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29 DE MAIO

Nasci em 29 de maio, a quase 60 anos atrás. Sim, sou mais que velho, sou vintage, antigo, testemunha de outro tempo. Vejo na BARSA que quando nasci, o Brasil era a sétima economia da América Latina. Sim, a primeira era a Venezuela. Então vinham Argentina, México, Uruguai, Chile e Colombia. Surpreso? Em 1972 seríamos já os segundos e em 1977 o primeiro. Nasci em bairro de classe média. Não tinha água encanada. Para usar água havia o poço artesiano. Uma bomba puxava a água lá do fundo. Era divertido. Mas era incrivelmente século XIX. Esgoto nem pensar, só o centro da cidade o tinha. Só duas ruas tinham iluminação noturna. E várias eram de terra, sem calçadas. Até 1970, apenas ricos tinham TV. Nossa primeira TV, em preto e branco, veio em 1966, então não eramos exatamente pobres. Quando nasci existiam 3 canais: 4, 7 e 9. Funcionavam das 12 às 24 horas. Faltava luz quase todo dia. Telefone? A farmácia emprestava. Creia, meu primeiro telefone foi instalado só em 1979!!!! Meu pai o comprou em 1974. Levava cinco anos para o instalarem. Ninguém tinha fone em casa. Só quem era muito, muito rico. Como disse antes, puro século XIX. O século XX só chegou no país nos anos 70. ----------------------- Morria-se de sarampo aos montes. Metade das crianças não vivia até os 5 anos. Eu vivi. Minha casa tinha geladeira, um luxo que era motivo de exibicionismo na época. Minha mãe diz que eu dormia muito e não dava trabalho. --------------- Green Onions do Booker T foi a música do ano. Mas havia também Sam Cooke. Elvis ainda era relevante. Os Beach Boys lançaram Surfin Safari. Era tempo dourado da surf music. Os Beatles lançavam Love me Do. Os Stones estavam ensaiando. Bob Dylan lançou seu primeiro disco. No cinema, Lawrence da Arábia foi o maior sucesso de bilheteria. Incrível né? Havia fila pra ver Lawrence. Teve também o primeiro James Bond, Dr, No, e o primeiro Pantera Cor de Rosa. Nasci com James Bond e o Inspetor Clouseau. ----------------------- O Santos foi campeão do mundo, o Brasil ganhou aquela copa e Cassius Clay era o maior boxeador do mundo. Na F1, Jim Clark e Graham Hill duelavam. O Boston Celtics ia ganhar oito NBAs seguidos e John Kennedy era o presidente. Auge da gerra fria. ----------------------- Aqui tinha muita macumba na rua e se ouvia muito rádio. Dizem que quando nasci geava. Foi um inverno de matar pinguim. O Brasil amava piada. Roberto Carlos ainda tentava ser famoso. O cantor era Cauby. Nelson Gonçalves. E Elizeth Cardoso. Garrincha só poderia ter surgido em país muito muito muito pobre. Pelé já era o cara do futuro: um atleta. --------------------- Nossa intelectualidade tinha a certeza absoluta de que toda a América seria Cubana. Haveria a América do Norte, cruel e capitalista, e a Latina, socialista e justa. Pois é....o século XIX não terminava por aqui... -------------------------- A imagem do homem brasileiro, quando nasci, era a cara do meu pai: bigode fininho tipo Errol Flynn, cabelo com brilhantina, terno escuro. Todo bairro tinha pelo menos um cinema, e ir ao cinema ainda era hábito do dia a dia. Os vizinhos se encontravam na sala escura e saíam à rua comentando o filme. Esse costume morreu no fim dos anos 70, quando a TV se torna onipresente e faz as famílias ficarem em casa. ------------------ Todo bairro também tinha seu clube de várzea de seus campos de futebol. Só no Itaim Bibi havia oito. O Canto do Rio era o mais famoso. No meu bairro existiam seis. O Muricy Ramalho foi o jogador mais famoso da várzea de meu tempo de criança. Ele estudou na escola em que trabalho, escola onde fui aluno. Muricy era famoso por ser imarcável e por namorar todas as alunas bonitas. --------------------------- Meus primos brincavam com os filhos do Moacyr Franco. A casa deles, no Morumbi, não tinha muro. Voce simplesmente adentrava o gramado do jardim e mergulhava na piscina. Ladrão só havia lá pros lados do Bixiga. ---------------------- Era bom ser criança então, porque a gente era solto na vida e na rua. Mas o Brasil era de uma pobreza constrangedora. Não havia classe média, voce era pobre e te punham um rótulo de classe média só por ter o que comer e uma geladeira pra guardar comida. O que existia era a pobreza miserável faminta, o menos pobre, mas ainda sem bem material algum, a falsa classe media e os ricos, que eram um tipo de nobreza intocável e distante. Classe media no Brasil só surgiu nos anos 70. Foi quando gente como eu passou a viver com telefone, carro e TV. ---------------- Impressiona o modo como o país mudou em apenas cinco anos: 1970-1975. Entramos enfim no século XX. Mas foi de um modo tão rápido e atabalhoado, que até hoje somos esquizofrênicos. Ganhamos TVs, shopping centers e água encanada, deixamos de ter 60% de analfabetos ( em 1965 eramos vergonhosos 60% ), mas não saímos do mundo do esgoto a céu aberto e da febre amarela. Nos empurraram para o século XX, mas não nos transformaram em pessoas da época certa. -------------------------------------------- De qualquer modo, eu nasci. E agradeço a Deus por ter tido céus sem fim, estrelas de noite e árvores pra subir.

AMÉRICA

Por causa da péssima educação de toda a América Latina, mal sabemos aqui, neste canto do planeta, o tamanho da revolução radical que foi e é a existência da América, a verdadeira América, os USA. Em 1776, por causa da sua ênfase no povo e na democracia, foi inventado, pela pura vontade dos homens, uma nação original, única e que despreza, de forma absoluta e definitiva, toda forma de aristocracia. ------------------ Toda nação foi criada numa mistura de acaso e de herança aristocrática. O Brasil, assim como toda a América do Sul, é uma consequência e não uma vontade. Por acaso os bandeirantes nos deram de herança este imenso país, e por questões históricas o resto do continente se fragmentou. Herdeiros da revolução francesa, e não da americana do norte, que ignoramos até hoje, somos naçõea americanas, jovens, que cultuam a aristocracia, seja a do dinheiro, a do nome de família, seja a casta intelectual que exibe diplomas e títulos de doutor. Assim como os franceses, fizemos uma revolução-independência que nos manteve cheios de fetiche pela coroa, imaginária ou não, pelo sangue azul, seja de artistas seja de milionários, pela etiqueta ridícula de vossas excelências e vossa senhoria. Não há cheiro de povo na história do Brasil ou do resto da América Latina, como não há na Europa até hoje. Quando surge alguém com cara ou origem popular, ele vem sempre com a alma embuída dos rapapés e dos salamalaques de jantares no Geroges V em Paris e festas na embaixada de Roma. São empregadinhos da realeza do dinheiro e da nobreza da mídia. Deslumbrados da lagosta e da champanhe. ------------------------------- Mas os USA... eles quebraram esse costume de tal modo, durante todo o século XIX e XX, que hoje mal notamos sua magnitude. Fizeram uma guerra contra a escravidão, o que era em 1864 algo de absurdo ( teu professor vai inventar que a guerra foi por mercados, mas não foi ). Depois, trouxeram o pioneiro e o cowboy como símbolos do novo país, ao contrário da Europa, que tinha como símbolos o rei, o cavaleiro, o nobre. Jornais, livros, peças e canções, desde sempre, falavam do zé do povo, do caipira, do trabalhador ambicioso, do cara da rua. Enquanto isso, na Europa, se escrevia sobre o grande artista, o nobre falido, o grande tema. Mesmo no realismo o que se almeja é dar uma mensagem abstrata, aquele personagem pobre e vulgar do romance de Zola não existe como ser independente e digno, mas sim como tese a ser defendida. Zola é um aristocrata das letras, como são Flaubert e Balzac. Nada há na Europa tão autenticamente povão como Whitman ou Mark Twain. ----------------------- Aqui é igual a França. Seja a burguesia de Machado ou o pseudo realismo de Jorge Amado, o retrato do povo é sempre uma tese sociológica feita de fora. O único autor que parecia, e talvez fosse, absolutamente popular, foi Monteiro Lobato. Daí sua identificação com os EUA. Daí sua condição de ET no Brasil. ---------------------- Observe como ainda hoje é difícil para um francês assumir que faz cinema popular, para o povo, ou para uma banda de rock inglesa se despir de qualquer pretensão de arte ou de simbolismo escolar. Mesmo as bandas de heavy metal se sentem obrigadas a citar autores medievais, Tolkien ou inserir linhas de Bach em solos de guitarra. Às vezes eu penso se existe povão na Europa. Sim, existe, sou filho deles, mas estão na retaguarda. Inexistem na TV, e no cinema apenas como prova de que aquele diretor engajado os defende. Eles não falam, são exibidos. ----------------- Nos EUA é o povo que está na vanguarda, desde 1776. A comida é a do povo, a música é a mais popular, o cinema sempre foi do povão, a constituição é objetiva, as roupas são de trabalhador, tudo é feito nos moldes do cara da rua. Só lá poderia surgir o rock, as HQ, o esporte como negócio, e a massificação de coisas hiper de operários e de caipiras: cerveja, sanduíches, revista de celebridades, automóveis baratos, jeans, tênis, TV como diversão escapista, sci fi, e mais um universo de eventos inimagináveis na Europa não americanizada. --------------------- Escrevi tudo isso ouvindo os adoráveis ALLMAN BROTHERS. Só na Georgia poderia surgir uma banda tão do povo, tão relax, tão tecnicamente perfeita e ao mesmo tempo tão pouco artística. Parece simples porque cheira a folclore e é folclore. Para os americanos o rock é raiz, é do chão, é do sangue. É do povo.

