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SOBRE A TV

Estava vendo um programa de culinária na TV. Oberve, não é gastronomia, é culinária. Uma senhora cozinha um peixe e leva quarenta minutos nisso. Com vagar, ela corta os ingredientes, dá a lista, cozinha. É quase impossível voce não aprender a fazer o tal peixe. ------------- Em outro canal, americano, 3 chefes disputam um prêmio. O que vemos? Uma sucessão hiper editada de facas que cortam, panelas sendo colocadas ao fogo, liqueidificadores triturando, relógio que corre. Nessa confusão nervosa, é impossível voce aprender a cozinhar aquilo que eles fazem. Então porque voce assiste tal programa? Porque ele dura apenas 15 minutos. Porque ele parece correr. PORQUE ELE TEM O RITMO DA MINHA VIDA HOJE. E assim não me causa estranhamento. Ele é apenas um ruído de fundo que eu observo sem ver. ------------------- A TV nunca foi tão sem razão de ser. Ela não serve para mais nada. Não informa, não forma, não diverte também. Ela se assumiu como aquilo que sempre foi, um eletrodoméstico, um aparelho que emite som e cor e para o qual olhamos como quem olha a janela. Um olhar apagado de quem nada tem para fazer. ------------------ Um casal pelado sobrevive no mato por 21 dias. O que eles fazem ? Sofrem. Só isso, sofrem. As pessoas observam aquilo sabendo que não irão morrer, mas vão sofrer. Caso voce não saiba, LARGADOS E PELADOS é o cinema de aventura em sua pobreza máxima. O casal de herois colocado numa situação de perigo controlado. O enredo previsível. O final de alívio. Venceram. Aventura sem enredo. Personagens sem caráter. Atores sem atuação. Um esqueleto. --------------- Assim como é o BBB, caso voce não saiba, um grupo de pessoas interagindo num espaço restrito é o Teatro levado também à sua máxima pobreza. --------------- Tudo hoje é assim, quando não é pior. Pessoas reformando casas. Gente consertando carros. Documentários em que o documentarista é mais importante que o tema do documentário. ( O tema passa a ser o homem que faz o doc e não aquilo que ele mostra ), programas de viagem em que a paisagem é hiper editada, quando não tapada pelo rosto do apresentador que nos diz como aquele lugar é lindo ( mas tudo que vemos é seu rosto olhando a paisagem ). Dessa mixórdia de programas, são doze canais, a impressão que fica é que além de tudo ser barato, pobre, rasteiro, são programas que não só apresentam algo, como também USUFRUEM DO QUE É MOSTRADO. É como se ao espectador nem mais fosse dado o direito de ver e ouvir, apreciar e tirar conclusões, pois eles mesmos fazem isso por nós. ------------- Por isso hoje se mostra o cozinheiro comendo o que fez, o apresentador elogiando o programa onde ele atua, o BBB sendo um personagem que não é dubio pois é ele mesmo. É uma TV sem ficção, onde até mesmo aquilo que se apresenta como ficção tem de ser baseada em fatos reais ou ser uma biografia de uma vida dita real. --------------- Uma das mais belas características do homem é a ficção. Conseguimos criar algo do nada, inventar algo que não existia e fazer com que um grupo de pessoas participe de nossa invenção. Não mais. Pois mesmo quando uma completa ficção como Batman ou Conan são feitos, não é mais uma invenção que surge do nada, é uma produção baseada numa invenção que já se tornou fato cultural. --------------- Estaremos perdendo o dom de criar e de crer na criação?

GAME OF THRONES - HBO.

  Esperei bastante tempo e agora assisto o box da série. Era óbvio que um dia eu iria topar com esta produção. George R.R. Martin escreveu um sub sub sub Tolkien. No lugar das mensagens religiosas temos sexo e sangue. É uma mixórdia de idade média sem misticismo algum. As mulheres são atrizes de filme pornô soft e se comportam como tal. Os atores são xerox de uma xerox de algum filme juvenil dos anos 70. O anão, bela criação de Peter Dinklage, é a única coisa a se salvar. Tem vida, tem humor, é tão crível que parece ser parte de outra série. O sucesso se deve ao sangue. Todos parecem músicos de alguma banda de hard heavy speed core. Quando um deles vai comer uma rena, se mostra o bicho sendo estripado e esfolado. Legal né!!!
  Tem sexo, tem espada, tem sangue. Não tem magia. Mas então, se é tão ruim, porque assisto dois boxes seguidos...
  Por dois motivos. Primeiro porque ele tem algo que nos prende de uma forma básica, visceral: o mal. Os vilões são odiáveis e assistimos para ver a vingança do bem sobre eles. A injustiça é exagerada, despudoradamente exagerada. Impulsivamente queremos seu fim, sua destruição. Noveleiros da Globo deveriam aprender aqui a criar emoção. E o segundo motivo é que com a grande melhora da tecnologia da tela de TV, houve uma melhora, natural, na imagem de coisas feitas para a TV. Até 1995, fazer TV era escrever bons diálogos. A partir de então, a fotografia para a TV começou a se tornar cuidadosa, porque os aparelhos podiam reproduzir uma boa imagem. Esta série tem cenários bons, imagens boas, e isso nos embala.
  Dizem ser a coisa de maior sucesso nos últimos 5 anos. E 5 anos em TV equivale a uns 20 anos em cinema. É uma porcaria sem sentido nenhum. E ao mesmo tempo nos fisga e nos faz assistir. Isso é TV.

