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PELÉ

Paulinho, por qual time voce torce? - Eu torço pelo Pelé! Eu tinha cinco anos de idade e meu pai me dera minha primeira bola, a bola Pelé, marrom, grande, pesada, linda. Eu, como muitos no mundo inteiro, não queria saber de time ou de clube, eu era Pelé. ---------------- Ele será sempre o jogador número um porque será sempre o primeiro em várias coisas: O primeiro a popularizar o futebol nos EUA, Canadá, Africa e Ásia. O primeiro negro do mundo pobre a virar superstar ( fato bastante esquecido esse ). O jogador que fez com que o futebol do Brasil deixasse de ser viralatas ( como dizia Nelson Rodrigues ) e se tornasse vencedor. ( até Pelé o Brasil era uma Holanda, nunca vencia ). Mais importante que tudo, ele veio do interior do Brasil, país que em 1940 era mais pobre que Chile, México, Argentina, Venezuela, Colombia, e se tornou o homem mais famoso do mundo. Jogando bola. Se em 1960 era mais fácil fazer gols, e se portanto seus gols são relativos, me diga: se era tão fácil, por que não tem uma multidão de artilheiros da época com 700, 600 gols? Esquecemos que o futebol de então judiava tanto do corpo, era tão violento, que era raro um atacante jogar até os 30 anos. Para terem uma ideia, Tostão parou aos 28, Rivellino com 34 estava um caco. Uma operação era fim de carreira. Podia-se dar carrinho pelas costas. Não havia cartões. O pau comia solto. Veja cenas de Brasil e Portugal em 1966 e se assuste. ---------------------- Os censores, os seres perfeitos, aproveitam para atacar Pelé. Ele não seria virtuoso. Esse povo percebe que fazem o papel dos frades inquisidores de 2022? O mais cômico é: são fãs de artistas, alguns ótimos, que fizeram e fazem coisas que deixam Pelé parecer um santo. Não é por serem seres humanos falíveis que artistas devem ser execrados. Seu trabalho é brilhante. Voce não precisa amar o homem. Por que com Pelé tem de ser diferente? Por ele não ter a sofisticação aristocrática que absolve um estuprador de menores ou um traficante esportivo? Um ator ou um escultor é melhor que Pelé e por isso podem tudo? Outro fato: esse povo não sabe calar? Têm de dar opinião sobre até sobre o que desprezam? --------------------- Estranhamente fiquei muito triste com a morte do rei... provável que gostava muito mais dele do que eu achava. E os muitos comentários em páginas de jornais gringos só me deixaram mais triste. O mundo amava Pelé. Estrangeiros valorizam Pelé porque nunca tiveram nada nem remotamente parecido com ele. Comparar Pelé com Messi ou com CR7 é como comparar Shakespeare com James Joyce ou Proust. Todos são geniais, mas Shakespeare criou a coisa toda...a atleticidade, o modo de fazer marketing, a fúria por vencer e vencer, o aperfeiçoamento constante. Na copa de 70 podemos notar como perto dos outros jogadores ele parece muito mais atlético. É o primeiro jogador da era da TV. ----------------- O úncio outro brasileiro que poderia, ser comparado a Pelé é também do esporte: Ayrton Senna. Mas é diferente, Senna teve a sorte-azar de morrer jovem. Tivesse Pelé morrido aos 35 seria um mito perfeito. Senna, se vivo aos 65, teria sua vida mudada, podres seriam descobertos. Ele pareceria mais falível. Por fim uma constatação: O abraço de Pelé em Jair, punho erguido, é a imagem mais forte do esporte e talvez a mais bela foto do Brasil. Quem tem minha idade sabe, nunca antes e nunca depois tivemos tanto orgulho em ter nascido< aqui. Pelé nos deu um presente que não tem preço: auto estima. ------------------------- " Pergunte às zebras do zoo quem é o melhor jogador do mundo? Até elas sabem que é Pelé. E por isso, porque até as zebras sabem disso, ele é, foi e será o maior" Nelson Rodrigues em 1966.