PREVENDO DEPOIS QUE ACONTECE

Não tenho dúvida alguma sobre o fato de que a história da humanidade não se explica pela razão. Sempre que leio bobagens do tipo: O cérebro humano se desenvolveu por ser carnívoro; a revolução francesa se deveu à ação de Voltaire e Rousseau; comunismo é a evolução natural do capitalismo ( essa até os comunas fizeram questão de esquecer ); dou gostosas gargalhadas. O que vejo, sempre, são pessoas prevendo a evolução histórica depois que ela já aconteceu. ---------------------- Não há planejamento que suporte o kaos natural da história. E quanto mais um grupo político tentar controlar a vida, maior será seu fracasso. Eis o porque do capitalismo sempre vencer ao final. A esquerda não consegue sequer imaginar ( eles não são muito bons em imaginação ), que o capitalismo não tem e jamais teve um plano global. O que o capital faz é dançar conforme a música, se adaptando de forma rápida àquilo que o kaos demanda. O capitalismo vive na crise, o socialismo necessita da ordem e do planejamento a médio e longo prazo, por isso sempre fracassa. A vida não comporta planos. ------------------------ A história, vista sob o ponto de vista da esquerda, ou seja, por 90% dos professores, é uma lógica sequência de ações e reações. Mas não é assim na realidade. Esse modo de ver a história só funciona se voce ignorar imensas fatias da realidade e se editar o tempo. Não há uma razão clara para o surgimento de Napoleão logo após a revolução de 1789, assim como não houve um motivo lógico para a Russia se tornar comunista e não a Alemanha ou a Espanha. Qualquer explicação será forçada agora, muito tempo depois da coisa haver ocorrido. ------------------------------------ Em 1980 não havia uma só pessoa no planeta que prevesse a queda do muro de Berlin. Depois, em 1992, um monte de sábios explicou o porque. Inventaram desde motivos religiosos até a ação da CIA. Não aceitam que a URSS caiu porque ela tinha de cair. Ela era a tentativa absurda de domesticar o indomesticável, a vida. --------------------------- No atual momento global pouco me importa se a China planejou a crise para ter vantagens ou não, se ela assim o fez irá fracassar completamente. Nunca funcionou esse tipo de objetivo. Do nazismo à União Europeia, toda tentativa de impor regras rígidas à história não sobrevive. A vida do mundo é como a vida de um só ser humano: imprevisível. ----------------- O capitalismo tem essa imensa vantagem: ele precisa do kaos para existir. Ele vive de crises, de novas ideias, da substituição de planos, do sucesso que ocorre por acaso. Ele é um espelho fiel daquilo que acontece na natureza e também dentro de nós. Ele é natural, instintivo. O socialismo é racional, portanto, artificial. --------------------- Nada explica a eleição de Bolsonaro como nada explica a eleição de Lula após tantas eleições perdidas. Explicar em 2021 algo que aconteceu ontem é muito, muito fácil, basta escolher uma teoria e insistir nela. Simples baboseira. ------------------------- O sucesso dos USA não pode nunca ser desvendado por uma teoria onde tudo faça sentido e pareça claro e lógico. Na sua evolução há muito de acaso, de improviso constante, de sorte, de imprevisto. Nunca houve um plano para ser o país mais rico do mundo, o que houve foi o desejo por sucesso liberado de forma como nunca antes na história do mundo. Liberou-se a ambição, o resto aconteceu. --------------------- Do mesmo modo, o domínio da Inglaterra já foi explicado até pelo fato de terem carvão nas ilhas ( a falta de senso de ridículo não tem limites ). A Espanha caiu por acaso, a Inglaterra tomou seu lugar porque foi levada à isso. Uma série de eventos aleatórios foram se acumulando, e sua ocorrência nada teve a ver com planajamento. Foi uma sequência de acasos, de sortes e de azares dos outros. Mesmo a educação: quando o reino criou Oxford e Cambridge, não houve um plano do tipo: OH! Vamos criar Oxford para dominar o mundo!.... Não!!!! O que houve foi um bando de padres e monges se unir para tentar preservar algum saber do passado. O plano era apenas esse: amor à cultura antiga. Nada de Hey! Vamos desenvolver este pedaço de terra!!!! ----------------------------------- Viver bem, tanto para um homem quanto para uma nação, é dançar conforme a música, sem planejamentos que não levem em conta o improviso, a anarquia e o acaso. Meu país, o Brasil, sofre desde sempre por ser um país naturalmente do improviso, mas que é obrigado a se adaptar às mais bobas teorias lógicas e delirantes. Nunca em nossa história fomos deixados livres para exercer nosso rumo natural. Sempre fomos domados por planos mirabolantes, teses importadas, objetivos artificiais. Soltem o brasileiro, ofereçam à ele 100 anos da liberação dos EUA de 1850, que voces verão um gigante acordar.

AMOROSO JOÃO GILBERTO + LETS GET LOST CHET BAKER

Estou começando a ler um livro, me parece sublime, sobre a morte da gravação do música clássica. O autor, estiloso, bem humorado, conta a história da gravação de músicos e compositores clássicos, desde Caruso, até a morte do mercado, nos anos 90. Sou de uma época, fim dos anos 70, começo dos 80, em que jornais ainda tinham, uma vez por semana, espaço para os lançamentos eruditos DA SEMANA!!!! A Decca chegava a lançar dez discos por semana. Mas não é disso que vou falar....a música erudita gravada começou a morrer quando ela foi barateada. Mozart em ritmo de jazz, Bach tocado em banjo, Sting cantando Kurt Weill, os tenores mandando cantigas de natal. Os novos donos das gravadoras trocaram a busca pelo excelente vendável por aquilo que dava lucro depressa. Lembro da primeira vez que entrei na HI Fi Discos, loja do Shopping Iguatemi. Era 1977. Havia uma sessão só com LPs de Stockhausen. --------------------------- Se a música de Mahler foi barateada, a bossa nova sofreu algo de ainda pior. Para um menino de 14 anos, bossa nova é a musiquinha que toca no Pão de Açúcar. Trilha sonora dos apartamentinhos das mocinhas de cabelo curto que cultivam plantinhas na cozinha e comem quinoa com beterraba. Basta ter uma vozinha doce e infantil e tocar um sambinha que voce é bossa nova. É o equivalente brasileiro aos CDs dos grandes trechos de ópera ou Vivaldi em sintetizador. ---------------------------- Tento imaginar João Gilberto colocando doze novas faixas na rede. Com a qualidade sonora dos aplicativos. Sem o menor controle sobre divulgação e produção. Música vendida como energia elétrica ou água encanada. Ou pior que tudo, arte de graça. Humilhação. ---------------------------- Bossa Nova nunca foi uma vozinha doce cantando um sambinha bom. Bossa Nova era o absoluto controle da respiração, da frase, da afinação e do ambiente. Arte puramente cerebral. Quando João canta aqui o SAMBA EM BRANCO E PRETO, quase um suicídio em forma de versos, ele não está expressando dor. Ele está apenas cantando. Sua voz é um instrumento, mezzo trompete messo flauta, o que ele faz é abstrato. O que lhe importa é o som das sílabas, o VOU não é IR, é um som: voooou...sibilante, baixo, suspirado, divinamente afinado. Não lhe importa o que signifique a palavra vou, importa o som do V+O+U: vou. ------------------------------- Tendo fama de música de gente frouxa, gente sem osso, sem fibra, de bobocas que falam de barquinhos, na verdade a bossa nova quando feita com verdade e talento, é música de gente fria, distante, pessoas que sublimam. É a harmonia vencendo a expressão. A forma é mais importante que a emoção. ------------------------------- Nada representa um fracasso maior que a bossa nova. Ela durou quatro anos e depois se torna pastiche, cliché e maneirismo. Pior, não deu frutos. Se tornou uma saudade, algo que aponta sempre o passado. Não a toa tanto filme americano usa bossa nova, suja e mal feita, como chavão para cenas passadas nos anos 60. Tanto quanto Burt Bacharach e Beatles, ela é a cara de uma época. -------------------------------- Amoroso, disco gravado em 1977, nos USA, é bonito. E ser bonito era o alvo da bossa nova. Que engraçado...alguém hoje faz um disco almejando ser bonito? Simplesmente bonito, sem mensagem, sem motivo, sem missão a mais, apenas criar beleza...--------------------------------------------- Chet Baker veio antes da bossa nova e a influenciou. E depois foi influenciado por ela. O disco que ouvi, a trilha do filme de Bruce Weber, não é bonito. Chet canta feio. Mas o piano e o contra baixo são lindos. Moon and Sand, que abre o LP, é uma faixa maravilhosa. Mas depois vence o masoquismo. Ouvir um cantor de voz destruída é um ato sadomasoquista. Não me agrada mais. O disco é uma homenagem torta. Não se deve exibir um artista em momento tão baixo. Não é elegante. ------------------------------------------- Me lembra o disco da estrela do Bowie. Hey, vamos ver Bowie morrer! Tou fora disso. Pornografia. ------------------------- Bossa Nova jamais é pornografia. Há uma capa de civilidade e de comedimento entre o cantor e quem o escuta. Ela é erótica sempre, e por isso não pode ser pornô. Tá bom?

PELOS CAMINHOS DO INFERNO. AUSTRÁLIA.