SUPER GALO, SUPER CHICKEN, SUPER SUPER.

   Assistindo um box que tem George, O Rei da Floresta; Tom Sem Freio e O Super Galo ( Super Chicken ). Eu os assistia em 1977, na TV Tupi canal 4, as 15:30 hs. Nunca esqueci. Lembro que a primeira vez que os vi, achei a coisa mais doida do mundo. Eles eram maravilhosamente esculachados. Livres.
  Retratos de uma época, foram feitos em 1967, época do Batman de Adam West, dos Monkees, do começo do Monty Python e dos Smothers Brothers. Nesse tempo as cores tinham de ser fortes, psicodélicas e a moda era ser engraçado. A palavra de ordem era relax. Não levar nada a sério, principalmente  a seriedade. A grande doença da época era a esquizofrenia ( hoje é a depressão ).
  As trilhas sonoras de abertura, dos três cartoons, são uma obra prima. George é uma cacofonia de tambores, Tom Slick um tipo de rock big band corrido e Super Chicken é uma melodia excêntrica de banda marcial com musiquinha de circo freak. Os roteiros são ainda melhores. Tudo é de um esculacho delicioso, tirando uma de todas as convenções banais. George é um idiota. Tom é um americano hiper campeão. E o Galo é um almofadinha que vira herói azarado. O bem sempre vence. Mas a vitória é ridícula.
  A dublagem é outro ponto muito, muito alto. O narrador não crê nos heróis que deve exaltar, a voz do Super Galo é totalmente chicken e a coroa de Tom Slick é uma avó do yea yea yeah. A Odil Fono Brasil-Guanabara dá mais uma prova de quê a dublagem show foi aquela feita entre 64-69, as vozes que são tão queridas quanto as histórias que acompanham.
  Nos meus reencontros com velhas séries e velhos desenhos, cerca de 90% são decepções. E sobre elas nada escrevo. Melhor esquecer. Mas estes 3 cartoons merecem sua eternalização em DVD. Blu Ray. Rede Mundial. Corações e mentes. A geração que os viu aprendeu a zombar de tudo. E desde então nunca mais deixamos de rir.

O Super Galo Dublado



leia e escreva já!

Seinfeld Sings Super Chicken



leia e escreva já!

O CINEMA MORREU BEM DEVAGAR.

   Uma arte tem uma história. Toda arte fala com ela mesma, nega ou afirma aquilo que é. O cinema morreu. Morreu por volta de 2001. Morreu em longa e lenta agonia. A morte começou em 1995, ou antes, ou depois, não importa. Está morto. E o pior de tudo: ninguém tá nem aí. Ele nunca vai ressuscitar.
  Existem filmes. E talvez sempre existam. Mas não cinema. Filmes é toda imagem em movimento. Quando voce grava sua filha voce faz um filme. Cinema é outra coisa.
  Cinema tem de ser feito para uma tela grande. Para ser exibido em público, numa sala fechada. Cinema não tem pausas para propaganda. Ele é uma experiência grupal, ritual, rotina que se renova. Isso tudo morreu.
  Morreu e digo que morreu, e não só eu diz isso, porque ninguém mais vai ao cinema. Milhões de adolescentes vão aos shoppings ver heróis de quadrinhos. Eles vão ver HQs animadas. Algumas muito boas. Muitas ruins. Mas elas representam a arte de Stan Lee, de Jack Kirby, de John Buscema. Não a arte do cinema.
  O cinema morreu porque são os bilhões desses filmes que ainda sustentam os estúdios. E as salas abertas. Voce, eu e seu amigo não vamos mais ao cinema. E se vamos, é duas ou cinco vezes ao ano. Ou menos.
  Em 1980 TODO MUNDO ia ao cinema. Ir ao cinema era hábito. Havia filme pro pedreiro, para o garoto, para o nerd e para os casais mais velhos. O pedreiro não vai mais ao cinema. Nunca. Não há mais filmes para ele e nem para minha mãe. Nem pra mim.
  Há TV. Mas a TV é tão diferente do cinema como rock é diferente de jazz. TV não pede paciência. TV não tem planos abertos. TV pode se esticar por anos. TV pode errar hoje e acertar amanhã. TV é barato. Cinema é risco, é caro, não se pode errar. Cinema é uma chance e adeus. Cinema é fruição, apreciação, olhar que se abre. TV é prazer imediato. Tudo é agora e já. É pizza.
  Sim, tem coisas geniais na TV. Mas é TV. Não é cinema. Tem gente que confunde ator com cinema. Ator faz teatro. Diretor faz cinema. Roteirista faz os dois.
  O cinema morreu por culpa dele. Virou ópera. Virou música erudita. Jazz. Ballet. Uma arte que perdeu sua raiz porque parou de se olhar. Jogou sua história no lixo, desprezou sua raiz popular, virou coisa de banqueiro e de marqueteiro. E meia dúzia de caras faz filmes, coitados, pensando em arte viva. Sinto caras, é arte morta.
 