COPA DO MUNDO

Não vamos ser hipócritas, a Copa não é mais tão importante. O que a diferenciava de todo torneio de futebol era a chance de unir todos os grandes jogadores em um único mês. Era somente nela que voce podia ver Pelé contra Beckembauer. A cada 4 anos os maiores se mediam. Mesmo que aquele jogo não fosse tão bom, ele era único. Em junho de 1970 o Brasil venceu a Inglaterra no jogo do século. A gente sabia, era coisa única. ----------------- Hoje não pode e não há como ser assim. A Champions League é muito melhor como show e como esporte. O charme da Copa era o fato de que Rivellino, Tostão e Gerson nunca haviam jogado contra Bobby Charlton, Banks e Lee. Eram estranhos dentro do campo. Mais ainda, ver a Inglaterra jogar, ou a Italia ou o Uruguai, era ver outro modo de jogar. Uma Copa era a chance de tomar contato com vários estilos de jogo diferentes. Quando a bola rolava voce sabia que aquilo que voce ia ver era inédito. ----------------- A Copa perde o sentido a partir do momento em que o jogador da Argentina joga o ano inteiro com 5 jogadores da Espanha e enfrentou todos os outros 4 vezes no último campeonato. Esse jogador, argentino, é treinado por um francês, mora em Madrid e cresceu jogando em Portugal. Seu estilo é espanhol. E o estilo espanhol é holandês. A Copa passa a parecer mais do mesmo. Com apenas uma diferença: os jogos são muito piores. ------------------------- Por isso temos a impressão, verdadeira, que a Copa da Espanha em 82 foi a última pra valer. Ali ainda havia a estranheza de se ver um time desconhecido, de se testemunhar a primeira vez que Eder, Oscar, Serginho, Junior, Leandro, jogavam contra Rossi, Antognoni e Conti. Eram "primeiros encontros". Tudo parecia inédito. O Brasil tinha apenas um jogador que jogava fora do país. Nosso jogo era 100% brasileiro. E o italiano 100% calcio. Cada seleção era uma cultura, um modo de jogar, um planeta futebol. Isso dava ao evento seu caráter de festa, de exibição mundial, de coisa RARA. ------------------ Ver o Japão vencer a Espanha apenas testemunha a surpresa que não causa tanto espanto assim. Isso porque tanto Japão como Espanha são mais do mesmo. Modos de jogar que são conhecidos, copiados, estudados, dissecados, até virarem rotina. O jogo, divertido, jamais poderá ser histórico. A lembrança será tênue. A lenda nunca será construída. Ele marca um momento engraçado, mas nunca um momento decisivo. Como esporte Real Madrid e Barcelona é muito maior. Como produto a Premier League é mais excitante. Como fato histórico....bem, Brasil e Inglaterra será sempre maior. E parecerá cada vez mais mítico. -------------- A FIFA, pensando na sua rivalidade com a UEFA, tudo que importa é só isso, irá aumentar ainda mais o número de seleções. Ou seja, nunca mais haverá chance de Itália ou mesmo o Uruguai ficarem de fora. Veremos muitos Bolivia x Coreia ou Gana x Irlanda do Sul. E a imprensa fingirá, claro, que tudo aquilo é relevante. Eles precisam honrar o salário pago pela Coca Cola. Bilhões irão assistir sentindo saudades de um bom Corinthians x Ituano. Ou um Stoke City x Newcastle. Messi fará um gol comum e para manter a audiência dirão que foi gol de gênio. ------------- Falo com conhecimento de causa. Eu era do tipo que via todos os jogos, prestando total atenção. Esta é a primeira Copa que asssito quase nada e pouco me importa quem vai vencer. E na escola observo que a molecada também pouco se importa. Botam a blusa amarela, fazem festa, mas não ligam para o jogo. Voce ficaria surpreso em saber que os 20 garotos mais ligados em esporte da escola são todos fãs da NBA.