Leio nos extras que este é o filme favorito de Nick Cave. Diz ele que não existe filme que mostre melhor o que é a Australia. Assisto-o então. Veio num box com mais dois filmes do movimento de renovação do cinema do país, ocorrido na década de 70. Estranho observar que na época essa onda passou despercebida aqui no Brasil. Nos anos 70 se falava em nossos jornais do novo cinema alemão, do australiano, nada. O cinema do país só entrou em nosso mapa nos anos 80 com Weir, Miller, Armstrong, Franklin. ------------------------------------ PELOS CAMINHOS DO INFERNO é de 1970. Ted Kotcheff, seu diretor, era canadense. Fez este filme na Australia com toda produção do país. Passou em Cannes, e desde então se tornou cult. Claro que Scorsese o conhece e chama-o de filme forte. Eu o achei estranho, esquisito, assustador...exatamente como a Australia é. -------------------------------------- Nick Cave adora o filme porque ele é uma aventura mas é também aula de sociologia. A história é simples: numa cidade minúscula, no meio do deserto, um professor sai de férias. Pensa em ir para Sidney. No caminho para em outra cidade, se envolve com jogo e bebida e entra num pesadelo sem fim. O filme é bonito porém terrível, interessante e desagradável, original e pop. Australiano até o osso. Em todas as cenas a gente acha que vai ver os caras do ACDC em algum canto. ( Em tempo: ele não é rocknroll....ele é gótico ). --------------------------------- Quando aconteceu a Olimpíada em Sidney, vários jornalistas ficaram encantados com a filosofia australiana de "mate". Mate é a palavra para amigo, colega, gente boa, parça. Diziam eles que qualquer desconhecido te chama de Mate, te chama para uma cerveja, te recebe e te ajuda. O filme é sobre isso. Mas essa coisa, o tal MATE, é visto aqui de dentro. E o que surge é a maldição de viver num lugar onde voce é obrigado a ser "um mate", um colega. Em cada buraco que o professor entra ele topa com um mate. Então, para seguir o costume, ele tem de se abrir, beber junto, jogar junto, caçar junto, e no processo ele se perde. Quando tenta recusar um novo mate vem a bronca. "Voce não vai beber da minha cerveja?"...e então ele cede. ---------------------------------- Tenho um amigo que mora lá desde 1999. Ele ama o país. Mas veja o que ele virou: bigode imenso, cabeça raspada, vive o tempo todo percorrendo o deserto em ralis de moto. ------------------------ Bebem demais no filme. Apenas cerveja. Mas litros e litros o tempo todo. Os lugares têm pó, moscas, são muito, muito quentes, e 99.9999% são homens. Eles jogam, apostam, bronqueiam, riem, mas não brigam. E bebem. Bebem. Bebem. E prezam acima de tudo a amizade masculina. Por que esse país é assim? -------------------------------------- A Australia joga por terra a tese, ridicula, de que o Brasil não deu certo por ser terra de degradados. De que para cá só vinha a escória de Portugal. Pois na Australia não ia apenas a escória, iam aqueles que escolhiam a imigração em lugar da forca. E creia, muitos preferiam a forca. ----------------------------------------- A Australia, em 1800, 1850, era o inferno. Quente, cheia de bichos esquisitos, as piores cobras e aranhas, selvagens ferozes, doenças, e era longe, além do fim do mundo. Tinha lepra, tinha febre, tinha o mal. Chegando lá, esses seres, assassinos, estupradores, loucos, maníacos, tinham de se unir para tentar sobreviver. Nascia o coneceito de mate. Eu posso não ir com sua cara, posso até mesmo te odiar, mas estamos juntos neste inferno, nesta sela, nesta prisão. Voce é meu mate. Meu camarada. Parceiro de solidão. -------------------------- Observe as diferenças: nos desertos dos USA seus moradores são desconfiados, unidos apenas na família, resistentes aos forasteiros. A raiz deles é a do pioneiro. Do cara qe foi pro Arizona porque quis. Tomou posse. Se fez. Esta terra é minha. Na Australia não. Esta terra não é minha e nem mesmo de Deus. Esta terra é dos outros. De todo esquisito que aqui vier. Esta terra nos vence. É livre e indomável. ------------------------------- Falar da diferença da Australia e do Brasil é simples. Os primeiros moradores de lá estavam condenados a morrer lá. Ou se uniam ou afundavam. Aqui todo colono estava de passagem. Ele poderia vir a morrer aqui, mas seu objetivo era retornar. Chegar aqui, pegar o que puder e partir. ------------------------- A atitude do australiano era a de esquecer logo a Inglaterra. Ela jamais seria vista outra vez. A do colono brasileiro era oposta: ignorar o Brasil e ter sempre em mente Portugal. Esperar pelo retorno. --------------------------- Em 2021 não à toa temos a Australia como o país do mundo que menos envia imigrantes para fora. Nem os USA têm tão pouca gente que sai do país para viver fora. Já no Brasil, nossa população não imigra apenas por não ter como partir. Se nosso povo tivesse dinheiro para isso, 40% iria embora. Aqui é posto transitório. ----------------------------- O filme é bom? O que voce acha?

AS CRÔNICAS DO BRASIL - RUDYARD KIPLING. UM INGLÊS SUPERSTAR ENCONTRA O PARAÍSO NA TERRA

São 5 artigos escritos e publicados em jornal inglês, no final de 1927. Rudyard Kipling era então um mito, o mais famoso escritor do mundo. Havia ganho o Nobel em 1907 ( o primeiro autor de lingua inglesa a vencer ), e era famoso como autor de Mowgli, Gunga Din, Kim e do poema If. É dele também O Homem que Queria ser Rei. Como se vê, seu ambiente era o mundo tropical. India acima de tudo. Ele viajava muito. E aqui ele conta sua impressão sobre o Brasil. Para quem é brasileiro, a coisa é séria. Primeiro o Rio de Janeiro. Que Rio é esse que ele descreve? Diz ele que a cidade cheira bem e tudo é de uma limpeza exemplar. O povo, no Carnaval, brinca em ordem, ninguém bebe. Ele anda por Copacabana, Santa Tereza, vai ao Jardim Botânico, ao centro. E tudo que vê é arquitetura deslumbrante, casas maravilhosas e o povo mais educado e gentil que há. Há todo um ritual de gentileza, de civilidade, de saber conviver. Ele se hospeda no Copacabana Palace, vai a rodas de samba, vê o desfile de blocos, guerra de confetes e de lança perfume, e tudo o encanta. Há um momento revelador em que ele diz não entender direito como o Brasil é o que é. Um amigo lhe explica: O estrangeiro teima em ver o Brasil como cultura espanhola, mas não, o Brasil é filho de um PORTUGAL QUE NÃO EXISTE MAIS. UM REINO QUE FOI MÁGICO, ÚNICO, OUSADO, UM REINO QUE DUROU QUASE NADA, MAS QUE PERMANECE AQUI. Kipling, ao fim do livro, escreve as linhas mais bonitas que já li sobre o meu país. Nota que o irresponsável Portugal mandou para cá, em nosso começo, pequenos nobres aventureiros. Eles deveriam cuidar de terras maiores que a Alemanha ( muito maiores ), sozinhos. Diz Kipling, que ao contrário dos EUA ou do Canadá, onde os primeiros anos estão soterrados pela história, no Brasil a alma desses aventureiros, dos bandeirantes, dos índios, dos piratas, ainda habita em cada canto. Então ele pega um barco, navega e vai à Santos. 1927 e todo o café do mundo passa por lá. Riqueza. Kipling nota algo que nós, por sermos daqui, mal percebemos: A Serra do Mar deu todo o destino do país. Para exportar é preciso vencer aquela montanha. Ela separa, de forma abrupta, o mar do continente. É como se o país tivesse uma parede que o protege mas que também o isola. Kipling sobe a serra de trem, conhece a represa Billings, vai ao Butantã ver as cobras, dorme numa fazenda de café em Campinas. Se espanta com tanta riqueza. Diz ele que mesmo a pobreza é aqui menos cruel, pois não há a fome da neve, a crueldade do frio, e nem a dor do deserto. São Paulo ele vê como uma confusão de ladeiras e vales, suburbios que nunca terminam ( ele andou por aqui, o Butantã de 1927, ainda toda a zona oeste como uma imensa fazenda de chá ). Fico triste ao imaginar o que deu errado. Kipling e seus amigos ingleses falam dos planos de inundar o país de estradas de ferro. Território imenso, que dava aos brasileiros essa sensação de riqueza guardada ao futuro,reservas eternas. Kipling parte em navio certo de ter visto o mais rico país do planeta. "O mais fascinante e misterioso mundo à parte".