 

NOVELA DAS OITO

   Como um carcará fedido a novela das oito é uma memória do PIOR que habita as mentes artísticas brasileñas. É novela feita por aqueles que se acham bons demais para fazerem novela. Escancara a hipocrisia de quem ganha dinheiro produzindo aquilo que abomina.
  Entre "mãinhas" e peles suadas, a mensagem é clara: A volta dos anos 70 já!!!!

BEATLES, ELVIS E SINATRA

   Impressiona muito essa biografia de Sinatra recém lançada pela Companhia das Letras. James Kaplan, o autor, além de dar detalhes, deliciosos, sobre o cantor, fala de tudo o que rolava na América de então. E isso faz do livro, 1.200 páginas que são puro deleite, um tipo de filme super produção com o melhor elenco possível.
   Estou na metade, então ainda escreverei mais sobre a obra. O que desejo falar aqui é sobre Lennon e o rock. Quando Elvis surgiu, em 1956, Sinatra tinha 41 anos e estava no auge. Era o artista mais poderoso do mundo. E se irritou profundamente com o rock. E o motivo principal foi a fala. Elvis trouxe ao centro do mundo, pela primeira vez, a voz dos caipiras. Não era a voz de NY, o padrão de Manhattan. Era a voz inculta dos 95%. Sinatra, que lutou bravamente na infância para apagar seu sotaque suburbano-carcamano, se surpreendeu com aquela voz "selvagem e bárbara".
   É aí que entra John Lennon. Kaplan cita uma entrevista do inglês, onde ele diz que em 1956 ele e seus amigos levaram meses para entender o que Elvis falava. O sotaque "americano" era tão forte que parecia outra língua. Os ingleses, que pensavam que o "americano" era aquilo que o cinema e a música popular falavam, não entendiam nada. Mas adoraram. A letra pouco importava. O que era legal era o som.
   Sinatra era artista da Capitol e a dona da Capitol era a EMI. A empresa inglesa ficava doida com o fato de americanos venderem tanto na América e ingleses não venderem nos USA. Em 1955 um tal de George Martin, funcionário da EMI, foi aos USA assistir uma gravação de Sinatra e banda. Ficou doido com o apuro técnico. Voltou a Londres e nos anos seguintes lançou dúzias de novos Sinatras versão UK. Nenhum vendeu na terra americana. Mas em 1963 ele finalmente acertou...
   Uma coisa que nos esquecemos e que foi central na beatlemania era o fato de que Lennon e Paul tinham um sotaque "entendível". As pessoas conseguiam compreender o que eles falavam. Martin foi esperto e deu a eles a harmonia sonora que o rock não tinha.
   O mundo mudou e Sinatra gravaria Beatles no futuro. O rock mudaria e se sofisticaria. Muito graças aos caras de Liverpool.
   PS: como toque final um adendo: a TV dos anos 50 nos EUA....a NBC já transmitia a cores. Alguns shows usavam até cinco câmeras. Transmissões ao vivo das ruas. Mio Dio!!! Como o BR era atrasado!!!!!