Liverpool Demolishing Spurs 7 - 0 ( With Brittish Commentary )

Newcastle V Sunderland (1956)

George Best • The World's Greatest • The Movie || HD

NO TEMPO EM QUE CADA NAÇÃO ERA UM MUNDO ÚNICO

Globalização? Bela porcaria! Cada vez mais as pessoas irão perceber que não haverá a menor chance de fuga. Isso porque cada país, cada cidade será exatamente a mesma. Voce viajará para o oposto de onde vive e lá achará tudo exatamente igual. Vou falar apenas de um país, um país europeu, há quem não o ache europeu, e bastante conhecido: Inglaterra. Vamos até lá no ano em que nasci, 1962, e se estou vivo, não faz assim tanto tempo. No café da manhã voce comeria rins fritos, linguiça, feijão enlatado, ovos e torradas. E uma xícara de chá. Com leite. O jornal estaria à disposição na rua, voce jogaria uma moeda numa bacia e pegaria um. Homens vestidos de preto, chapéu coco e guarda chuva na mão. O inglês falado teria dezenas de sotaques, um para cada bairro de Londres. Aos domingos nenhum esporte poderia ser jogado, era o sagrado dia do cricket. E é aqui que uso o futebol como exemplo de globalismo. Na primeira divisão, nas finais da copas, nos jogos da seleção, jamais podia se jogar aos domingos. Domingo era cricket e cricket era a própria nação. A rodada do campeonato, de todas as divisões, era sexta e sábado, e um jogo na segunda. --------------- O futebol era maravilhoso. Eu sei porque eu vi. O Tottenham era o atual campeão. No ano anterior dera Ipswich Town. Os estádios ingleses eram inconfundíveis. Vou os descrever. ------------- O SOM. Era uma profusão de "oooooh" e de "aaaaaaaah". Durante todo o jogo havia um ruído de xingamentos pesados, refrões sujos, provocações ardilosas. A TORCIDA. Isso era lindo e das coisas mais únicas da ilha. Eram 80 mil pessoas onde caberiam 40. Todos no quase escuro, uma massa de rostos apertados, faces que surgiam das sombras. Todos de preto, bonés de lã. Muita molecada nas primeiras filas. Sem alambrado. Quase dentro do campo de jogo. Clima feroz. A ARQUITETURA. Eram estádios maravilhosos. Eram feitos para pareceram o lar do time. Daí os telhados. O bar no canto. A madeira aparente. O GRAMADO. Quanto mais lama melhor. Fog era bem vindo. O grande jogador era aquele que deslizava na lama. Que sangrava. Que tinha um dente a menos. Todo time tinha um craque habilidoso. George Best no Manchester United é um dos caras mais dribladores que já vi. Mas o ídolo era o centroavante limitado porém forte, duro mas raçudo, o ídolo era aquele CARA QUE ERA COMO NÓS.----------------------- Esse tipo de jogo só havia na Inglaterra. Na Alemanha o jogo era muito mais organizado e treinado. Na Itália se dava valor a defesa intransponível. Na França se dava vez ao toque, ao passe. Na Espanha era o jogo cigano, uma confusão de jogadores estrangeiros. Já a Inglaterra era o jogo da lama, do tempo sempre ruim, do passe alto, da velocidade e principalmente da raça. Assistir, aqui, no Brasil, em 1980, um jogo do campeonato inglês, era ver um dos muitos outros modos de jogar futebol. Em meio a Zico, Falcão, Cerezzo e Rivelino, ver Ian Rush, Dalglish, Keegan, era ver outro esporte. Era único. Era divertido. Era diferente. ------------------- Esse esporte começou a morrer nos anos 90 com a globalização. Hoje se joga o mesmo jogo no mundo todo. O que muda é a quantidade de dinheiro gasto. Os estádios têm o mesmo estilo, as torcidas devem se comportar do mesmo modo, o jogo almeja ser Barcelona ou Real Madrid. Todos querem jogar nos mesmos 8 times. ---------------- Posto três jogos raiz. Divirta-se.