ENQUANTO HOUVER CHAMPANHE, HÁ ESPERANÇA - JOAQUIM FERREIRA DOS SANTOS. UMA BIOGRAFIA DE ZÓZIMO BARROZO DO AMARAL

   Seiscentas páginas sobre um colunista social? Há tanto assunto assim? Se for o Zózimo, há. Não que a vida dele tenha sido uma aventura. Ele nasceu rico, na zona sul do Rio, em 1941. Cresceu entre Jockey Clube e Gávea, Lagoa e Ipanema. Dinheiro novo? Não. Ele era chique. Falava francês como quem fala português. Voz educada, sempre bem vestido. Bonito. O livro começa bem, fala das origens da família, fala do pai, apelido Boy. Aquele tempo que adoro ler: Rio de Janeiro anos 50, a ilusão de que aquela era a cidade mais civilizada do mundo. Boy aprontava muito! É divertido de ler.
  Depois o livro cai um pouco. O autor entra na armadilha. Mais um jornalista com saudade da bossa nova de daquele povo do começo da ditadura. Enche o saco ler de novo como aqueles caras eram legais. " A gente era preso mas dava risada"...Pois é.
  Mas volta a ficar legal, o livro, quando volta à história do Zózimo. Coluna social era Ibrahim Sued. Quem é da minha geração sabe: Ibrahim era tão famoso quanto Chacrinha. Nasceu pobre e turco, ralou muito, virou rico e orgulhoso. Falava dos jantares. Das festas. E às vezes uma fofoca sobre grana de política. Antes ainda houve Jacintho de Tormes. Uma delícia. Mega esnobe. Texto à Oscar Wilde. Culto pacas.
  Então em 1969 veio Zózimo. De berço nobre. Falava dos amigos. Carmen Mayrinck, Baby Pignatari, Guinle, Duda, dinheiro velho, dinheiro muito, alta educação. O diferencial de Zózimo? Ele fazia o povo sorrir. Sua coluna era pra começar do dia com um sorriso na boca. Além do que, ele falava do Rio inteiro, de como se devia viver, era guia de estilo. No JB. O livro é cheio de textos dele, o melhor escritor brasileiro em 3 linhas.
  Fico feliz ao saber que Telmo Martino, meu jornalista favorito, era amigo e ídolo de Zózimo. Eu li Telmo no JT aqui em SP. De 1977 a 1981. Não houve nada melhor. Ele me civilizou. Telmo nos fazia rir e ao mesmo tempo nos fazia querer ser como ele: witty. Muito do que penso, escrevo e gosto tem a marca dele. Telmo Martino e Paulo Francis, meus gurus forever.
  Voce acha que a rivalidade esquerda direita é muito forte hoje? Sabia que Millôr disse que não confiaria no Chico Buarque nem pra ir na esquina com seu cachorro? E que Chico cuspiu em Millôr? Pois é. Tá no Zózimo. Para ele, Brizola matou o Rio. Era um homem que odiava tudo que o Rio tinha de bom, e em seu governo desconstruiu a cidade. O Rio pós Brizola era outra. Suja, quebrada e sem identidade. Refém do tráfico. Zózimo não era direita. Nem esquerda. Era liberal. Circulava pelos dois lados.
  No elenco do livro tem Miriam Leitão ( chamada de gata e de conservadora...??? ), Ricardo Boechat ( sim, ele mesmo, foi assistente de Ibrahim e de Zózimo ), Elio Gaspari, Augusto Nunes, Fred Suter ( uma figuraça, carioca e malufista, super esnobe, engraçado e mal humorado ), e mais aquela turma de playboys estrangeiros, atores e atrizes, milionários discretos e deslumbrados bregas.
  Daí um dia, nos anos 80, Zózimo cansa. As festas agora são pobres. A bebida é de segunda, a comida é comum, as pessoas não sabem conversar. O trabalho vira um porre. Tudo sempre igual, as mesmas caras nos mesmos lugares. Muita cocaína nas festas. O pó tomou o lugar do caviar. As reuniões não eram mais nas casas, eram em boates. Surge a celebridade, o famoso, e Zózimo começa a beber, muito. Os capítulos finais são de decadência física. Vai para O Globo a peso de ouro. 45 mil dólares de salário. Mas o Rio morreu e ele com a cidade. Chega a dizer o impensável: Que cidade feia é esta? Zózimo vai morar em....Miami. ( Ele antes odiava Miami, ia 12 vezes por ano à Paris. Mas então, em 1992, viu que havia uma região na cidade americana que era exatamente aquilo que o Rio poderia ter sido... )
  Houve um tempo em que jornalista tinha estilo, voce começava a ler e sentia: é texto de Francis. Isto é Telmo. É puro Sergio Augusto. Preciso dizer que isso acabou? Voce sabe quem é o colunista por suas opiniões, não pelo modo como ele escreve. Os textos são todos padrão, um robot escreveria tudo aquilo. O JB faliu. O Dia faliu. O JT faliu. A Folha da Tarde faliu.
  Zózimo faria um site? Uma página no youtube? Sim. E faria muito sucesso. Seria seu sonho, poder publicar do bar. Sem ninguém amolando.
  Por fim, em justiça ao Zózimo, não cito texto nenhum dele. Quero que voce pesquise. Ou melhor, compre o livro. Ótima leitura de tempos sem elegância.
 

BAD NEWS

   Não me lembro qual, mas havia uma civilização no passado em que o mensageiro que trazia más notícias era morto pelo rei. Antes de ser uma anomalia, isso revela um conteúdo profundo de nossa mente. Mensageiros da dor são evitados depois que a dor passa. Quando não, se tornam alvo de ódio. Prova disso? Quantos casais não se separam após a morte de um filho? Quantas famílias não se desunem após uma tragédia? Olhar o rosto daquele que te trouxe uma mensagem de dor, se torna, com o tempo, uma lembrança a ser evitada. Ninguém ama quem alardeia a tragédia. O amor que nasce em emergências é aquele que te fez sorrir no pesadelo.
  Após esta crise será difícil para o cidadão comum não associar certas figuras com o mal de uma lembrança amarga. Penso, óbvio, em emissoras e veículos que não se cansam de assustar, dramatizar, alarmar. Não há seriedade neles, apenas o desejo vil de se aproveitar de um momento fora da curva. Mesmo que de forma inconsciente, grava-se na memória de todos o mal estar criado por tanta frase venenosa, tanta informação corrompida, tanto cenho feroz.
  Essa atitude de certos meios de comunicação me surpreende muito. É uma atitude burra, ou talvez desesperada. Não há bom senso nenhum. Não se pensa no futuro da própria empresa. Até como ato de egoísmo ele é falho.
  Dizem que o ser humano mostra seu rosto na hora da emergência.
  Cara feia a da nossa imprensa.
  Burra. Histérica e revanchista.

AMANHÃ

   Amanhã, ou daqui a 6 meses, o nacionalismo europeu voltará com tudo. E a união europeia, organismo que só serve para turistas, terá sua inutilidade escancarada. Os ingleses mais uma vez se anteciparam ao continente. Aliás, isso é histórico. Perceberam Hitler antes de todos, se industrializaram primeiro, criaram um modo de controlar o rei sem revoluções abjetas. A Inglaterra percebe antes porque ela é pragmática. Ela observa sem a distorção do idealismo. Sem a ideologia. Ela olha e vê, e então age. Agora assiste de camarote. Vê que ninguém se moveu para ajudar a Itália. Ninguém ajuda a Espanha. Portugal fala para as paredes. Na hora do aperto é cada um por si. E se apertar demais, que venha os EUA nos salvar. Coordenação nenhuma, e a grana não aparece. Alemanha, Holanda e Austria vão bem. O resto, um abraço.
  A esquerda; famosa por jamais acertar uma previsão, eles ainda acham que a evolução do capitalismo é o comunismo; quer pensar que o mundo pós corona vírus será anti capital. Que o estado ganha moral com essa onda de dor e medo. Modo bobinho de pensar. Após o medo vem a raiva, sempre. As pessoas acusarão o estado por não ter agido antes. Reclamarão das fronteiras abertas. Tenderão a se fechar. Olharão com medo o imigrante e até o turista. No médio prazo a China sai perdendo. Políticos de direita radical tenderão a vencer. Fechar fronteira e se manter em casa é a praia deles.
  Por aqui, na amarga Latino América, nada mudará. A Argentina caminhará alegremente para mais um suicídio. A Venezuela é a grande derrotada. O país acabou. O governo não cai porque o exército não quer. Esquecem que Chavez era militar. O exército tem bons salários. A população está tão faminta que não tem energia nem pra reclamar. 15 dólares por mês.
  Cá no Brasil já se percebe quem ficou feliz com a crise. A turma do quanto pior melhor foi com tanta sede ao pote que ficou chato. Todo mundo notou.  Bolsonaro, péssimo em relações públicas, vai se manter. Os governadores sairão com o pires na mão. Vão mendigar recursos. O povo, coitado, não conta. O brasileiro continua sendo um peão. O presidente se queimou por falar besteiras. Os outros por inflar o medo. Presidente que fala besteira é o comum por aqui. Inflar medo é imperdoável. Os eleitores serão lembrados disso.
  Quando Dilma foi impedida, falei que nunca mais teríamos um presidente sem a sombra do impeachment. Até nisso imitamos os EUA. Lá, desde Nixon, todo presidente convive com isso. É briga de crianças: Voce impediu o meu, quero impedir o seu. Bolsonaro faria bem em não tentar a reeleição. Poderia até vencer. A oposição se destrói por si mesma. Mas não vale o desgaste. Deverá surgir um nome novo da baixa política. Mais uma vez.
  Lula morreu. Se tornou aquilo que foi Brizola em seus últimos anos. Uma memória meio turva. Um velhinho gritando slogans mofados.
  Doria e Witzel esqueceram que são menos que nada. Estão no governo por usar a força do presidente em seu momento mais forte. Sozinhos não têm base nenhuma. Cercados por puxa sacos, estão acreditando nos elogios dos sombras.
 Haddad não existe como pessoa independente. E seus posts depõe contra ele mesmo. Hesitante, ele apenas grita, com voz fraca, palavras de ordem sem sentido. Parece líder estudantil.  É Robin. O pupilo do Batman esclerosado.
 Ciro não precisa de oposição. Basta deixar ele falar. Ciro destrói Ciro.
 Que panorama podre!
 E temos nossos formadores de opinião. Arautos que falam para outros formadores de opinião. Masturbadores que se encantam com a própria mão. Se empolgaram com a crise. Acharam que ela faria deles Os Protagonistas outra vez. Não. Os políticos, ruins e menos ruins, são as estrelas do momento.
 Termino citando Hitchcock. Atores são gado. Salvo 1% deles, não pensam. Decoram texto. E vomitam banalidades. Ninguém falou mais idiotices nestes dias que eles. Me perdoem os menos bobos, mas eles parecem ter a mente de um menino de 10 anos educado num sindicato do ódio.
  O mundo após a crise voltará outro? Talvez.
  Mas creia, não será como seu professor de sociologia diz. Ele nunca acertou uma.