SÉRIES DE TV: MASH E SEINFELD, AS DUAS MAIS ICÔNICAS

   Mash. Lembro de quando eu tinha uns 12 anos. Ela era exibida na TV Bandeirantes. Sábado, dez da noite. Nunca fez sucesso aqui. Eu nunca assisti. Comprei um box agora. Comento.
   Para quem não sabe, MASH tem o recorde de audiência da TV americana ( se não considerarmos os jogos do futebol americano ). O último episódio, em 1983, bateu esse recorde. Ela começou em 1972 e logo estourou. Baseada no filme de Robert Altman, temos os mesmos personagens no mesmo ambiente. Um centro médico na guerra da Coréia. No lugar de Donald Sutherland entra Alan Alda, e no posto de Elliot Gould vem Wayne Rogers. Funciona. O humor continua amargo, niilista, atirando pra todo lado. Penso que esse humor seria impossível hoje. Não porque não se faça crítica, mas hoje a destruição tem um alvo. Aqui não há alvo. Se atira. E se destrói. Me surpreendo notando que a série de TV tem mais ligação com os Irmãos Marx. Hawkeye fala como Groucho. Passam o tempo bebendo, transando e afrontando a ordem militar. São hippies médicos. Às vezes a coisa fica bem triste. Uma série que caiu como uma luva nos anos 70.
   Assim como Seinfeld é a cara dos anos 90. Nada faz o menor sentido. Ou faz sentido demais....Há uma lógica dentro dessa loucura e a sacada de Jerry Seinfeld e de Larry David é levar o roteiro até seu fim lógico. Se uma bola é arremessada, vamos acompanha-la até ela parar. O modo como se arquiteta tudo é uma aula de escrita: cada história corre paralela a outra e ao fim todas trombam numa coda musical. Jerry não atua, observa e comenta; Kramer é genial, um clown assustador; Elaine é a amiga doida que todo mundo precisa e Jason Alexander faz o mais infame e ridículo dos amigos. A mistura funciona. São tão pouco charmosos que ficamos intrigados. Não fosse tão inspirada seria um desastre.
  Nas famosas listas de melhores da TV eu já vi Seinfeld ganhar como a melhor de todos os tempos. Já vi MASH vencer. E na última que vi Seinfeld era a segunda melhor e MASH a terceira. ( Venceu BREAKING BAD...deve cair com o tempo...).
  Em termos de humor, são os ícones.

REFILMAGENS

   A coisa tá pobre demais. Refilmagens estão acontecendo a rodo. Nada errado. refilmagens sempre aconteceram e algumas são melhores que a original. O próprio Hitchcock refilmou para melhor um filme seu. Mas... depois de assistir as péssimas reprises de O MENSAGEIRO ( o de Losey é um belíssimo drama com soberbas atuações e uma trilha sonora de gênio ), e de LONGE DESTE INSENSATO MUNDO, ( o de Schlesinger esfria o drama de Thomas Hardy e o transforma num perfeito painel sobre o amor e as relações sociais, o novo é apenas um veículo que tenta dar a uma jovem atriz um grande papel ), assisto agora a heresia suprema: ousaram tocar em BRIDESHEAD REVISITED, obra sagrada da minha geração snob.
  Vou falar por partes. O pior nessas refilmagens é que elas não retrabalham uma história. Esses filmes copiam. Todos eles copiam movimentos de câmera, cenários, movimentação dos atores e pasmem!!!!, até mesmo as expressões faciais! A impressão é que os atores não precisaram ler um roteiro, apenas decoraram um dvd. Em Brideshead isso chega ao cômico.
  BRIDESHEAD é um livro problema de Evelyn Waugh. E Waugh, para quem não sabe, foi um dos mais populares dos escritores ingleses dos anos 40-60. Fazia parte da turma conservadora, a turma que nasce com Eliot e segue com Greene, Chesterton, Lewis, Tolkien, Orwell. Em 1981, seguindo o clima do tempo novo Thatcher, a BBC 2 produz e exibe a série de Waugh em 18 capítulos. No elenco o novato Jeremy Irons, a sagrada Claire Bloom e os dois maiores mitos do teatro inglês do século: John Gielgud e Laurence Olivier. Imediatamente a série virou mania inglesa e uma febre Brideshead se instaurou. A nova geração encontrava seu mundo: Oxford, campos verdes, bissexualismo, amor a tradição aristocrática e requinte no vestir. Até no rock a coisa chegou! Em 1983 David Bowie se veste em toda a excursão Serious Moolight como o Sebastian Flyte de Brideshead e grupos como Style Council, Depeche Mode, Spandau Ballet adotam clima e roupas da série. Bryan Ferry não. Ele vivia em Brideshead desde 1974.
  Tudo isso chegou ao Brasil, em tempos pré TV a cabo e internet, em 1988. A TV Cultura, despretensiosamente comprou a série, não dublou e passou às quintas, 20 horas. Estourou no boca a boca. Logo o povo fashion estava se reunindo para assistir a série em grupo. Com chá e morangos com creme. A Folha deu a notícia. A coisa cresceu e em 1991 houve uma reprise.
  Eu fui pego em 1988. Gravava em VHS e reassistia. N vezes. Para aquele tempo, alguma coisa ali nos seduzia como religião. Era o escape de um mundo feio e pobre. A série tinha Jeremy Irons como Charles Ryder, o estudante de classe média que se deixa seduzir pela família de seu amigo aristocrata, Sebastian Flyte. Flyte, gay, infantil e muito bêbado, seduziu toda a audiência. A frescura suave de Flyte virou mania. Uma frescura feita de paletós listrados, cabelo na testa, ursinho de pelúcia na mão, cardigans pendurados nos ombros e cílios longos. Anthony Andrews teve o papel de sua vida e nunca mais conseguiu se livrar dele.
  Mas havia mais. O pai de Irons, um lunático hiper vitoriano, era feito pelo mito John Gielgud, numa atuação genial, e o pai de Sebastian era Laurence Olivier, em uma de suas últimas atuações. Claire Bloom era a mãe carola de Flyte. E a linda Diana Quick fazia a irmã sedutora de Sebastian. Havia ainda uma trilha sonora absolutamente mágica e imagens estupendas de Oxford e de Veneza. Uma série de TV digna dos maiores filmes da época.
  Dito tudo isso, vejo a refilmagem para o cinema, de 2014. E logo vejo a repetição do vício: as cenas são idênticas! A câmera se coloca no mesmo lugar, os sets são os mesmos, e ridículo supremo: os atores imitam até as expressões faciais dos atores de 1981 !!!!!!!!
  Não devem ter lido um roteiro, apenas assistido o dvd da série original !!!!!!
  Mathew Goode no papel que foi de Jeremy Irons até se sai bem. Boa imitação. Mas o Sebastian Flyte da nova versão é um vexame... Anthony Andrews era uma criança grande, seu homossexualismo era sedutor por ser inocente. Ele tinha trejeitos de fragilidade, de mimo. de aristocrata. A gente nunca sabia se ele era gay de verdade ou apenas brincava de fazer sexo com um amigo. E mesmo assim, as cenas de 1981 eram mais explícitas. Beijocas e cama.
  Aqui Ben Whishaw faz um Sebastian Flyte desmunhecado, uma bicha louca exagerada. Nada há de sedutor nele, é apenas ridículo. Emma Thompson consegue ser pior. O papel da mãe é feito de forma caricata. Uma máscara que nunca se move, fria, desumana, nunca convence. A pior atuação da ótima atriz.
  Waaaallll.....mesmo assim, se você tem menos de 40 anos, aconselho que assista. Para quem não viveu a série em seu tempo, pode ser uma bela experiência. O filme, como o livro, fala de fé e de sua perda. Fala da decadência de uma civilização. Falsidade e desejo. E se eu conseguisse esquecer a série ( e é mágica a maneira como fui lembrando de falas e de cenas inteiras ), poderia ter achado este um muito bom filme.
  PS: Só para comparação. No segundo capítulo se mostra pela primeira vez Oxford. A câmera voa sobre a cidade e vemos depois Charles Ryder chegando com bagagens à seu alojamento. A sensação é de êxtase. Aqui repetem toda cena. Tentam fazer igual. A sensação é de ....Ok, vamos em frente....
  Esse o mistério da arte.

