
O que acontece ? Eu mudei ou o oscar mudou ?
Sentí falta de Jack e seus óculos. De Scorsese elogiando algum diretor genial. Sentí falta de ícones. ( e mesmo de estrelas como George Clooney, Johnny Depp ... )
É trágico notar o fato de que as pessoas não conseguem mais vestir um terno e se sentir confortável. E não terem a coragem então de não usar o tal terno escuro. A caipirice impera.
Falar dos prêmios ? O bom moço venceu. A boa moça venceu. O filme dos meninos bonzinhos venceu. Penn é bom ator. Mas Milk é mal cinema. Kate é boa atriz. Mas O Leitor chega a dar vergonha. Slumdog tem talento. Mas erra muito mais que acerta.
O verdadeiro futuro vive nas animações. Wall e foi de longe a melhor coisa nas telas em 2008 ( e o futuro provará isso ). Atores não se tornarão desnecessários : já o são.
A academia não teve os culhões de votar no arrogante e não=bonzinho Mickey Rourke. Sua atuação se tornará clássica. Milk será esquecido ( mas não os outros papéis de Sean Penn ).
Oscar sempre foi propaganda. Mas agora tem um jeito de relações públicas terrível.
E fico tentando reencontrar a emoção de ver Lucas e Spielberg homenageando Kurosawa ou Cary Grant dando prêmio ao amigo James Stewart...
Foi perdida a chance de se fazer justiça a Jerry Lewis. O primeiro ator que conhecí. Um gênio criativo, um gênio da comédia para franceses e alemâes. Mas a academia o esnoba. Como sempre esnobou Chaplin, Buster Keaton, Os irmãos Marx, Cary Grant, Steve Martin, Jim Carrey...
De bom o prêmio para Penelope. Quantos atores foram premiados em filmes de Woody ? Diane Keaton, Michael Caine, Dianne Wiest, Mira Sorvino, Judy Davis...e devo ter esquecido alguém.
Meus indicados teriam sido Gran Torino, Vicky Cristina, Wall e, Queime depois de Ler e talvez Slumdog ou o western de Ed Harris. Mas...
Aplaudiram De Niro de pé. Daniel Craig parece Barney Rubble e Hugh Jackman chegou a dar pena... Nicole Kidman é mais bonita que Angelina Jolie e o vestido de Penelope Cruz era o mais bonito. Que mais ? Dormir é bem melhor !
vicky cristina barcelona e nós dois
Triste será o dia em que não tivermos mais os filmes de Woody Allen. Porque em meio a um mundo cada vez mais infantil, ele, quase sózinho nessa empreitada, insiste em produzir um tipo de cinema sofisticado, adulto e profundamente humanista. Vejamos seu novo filme.
Primeiro fato: todos os personagens são adultos ( mesmo os idiotas ). Nenhum se parece com um cartoon. Segundo fato : nada é feito com a intenção de parecer moderno, ou , nada existe para chocar. Tudo é natural, pois tudo é humano.
Tenho amigos que são como Doug e Vicky. Eles se casaram com pessoas de seu bairro, sua profissão, seu mundinho. São pessoas que jamais podem estar distantes de um celular, um lap-top, dos amigos protetores. Por mais que se droguem, viajem, comprem, nunca deixam de ser aquilo que sempre foram- crianças.
Conheci várias Cristinas. E as compreendo. O amor foge delas. Elas pensam buscar o amor. Mas apenas procuram espelhos, comprometidas com seu destino, sua dor, seu desejo.
Encontrei um único pintor hedonista como o papel de Bardem. Ele sabe. Ele sabe aquilo que artistas como Bergman, Wilde, Kurosawa, Miles e meu querido Kevin Ayers sabem : a vida não faz nenhum sentido. Nada é definitivo, nada alivia nada; e o certo é celebrar isso. Absorver o que há de belo, poderoso, valoroso ,e prosseguir, rindo, celebrando o sol.
Amei uma Maria e quase morremos juntos. E posso então dizer que compreendo o que é o amor verdadeiro. Pois amor de verdade só existe na dificuldade, na diferença, no risco.
Num mundo onde voce não arrisca um amor impossível, ou onde todo desejo é satisfeito antes de se afirmar,bem, nesse mundo o amor se torna um quase nada, um vazio, um compromisso com o já conhecido ( e o já conhecido, o previsivel, não é amor ).
Barcelona é uma mulher linda. Quem não a ama não ama a beleza e a vida. Ama o cinza.
Penelope Cruz... brilha e humilha as outras atrizes. Seu ódio é homérico, sua sensualidade fulgurante, sua presença de rainha. Ela ilumina as cenas e enche a tela de vida. E de trágica sina.
Woody deve ter se queimado muito com a América. Sua visão dos americanos se tornou ferina. Eles são um bando de bebedores de café descafeinado, plugados em maquininhas bobas e consumistas vorazes. Eles são, sabemos disso. ( Há um belo contraste: numa cena vemos o casal bebendo vinho. Surge o noivo com seu copo de café de papelão ).
É um filme melhor que qualquer candidato ao Oscar .
Sua cena final, Vicky e Cristina, andando rumo ao inevitável tédio, rumo à absoluta mediocridade... faz lembrar o Antonioni mais visceral . Allen depura sua influencia Bergmaniana e nos dá toda uma alma, radiografada, em coisa de 4 ou 5 segundos. Me fez chorar...Coisa que nem a novelinha de Fincher/Roth e nem a incrível bobagem de Daldry fez.
É muito mais real e colorido que o filme fashion sobre a India e não pode ser comparado à um lixo como Milk. É um filme fábula. É amargo. É bonito.
Woody Allen se aproxima do fim da vida menos brilhante. Menos engraçado. Porém, muito mais sábio. Bato palmas de pé para este irresistível filme.
Primeiro fato: todos os personagens são adultos ( mesmo os idiotas ). Nenhum se parece com um cartoon. Segundo fato : nada é feito com a intenção de parecer moderno, ou , nada existe para chocar. Tudo é natural, pois tudo é humano.
Tenho amigos que são como Doug e Vicky. Eles se casaram com pessoas de seu bairro, sua profissão, seu mundinho. São pessoas que jamais podem estar distantes de um celular, um lap-top, dos amigos protetores. Por mais que se droguem, viajem, comprem, nunca deixam de ser aquilo que sempre foram- crianças.