São Paulo 1 x 0 Palmeiras - 17-06-1979 ( Campeonato Paulista 78 )

SERGINHO CHULAPA NUMA TARDE QUE DURA PRA SEMPRE

Alguém postou no Face imagens de 17 de junho de 1979. Momento de um jogo entre Palmerias e São Paulo. Semifinal do paulista. Eu estava lá. Com meu irmão. E mais 120 mil pessoas. ------------------- Chegamos as duas da tarde. Fazia sol. Entramos as três e sentamos na arquibancada. O verde da grama lá embaixo. Havia uma emoção nos jogos de então. As torcidas ocupavam metade do estádio, então havia uma vibração em ver quem ocupava seu espaço primeiro. E observar a colorida beleza das imensas bandeiras. O verde e branco, os periquitos, o vermelho e preto, os bonecos de São Paulo, o santo evangelista. A arquibancada encheu, lotou, hiper lotou. Um cara ficou sentado sobre meus pés. Um de pé ao meu lado. Mal dava pra ver o campo. -------------- Se o jogo acabasse zero a zero, o Palmeiras iria para a final contra meu time, o Santos. O São Paulo teria 120 minutos para vencer e ir à final. As melhores chances foram do Palmeiras. Valdir Peres, goleiro do SP jogou muito bem. Zé Sérgio, o driblador ponta do SP esteve mal. O Palmeiras era melhor. Estava na moda. ---------------- Veio a prorrogação, e aos 10 minutos do segundo tempo, 115 minutos, o desanimo bateu na torcida do SP. Alguns começaram a ir embora. E a torcida do Palmeiras ergueu bandeiras. Os tecidos verdes voavam no começo da noite, agora fria. Mas então aconteceu o milagre. Um cruzamento e Serginho, o Chulapa, pegou de ombro. A bola subiu, silêncio no estádio, absoluto suspense, ela voa uma eternidade, e os santos, caprichosos, fazem ela entrar no canto do gol. Eu gritei. Meu irmão berrou. Todos se abraçavam, riam, pulavam, alguns choraram. Em meio segundo todas as bandeiras verdes sumiram. Eu as vi afundar como navios a pique. E o mar vermelho e preto se ergueu em ondas de alegria. Meu irmão dizia ser esse o maior gol da história do SP. Nem o mundial foi tão eletrizante. Quem esteve lá sabe disso. ------------------ Sendo santista eu entrei na folia. Puxei o coro de Serginho! Serginho! Eu torcia por ele. Ídolo é assim. Só pode ser ídolo quem é amado por torcedor rival. Ele era. Nunca vi meu irmão, tinha 14 anos, tão eufórico. ------------------- Revendo as imagens volta tudo à minha mente. E vejo Serginho rodando os braços louco de emoção. Foi uma epifania. Foi um ritual pagão. Foi lindo pra cara... -------------- Leio nos comentários do video um palmeirense dizer que ficou uma semana sem ir na escola. E que chorou no quarto. Como disse, foi uma tarde que durou para sempre.

A GALINHA DOS OVOS DE OURO ( FUTEBOL E OUTRAS COISAS )