O AGENTE DA UNCLE- GUY RITCHIE ACERTA MAIS UMA

   Este filme funciona muito bem porque retrata de um modo não caricato, de um modo confiante, o mais cool dos períodos históricos, aquele entre 1959-1965. O tempo da guerra fria e do medo da bomba, mas também o tempo de Dior, St.Laurent, BB e do cool jazz.
   O AGENTE DA UNCLE foi uma série inglesa que meu pai adorava. Lembro muito vagamente da TV ligada à noite, eu brincando no tapete e os adultos assistindo aquela coisa barulhenta e que eu já percebia ser muito cool e muito sexy ( eu juro que aos 6 anos eu sentia as vibrações daquele momento especial ). A série fez enorme sucesso e depois virou cult. Robert Vaughn e seu personagem Napoleon Solo se tornaram nomes tão icônicos daquele tempo como James Bond ou Inspetor Clouseau. E havia ainda David McCallun no papel de Ilya, o russo do bem ( mais ou menos do bem ).
  As pessoas compram a ideia de que a TV está agora em seu auge. A TV SEMPRE vende a ideia de estar em seu auge. Ela se vende, isso é normal. No tempo de UNCLE havia Missão Impossível e Star Trek, A Feiticeira e Hawaii 5.0...nada mal. Besteira também dizer que o cinema pega hoje atores da TV. Em 1964 Clint Eastwood era um ator de TV e só da TV. Well....
  Guy Ritchie é um bom diretor. Ele tem senso visual, ritmo, e aqui ele consegue ir mais devagar, quase no ritmo de 1964. O filme não é só ação, aliás seus melhores momentos são todos em diálogos. E surpreendentemente os jovens atores se saem muito bem. São bonitos sem parecer bonecos e sabem ser elegantes sem parecer meninos usando as roupas dos pais. O filme tem ainda uma boa trilha sonora que usa despudoradamente os climas que John Barry, Lalo Schiffrin e Qincy Jones punham nas cenas de então. Mas o melhor é mesmo o visual, a doce beleza moderna das roupas, a alegria suave dos objetos, a ousadia otimista dos cenários. Vemos de novo a Roma rica de Fellini e a Berlin cinza dos filmes de espionagem. A diversão se garante. É um filme para a geração que ama MAD MEN e 007.
  Existem falhas, e como em todos os filmes de Ritchie, há uma momento em que o excesso de exuberância cansa. Mas a coisa anda e na verdade já estamos ganhos faz muito.
  Guy é o cara.