Conheci várias Cristinas. E as compreendo. O amor foge delas. Elas pensam buscar o amor. Mas apenas procuram espelhos, comprometidas com seu destino, sua dor, seu desejo.
Encontrei um único pintor hedonista como o papel de Bardem. Ele sabe. Ele sabe aquilo que artistas como Bergman, Wilde, Kurosawa, Miles e meu querido Kevin Ayers sabem : a vida não faz nenhum sentido. Nada é definitivo, nada alivia nada; e o certo é celebrar isso. Absorver o que há de belo, poderoso, valoroso ,e prosseguir, rindo, celebrando o sol.
Amei uma Maria e quase morremos juntos. E posso então dizer que compreendo o que é o amor verdadeiro. Pois amor de verdade só existe na dificuldade, na diferença, no risco.
Num mundo onde voce não arrisca um amor impossível, ou onde todo desejo é satisfeito antes de se afirmar,bem, nesse mundo o amor se torna um quase nada, um vazio, um compromisso com o já conhecido ( e o já conhecido, o previsivel, não é amor ).
Barcelona é uma mulher linda. Quem não a ama não ama a beleza e a vida. Ama o cinza.
Penelope Cruz... brilha e humilha as outras atrizes. Seu ódio é homérico, sua sensualidade fulgurante, sua presença de rainha. Ela ilumina as cenas e enche a tela de vida. E de trágica sina.
Woody deve ter se queimado muito com a América. Sua visão dos americanos se tornou ferina. Eles são um bando de bebedores de café descafeinado, plugados em maquininhas bobas e consumistas vorazes. Eles são, sabemos disso. ( Há um belo contraste: numa cena vemos o casal bebendo vinho. Surge o noivo com seu copo de café de papelão ).
É um filme melhor que qualquer candidato ao Oscar .
Sua cena final, Vicky e Cristina, andando rumo ao inevitável tédio, rumo à absoluta mediocridade... faz lembrar o Antonioni mais visceral . Allen depura sua influencia Bergmaniana e nos dá toda uma alma, radiografada, em coisa de 4 ou 5 segundos. Me fez chorar...Coisa que nem a novelinha de Fincher/Roth e nem a incrível bobagem de Daldry fez.
É muito mais real e colorido que o filme fashion sobre a India e não pode ser comparado à um lixo como Milk. É um filme fábula. É amargo. É bonito.
Woody Allen se aproxima do fim da vida menos brilhante. Menos engraçado. Porém, muito mais sábio. Bato palmas de pé para este irresistível filme.
porque os irmãos Coen são tão bons
Queime depois de Ler é mais um grande filme dos Coen ( Arizona, Lebowski, Onde os Fracos, Fargo, Barton Fink, E aí meu Irmão ).
Porque?
Primeiro porque os Coen realmente amam o que fazem. Voce percebe que eles assistem filmes ( e os filmes de Preston Sturges e Billy Wilder são óbvias influencias, mas há muito mais ), voce nota que eles amam os atores e amam os personagens. Existe amor por Lebowski, pela xerife de Fargo, pelo vizinho de Barton Fink, pelo casal em Arizona, pelos condenados em Meu Irmão...
Neste filme, tanto a hilária Liptzke ( mais um show dessa adorável e genial Frances McDormand ) quanto o maravilhoso Clooney ( que ator fantástico! Tudo o que ele faz parece tão fácil de ser feito e por isso nos passa tanto prazer em assistir ), são acarinhados, embalados, respeitados pelos roteiristas. Roteiristas que deixam as cenas durarem o que precisam durar e que jamais movimentam a câmera sem que seja necessário.
Segundo motivo de excelencia é o fato de que os Coen são realmente inteligentes e nos tratam como seres pensantes. ( E nisso eles estão quase sós no cinema atual, onde até mesmo filmes pretensamente adultos já vêem com suas conclusões prontas ).
Todo o filme é impregnado de ira, de crítica a tudo aquilo que merece ser criticado. O vazio de um mundo sem relações estáveis, a ansiedade por se reinventar sempre, os aparelhinhos que nos fazem parecer e ser idiotas, a paranóia urbana, a infantilidade de quem não tem porque existir, a futilidade da politica.
Tudo isso é mostrado. Mas, e vem daí sua genialidade, o filme jamais prega. Ele confia em nossa cabeça, e deixa aberta a opção de nossa escolha : se concordamos com aquilo que os irrita, nos divertimos e usufruimos ainda desse poder de critica; se não queremos ou podemos pensar, temos uma diversão excelente. Os Coen fazem filmes que negam tanto bobagens como Batman ou Agente 86 ou filmes engessados e pseudo-profundos, como Sangue Negro e Milk ( tolices artísticas que vêem prontas. Eles trazem bulas : aqui voce deve chorar, aqui voce deve concordar, veja como isto é profundo... ).
No cinema dos Coen tudo é aberto : voce escolhe o que aquilo significa, podendo inclusive nada significar.
Este filme é, inclusive, um anti- Onde os Fracos. Naquele filme todos queriam alguma coisa; aqui há alguma coisa que ninguém quer. Naquele não havia trilha sonora, neste há uma trilha exagerada e invasiva. Poucos personagens em Onde os Fracos, aqui uma constelação de tipos; a aridez do deserto versus a fertilidade do norte americano; o personagem são ( Tommy Lee ) em Os Fracos, sobrevive e dá a conclusão magnifica, aqui o único personagem que ainda tem algum discernimento é burramente executado.
Trata-se de um filme que não se esgota em uma visão e que tende a melhorar com o passar dos tempos ( o que è sintoma de grande arte. Todo grande filme cresce com o passar dos tempos. Todo filme medíocre morre em dois verões ).
Os Coen merecem ser homenageados sempre. Eles olham para mim e para voce com verdadeiro carinho. Nos respeitam, confima em nosso julgamento, em nosso entedimento. Acreditam que somos ou seremos adultos, que não rimos por cenas de banheiro, que não nos impressionamos com um travelling ou uma fotografia amarelada. Eles amam sua profissão. E isso faz com que eu ame seus brilhantes filmes.
Porque?
Primeiro porque os Coen realmente amam o que fazem. Voce percebe que eles assistem filmes ( e os filmes de Preston Sturges e Billy Wilder são óbvias influencias, mas há muito mais ), voce nota que eles amam os atores e amam os personagens. Existe amor por Lebowski, pela xerife de Fargo, pelo vizinho de Barton Fink, pelo casal em Arizona, pelos condenados em Meu Irmão...