DAS AMIZADES VERDADEIRAS

   Cresci ouvindo falar que brasileiro não era politizado. Que aqui se brigava por futebol, nunca por política. Diziam ainda que quando o Brasil se politizasse tudo ia melhorar. ( Mais um mito. O que me lembra também a tese de que com educação tudo se resolve ).
  Hoje brasileiro briga por política, e como no futebol, todos se acham experts no assunto. Não sei nada de política, apenas vejo o que posso ver. Cresci me achando esquerdista, adorava irritar meu pai com meu ateísmo. Mas mudei a partir dos anos 80. Me rendi às evidências históricas. E mesmo quando me contam tolices, do tipo: Cuba não deu certo por causa do bloqueio americano, eu penso: Pois que se rendesse! De que adiantou esse teimoso heroísmo? Os EUA não perderam um só dólar, e Cuba ganhou apenas uma lenda. Para seus habitantes seria muito melhor ter nascido na Costa Rica ou em Porto Rico. Pragmatismo salva vidas. Ideologia cria mitos.
 Se voce é de esquerda já se arrependeu de ler isto né. Me desqualificou como mais um bolsominion. E tá tudo resolvido. Rótulo posto, assunto morto. Mas que surpresa! Não votei no mito. Nunca votei na direita. Sou contra a pena de morte. Odeio a caça. Odeio armas. E tenho amigos gays e lésbicas. Ah sim, adoro ler. Não só livros policiais. Leio poesia. Leio romances russos. E amo cinema de arte. Estranho né? As pessoas não cabem em rótulos meu caro amigo. Mesmo o mais bronco dos bolsominions ou o mais raivoso dos piçolistas têm alguma nuance. São humanos.
  Entro agora no tema da amizade ( já li Montaigne, veja só, um direitista que lê Montaigne ). Perdi quatro amigos nos últimos dois anos. Perdidos para a política. Quatro até que é um bom número. São poucos. Mas me magoaram como se fossem muitos.
  Tenho hoje vários amigos que não pensam como eu. Alguns continuam sendo de esquerda. E morrerão sendo. Assim como espero que eu morra sendo amigo deles. Nossa amizade está além do assunto política. É um assunto interessante. Importante. Mas em amizade não é central. Por um motivo muito simples: voce não escolhe um amigo por ele ter votado em B ou X. Quem termina uma amizade por esse motivo, começou a dita amizade pelo motivo errado. Ou nunca o foi.
  Eu e meus amigos de esquerda não discutimos politica porque sabemos que seria inútil. Eles não mudarão meu modo de pensar. Eu não mudarei o deles. Na verdade nem queremos isso. Sabemos que uma opinião profunda só é mudada na experiência do dia a dia. E se for uma crença, bem, só um grande acontecimento modifica uma crença. Quem sou eu para os catequizar?
  O máximo que falamos é : caramba seu tonto, voce é um merda de um petista! Ou um : seu ignorante, como pode voce ser um imbecil de direita! Rimos. E o assunto se encerra.
  A amizade precisa de um certo pudor para sobreviver. Acham os estúpidos que amigos podem e devem falar tudo. Nunca foi assim. Sempre existiram assuntos tabu. E por delicadeza e afeto, deles não falamos.
  Dois anos atrás perdi meu primeiro amigo para a politica. Ele me convidou para um café e após poucos minutos me interrogou. Fui literalmente examinado. Assim que a primeira pergunta foi feita a amizade morreu. Ele me olhou, mal contendo a raiva, e disse: Eu sou de esquerda, e voce é o que?
  Eu juro que senti um derretimento interno. A decepção profunda. Uma armadilha. Eu não queria crer! Ele estava me policiando! Era isso a tal patrulha ideológica? Teria sido assim na Polonia, na Hungria, na Lituânia? Amigos dedurando, interrogando, acusando?
  Saí pela tangente. Tentei me explicar. Sim. Fui obrigado a dar explicações. E assim, ainda nos vimos mais duas vezes. Em todas elas vinha o momento da pergunta: O que vc acha da luta de classes? Como vc se posiciona diante da miséria? Me explique o que vc entende por conservadorismo? Tudo isso dito com cara séria, raiva muito mal disfarçada.
  Acabou então.
 Vinte anos de amizade trocados por um partido.
 Minha mente não consegue entender isso e meu coração não aceita. Pelo fato de que eu nunca fiz ou faria tal ato de traição. A palavra é essa: Traição. Amizade que exige a mesma opinião ou a mesma fé não é amizade. Há nesse ato um tipo de frieza egoísta que nega todo o universo do amor.
 Por outro lado....Que nobreza de caráter vive nesses amigos que apesar dos pesares, mantém viva a chama do afeto, o compromisso de vida, o amor pelo que é diferente de si mesmo.
 Sim, eles me dizem: Que bosta voce falou cara! Mas dizem isso com o olhar do afeto, do bem, do entendimento.
 Nunca no Brasil a amizade foi tão testada.
 E vocês são a prova de que ela é maior que tudo.
 

BEM VINDO AO MUNDO REAL

   Conheço críticos que nos anos 80 e 90 diziam que o grande mal da arte brasileira era a subserviência à Caetano Velloso e sua corte. Eles bufavam dizendo que todo novo cantor, banda ou escritor, tinha como ambição máxima receber as bênçãos de Cae e Gil. Diziam que aqui não havia ruptura, fim de ciclo. Que tudo girava em torno da corte baiana.
  Hoje esses mesmos críticos estão alinhados com a corte.
  Este não é um texto a favor ou contra. Juro que tento apenas olhar e descrever. Alguém tem de abrir um olho. Vamos a descrição.
  Quero entender o motivo de tanto ódio. Por que um povo que ignorava Sarney, hoje quer ver morto Bolsonaro. Há algo de psicológico nisso. Há uma doença social. E eu sei, que pelo fato de 99% dos psicólogos sociais serem de esquerda, eles estão analisando a doença de ser Bolsonaro, e ignoram o ódio irracional ao presidente.
  Não digo que ele seja bom. Talvez seja menos que razoável. O que me causa espanto é o tamanho do ódio. Eu vi os governos Figueiredo, Sarney, Collor e todos os demais. Nem Collor foi tão odiado. Por que?
  Dizem que Bolsonaro é machista. Diria antes hetero ostensivo. Não o vi bater em mulher. Não o vi caçar algum direito feminino. Não o vi em orgias com 5 mulheres pagas. Sarney, Collor e Lula pareciam tão heteros quanto ele. O que seria então?
  Dizem que ele é ignorante. Não vai ao teatro e não lê bons livros. Lula não lia nada. Não foi visto em museu ou teatro. Collor só frequentava festas de playboy. Itamar era alegremente bronco. Então onde Bolsonaro peca?
  Já ficou claro não é? Ele cometeu o pecado de não beijar a mão de Caetano e Chico. Claro que estou usando símbolos. Collor e Figueiredo não fizeram isso. Mas o bronco Lula era amado porque foi prestar homenagens a eles. Mesmo não sabendo uma letra de Milton de cor.
  Quem mais odeia Bolsonaro é quem não suporta o fato novo que acontece aqui e agora: a morte do formador de opinião. Quem o detesta são as pessoas que se vêm ameaçadas pela perda de sua importância intelectual. " Como esse bronco ousa me ignorar?"
  O problema não é ele não ler. É ele ignorar quem escreve livros. Lula dava prêmios. Fazia festivais. Artistas são baratos. E Lula é esperto.
  Bolsonaro foi eleito, como Trump, sem o apoio de formadores de opinião. E eles, assustados, não o perdoam por isso. Ele jogou na cara deles o quanto hoje eles são irrelevantes. E eles não podem suportar essa novidade.
  O Brasil sempre teve duas elites que mandaram como reis e duques: Os ricos e os "letrados". Em terra de miseráveis, quem tem dois tostões é nobre e quem leu Jorge Amado se acha especial. Tanto o rico como o letrado têm na ponta da língua a frase: "Voce sabe com quem está falando? Voce não tem nível para me contradizer".
 Bolsonaro e seus eleitores ignoraram os leitores de Chauí. Nem sequer a atacam. Ignoram sua existência. E vivem bem sem ela. Ela então grita.
 Para o ego dos formadores de opinião, isso é insuportável.
 A Globo ataca frontalmente, e na minha opinião se suicida com isso, ao governo não só por uma questão fiscal. Ela sabe que ele põe a perigo seu trono dourado. Mostra que ela já não dita regras. Lula foi ao Fantástico no dia da eleição. Foi dar uma exclusiva para a rainha do país. Bolsonaro rezou. Numa transmissão mambembe, ele transmitiu uma reza. Foi feio. Tosco. Foi Brasil.
 Bolsonaro joga na cara desse povo, os classe média bem educados, esquerdistas no molde Partido Democrata da California, o que é o Brasil. Muito mais que Lula ou Itamar, ele é o tiozão caminhoneiro, o taxista, o guarda no sinal, o empreiteiro, o dono do açougue, o feirante. Lula era o homem do povo para uso de intelectuais culpados, Bolsonaro é o homem do povo que pouco se importa com intelectuais. Ele é absurdamente sincero.
 O ódio a Bolsonaro é revelador. Mostra o preconceito das classes educadas, esnobes, egocêntricas, europeizadas e americanizadas , contra o homem comum, banal, simplório. Ele fala o que pensa e se atrapalha porque fala demais. Ele fala de um modo sujo, mal articulado, feio. Isso é motivo para tanto ódio? Não. Se ele pagasse tributo à realeza seria motivo apenas para risos. Como era o caso de Sarney ou de Itamar. O ódio é aquele do ego ferido. É insuportável para quem o sente.
 Ele revela que seu curso de sociologia pode nada significar. Que suas leituras sobre Heidegger podem ser apenas masturbação. Que o mundo real pouco se importa com voce.
 É claro que eu adoro livros etc etc etc. Mas por Deus! Como é possível tanta crueldade a alguém cujo único pecado é ser um bronco?
 Esse ódio é possível a partir do momento em que ele ameaça seu senso de auto importância.
 A partir do momento em que ele se elege contra todos os seus palpites.
 E expõe, de forma humilhante, que voce não sabe prever, não influi mais e talvez esteja deixando de ser um "nobre leitor" e se tornando apenas mais um na multidão.
 Bem Vindo ao mundo real.
 