JUDEUS RUSSOS, CATÓLICOS PAULISTAS, VITEBSKI E SP. CHAGALL LIDO AQUI.

   Talvez pelo fato de meus olhos serem muito mais refinados que meus ouvidos eu veja nas biografias dos pintores uma beleza maior que nas dos escritores. Começo a ler a biografia de Marc Chagall e imediatamente me apaixono pelo texto que leio. Fico bêbado com as palavras judaicas que descrevem o colorido da vida na cidade de Vitebske, em 1900. Reunidos dentro do império russo, na região que hoje é a Lituânia, a Ukrania, os judeus vivem sua vida que se pauta pelas datas da religião. Isso tudo é fascinante. A tribo que sobrevive a todas as tribos. A sujeira extrema dos pobres na ruas enlameadas, entre bichos e barracos de madeira, e o refinamento dos ricos, homens eruditos e mulheres que trabalham. O Chagall menino, bonito e mimado pela mãe dominadora, vive na baixa, bem baixa burguesia. A mãe é analfabeta, o pai trabalha como um animal de carga. As irmãs, muitas, são quase sombras. O menino Chagall ama a mãe e é correspondido em dobro. Um idilio. Tímido, ele fracassa na escola. Desenha bem. Estuda pintura. 
  Jovem, 18 anos, vai para São Petersburgo. Aguenta apenas um ano e meio lá. Sonha com comida. Dorme em um quarto imundo com seis outros. Divide cama com operário, pulgas e percevejos. Judeus não podem viver em Petersburgo. Ele é ilegal, sente medo. A cidade, construída sobre um pântano pelo czar Pedro, é uma joia de beleza colorida. Uma joia que enlouquece muitos. E por trás dessa beleza vive a favela. Vive o saudoso Chagall. 
  Ele volta a sua cidade e nela vê beleza. Chagall é dos primeiros artistas a perceber beleza na miséria. Sem folclorizar, ele dá a sujeira vida. Ele ama Gauguin, mas cria um modernismo único. Sem contato com Picasso e Matisse, Chagall cria um estilo que é só dele. Se Matisse é um fauve e Picasso cubista, Chagall é chagaliano. Ele vive revivendo cores e sombras de sua infancia. Na cidade feia onde nasceu ele guarda inspiração para toda a vida. É ainda 1909, e Marc Chagall, que lindo, viveria até 1985. Serão 98 anos de vida onde sua Vitebske jamais irá morrer. 
   Estou no trecho onde ele conhece Bella, a filha silenciosa de um rico joalheiro. Vejo as fotos de Bella. E recordo...
  Em junho de 1984 a TV Manchete, uma TV que queria ser chique, passou uma série chamada Conexão Internacional. Roberto D`'Avila viaja à St. Paul de Vence onde vive Chagall. Aos 97 anos ele dá uma entrevista que eu assisto. 1909-1984...Rússia - Brasil...No ano mais decisivo de minha vida eu vejo Chagall e fico emocionado. Após décadas ele parece um anjo.
  1966.
  Conheci também quintais imundos. Milhares de imigrantes europeus vinham para São Paulo e recriavam em suas casas o mundo onde haviam nascido. Nesses bairros de portugueses, espanhóis, italianos, turcos, libaneses, japoneses, judeus, poloneses, sempre havia quintais. Com galinhas, patos, coelhos, pombos, cabras, e às vezes até um porco. Videiras, laranjas, limões, tomates, alfaces, feijão. E rosas, rosas de toda cor. Ao lado dessa vida se tinha o sangue dos bichos sacrificados para serem assados. As tripas, os restos. As fezes que a gente pisava. Uma multidão de cheiros, de cores, de lixo, de coisas vivas, dos caramujos, ratos, sapos e pardais. Lama, porões e as velhinhas andando na rua com véu preto na cabeça. Esse universo de coisas fertilizam uma alma, criam espírito, enchem a cabeça de ideias. 
  Um garoto judeu nos cafundós da Rússia de 1900 pode então unir mãos a um garoto católico dos cafundós do terceiro mundo de 1966. E com mãos unidas vemos a morte de todo esse mundo. E usamos nossa memória e nossa vida para não esquecer. E nesse ato fertilizamos o agora. Alegramos a noite dura. E sorrimos dentro. 
  Entendo.