Neste filme, tanto a hilária Liptzke ( mais um show dessa adorável e genial Frances McDormand ) quanto o maravilhoso Clooney ( que ator fantástico! Tudo o que ele faz parece tão fácil de ser feito e por isso nos passa tanto prazer em assistir ), são acarinhados, embalados, respeitados pelos roteiristas. Roteiristas que deixam as cenas durarem o que precisam durar e que jamais movimentam a câmera sem que seja necessário.
Segundo motivo de excelencia é o fato de que os Coen são realmente inteligentes e nos tratam como seres pensantes. ( E nisso eles estão quase sós no cinema atual, onde até mesmo filmes pretensamente adultos já vêem com suas conclusões prontas ).
Todo o filme é impregnado de ira, de crítica a tudo aquilo que merece ser criticado. O vazio de um mundo sem relações estáveis, a ansiedade por se reinventar sempre, os aparelhinhos que nos fazem parecer e ser idiotas, a paranóia urbana, a infantilidade de quem não tem porque existir, a futilidade da politica.
Tudo isso é mostrado. Mas, e vem daí sua genialidade, o filme jamais prega. Ele confia em nossa cabeça, e deixa aberta a opção de nossa escolha : se concordamos com aquilo que os irrita, nos divertimos e usufruimos ainda desse poder de critica; se não queremos ou podemos pensar, temos uma diversão excelente. Os Coen fazem filmes que negam tanto bobagens como Batman ou Agente 86 ou filmes engessados e pseudo-profundos, como Sangue Negro e Milk ( tolices artísticas que vêem prontas. Eles trazem bulas : aqui voce deve chorar, aqui voce deve concordar, veja como isto é profundo... ).
No cinema dos Coen tudo é aberto : voce escolhe o que aquilo significa, podendo inclusive nada significar.
Este filme é, inclusive, um anti- Onde os Fracos. Naquele filme todos queriam alguma coisa; aqui há alguma coisa que ninguém quer. Naquele não havia trilha sonora, neste há uma trilha exagerada e invasiva. Poucos personagens em Onde os Fracos, aqui uma constelação de tipos; a aridez do deserto versus a fertilidade do norte americano; o personagem são ( Tommy Lee ) em Os Fracos, sobrevive e dá a conclusão magnifica, aqui o único personagem que ainda tem algum discernimento é burramente executado.
Trata-se de um filme que não se esgota em uma visão e que tende a melhorar com o passar dos tempos ( o que è sintoma de grande arte. Todo grande filme cresce com o passar dos tempos. Todo filme medíocre morre em dois verões ).
Os Coen merecem ser homenageados sempre. Eles olham para mim e para voce com verdadeiro carinho. Nos respeitam, confima em nosso julgamento, em nosso entedimento. Acreditam que somos ou seremos adultos, que não rimos por cenas de banheiro, que não nos impressionamos com um travelling ou uma fotografia amarelada. Eles amam sua profissão. E isso faz com que eu ame seus brilhantes filmes.
porque o agente 86 é tão ruim
O agente 86 espelha de forma exemplar toda a ruindade que insiste em atacar o cinema feito nestes tempos acéfalos. Mostro alguns dos motivos.
Um crítico fez uma exaustiva pesquisa e chegou a seguinte conclusão : quando num filme, uma tomada dura menos que 8 segundos, nosso cérebro não consegue articular conceitos sobre tal cena. Com menos de 4 segundos, não conseguimos sequer pensar sobre o que está sendo mostrado.
Em seguida ele cronometrou cada tomada, cada corte, de vários filmes. Em média, o tempo entre os cortes, hoje, é de 4 segundos. Armagedon chega aos 3 segundos e Pearl Harbour aos 2,5 segundos. Os filmes de Woody Allen chegam a ter 15 segundos...
Porque isso ? Dois são os motivos principais : Primeiro o fato de que os produtores acham que o público é idiota. Acham que não suportaremos ver duas pessoas conversando sem que aconteça um corte, outro corte, um zoom, uma tremida de camera, um efeito de som. Segundo, a insegurança dos diretores. Eles não confiam em sua própria habilidade ( e na de seus atores ) e maquiam qualquer cena com todo tipo de adereço que distraia o público do que possa dar errado.
Agente 86 é uma comédia tola. Uma comédia onde não há uma só frase memorável. Um filme que chega ao cúmulo de enfeitar um diálogo com 4 posições diferentes de camera ( sem que haja nenhum motivo para isso ).
Há uma cena de briga entre o 86 e um tal de Dwayne ( um ator que faz Arnold parecer Olivier ). O que é mostrado ? Uma parede, uma face, mãos, chão, algo caindo, um olho, um tombo. Voce viu a briga ser encenada ? Observou a habilidade dos stunts ? Voce não viu nada. E engoliu passivamente, sem tempo de pensar sobre o que aconteceu.
Qual a interação entre os dois agentes ? Uma relação que poderia ter dois ( só dois, please!!! ) diálogos, tem apenas momentos abortados que nunca vão adiante ( e que fazem o romance entre Fred Flintstone e Wilma parecer adulto e profundo ). Anne Hathaway, uma atriz elegante e bonita, que consegue parecer inteligente ( o que é raro ), passa todo o filme com um ar de : help me!
Quanto ao tão elogiado Steve... por favor! Basta assistir aos extras para se ver o quanto ele é ruim!! Nos extras ele "imita" sotaques e modos de se comunicar. A maneira como ele faz um italiano é tão ruim, tão sem graça, tão idesculpável que chega a ser cruel com o próprio ator. Dá vergonha.
Ao final, o filme tem uma interminável sequencia de ação toda picotada para parecer ágil. Não interessa mais. O filme já se perdeu.
As pessoas precisam ir ao cinema.
Em seu tédio e sua aversão a ler ou caminhar pela cidade; elas necessitam de duas anestesiantes horas no escuro. Elas vão ao cinema para comer pipoca, beber Coca e sentir que "fizeram algo". O que o cinema lhes dá ? Imagens que acompanham a pipoca, que complementam a bebida e um torpor- tolo que as envia de volta para casa com a sensação de que "estiveram em algum lugar".
È muito pouco o que elas pedem. E mesmo assim, os produtores lhes dão menos.