CORONA VÍRUS EM NEVERLAND

   Este texto é escrito por inspiração de um belo artigo de Luiz Felipe Pondé. A filosofia que ele expressa é 99% a minha. Algo me incomodava nesta crise mundial, um certo mal estar indefinido, e Pondé conseguiu desanuviar minha mente. O que ele escreve colocou a primeira marcha neste meu escrito. Aqui vão as outra quatro.
  Convivo com duas classes sociais. A classe média e a classe dos que lutam para comer. Quando pensei em escrever este desabafo, imaginei que só as classes mais abastadas poderiam ser alvo do que falarei. Mas agora percebo que não. Mesmo os mais pobres, aqui no Brasil, São Paulo, vivem na mesma ilusão. Para eles a coisa é ainda pior. Eles não têm como pagar pela ilusão. Vamos ao que Pondé disse e ao que eu falo do meu ponto de vista.
  O vírus escancara a fragilidade de um certo tipo de pessoa. Aquela que vive na ideia de que tudo é possível se voce desejar. O corpo é meu e faço com ele o que quero. Mas não só isso, também a ideia de que a vida é minha e ela está aqui para me servir. A vida e a existência vistas como um tipo de serviçais. Pessoas que acreditam no "direito à felicidade", uma invenção fabricada, e portanto artificial, criada ao fim da segunda guerra mundial. Desumana no sentido de que nada na humanidade predispõe à felicidade. A vida é uma luta, uma guerra, uma disputa. É assim para o esquilo, para o macaco e para o tigre. A vida não é um desenho da Disney. Os animais estão em constante e eterna luta e se voce crê que o humano é apenas mais um animal, e não um filho de Deus, então saiba que sua vida é como a do salmão, briga por sobreviver.
  A vida é assim e não há como escapar. Mas o mundo de 2020, na verdade o mundo desde 1945, consegue fazer com que ignoremos isso. Podemos passar vinte ou até 60 anos de nossa vida  crendo que Bambi existe e que se " a gente se unir e quiser com bastante vontade, o bem será de todos". Até que um dia, sozinho na sala de espera de um médico, voce descobre ter um câncer. Então a vida Disney acaba. E voce descobre que a leoa que morria de fome na savana, cercada por hienas, era igual a voce. Seu corpo te trai. Sua mente te condena. Bem vindo à natureza real, Bambi. A vida é lutar por viver. A felicidade é apenas uma miragem criada por gente que nunca achou que ia ter de sobreviver. Que ia apenas tentar ser feliz.
  O vírus joga na cara de 3 bilhões de pessoas, ao mesmo tempo, que a morte existe. Que seu condomínio não te protege dela. Que todos podemos morrer amanhã. E veja que coisa:  Provavelmente sua morte será de câncer! Educados para crer que desejar é poder, e que a vida é a busca pela felicidade e não pela sobrevivência, nos tornamos histéricos com essa afronta desse vírus maldito. O pavor nos domina. E as hienas, felizes, esfregam as mãos.
  Usamos então a antiquíssima válvula de escape. Um bode expiatório. A culpa pela peste era do judeu, era do feiticeiro, era do bárbaro. Agora é do chinês, é do Bolsonaro, é do italiano. Queremos crer que há um culpado para assim podermos o eliminar, e o eliminando vencer a morte. Que infantil ainda somos! O inimigo é um vírus. E ele pouco se lixa para suas opiniões. Não comer carne ou fazer ioga não vai te salvar. Na vida todos nós morremos no final. Hoje, amanhã ou em 2100.
  Para a classe média, essa vida Disney é absoluta. A morte não existe e as pessoas do meu meio são boas e positivas. Para os mais pobres percebo que já surgiu o mesmo fenômeno. A pessoa não tem o que comer, mas vive na fantasia de que sua vida é um filme policial em Los Angeles, que ela é um astro do Rap, ou que sua vida é a busca da felicidade, e que desejando com fé, ela virá. Como diria Paulo Francis: weeeeeellllll........
  O movimento hippie aconteceu porque pela primeira vez os adolescentes não precisavam trabalhar. O capital criou tanta riqueza que o mundo viu um fenômeno inédito: gente de 15 anos tendo tempo livre e dinheiro pra consumir. Surgiu a indústria pro jovem, indústria que hoje é hegemônica. E jovens têm desejos. E o comércio os atendia e atende. Já. E ser feliz é o maior dos desejos.
  Problema: Claro que ninguém sabe o que é ser feliz. Mas não faz mal. Vamos querer algo indefinível. Vamos pagar por ele. E é aqui que entra o texto de Pondé: Vamos nos deprimir por ele. Depressão óbvia: Se voce quer algo que não sabe o que é, voce jamais encontrará. E ao não encontrar vai se deprimir. Pior, se condenará por ser incapaz de o encontrar. Imaginará que todos os outros são felizes e que voce não é.
  Pois bem. Junte um universo de iludidos estilo Disney, crentes na bondade natural do mundo, e junte à deprimidos que falharam em achar a felicidade dentro desse mundo Disney. Jogue então um vírus sobre eles, o que resultará?
  Os deprimidos dirão: Eu avisei. E com um sorrisinho de superioridade irão prognosticar: vai piorar muito! Que satisfação ver os que voce imaginava felizes tão apavorados, né?
  Os crentes no mundo fofo argumentarão: Há algo de errado neste NOSSO mundo perfeito!  O mundo é maravilhoso e a natureza é benéfica. São eles ( chineses, bolsonaristas, italianos, ricos, americanos, petistas ) os culpados! Eles destroem a nossa Neverland!
  Ambos são o resultado de cinco gerações que jamais viram uma guerra ou tiveram de enterrar quatro ou cinco irmãos ainda bebês. ( Calma! Estou escrevendo pra voce. Não para um sírio ou um afegão. E se voce vive na periferia, e teve meia família perdida no tráfico, voce sabe que não é de voce que falo ). Essa geração, que pega inclusive os eternos adolescentes de 55 ou 65 anos, jamais cresceu e jamais desejou crescer. Eles exibem imaturidade como troféu. Alcançar a felicidade passa por ser jovem pra sempre. Somos tão burros que não notamos que a fase mais dura da vida é exatamente a adolescência. Viver 50 anos nela é coisa de masoquista hard. Todos o somos.
  Pra esse povo a palavra serenidade não existe. Como não existe a palavra responsabilidade. Honra. Abnegação. Pragmatismo. São esses que esperam, como todo teen, que um pai resolva tudo por eles. E esse pai se chama estado. Igreja. Grupo. Se a morte nos ronda, o governo que nos livre dela. Se a fome aparece, o pai que nos alimente.
  Somos covardes. Vergonhosamente covardes. Acreditamos realmente que Bambi é mundo real. Que temos o direito de ser Peter Pan. Que a Neverland é nossa por direito de nascença.
  Meu pai foi da última geração a ignorar a ideia de felicidade. Nascido em 1926, no fim do mundo, ele fazia uma cara de surpresa absoluta quando eu reclamava, aos 14 anos, não ser feliz, não estar realizado, não ser livre. Usando a linguagem dele, meu pai dizia:
Que porra de conversa é essa? Estuda e trabalha, a vida é só isso. Seja bom e honre quem voce ama. Felicidade....que ideia mais idiota...
  Para meu pai, esse vírus seria apenas mais uma das muitas mortes que ele viu.
 Mas para nós, que horror, o vírus nos joga na cara que apesar do smart phone da academia, a morte é democrática, irreparável e invencível.
 

QUARENTENA

   Tenho colega que não consegue esconder sua felicidade. Desde o começo da pandemia ele anda como que aos pulinhos, soltando piadinhas, um sorriso eterno. Sua alegria se esparrama na certeza de que o presidente está destruído. Para ele, nada supera essa felicidade. Para ele, o Brasil tem um dono, o presidente, e ver o país ser destruído é ver o alvo de seu ódio ser destruído. Eis o pensamento subdesenvolvido que não nos larga: o presidente, o rei, o chefe é o país. Ele é o dono.
  Durante anos eu lutei para não ver o Brasil como o país do Lula. Isto era mais que ele ou seu partido. Eu realmente torci para que a Olimpíada salvasse o Rio e para que a Copa civilizasse a nação. O futuro ia além do Lula ou de seu partido e foi assim que me coloquei. Tentando sair do pensamento primário do "este país tem um dono".
  Essas pessoas não percebem que o presidente é apenas um homem. Bronco e falível. Continuam pensando que o presidente é o país. O presidente é apenas o homem que foi eleito. E se eu o defendo, e tenho feito isso, é porque vejo nos ataques uma sanha homicida. Não se ataca uma ideologia. Não se ataca um modo de gerir a economia. Se ataca apenas uma pessoa. E com isso se corrompe o país inteiro. Viciados na ideologia do "presidente é o Brasil", atacam todo o governo, que é bom, todo o ministério, que é bom, todas as ideias, muitas ótimas. Defendo o presidente não por gostar dele, mas por temer a estagnação. O retorno do congresso comprado e calado, e da imprensa amortecida com investimento estatal.
  A presidência caiu no colo desse bronco graças à vaidade da esquerda. E a sua infinita incompetência. Lula esbanjou dinheiro enquanto o país era o nome da moda. Lembram? Os BRICS? Entregou o governo para uma pobre tonta, bronca como o bronco, que mal sabia o que estava lá fazendo. Cheios de empáfia, acreditaram que seriam eternos, e que um poste poderia ser eleito mais uma vez. Bolsonaro chegou ao poder por acidente. Felizmente algumas pessoas de brilho estão o ajudando. Felizmente seu vice é um militar esclarecido e muito calmo.
  A emissora central do país não esconde sua raiva. Neste momento terrível não perde a chance de rir de uma máscara mal colocada ( isso importa? ), uma frase mal falada ( ele nunca foi eleito por ser como o FHC ), por um impulso impensado ( ele é do tal povão, esse troço que a emissora diz defender ). A cobertura da emissora é toda voltada a alarmar, esperar o pior, assustar, confundir, contradizer. Dos jornais não falarei pois ninguém mais os leva á sério. Quem ainda os lê faz por hábito e por uma ou duas colunas. Nada mais que isso.
  O Brasil vai falir e isto é uma guerra. Simples assim. E quarentena, para um povo que vive em casas apertadas e não gosta de ler, é uma coisa dolorida.
  Para terminar: durante a guerra Churchill era terrivelmente sabotado pelos radicais de esquerda e direita. Uns torciam pela destruição da Inglaterra e a futura formação de um país comunista; os outros torciam simplesmente pelos nazistas. Eu sempre achei que havia aí um exagero. Que não podia ter sido assim. Agora vejo que foi. Para certas pessoas o ódio vence sempre.