BREAKING BAD

Estou vendo a caixa de BREAKING BAD. Diversão em dose cavalar. Vocês percebem que é uma comédia? Dou sonoras gargalhadas! O personagem de Cranston é pura chanchada. Adoro!
Sempre leio que esta quarta ERA de Ouro da TV  ( as outras foram em 55/58,  71/75 e 94/98 ), tem por característica o inusitado de seus temas. Que o cinema ficou careta e a TV ficou ousada. Well....mais ou menos.... Os temas podem ser diferentes, originais, mas a forma, o formato é o mais conservador possível. Vejam esta série: Fosse um longa para o cinema o roteiro seria tratado de duas maneiras, ou como filme metido à besta, ou como blockbuster.
Fosse arte, a narrativa seria não linear, os movimentos de câmera esquisitos, a trilha sonora invasiva, e as cenas teriam uma lentidão cruel. Fosse blockbuster teria mais mortes, mais produção e atores mais bonitos. Na TV, Breaking Bad é filmado como era filmado o cinema de antigamente, simplesmente se conta uma história da melhor forma possível. Sem manias de autor e sem exageros de produção. Pega-se o roteiro e se conta o que lá foi escrito. Só isso.
Daí a alegria de roteiristas. Daí a alegria dos espectadores. As ótimas séries de TV são fáceis de entender, boas de se olhar, simples e diretas, narram histórias, criam tipos, nos levam pela mão. Coisas que cineastas de hoje, pseudo-artistas em sua maioria, se recusam a fazer. Eles inventam. E erram muito.
A TV de agora é o cinema de ontem. Breaking Bad é um bom filme dos anos 70. Como são todos os outros. Cinema sem frescura. 
 

O NASCIMENTO DO PARAÍSO ( UM TEXTO PARA 1974 )