Um crítico fez uma exaustiva pesquisa e chegou a seguinte conclusão : quando num filme, uma tomada dura menos que 8 segundos, nosso cérebro não consegue articular conceitos sobre tal cena. Com menos de 4 segundos, não conseguimos sequer pensar sobre o que está sendo mostrado.
Em seguida ele cronometrou cada tomada, cada corte, de vários filmes. Em média, o tempo entre os cortes, hoje, é de 4 segundos. Armagedon chega aos 3 segundos e Pearl Harbour aos 2,5 segundos. Os filmes de Woody Allen chegam a ter 15 segundos...
Porque isso ? Dois são os motivos principais : Primeiro o fato de que os produtores acham que o público é idiota. Acham que não suportaremos ver duas pessoas conversando sem que aconteça um corte, outro corte, um zoom, uma tremida de camera, um efeito de som. Segundo, a insegurança dos diretores. Eles não confiam em sua própria habilidade ( e na de seus atores ) e maquiam qualquer cena com todo tipo de adereço que distraia o público do que possa dar errado.
Agente 86 é uma comédia tola. Uma comédia onde não há uma só frase memorável. Um filme que chega ao cúmulo de enfeitar um diálogo com 4 posições diferentes de camera ( sem que haja nenhum motivo para isso ).
Há uma cena de briga entre o 86 e um tal de Dwayne ( um ator que faz Arnold parecer Olivier ). O que é mostrado ? Uma parede, uma face, mãos, chão, algo caindo, um olho, um tombo. Voce viu a briga ser encenada ? Observou a habilidade dos stunts ? Voce não viu nada. E engoliu passivamente, sem tempo de pensar sobre o que aconteceu.
Qual a interação entre os dois agentes ? Uma relação que poderia ter dois ( só dois, please!!! ) diálogos, tem apenas momentos abortados que nunca vão adiante ( e que fazem o romance entre Fred Flintstone e Wilma parecer adulto e profundo ). Anne Hathaway, uma atriz elegante e bonita, que consegue parecer inteligente ( o que é raro ), passa todo o filme com um ar de : help me!
Quanto ao tão elogiado Steve... por favor! Basta assistir aos extras para se ver o quanto ele é ruim!! Nos extras ele "imita" sotaques e modos de se comunicar. A maneira como ele faz um italiano é tão ruim, tão sem graça, tão idesculpável que chega a ser cruel com o próprio ator. Dá vergonha.
Ao final, o filme tem uma interminável sequencia de ação toda picotada para parecer ágil. Não interessa mais. O filme já se perdeu.
As pessoas precisam ir ao cinema.
Em seu tédio e sua aversão a ler ou caminhar pela cidade; elas necessitam de duas anestesiantes horas no escuro. Elas vão ao cinema para comer pipoca, beber Coca e sentir que "fizeram algo". O que o cinema lhes dá ? Imagens que acompanham a pipoca, que complementam a bebida e um torpor- tolo que as envia de volta para casa com a sensação de que "estiveram em algum lugar".
È muito pouco o que elas pedem. E mesmo assim, os produtores lhes dão menos.
contra a culpa, contra a falsidade, pela vida
A IDADE DA REFLEXÃO é um filme que Michael Powell fez quando sua carreira já havia ido pro buraco. Trata-se de seu último filme. Modesto, barato e de uma alegria deliciosa.
Mas quem foi Powell ? Ele surgiu no cinema britânico por volta de 1940. Nessa fase, de enorme sucesso crítico e comercial, seus filmes eram os melhores fotografados, muito ambiciosos. Filmes que caminhavam no fio da navalha, com seus temas arriscados/ espinhosos. Mas, graças à seu superior talento, acabavam vencendo.
Senão vejamos : Powell filmou uma super-produção inglesa sobre as Mil e uma Noites ( com um colorido impressionante e efeitos especiais que sobrevivem lindamente ); outro filme era sobre a vida de um antipático coronel do exército imperial ( 3 horas que passam em prazer, numa biografia de extraordinária riqueza ); outro filme versa sobre as dúvidas vocacionais de uma freira frente à cultura do oriente ( filme suntuoso, belíssimo e com cenas de descomunal força ) e ainda um musical metidíssimo sobre o conflito entre arte e realidade. É pouco ? Powell ainda tem capas e espadas, óperas e comédias. Mas...
Em 1960 sua carreira foi destruída com o fracasso absoluto de Peeping Tom, filme sobre voyerismo, sadismo, invasão de intimidade. Um filme cruel, duro, cínico e muito adiante de seu tempo. Michael Powell parou por 8 anos.
Volta em 1968 com este Na Idade da Reflexão. James Mason produziu e é o ator central. Helen Mirren estréia no cinema ( já era atriz da Royal Shakespeare Co. ). O que é o filme ?
Um pintor, talentoso mas nada genial, entediado, vai viver numa ilha isolada da Australia. Num barracão, ele e seu cão. Lá ele conhece uma menina que pesca lagostas e as vende para ele. Ela posa. A avó da garota, bebada, morre num acidente e o pintor descobre que gosta da menina. O filme não é nada mais que isso. Mas como Powell filma essa ilha ?
Ele nos faz, através de cortes inesperados e rápidos, viver dentro daquela ilha e a sensação que temos ao ver o filme ( e eu já o ví 5 vezes ) é presenciarmos aquilo que deveria ser o paraíso. Mas atenção : a cabana é suja e minúscula, a menina é uma caipira gordinha e os habitantes da ilha são australianos comuns. Não há aquela alegria de pasta de dentes/ anúncio de margarina; não há a imagem de uma ilha tropical tipo Aruba. Não. Powell vai mais fundo : a alegria do filme está na absoluta ausencia de culpa em seus personagens. O pintor não vence a culpa porque ele nem sequer cogita em senti-la. A menina ( uma Helen Mirren fantástica. Ela esbanja sensualidade inconsciente ), também vive como pode e deseja, e a culpa não faz parte de sua vida.
Todo o filme é profundamente belo, daquela beleza natural, sem artificialismos, e isso faz com que cada fotograma transpareça prazer e sensualidade.
Nos anos 80, Martin Scorsese confessou ter em Powell um ídolo e ao organizar uma mostra de todos os seus filmes em NY, resgatou Powell para o centro do mundo. Ele morreu vingado.
Hoje, ao lado de Hitchcock e David Lean, Michael Powell é considerado o grande diretor da história do cinema britânico, um diretor sem medo, sem travas e profundamente culto.