Durante 4 meses, apneas quatro meses, voce assiste todo um campeonato de futebol americano. Cada equipe fará menos de 20 jogos no ano inteiro. E mais, um jogo como Cowboys e Packers por exemplo, só acontecerá a cada quatro anos. Por isso é esse o esporte mais rico do mundo. ------------- Lei básica da economia: excesso de oferta faz com que um produto perca seu valor. Voce pode dizer que o futebol europeu continua rico, apesar da oferta exagerada. Pois eu te digo: poderia e deveria ser muito mais rico. Quantos Real e Barcelona voce viu este ano? Voce ainda sente asniedade pelo encontro ou assiste por tédio? Entendeu? ------------------- A Marvel mata seu próprio cinema por inflação de filmes de herois, assim como nos anos 90 matou seus quadrinhos por inflação de "HQs definitivas". A série de TV que hoje voce adora será esquecida em 5 anos ( quem procura e revê Game of Thrones? Os Sopranos? House? São encalhes em sebos ). Estando à disposição eterna na internet, uma série perderá todo valor rapidamente. A riqueza produz desvalorização: uma pandemia de indiferença. ---------------------- Palmeiras e Corinthians era um evento porque ocorria duas vezes por ano. Se voce perdia hoje, só ano que vem baby. Hoje voce vê esse jogo deitado na sala, entre posts no insta e uma coxinha de frango. Voce vê para dar tweets. --------------------- A NFL sabiamente não aumenta o campeonato. Gente como eu sente tristeza em dezembro, quando o campeonato começa a terminar. E é esse o sentido da coisa, fazer sentir falta. Eu começo a me enfastiar da Premier League. Cansei de ver Liverpool e City. Mas não me enjoo da NFL porque não dá tempo de enjoar. ----------------------- Um atleta não consegue jogar mais de 4 meses um campeonato como a NFL. São muitas contusões. E assim, por acaso, a biologia ajudou o esporte. Por um limite humano o esporte se tornou valioso.

DOIS LIVROS SOBRE UM BRASIL QUE NÃO EXISTE MAIS

   Os dois foram escritos pelo mesmo jornalista: Renato Sérgio. Os dois são da Ediouro e foram editados no começo deste século que já está adulto. MARACANÃ conta a história do estádio que não existe mais. Ficamos sabendo que ele foi um sonho em que mais da metade da população não acreditava em sua concretização. Na verdade ele foi construído para roubar a copa do mundo de 50 da Argentina. O livro, sinto dizer, chato, perde um tempo imenso falando dos trâmites absurdos e kafkianos para legalizar a obra. É política demais, políticos em excesso, burocracia absurda e aquele monte de discursos, inaugurações, blá blá blá que rolou na época.
   Na parte que importa, o futebol, a decepção aumenta, Renato fala muito pouco dos jogos históricos dos anos 50-60, e se joga logo na barrigada de Renato Gaúcho na final de 95, em Edmundo, Romário, Petkovic, ou seja, tudo o que aconteceu no tempo em que o Maior do Mundo já parecia prestes a desabar. Falta glamour.
  O outro livro, bem melhor, é a biografia do primeiro multi mídia do Brasil: Sergio Porto, vulgo Stanislaw Ponte Preta. Ele foi, além do maior carioca do Rio, jornalista, autor de programas de TV, escritor, cronista, e acima de tudo um bon vivant. Foi ele que nos anos 60 cunhou algumas frases que até hoje são repetidas: Em rio com piranha jacaré malandro nada de costas, por exemplo. Outra, que eu considero perfeita para 2020 é: Ele acaba de despontar para o anonimato. Sergio Porto nasceu em família rica, torcedor do Fluminense, amava jazz e samba de raiz. Criou as "Certinhas do Lalau", tipo da coisa que só podia existir no Rio de 1960, todo mês ele escolhia a mulher mais bonita do Brasil que virava um tipo de vedete do país. Bikinis e meia arrastão.