Eu me mudara a dois anos. O bairro do Caxingui, mundo dos espaços sem fim, fora trocado pela Vila Sônia, terra de ruas asfaltadas, de casas sombrias e de vielas misteriosas. Agora, em 1974, o Eden se descortinava para mim. Vivi alguns bons anos até agora, 2014, mas 1974 foi um ano muito especial. O ano em que eu descobri quem eu era e quem eu seria.
E tudo se liga à vaidade. Eu havia descoberto ser um menino bonito. Mais que tudo, eu pensava ser já um adolescente. Não era. Continuava uma criança. Foi em 74 que eu começara a andar com o peito estufado. Finalmente a bronquite se fora e agora meu peito, inimigo desde sempre, se tornara meu aliado. Eu me sentia forte. 
Minha mãe resolver reformar o jardim de casa e contratara um jardineiro. Foi na casa desse homem, ao ir com ela tratar do trabalho, casa enorme, cheia de cantos úmidos e plantas esquisitas, que eu vira uma pilha de gibis antigos. Nasceu aí a primeira flor desse Eden. A cor das capas, o formato grande, os títulos chamativos, tudo nessas capas me seduziu. E por uma dessas coincidências descobri que meu amigo José Juscelino tinha uma enorme coleção de gibis. Fizemos uma troca, meus gibis da Abril por esses gibis da Ebal. A troca foi feita em casa. Pronto, eu começava minha coleção de Superman, Tarzan, Batman e Homem Aranha. Por todo esse ano, nas segundas de manhã, haveria o ritual de ir à banca do Negrito, onde cheio de ansiedade feliz, eu compraria meus gibis semanais. Nunca mais, até hoje, eu sentiria tanta alegria ao gastar dinheiro. Nenhuma compra me traria tanta euforia. Ao voltar pra casa, as novas revistas na mão, sentindo o cheiro da tinta e do papel, eu iria ler duas, três vezes todas as 64 páginas. 
O paraíso não pode ser feito só de uma flor. Nesse ano eu descobri o rock também. Certo que desde sempre eu amava os Monkees. Certo que fora ninado ao som dos Beatles e dos Stones. Mas foi em 1974 que eu entendera que havia uma coisa chamada rock e que esse tipo de som me deixava estranhamente excitado. 
Meu pai tinha um restaurante em Pinheiros e aos sábados eu ia até lá, com meu irmão e minha mãe. Meu pai nos comprava carrinhos da Matchbox, umas maravilhas de ferro pesado e rodinhas macias de borracha. Mas meu interesse havia mudado e eu queria discos. O primeiro foi um single do Elton John. Goodbye Yellow Brick Road. Eu já era um romântico sonhador. Meu irmão, um moleque de 9 anos, comprou Alice Cooper. Nosso caminhos se definiam aí. 
Uma coisa muito legal desse tempo é que se ouvia rádio. E ao ouvir rádio, AM, voce era exposto a muita informação. Não existia a segmentação, então voce era obrigado a escutar um pouco de tudo. Sábados de manhã ouvíamos a rádio Difusora. E nela tocava soul, funk, mpb e rock. O que a gente queria era ouvir Bowie, Elton, Paul e Bad Company, mas esperando que tocasse tudo isso éramos obrigados a ouvir Harold Melvin, War, Barry White ou Jackson Five. Isso aumentou nossos limites. Com a segmentação de hoje um cara que goste de Death Metal vai ouvir só isso e um outro que goste de Dance ouvirá só Dance. Chato e pobre...
Na Excelsior tocava outro play list. Slade, Suzi Quatro, Wings e  Shariff Dean. E os bregas de então, Steve MacLean, Roberto Carlos, Benito di Paula e Martinho da Vila. A gente ouvia tudo. Sorrow de Bowie à Onde a Vaca Vai. Odair José e Ronnie Von. Ganhamos um gravador Aiko. Era uma festa! Ainda lembro da primeira música que gravei do rádio: You Won`t See Me, versão com Anne Murray. Houve uma gloriosa manhã em que acordei com Flores Astrais dos Secos e Molhados tocando alto em toda a casa. Era minha mãe. Ela gostava muito dessa canção.
Feira livre, lojas de departamentos, mercado municipal, Ceasa, nada de Shopping Center. 
A TV tinha só cinco canais. Era o bastante. Na Record tinha um monte de desenhos toda a tarde. Kimba, Super Dínamo, Fantomas, Samurai Kid. Na Bandeirantes tinha um cara chamado Titio Molina. Josie e as Gatinhas, Herculóides, Moby Dick e Shazam. Archies. Na Globo, claro, minha mãe via novelas. O mundo parecia ver novelas. Eu via as 5 horas Os Mozzarelas, Os Caretas, Push Cassidy e O Poderoso Cachorrão. Eram modernetes e prafrentex. Mary Tyler Moore estranhamente eu já amava. Porque? Eu nada entendia mas gostava de ver. A voz da dubladora era linda! Hoje sei que Mary foi um marco na TV americana, mas naquele tempo que sabia eu? 
Tinha muito enlatado na TV. Meu pai adorava Cannon e San Francisco Urgente. Foi a época de Columbo, Kojak, MacCloud. Grande era da TV ( uma das várias eras de ouro ). Estranho que as duas melhores nunca passaram aqui: All In The Family e Monty Python. Ainda tinha Os Waltons, Vila Sésamo e Persuaders. E umas esquisitas séries inglesas de sci-fi.  O Mundo do Amanhã, Espaço 2020...E longas novelas da BBC, lembro de Jane Austen na Globo as quatro da tarde.
A Copa da Alemanha foi nesse ano. E eu e meu irmão jogávamos bola no quintal. Alguém falou que aquele que não teve um quintal nunca foi feliz. Além da bola a gente fazia guerras memoráveis. Era um mundo completo. Como completa era a escola. Minha velha escola de corredores escuros, salas com chão de madeira que rangia, carteiras pesadas e professores sérios. As meninas de saias curtas, os meninos cheios de caspa e cheiros ruins. Handball era dado todo dia. Tinha fanfarra. E amigos. Amigos que eu adorava, brigava e fazia as pazes. Cabeludos como eu, sujos como eu, desleixados como eu, sem noção, burros, vadios, andarilhos, como eu. O mundo era uma enorme rua. Com cães no cio, restos de feira, vendedores de livros, bikes enfeitadas e moças de bunda grande. Os caras com seus imensos sapatos de salto alto, calças cor de rosa, boca larga e camisa listrada justa. O peito nú com correntes de ouro.  E as moças de saia curta, sandálias ou botas enormes, blusas de costas nuas e cabelos longos, ondulados, soltos. Cheiros fortes de perfume doce, de shampoo, de sabonete. E muito cigarro, muito whisky, feijoadas, dobradinhas, virados, bife a cavalo, frango a passarinho. Risoto a Catarina. 
Eu via tudo. Não sabia que o cinema tinha O Poderoso Chefão 2, Chinatown e American Graffitti. Não sabia que o Oscar fora disputado por Jack Nicholson, Al Pacino, Robert Redford e Jack Lemmon. Mas queria ver Terremoto, Inferno na Torre e Banzé no Oeste. Nada sabia de Roxy Music, Kraftwerk ou de Lou Reed, mas já ouvia Rebel Rebel. 1974 terminou na praia, onde me apaixonei pela primeira vez. Emerson ganhou o campeonato, Zico era a promessa e o governo de Geisel nos fazia crer que o Brasil era o melhor país do mundo. Não era. 
Mas a rua Dr. Silvio Dante Bertachi era a melhor das ruas.  Recordo tudo isso, 40 anos depois, e sei que o que me resta de melhor está vivo e vindo daí. 1974 nunca morreu. E se tenho saudade, que bom, é porque foi o que foi. Uma afirmação, um abrir de olhos, um aceitar e um grande coração.

WILKER

   José Wilker foi louco. Veja bem, não o tipo de louco que temos hoje. Ele não era o cara que briga em bar ou que se vicia em pó. Ele tinha atitude. E ator com atitude é cada vez mais raro.
   Sempre remou contra a maré. No teatro ele arrasou, e no cinema encontrou seu meio. Conseguia dar uma dose de cinismo esperto até a tola novela em que estivesse. Misturava elegância com doideira e charme com perigo. Foi um grande. Em país carente de estrelas, foi nosso Jack Nicholson e nosso Warren Beaty. 
  Fará imensa falta e sinto pena das gerações que não o conhecerão. É mais um que me educou. Me ensinou a vestir, falar e a não ser besta.
  O palco agora é noutro lugar.