Este filme, A IDADE DA REFLEXÃO, se feito hoje, traria o gosto amargo da culpa, do preço a pagar, ou seria destruído com uma injeção de humor grosseiro.
O cinema pode ser muito feliz. Este filme nos diz isso.
Mas quem foi Powell ? Ele surgiu no cinema britânico por volta de 1940. Nessa fase, de enorme sucesso crítico e comercial, seus filmes eram os melhores fotografados, muito ambiciosos. Filmes que caminhavam no fio da navalha, com seus temas arriscados/ espinhosos. Mas, graças à seu superior talento, acabavam vencendo.
Senão vejamos : Powell filmou uma super-produção inglesa sobre as Mil e uma Noites ( com um colorido impressionante e efeitos especiais que sobrevivem lindamente ); outro filme era sobre a vida de um antipático coronel do exército imperial ( 3 horas que passam em prazer, numa biografia de extraordinária riqueza ); outro filme versa sobre as dúvidas vocacionais de uma freira frente à cultura do oriente ( filme suntuoso, belíssimo e com cenas de descomunal força ) e ainda um musical metidíssimo sobre o conflito entre arte e realidade. É pouco ? Powell ainda tem capas e espadas, óperas e comédias. Mas...
Em 1960 sua carreira foi destruída com o fracasso absoluto de Peeping Tom, filme sobre voyerismo, sadismo, invasão de intimidade. Um filme cruel, duro, cínico e muito adiante de seu tempo. Michael Powell parou por 8 anos.
Volta em 1968 com este Na Idade da Reflexão. James Mason produziu e é o ator central. Helen Mirren estréia no cinema ( já era atriz da Royal Shakespeare Co. ). O que é o filme ?
Um pintor, talentoso mas nada genial, entediado, vai viver numa ilha isolada da Australia. Num barracão, ele e seu cão. Lá ele conhece uma menina que pesca lagostas e as vende para ele. Ela posa. A avó da garota, bebada, morre num acidente e o pintor descobre que gosta da menina. O filme não é nada mais que isso. Mas como Powell filma essa ilha ?
Ele nos faz, através de cortes inesperados e rápidos, viver dentro daquela ilha e a sensação que temos ao ver o filme ( e eu já o ví 5 vezes ) é presenciarmos aquilo que deveria ser o paraíso. Mas atenção : a cabana é suja e minúscula, a menina é uma caipira gordinha e os habitantes da ilha são australianos comuns. Não há aquela alegria de pasta de dentes/ anúncio de margarina; não há a imagem de uma ilha tropical tipo Aruba. Não. Powell vai mais fundo : a alegria do filme está na absoluta ausencia de culpa em seus personagens. O pintor não vence a culpa porque ele nem sequer cogita em senti-la. A menina ( uma Helen Mirren fantástica. Ela esbanja sensualidade inconsciente ), também vive como pode e deseja, e a culpa não faz parte de sua vida.
Todo o filme é profundamente belo, daquela beleza natural, sem artificialismos, e isso faz com que cada fotograma transpareça prazer e sensualidade.
Nos anos 80, Martin Scorsese confessou ter em Powell um ídolo e ao organizar uma mostra de todos os seus filmes em NY, resgatou Powell para o centro do mundo. Ele morreu vingado.
Hoje, ao lado de Hitchcock e David Lean, Michael Powell é considerado o grande diretor da história do cinema britânico, um diretor sem medo, sem travas e profundamente culto.
Este filme, A IDADE DA REFLEXÃO, se feito hoje, traria o gosto amargo da culpa, do preço a pagar, ou seria destruído com uma injeção de humor grosseiro.
O cinema pode ser muito feliz. Este filme nos diz isso.
concerto para piano número 20- Mozart
Todo começo de noite eu passava em frente àquela casa. Alguém mais parava para olhá-la ? Creio que não... eu mesmo não saberia dizer se aquela luz era real. Velas, fogo de lareira, o que iluminava aquela janela ? Uma luz que parecia nada iluminar.
A banca de jornais vendia livros. Livros encapados em couro preto com lombadas douradas. Eu os admirava de longe. Meu hálito voava na já noite de maio. Eu era só. Inescapavelmente solitário.
Os ônibus passavam quentes e com suas janelas embaçadas pelo calor de vários corpos apertados. Meu coração tinha pressa. A janela do casarão prometia alguma canção.
No domingo de manhã, manhã gelada e de vento, um deserto na avenida larga, uma febre ansiosa na minha semana, a vontade de ir logo em algum lugar. Descí do táxi e comprei alguns- vários fascículos. Um deles : Mozart.
Sózinho sobre um tapete de lã vermelha e verde. É final de tarde. Ninguém em casa. Na janela alguns raios de sol. Eles caem sobre um sofá de tom cor de vinho. O que eu quero ?
Primeiro um acorde.
O mais heróico dos acordes. Que é isso ? Esse acorde é forte e fala comigo. Sim ! Fala comigo e grita dentro de mim. Ele diz e imperiosamente ordena : Viva.
Outro acorde vem. Mais baixo, mais suave, ele ronda pelas vielas e pelas sombras. As sombras daquela avenida, daquele mundo e daquela janela amarela. A música ronda pela sala, gira entre todos os cantos e súbito eu não existo mais.
Agora eu sou aquela melodia.
E vejo, alí, nos raios de sol, toda a vida que viverei : Os dias, as noites, os vazios. Me enxergo como um homem que ainda serei. As visões. Amarelas. Orvalhadas.
Percebo que aquela música possui um sentido. Cada nota é impregnada de uma rota e todas essas rotas se completam. Sómente no século XVIII poderia haver Mozart, pois naquele tempo tudo tinha sentido- tudo era uma certeza! Seja a igreja, seja o canhão, tudo era certo. E esta música é a música da certeza- música que grita e sussurra : eis um gênio/ eis a vida/ eis o que vale a pena/ eis o homem.
Quando o piano entra, num dedilhado que é uma ode à mais genuina beleza, eu, orgulhoso ateu, passo, sempre que o ouço, a crer em Deus. Pois este piano, que me faz chorar, só pode ser obra de alguém que foi feito à imagem do divino. Não há como negar : é transcendente.
Pausa....................................
Ao se iniciar o segundo movimento. Ocorre o milagre. A beleza em estado puro : a beleza em música.
Nada pode ser mais doce, belo, calmo, eterno, amoroso.