O AMADURECIMENTO DO BRASIL

   Estamos no longo processo de amadurecimento do Brasil. Ele começa em 2002 mais ou menos em se estende até ninguém sabe quando.
  2002 foi a euforia infantil. Copa do Mundo e o tal "Presidente dos Pobres " no poder. Depois veio a Copa feita aqui, roubos à vontade, e de troco a Olimpíada, feira de mentiras, o Rio não enriqueceu, o Brasil não virou potência olímpica, as dívidas ficaram.
  Com a eleição de Bolsonaro, um milagre absoluto, que não é incensado por não fazer parte da turminha que dá status "histórico" às coisas, duas coisas passam a incomodar o país, a cobrar amadurecimento, a transformar a história desta terra.
  Primeiro. A derrubada do paradigma de que "todo intelectual" é um cidadão do bem. Isso esteve sempre gravado e tatuado na nossa carne e alma. Filhos da ignorância, sempre acreditamos que um filósofo, um sociólogo, um professor, um historiador, é, por ter visto as tais luzes, um ser bom, justo, comprometido com o bem de todos. Isso, felizmente, acabou. Intelectuais são vistos agora como são: humanos. Talvez mais narcisistas. Talvez mais autoritários. Talvez mais teimosos. Seus cérebros bem fornidos de nada servem se não tiverem olhos abertos e coração mutante.
  Segundo. A morte dos "Formadores de Opinião". Essa odiosa ditadura, muito fascista, de que a turma do Leblon e da PUC sempre sabe o que é bom pra todos nós, meros consumidores daquilo que eles dizem ser digno de ser consumido. Deve doer muito para um jornalista ver que o Zé da Comunidade tem mais seguidores que ele. Que sua página na Folha é apenas UMA folha entre milhões de outras. Democracia como não havia desde Atenas e seu povo na praça.
  Por serem dois movimentos sem ordem e sem partido, são vistos pela esquerda, sempre partidária e ordenada, como "coisa da direita". Sendo assim, a hiper democracia da internet e o fim dos "doutores sábios", não são cantados pelos menestréis da USP.
  O que os menestréis não entendem é que seu tempo acabou.
  O povo descobre por si mesmo que o trans é um monstro e que o doutor vendeu gato por lebre.
  Sinto muito. O brasileiro tá botando as manguinhas de fora. Sem a ajuda da Globo e sem a tutela de um partido.
  Isso é que eu chamo de milagre. Bolsonaro é apenas um sintoma. Vem muito mais por aí...Graças a Deus.

LIVRARIA, LIVRO E UM CARA CHAMADO FRANCO.

   Estive esses dias em duas livrarias Cultura. O dono errou feio. Não sei onde ele estava com a cabeça.  Criar aqueles dois monstros no começo do século XXI foi de uma ingenuidade estúpida. Um amigo me afirma que é culpa do "liberalismo bolsonarista"...oh God...esse amigo é usuário de Amazon.com e tem um aparelhinho que baixa livros. Zomba de mim porque eu ainda compro livros. E a culpa é do liberalismo...
   Na unidade do shopping Iguatemi o aspecto de pobreza é pior. As prateleiras estão com espaços vazios. Os lançamentos são relançamentos. Nada atrai, não sinto vontade nenhuma de gastar dinheiro. Na Paulista o ar é de fim de feira. Hora da Xepa. DVDs ridículos ocupando espaços vagos. Meia dúzia de CDs. E livros que não causam nenhuma impressão.
   Acabou. O mundo mudou. Já é 2020.
   O fim do DVD pode ser pior para o cinema que o fim do DVD foi para a música. Isso porque o colecionador sobrevive no meio musical, com sua coleção de LPs e seus CDs de luxo. É esse cara que anima o ouvinte não fissurado a valorizar gente como Chet Baker ou Arthur Lee. Já o cinema, sem o DVD, perde a figura do colecionador. Não há como ter um acervo de filmes da Netflix ou de obras baixadas na net. Sem o colecionador apaixonado, morre a divulgação entre amigos das obras raras. E assim o cinema fica cada vez mais dependente, financeiramente e amorosamente, das grandes corporações. Disney. E ainda a Warner.
   O livro ainda sobreviverá. Mas em pequenas livrarias, sebos, casas de editoras. Acho isso ótimo. O modelo FNAC sempre foi uma farsa. Voce irá na livraria que vende best sellers ou na que vende edições pequenas. Supermercados de livros nunca foi boa ideia.
  Sinto mais que isso. O cara tipo "Franco" está no fim. Franco foi um amigo que tive. Estudava sociologia na PUC e vendia blusas na Vila Madalena. Nunca foi empregado de ninguém, nunca passou dificuldades, mas posava de proletário. Tinha, em 2009, uma bandeira da Venezuela na sala. Aos 21 anos, não escutava nada gravado após 1980. E não via filmes com menos de 30 anos. Sempre sorridente, namorava meninas maconheiras de Pinheiros. Lia apenas coisas latinas e achava esquisito um ex estudante de publicidade falar de política. Não era minha area.
  Esse tipo de pessoa ainda existe. Mas hoje ela é mais radical, mais feroz, mais mal humorada e, felizmente, muito mais restrita. Franco era como um hippie de 1967. Hoje esse tipo de militante parece um bicho grilo irritado de 1975. Somem na poeira dos anos. Cada vez mais deprimidos. Cada vez mais sem público que os escute.
  Cinco anos atrás eu achava que seria triste ver a Cultura fechar. Hoje penso que seria a melhor coisa para os livros. Saio de seu espaço vazio com alívio. Sem olhar para trás. Dentro dela um grupo vocal canta Chico em ritmo de velório. Ex alunas da PUC, média de 65 anos, aplaudem. Maggie mudou a Inglaterra para sempre. Até hoje há quem chore a velha nação falida. O mesmo rola no Brasil hoje. Não sei se vai dar certo como deu lá. Mas a mudança é irreversível.
  Feliz 2020.

VELEJANDO O BRASIL - GERALDO TOLLENS LINCK

   O veleiro sai do Rio Grande do Sul e sobe todo o litoral brasileiro. São várias paradas e a viagem aconteceu nos anos 80. Minha edição é de 1996, e vejo que até então eram 9 edições publicadas. Ora, eis um clássico nacional de aventuras!
  O texto é bom, a aventura é leve e sem grandes dramas, os perigos são não tão perigosos. Mas o livro é lindo! Lendo em 2019 vejo que as coisas mudaram muito em 30 anos. Ainda se caçavam baleias, alguns bichos estavam quase extintos, o mar era mais limpo. O trecho do litoral norte de São Paulo é mágico. A partir de Bertioga um espaço limpo, deserto, em vias de sofrer um crescimento veloz nos anos seguintes. Conheci Bertioga e onde hoje é a tal Riviera havia um pântano que nada valia. Terreno ali meu pai não quis nem quase de graça. Cem metros valiam um Fusca velho. Isso em 1986.
  Este é mais um livro que releio e garanto que vocês deveriam procurar em algum site ou sebo. Nada melhor para o verão e as férias.