  O estilo de escrita dele era aquele típico do país de então, que foi perdido e nunca mais vai voltar. Uma escrita feijoada, voce vai acrescentando ingredientes e frases temperadas. É uma escrita quente, saborosa, difícil de imitar e boa de ler. Melhor eu dar um exemplo:
" O show do Crioulo Doido tem sido a salvação da lavoura aqui no Rio. Bolado no princípio do ano para aproveitar a temporada de paulistas que surupembavam na Guanabara a espera do carnaval, era pra ficar em cartaz só fevereiro, mas veio março e abril, e o espetáculo agrada mais que banana em jaula de macaco. Começo a desconfiar que há linguiça embaixo desse feijão. "
  É o estilo figurado, a imagem no lugar da explicação, o texto feito pra quem "conhece a receita do angú". O tipo de texto que se escreve hoje irá parecer um tipo de tradução mal feita quando comparado a isto. É o estilo brasileiro, nada lusitano e nem um pouco frio. A turma do Sergio Porto, Millôr, Paulo Francis, Paulo Mendes Campos, todos tinham esse modo cheio de bossa nova de escrever. Quando ele escreve notícias, bem, voce morre de rir: " Ela era uma viúva, ou seja, chegada à um exagero homérico. E por causa disso, era apegada à uma bicharada, no caso, papagaiada. E foram seus papagaios que causaram a celeuma que invadiu a noite do Grajaú e acabou em fogo, pimenta e aracajé. Um tabuleiro da baiana completo". Creia, isso era uma notícia de jornal.
  Mulherengo, casado e pai de 3 filhas ( alguém pode me dizer porque todo mulherengo tem filhas e não filhos? ), ele morreu cedo, aos 48 em 1968. Era pra ter chegado ao ano 2000, e penso no que ele escreveria sobre Sarney, Itamar e cia. Pois foi ele quem criou o FEBEAPÁ, o Festival de Besteiras que Assolam o País. Ele pegava notícias idiotas, fatos imbecis, bem brasileiros, e os publicava. Era um sucesso absoluto. E temo que hoje não seria. Pelo fato de que há tantos idiotas que ninguém notaria a graça do absurdo. As notícias do FEBEAPÁ eram tipo deputado proibindo bikini no interior de Goiás, prefeito inaugurando estrada de ferro sem trem. Tudo fato real, nada inventado.
  Politicamente a posição de Sergio se revela nesta frase exemplar: O capitalismo é homem explorando homem. O socialismo é o contrário.
  Sobre a tropicália: São rapazes vagamente compositores.
  Niteroi, cidade onde urubu voa de costas.
  Ontem foi inverno no Rio. Agora só ano que vem.
  No Brasil as coisas acontecem, mas depois com um desmentido, deixaram de acontecer.
  Mais feio que mudança de pobre.
  Gato escaldado tem medo de água fria.
  Mulher e estrada com muita curva, ambas são perigosas.
  Amor não acaba, se transfere.
  E por aí vai...são frases e frases que entraram na mente nacional. O que me leva à uma constatação: Na atual burrice cinzenta, esquerdista e direitista, onde tudo vira slogan pobre, gente como Sergio seria detestada. Porque ele sai pela tangente, ele vê o ridículo dos dois lados, ele sente que tudo é fake. Forçado. E se não for fake, pior, é doença mental.
   Confesso que a malandragem desse Brasil, seu machismo, sua preguiça, me irritaram em certo momento. Logo me ví vendo Vinicius como um simples petista, Paulo Francis como um americanizado e Sergio Porto como um isentão. Mas acordei e vi que eles eram nada disso. Eram apenas brasileiros, ainda no berço que foi esplêndido, sem procurar minúcias de sentido preconceituoso em tudo que se fala, e exatamente por isso, de fala livre, quente e sensual. Muito da desgraça do mundo de agora passa pela linguagem em camisa de força. Mas isso é papo pra outra noite...