Vejo a mulher que se esconde por detrás daquela janela de luz amarela. Ela é o consolo da vida. Ela é a anti- morte. O anjo salvador. O primeiro colo ao recém-nascido. O sorriso de seu primogênito. A melodia, sinuosa, enrola-se ao redor de todo sonho que sonhei e de toda ilusão que desposarei. Me seduz e me leva. Ao magnifico vazio.
Se eu morresse nesse momento teria uma vida justificada.
Mas o movimento se encerra. E já nasce a saudade daquele primeiro toque do dedo na tecla que iniciou este momento: é a saudade da menina que se sentava na fila da frente. Da lambida de seu primeiro cachorro. Da primeira primavera neste mundo.
Eu não consigo crer que Mozart tenha um dia existido. Seu mundo é tão superior ao mundo que conhecemos que sua existencia é impensável.
Mas há o movimento final. Um convite à luta. A jamais deixar de crer. A união de carne e alma. A tudo que vale a vida e a morte. Eu olho essa música- ela é visível. Eu a olho e a amo. Ela é o mundo que sonho para mim. É o mais belo ideal e o cume máximo da criação humana.
Este concerto ilumina todo túmulo onde jaz a deseperança e o medo.
A banca de jornais vendia livros. Livros encapados em couro preto com lombadas douradas. Eu os admirava de longe. Meu hálito voava na já noite de maio. Eu era só. Inescapavelmente solitário.
Os ônibus passavam quentes e com suas janelas embaçadas pelo calor de vários corpos apertados. Meu coração tinha pressa. A janela do casarão prometia alguma canção.
No domingo de manhã, manhã gelada e de vento, um deserto na avenida larga, uma febre ansiosa na minha semana, a vontade de ir logo em algum lugar. Descí do táxi e comprei alguns- vários fascículos. Um deles : Mozart.
Sózinho sobre um tapete de lã vermelha e verde. É final de tarde. Ninguém em casa. Na janela alguns raios de sol. Eles caem sobre um sofá de tom cor de vinho. O que eu quero ?
Primeiro um acorde.
O mais heróico dos acordes. Que é isso ? Esse acorde é forte e fala comigo. Sim ! Fala comigo e grita dentro de mim. Ele diz e imperiosamente ordena : Viva.
Outro acorde vem. Mais baixo, mais suave, ele ronda pelas vielas e pelas sombras. As sombras daquela avenida, daquele mundo e daquela janela amarela. A música ronda pela sala, gira entre todos os cantos e súbito eu não existo mais.
Agora eu sou aquela melodia.
E vejo, alí, nos raios de sol, toda a vida que viverei : Os dias, as noites, os vazios. Me enxergo como um homem que ainda serei. As visões. Amarelas. Orvalhadas.
Percebo que aquela música possui um sentido. Cada nota é impregnada de uma rota e todas essas rotas se completam. Sómente no século XVIII poderia haver Mozart, pois naquele tempo tudo tinha sentido- tudo era uma certeza! Seja a igreja, seja o canhão, tudo era certo. E esta música é a música da certeza- música que grita e sussurra : eis um gênio/ eis a vida/ eis o que vale a pena/ eis o homem.
Quando o piano entra, num dedilhado que é uma ode à mais genuina beleza, eu, orgulhoso ateu, passo, sempre que o ouço, a crer em Deus. Pois este piano, que me faz chorar, só pode ser obra de alguém que foi feito à imagem do divino. Não há como negar : é transcendente.
Pausa....................................
Ao se iniciar o segundo movimento. Ocorre o milagre. A beleza em estado puro : a beleza em música.
Nada pode ser mais doce, belo, calmo, eterno, amoroso.
Vejo a mulher que se esconde por detrás daquela janela de luz amarela. Ela é o consolo da vida. Ela é a anti- morte. O anjo salvador. O primeiro colo ao recém-nascido. O sorriso de seu primogênito. A melodia, sinuosa, enrola-se ao redor de todo sonho que sonhei e de toda ilusão que desposarei. Me seduz e me leva. Ao magnifico vazio.
Se eu morresse nesse momento teria uma vida justificada.
Mas o movimento se encerra. E já nasce a saudade daquele primeiro toque do dedo na tecla que iniciou este momento: é a saudade da menina que se sentava na fila da frente. Da lambida de seu primeiro cachorro. Da primeira primavera neste mundo.
Eu não consigo crer que Mozart tenha um dia existido. Seu mundo é tão superior ao mundo que conhecemos que sua existencia é impensável.
Mas há o movimento final. Um convite à luta. A jamais deixar de crer. A união de carne e alma. A tudo que vale a vida e a morte. Eu olho essa música- ela é visível. Eu a olho e a amo. Ela é o mundo que sonho para mim. É o mais belo ideal e o cume máximo da criação humana.
Este concerto ilumina todo túmulo onde jaz a deseperança e o medo.
a teoria dos ciclos de william butler yeats
O grande poeta Yeats escreveu todo um livro sobre suas crenças. Através da mediunidade de sua esposa, o poeta recebeu a seguinte teoria. ( Que por ser bastante complexa, transcrevo apenas uma ínfima parte ).
O mundo caminha em círculos concêntricos. A cada 500 anos atingimos um apogeu e após mais 500 anos, sua antítese-decadência.
A alma, em suas várias encarnações, também varia entre sua luz e sua escuridão.
Assim sendo :
Em 2.500 ac temos um apogeu. O código de Hamurabi, as maiores pirâmides do Egito, estudos de astronomia e matemática.
500 anos mais tarde, a queda : invasões e confusão de línguas e de tribos.
Em 1.500 ac um momento de luz : Moisés e as tábuas da lei, Tutancamon no Egito, o apogeu da cultura cretense e o nascimento da civilização chinesa.
1000 ac, a treva : queda do Egito e invasão da babilonia.
500 ac. O mais brilhante e decisivo momento da humanidade : ao mesmo tempo, andaram na Terra : Buda- Confúcio- Sócrates. Apogeu de Atenas com Péricles, o teatro de Ésquilo e Sófocles. Nasce o taoísmo. Nasce a ciência como tese e antítese. Os celtas se organizam. Roma tem seu nascimento. Dario e Xerxes.
Ano 0. A treva. O sacrificio de Jesus. Nero em Roma. Queda de Atenas. Confusão na India e China.
Ano 500 de nossa era. Brilho : A igreja católica começa a unir o ocidente. Maomé no oriente. Apogeu da cultura árabe. Bizâncio é o centro da Europa.