DOIS LIVROS SOBRE UM BRASIL QUE NÃO EXISTE MAIS

   Os dois foram escritos pelo mesmo jornalista: Renato Sérgio. Os dois são da Ediouro e foram editados no começo deste século que já está adulto. MARACANÃ conta a história do estádio que não existe mais. Ficamos sabendo que ele foi um sonho em que mais da metade da população não acreditava em sua concretização. Na verdade ele foi construído para roubar a copa do mundo de 50 da Argentina. O livro, sinto dizer, chato, perde um tempo imenso falando dos trâmites absurdos e kafkianos para legalizar a obra. É política demais, políticos em excesso, burocracia absurda e aquele monte de discursos, inaugurações, blá blá blá que rolou na época.
   Na parte que importa, o futebol, a decepção aumenta, Renato fala muito pouco dos jogos históricos dos anos 50-60, e se joga logo na barrigada de Renato Gaúcho na final de 95, em Edmundo, Romário, Petkovic, ou seja, tudo o que aconteceu no tempo em que o Maior do Mundo já parecia prestes a desabar. Falta glamour.
  O outro livro, bem melhor, é a biografia do primeiro multi mídia do Brasil: Sergio Porto, vulgo Stanislaw Ponte Preta. Ele foi, além do maior carioca do Rio, jornalista, autor de programas de TV, escritor, cronista, e acima de tudo um bon vivant. Foi ele que nos anos 60 cunhou algumas frases que até hoje são repetidas: Em rio com piranha jacaré malandro nada de costas, por exemplo. Outra, que eu considero perfeita para 2020 é: Ele acaba de despontar para o anonimato. Sergio Porto nasceu em família rica, torcedor do Fluminense, amava jazz e samba de raiz. Criou as "Certinhas do Lalau", tipo da coisa que só podia existir no Rio de 1960, todo mês ele escolhia a mulher mais bonita do Brasil que virava um tipo de vedete do país. Bikinis e meia arrastão.
  O estilo de escrita dele era aquele típico do país de então, que foi perdido e nunca mais vai voltar. Uma escrita feijoada, voce vai acrescentando ingredientes e frases temperadas. É uma escrita quente, saborosa, difícil de imitar e boa de ler. Melhor eu dar um exemplo:
" O show do Crioulo Doido tem sido a salvação da lavoura aqui no Rio. Bolado no princípio do ano para aproveitar a temporada de paulistas que surupembavam na Guanabara a espera do carnaval, era pra ficar em cartaz só fevereiro, mas veio março e abril, e o espetáculo agrada mais que banana em jaula de macaco. Começo a desconfiar que há linguiça embaixo desse feijão. "
  É o estilo figurado, a imagem no lugar da explicação, o texto feito pra quem "conhece a receita do angú". O tipo de texto que se escreve hoje irá parecer um tipo de tradução mal feita quando comparado a isto. É o estilo brasileiro, nada lusitano e nem um pouco frio. A turma do Sergio Porto, Millôr, Paulo Francis, Paulo Mendes Campos, todos tinham esse modo cheio de bossa nova de escrever. Quando ele escreve notícias, bem, voce morre de rir: " Ela era uma viúva, ou seja, chegada à um exagero homérico. E por causa disso, era apegada à uma bicharada, no caso, papagaiada. E foram seus papagaios que causaram a celeuma que invadiu a noite do Grajaú e acabou em fogo, pimenta e aracajé. Um tabuleiro da baiana completo". Creia, isso era uma notícia de jornal.
  Mulherengo, casado e pai de 3 filhas ( alguém pode me dizer porque todo mulherengo tem filhas e não filhos? ), ele morreu cedo, aos 48 em 1968. Era pra ter chegado ao ano 2000, e penso no que ele escreveria sobre Sarney, Itamar e cia. Pois foi ele quem criou o FEBEAPÁ, o Festival de Besteiras que Assolam o País. Ele pegava notícias idiotas, fatos imbecis, bem brasileiros, e os publicava. Era um sucesso absoluto. E temo que hoje não seria. Pelo fato de que há tantos idiotas que ninguém notaria a graça do absurdo. As notícias do FEBEAPÁ eram tipo deputado proibindo bikini no interior de Goiás, prefeito inaugurando estrada de ferro sem trem. Tudo fato real, nada inventado.
  Politicamente a posição de Sergio se revela nesta frase exemplar: O capitalismo é homem explorando homem. O socialismo é o contrário.
  Sobre a tropicália: São rapazes vagamente compositores.
  Niteroi, cidade onde urubu voa de costas.
  Ontem foi inverno no Rio. Agora só ano que vem.
  No Brasil as coisas acontecem, mas depois com um desmentido, deixaram de acontecer.
  Mais feio que mudança de pobre.
  Gato escaldado tem medo de água fria.
  Mulher e estrada com muita curva, ambas são perigosas.
  Amor não acaba, se transfere.
  E por aí vai...são frases e frases que entraram na mente nacional. O que me leva à uma constatação: Na atual burrice cinzenta, esquerdista e direitista, onde tudo vira slogan pobre, gente como Sergio seria detestada. Porque ele sai pela tangente, ele vê o ridículo dos dois lados, ele sente que tudo é fake. Forçado. E se não for fake, pior, é doença mental.
   Confesso que a malandragem desse Brasil, seu machismo, sua preguiça, me irritaram em certo momento. Logo me ví vendo Vinicius como um simples petista, Paulo Francis como um americanizado e Sergio Porto como um isentão. Mas acordei e vi que eles eram nada disso. Eram apenas brasileiros, ainda no berço que foi esplêndido, sem procurar minúcias de sentido preconceituoso em tudo que se fala, e exatamente por isso, de fala livre, quente e sensual. Muito da desgraça do mundo de agora passa pela linguagem em camisa de força. Mas isso é papo pra outra noite...

FLAMENGO

   Gente da minha geração, que viu Zico jogar, vê o Flamengo de uma outra maneira. Vemos ele como o maior clube do Brasil. Não, não me aporrinhe. Sou torcedor do Santos e perdi um campeonato, em 1983, para o Flamengo. Gerações vêm o mundo a seu modo, e assim como para quem tem 70 anos o Botafogo é um time grande, para quem tinha nascido nos anos 60, o Flamengo era o maior.
   Entenda novinho e novinha, o Liverpool sempre foi o maior time da Inglaterra, e talvez voce ache, pelos últimos anos, que o Chelsea ou o City são maiores que ele. Se, e somente se, eles continuarem ganhando títulos, até digamos 2030, eles serão tão grandes quanto. Cada um enxerga o mundo de seu ponto de vista temporal, por isso é bom saber história. Amplia seu mundo.
   A vitória do Flamengo é tão importante hoje como foi o mundial de 81. A Libertadores e o Mundial nada significavam aqui, e foi o Flamengo que trouxe de volta a moda de ganhar esses torneios. Agora, em 2019, ele nos lembra que futebol é espetáculo. Show. Diversão.
   O Santos de Neymar já poderia ter nos lembrado disso, mas com uma torcida mediana e cobertura de imprensa ínfima, a coisa passou batida. Um time como o Flamengo, fenômeno nacional, obriga todos a ver o óbvio: futebol pode ser bom de se ver, não só de torcer, e técnico faz diferença.
   Técnico de futebol nunca é muito considerado no Brasil. Culpa da imprensa, que sempre viu todo técnico como um Zagallo, o cara que fala frases motivadoras e dá as camisas no vestiário. Lembro que sempre que nascia um técnico com ideias ele era ridicularizado. Foi assim com Claudio Coutinho. Cilinho. E mesmo Telê Santana. Hoje eles elogiam as ideias diferentes do Mister, mas nunca tiveram paciência com Carpegianni. Nos últimos 25 anos vivemos a glória so boring de técnicos ao velho estilo gaúcho: raça e contra ataque. Mais vale um chutão pra frente que uma tentativa de tabela. Nesse mundo, tanto faz se o cara se chama Muricy ou Abel, Filipão ou Mano, Cuca ou Levir, todos são o mesmo, gaúchos em estilo, falastrões em alma. Luxemburgo foi a ideia que traiu seu criador. O ego o venceu.
   Vejo muito menino de escola surpreso. OH!!!! MAS O FLAMENGO É ASSIM? Eu explico pra eles: Sim, ele é assim. Imenso. Com alguma organização ele cresce como souflé e domina o cenário como Juventus. A tendência é a torcida aumentar ainda mais.
  Quanto ao meu time.....weeelllll preguiça de falar dele.....

EU E MEU AMIGO CHIQUE

   Saio com um velho amigo chique e ele me faz a pergunta já esperada: " Como pode você ser de direita? Você tem cultura, você é de esquerda, claro que é"
  Sim, essa pergunta foi feita, e como esse amigo é ultra civilizado, não discutimos, apenas conversamos. Lhe explico que assim como há direitistas que acham que todo esquerdista é comunista ( God!!!!! ), há esquerdistas que acham que todo direitista é igual. Na verdade não há esquerdista que ache isso...no Brasil TODO esquerdista pensa isso.
  Explico ser um conservador. E que na direita há sérias divergências. Englobamos desde o mais xiita nazi-fascista até o mais pacífico e culto conservador. Liberais, yuppies, reacionários, revolucionários de direita, neo liberais, proto conservadores, todos brigam entre si. Meu amigo não fazia a menor ideia disso.
  Entendo que um governo como o atual é muito necessário. Como Lula nos foi necessário. Bolsonaro irá errar, irá acertar, talvez nos leve ao buraco final, ou nos salve do buraco atual. Mas essa faxina é necessária. O fato de meu amigo pensar isso da direita, mesmo sendo culto e antenado, mostra como fomos podados de 50% da cultura real. Nos acostumamos a crer que todo valor artístico ou filosófico é natural monopólio da esquerda. É um monopólio, mas nunca foi natural. Foi imposto às mentes formadas entre 1980-2018. Trinta e oito anos de absoluta ditadura artística e educacional da esquerda. Donos da verdade, do bem e do saber. Nunca foram. Ser esquerdista é apenas um dos modos de se ver o mundo. Existem outros.
  Eu e meu amigo tomamos um cappuccino e terminamos falando de TV e de ópera.
  Sim my dear, ser conservador é mais que uma opção política. É um modo de sentir.

ENTRE ELES E NÓS ( DIFICIL SER BRASILEIRO )

   Muita gente estranha eu dar apoio à uma figura como Bolsonaro. Waaaalll.....não apoio o presidente, dou suporte ao seu governo. Ele tem quatro ministros que são totalmente confiáveis e é à eles que apoio.
   Bolsonaro se conformou em fazer o papel de rainha. Ele é a imagem e o boi de piranha do governo. Delegou todo poder a esses quatro e eu apoio isso. De bobo ele nada tem.
   De qualquer modo, não é fácil ser brasileiro. Se voce é conservador como eu é obrigado a apoiar Bolsonaro. E se é de esquerda tem de se conformar com menu que vai de Boulos à Ciro, passando por um ladrão condenado e uma doida varrida. Pobres esquerdistas.
   Preciso ainda dizer que o Brasil repete, sem saber?, toda a agenda crítica dos USA. Os democratas acusam Trump exatamente das mesmas coisas que aqui os esquerdistas acusam Bolsonaro. Racismo, fascismo, machismo, etc etc etc. E a direita daqui se comporta como os republicanos de lá, tudo é comunismo fora de suas asas. Houve um tempo em que o modelo era a URSS. Melhor hoje.
  Trump será reeleito alegremente. Formadores de opinião tipo atores e jornalistas não influem em mais nada. A opinião do Caetano ou da Meryl Streep vale tanto quanto a sua. E o povo meu querido, ele é conservador, sonha em fazer amanhã o que faz agora. Ama sua casa, sua rua e sua igreja. Quer que seu mundo seja preservado. Revolução? Qual deu certo? A última foi a de 1776.