FLAMENGO

   Gente da minha geração, que viu Zico jogar, vê o Flamengo de uma outra maneira. Vemos ele como o maior clube do Brasil. Não, não me aporrinhe. Sou torcedor do Santos e perdi um campeonato, em 1983, para o Flamengo. Gerações vêm o mundo a seu modo, e assim como para quem tem 70 anos o Botafogo é um time grande, para quem tinha nascido nos anos 60, o Flamengo era o maior.
   Entenda novinho e novinha, o Liverpool sempre foi o maior time da Inglaterra, e talvez voce ache, pelos últimos anos, que o Chelsea ou o City são maiores que ele. Se, e somente se, eles continuarem ganhando títulos, até digamos 2030, eles serão tão grandes quanto. Cada um enxerga o mundo de seu ponto de vista temporal, por isso é bom saber história. Amplia seu mundo.
   A vitória do Flamengo é tão importante hoje como foi o mundial de 81. A Libertadores e o Mundial nada significavam aqui, e foi o Flamengo que trouxe de volta a moda de ganhar esses torneios. Agora, em 2019, ele nos lembra que futebol é espetáculo. Show. Diversão.
   O Santos de Neymar já poderia ter nos lembrado disso, mas com uma torcida mediana e cobertura de imprensa ínfima, a coisa passou batida. Um time como o Flamengo, fenômeno nacional, obriga todos a ver o óbvio: futebol pode ser bom de se ver, não só de torcer, e técnico faz diferença.
   Técnico de futebol nunca é muito considerado no Brasil. Culpa da imprensa, que sempre viu todo técnico como um Zagallo, o cara que fala frases motivadoras e dá as camisas no vestiário. Lembro que sempre que nascia um técnico com ideias ele era ridicularizado. Foi assim com Claudio Coutinho. Cilinho. E mesmo Telê Santana. Hoje eles elogiam as ideias diferentes do Mister, mas nunca tiveram paciência com Carpegianni. Nos últimos 25 anos vivemos a glória so boring de técnicos ao velho estilo gaúcho: raça e contra ataque. Mais vale um chutão pra frente que uma tentativa de tabela. Nesse mundo, tanto faz se o cara se chama Muricy ou Abel, Filipão ou Mano, Cuca ou Levir, todos são o mesmo, gaúchos em estilo, falastrões em alma. Luxemburgo foi a ideia que traiu seu criador. O ego o venceu.
   Vejo muito menino de escola surpreso. OH!!!! MAS O FLAMENGO É ASSIM? Eu explico pra eles: Sim, ele é assim. Imenso. Com alguma organização ele cresce como souflé e domina o cenário como Juventus. A tendência é a torcida aumentar ainda mais.
  Quanto ao meu time.....weeelllll preguiça de falar dele.....

CAMISA QUE PESA

Camisa que pesa: Nada mais bobo para se dizer sobre o futebol. Camisas pesavam na época da falta de informação. O cara ouvia falar de Pelé e dos feitos do Brasil e quando via um bando de desconhecidos usando a blusa amarela tinha a sensação de jogar contra lendas. Zé Maria, Valdomiro ou Dadá viravam jogadores temidos por usarem a blusa pesada. Ninguém de fora do Brasil sabia o quanto eles eram ruins.
Não há mais camisa pesada porque hoje não se joga contra uma camisa lenda, se joga contra um time de jogadores muito conhecidos. O jogo é entre pessoas que se conhecem, que jogaram contra em seus times, ou pessoas que jogam juntas o ano inteiro. A camisa se tornou apenas uma cor, uma lembrança do passado, não mais o único sinal conhecido.
A gente não sabia nada sobre Overath. Apenas que ele usava a camisa da Alemanha. Então ele deveria ser dono da mística da camisa branca. Hoje saberíamos que Overath era um grande meia armador. E provavelmente companheiros de dois ou três adversários. Cruyff jamais seria uma surpresa hoje. O fato da camisa laranja em 1974 não ter peso nenhum ( era mais leve que a de Portugal ou do Perú ), nada significaria. Do outro lado Zagallo e Rivellino veriam jogadores pesados. E não anônimas camisas laranjas.
Como na Euro, a tendência da Copa é ter cada vez mais campeões inéditos. França e Espanha são a tendência. Foram dois inéditos em 20 anos. E teremos neste ano uma final nunca vista. O futebol se globalizou, E o que vale é o aqui e agora. O passado tem de ser conhecido. Mas é  isso. História.

PRA ONDE FORAM TODOS ESSES CARAS...