Ano 1000. Trevas e confusão. Alta idade média. A Europa se divide em feudos.
1500 de nossa era : Solar. Descobre-se a América. Nasce o protestantismo. A renascença cria a ciencia e a filosofia modernas. O homem se torna o centro do mundo. O sentido de comércio e progresso nasce aqui. Os bancos e a arte humanística.
Ano 2000: trevas. Fim do humanismo. Confusão tribal. Morte da arte feita para o homem.
Yeats morreu em 1939. Para ele, a primeira guerra era o aviso da era caótica que viria no final do século vinte. O que ele diria se houvesse vivido mais cinco anos ?
O mundo caminha em círculos concêntricos. A cada 500 anos atingimos um apogeu e após mais 500 anos, sua antítese-decadência.
A alma, em suas várias encarnações, também varia entre sua luz e sua escuridão.
Assim sendo :
Em 2.500 ac temos um apogeu. O código de Hamurabi, as maiores pirâmides do Egito, estudos de astronomia e matemática.
500 anos mais tarde, a queda : invasões e confusão de línguas e de tribos.
Em 1.500 ac um momento de luz : Moisés e as tábuas da lei, Tutancamon no Egito, o apogeu da cultura cretense e o nascimento da civilização chinesa.
1000 ac, a treva : queda do Egito e invasão da babilonia.
500 ac. O mais brilhante e decisivo momento da humanidade : ao mesmo tempo, andaram na Terra : Buda- Confúcio- Sócrates. Apogeu de Atenas com Péricles, o teatro de Ésquilo e Sófocles. Nasce o taoísmo. Nasce a ciência como tese e antítese. Os celtas se organizam. Roma tem seu nascimento. Dario e Xerxes.
Ano 0. A treva. O sacrificio de Jesus. Nero em Roma. Queda de Atenas. Confusão na India e China.
Ano 500 de nossa era. Brilho : A igreja católica começa a unir o ocidente. Maomé no oriente. Apogeu da cultura árabe. Bizâncio é o centro da Europa.
Ano 1000. Trevas e confusão. Alta idade média. A Europa se divide em feudos.
1500 de nossa era : Solar. Descobre-se a América. Nasce o protestantismo. A renascença cria a ciencia e a filosofia modernas. O homem se torna o centro do mundo. O sentido de comércio e progresso nasce aqui. Os bancos e a arte humanística.
Ano 2000: trevas. Fim do humanismo. Confusão tribal. Morte da arte feita para o homem.
Yeats morreu em 1939. Para ele, a primeira guerra era o aviso da era caótica que viria no final do século vinte. O que ele diria se houvesse vivido mais cinco anos ?
as mais belas
Uma revista americana elegeu a mulher mais linda da história do cinema ( americano ). Sem surpresa : Audrey venceu. Porque ? Pergunta voce, Óh novato desconhecedor do que há de melhor.
Eu respondo : Audrey lançou, num tempo em que o padrão era Ava Gardner, a mulher magra, amiga e de cabelos curtos. Um tipo que ela lançou sózinha em 1952 e que é atual e copiado até hoje.
Mais ? Ninguém tinha sua elegancia. Qualquer camiseta lhe caía como Givenchy. Ela passava inocencia, dignidade, muita feminilidade e tinha o dom de fazer o mundo parecer mais bonito. Melhor.
Que mais ? Era a versão feminina de Cary Grant.
E tinha um rosto lindo. Perfeito. Limpo, saudável, otimista. ( E pensar que esta belga passou fome na segunda guerra, apesar de sua origem nobre ).
Angelina Jolie ficou em segundo lugar.
Deram o segundo posto para a atriz menos " Audrey" possível.
Em terceiro ficou a atriz que eu considero de longe a mais bonita da história : Grace Kelly.
Grace nasceu na mais tradicional família da Philadélfia. Se tornou atriz por tédio.
Se voce assistir JANELA INDISCRETA voce perceberá que seu primeiro close É O MAIS LINDO RETRATO FEMININO DE TODA A HISTÓRIA DO CINEMA AMERICANO. Ela é tão linda que chega a fazer mal. Chega a ser irreal.
Mas Grace era bem real. Namorou todos os atores com quem contracenou. E se casou com o principe de Monaco. O cinema nunca foi sua paixão.
Se tornou mito com cinco anos de carreira. Uns 10 filmes, se tanto. É o mais iinacessível retrato da beleza, da riqueza, da perfeição em forma feminina. Não há comparação possível.
Eu respondo : Audrey lançou, num tempo em que o padrão era Ava Gardner, a mulher magra, amiga e de cabelos curtos. Um tipo que ela lançou sózinha em 1952 e que é atual e copiado até hoje.
Mais ? Ninguém tinha sua elegancia. Qualquer camiseta lhe caía como Givenchy. Ela passava inocencia, dignidade, muita feminilidade e tinha o dom de fazer o mundo parecer mais bonito. Melhor.
Que mais ? Era a versão feminina de Cary Grant.
E tinha um rosto lindo. Perfeito. Limpo, saudável, otimista. ( E pensar que esta belga passou fome na segunda guerra, apesar de sua origem nobre ).
Angelina Jolie ficou em segundo lugar.
Deram o segundo posto para a atriz menos " Audrey" possível.
Em terceiro ficou a atriz que eu considero de longe a mais bonita da história : Grace Kelly.
Grace nasceu na mais tradicional família da Philadélfia. Se tornou atriz por tédio.
Se voce assistir JANELA INDISCRETA voce perceberá que seu primeiro close É O MAIS LINDO RETRATO FEMININO DE TODA A HISTÓRIA DO CINEMA AMERICANO. Ela é tão linda que chega a fazer mal. Chega a ser irreal.
Mas Grace era bem real. Namorou todos os atores com quem contracenou. E se casou com o principe de Monaco. O cinema nunca foi sua paixão.
Se tornou mito com cinco anos de carreira. Uns 10 filmes, se tanto. É o mais iinacessível retrato da beleza, da riqueza, da perfeição em forma feminina. Não há comparação possível.
quando o cinema frances é bom, ele é ótimo!
Dois filmes, dois momentos, dois mestres.
Primeiro: Henri Georges-Clouzot. Diretor massacrado pelos críticos da nouvelle-vague. Hoje é considerado um mestre. Tem uma obra-prima : O Salário do Medo. Uma aventura digna do melhor cinema americano. Mas hoje eu falo de outro filme : AS DIABÓLICAS. Magistral diversão. Porque ?
Uma escola. Um casal. O marido tem por amante uma professora. A esposa tem um caso com a mesma professora. As duas se voltam contra o marido. E mais não posso contar.
O clima é opressivo. E depois se torna de um suspense hitchcockiano. Voce se pergunta em estado de hipnose : e agora ? o que vai acontecer ? Um final chocante. Fantástico.
Segundo : Claude Chabrol. Um diretor da nouvelle-vague. Ainda na ativa. São 50 anos de uma carreira exemplar. 50 anos !!!!!! Imagine Aronofsky ou Daldry filmando em 2049 !!!!!!! ( começaram por volta de 1999... cinquenta anos mais : 2049 ! Tempo pacas ! ).
QUEM MATOU LEDA ? É o nome do filme. Fotografia em cores de Henri Decae. É um dos filmes mais bonitos que já ví.
Na Provence. Um castelo restaurado. Um pai que trai a mãe com a vizinha. Na cara de todos. O filho é um voyeur. A filha uma sonsa que namora um aproveitador hedonista. Leda será morta. Leda é a vizinha.
Momentos de genialidade : Jean-Paul Belmondo. Quem tem mais de 40 anos sabe : Belmondo foi tão famoso quanto Tom Cruise. Mas era muito muito muito simpático. Jovial, sorridente, e fez filmes melhores que Cruise. Sim- a Europa tinha super-stars !
Belmondo entra ( ele é o aproveitador ) em cena : pede comida à mãe. Invade o quarto da filha. Come como um porco. Rí. Vive.
Veja a cena em que ele dirige um Jaguar por Aix. Ele fala com os transeuntes. Acena para as moças bonitas. Canta. Corre. Tudo em um minuto. Câmera na mão. Figurantes que encaram a lente. Então o clima muda : O pai e a amante passeiam pelo campo. Um clip brega e meloso.
Belmondo bebe num café. Com seu amigo desempregado. Uma fanfarra desfila pela rua. Genial : Belmondo improvisa : corre atrás da fanfarra e arrasta seu amigo. A cãmera continua a filmar e esse acidente é usado por Chabrol. Não é editado. Eu vibro : eis a transcendencia do tempo no cinema !!!!!
Bernadette Lafond é a empregada. Pura sensualidade. Pura canastrice adorável . É um símbolo. A eterna musa.
Como nunca irei parar de repetir : os franceses de 1960 têm uma elegancia não- formal despojada que o mundo jamais tornou a igualar. Veja os sapatos de Belmondo. O paletó cinza com blusa preta. O corte de cabelo. Estamos a séculos da bermuda com havaianas, da cueca com jeans caindo, do mulambeiro como ícone ( ou pior : o pimp de Miami ).
O filme é policial. O filme não tem um tiro. É suspense. Mas não dá nervoso. Dá prazer.
Viva Chabrol. Num movimento que tinha Goddard e Truffaut, quem durou foi Chabrol. E Resnais.
Leda é puro luxo, calma e prazer. Aprecie.
Primeiro: Henri Georges-Clouzot. Diretor massacrado pelos críticos da nouvelle-vague. Hoje é considerado um mestre. Tem uma obra-prima : O Salário do Medo. Uma aventura digna do melhor cinema americano. Mas hoje eu falo de outro filme : AS DIABÓLICAS. Magistral diversão. Porque ?
Uma escola. Um casal. O marido tem por amante uma professora. A esposa tem um caso com a mesma professora. As duas se voltam contra o marido. E mais não posso contar.
O clima é opressivo. E depois se torna de um suspense hitchcockiano. Voce se pergunta em estado de hipnose : e agora ? o que vai acontecer ? Um final chocante. Fantástico.
Segundo : Claude Chabrol. Um diretor da nouvelle-vague. Ainda na ativa. São 50 anos de uma carreira exemplar. 50 anos !!!!!! Imagine Aronofsky ou Daldry filmando em 2049 !!!!!!! ( começaram por volta de 1999... cinquenta anos mais : 2049 ! Tempo pacas ! ).
QUEM MATOU LEDA ? É o nome do filme. Fotografia em cores de Henri Decae. É um dos filmes mais bonitos que já ví.
Na Provence. Um castelo restaurado. Um pai que trai a mãe com a vizinha. Na cara de todos. O filho é um voyeur. A filha uma sonsa que namora um aproveitador hedonista. Leda será morta. Leda é a vizinha.
Momentos de genialidade : Jean-Paul Belmondo. Quem tem mais de 40 anos sabe : Belmondo foi tão famoso quanto Tom Cruise. Mas era muito muito muito simpático. Jovial, sorridente, e fez filmes melhores que Cruise. Sim- a Europa tinha super-stars !
Belmondo entra ( ele é o aproveitador ) em cena : pede comida à mãe. Invade o quarto da filha. Come como um porco. Rí. Vive.
Veja a cena em que ele dirige um Jaguar por Aix. Ele fala com os transeuntes. Acena para as moças bonitas. Canta. Corre. Tudo em um minuto. Câmera na mão. Figurantes que encaram a lente. Então o clima muda : O pai e a amante passeiam pelo campo. Um clip brega e meloso.
Belmondo bebe num café. Com seu amigo desempregado. Uma fanfarra desfila pela rua. Genial : Belmondo improvisa : corre atrás da fanfarra e arrasta seu amigo. A cãmera continua a filmar e esse acidente é usado por Chabrol. Não é editado. Eu vibro : eis a transcendencia do tempo no cinema !!!!!
Bernadette Lafond é a empregada. Pura sensualidade. Pura canastrice adorável . É um símbolo. A eterna musa.
Como nunca irei parar de repetir : os franceses de 1960 têm uma elegancia não- formal despojada que o mundo jamais tornou a igualar. Veja os sapatos de Belmondo. O paletó cinza com blusa preta. O corte de cabelo. Estamos a séculos da bermuda com havaianas, da cueca com jeans caindo, do mulambeiro como ícone ( ou pior : o pimp de Miami ).
O filme é policial. O filme não tem um tiro. É suspense. Mas não dá nervoso. Dá prazer.
Viva Chabrol. Num movimento que tinha Goddard e Truffaut, quem durou foi Chabrol. E Resnais.
Leda é puro luxo, calma e prazer. Aprecie.
Assinar:
Postagens (Atom)