   Uma das coisas mais bobas que a gente pode ver hoje é o povo em um show de rock. Falo dos grandes shows, tipo festival ou arena. É uma multidão de pessoas limpinhas, bonitinhas, tirando fotos e gravando o seu prazer e a sua sorte por estar lá. Tudo fica parecendo tão posado como o show em si. Até a viagem de droga parece posada.
   No futebol a coisa ficou ainda pior.
   A gente ia ao campo pra ver o jogo, claro. Mas principalmente pra ver a torcida. Quem entrou no Morumbi com 120000 pessoas e uma floresta de bandeiras, faixas, confete e tambores sabe do que falo. Mesmo o jogo mais ridículo, e eram muitos, virava festa. O ingresso custava o preço de uma Coca e um hot dog. A loucura era free.
  Escrevo isso após dar mais uma lida no Febre de Bola, do Nick Hornby. E posto um dos jogos ícone dele: Leeds e Arsenal em Wembley. Mesmo no frio Wembley a gente sente a energia. E os jogadores, todos com rostos de loucos ou de caminhoneiros, dão o sangue para estar ali. A violência corre solta e eu não a defendo. Mas há algo de visceral nesse jogo selvagem e bretão, jogo que hoje só podemos ver na várzea. E pra onde foram esses garotos desdentados na arquibancada, os mesmos que formavam bandas de rock sujas, jogavam bilhar nos pubs e trabalhavam nas minas de carvão...
  O futebol hoje é melhor jogado. Mas ao mesmo tempo ele tem uma limpeza, pretensão à classe alta, terminologia classe média, que fez dele um tipo de show da Broadway, exatamente o que aconteceu ao mesmo tempo com o show de rock. 
  Nick Hornby fala muito dos Buzzcocks, e eles, a banda, tinha dentes horrorosos e caras feias. Vejo num video que o ponta esquerda é banguela ( do Derby County, campeão êm 1972 ).  Hornby fala que fãs de rugby ouviam Mozart. Os de futebol ouviam soul music e pegavam em seios de meninas.
  Bem...hoje nem todos ouvimos Mozart. E não pegamos mais em seios de meninas. Mas todos nós somos torcedores de rugby. Isso sim é verdade.

Leeds United vs Arsenal FA-Cup final 1971-72



leia e escreva já!

Flamengo 2x1 Vasco [Final Carioca 1981]



leia e escreva já!

ZICO com ROBERTO ASSAF e ROGER GARCIA

   É um lindo livro sobre um jogador muito especial.
   Acompanhei toda a carreira de Zico, desde 1975, quando começou a se falar nele, até o final. Depois disso, sua moral nunca mais caiu. Depois da era Pelé, Zico é o mais inatacável do jogadores. O cara tem caráter. Conseguiu sobreviver a dois terremotos que teriam derrubado qualquer outro.
  Primeiro o imenso preconceito que havia em SP contra o futebol do Rio. Zico foi até 1981 considerado uma invenção de carioca, uma tentativa do Rio de criar um novo Pelé. Por melhor que ele jogasse, por mais gols que fizesse, ele era chamado de enganador, falso, um mero produto. Mas eu vi a mudança. Foi exatamente em 1981. Nesse ano, com o Flamengo que tinha Tita, Raul, Adilio, Andrade, Junior, Leandro, ele ganhou mais de 15 troféus em um ano! Dois torneios na Espanha ( num deles vencendo o Barcelona ), mais um na Colômbia. Depois o carioca, a libertadores, o mundial e mais alguns outros torneios. Eu vi Zico no Morumbi vencer o São Paulo de Serginho, Renato, Daryo Pereyra, Oscar; depois voltar e vencer o Corinthians, o Palmeiras, o Guarani. Eram sempre grandes jogos, mais de 90.000 pessoas, placares tipo 4 X 3, 3 X 2...
  Depois ele venceu o azar histórico de não ter ganho uma Copa do Mundo. Jogou as de 78, 82 e 86. A da Espanha era sua copa. Deu no que deu. Mas ele sobreviveu. Passou sem mácula.
  Ele era um atacante. Um cara que pegava a bola na linha do meio e ia tabelando, tocando curto até dentro da área. Driblava, mas seu grande dom era o passe. Ele tocava e quando recebia de volta já sabia o que fazer a seguir. E acima de tudo ele fazia gols. Muitos. Centenas. Só em 1979 foram mais de 70. Vi dúzias de vezes ele vencer sozinho, desequilibrar um jogo amarrado. Mas cima de tudo, Zico amava jogar. Ele sorria.
   Este livro mostra sua infância, livre, na ZN do Rio. O pai, que o educou e fez dele um homem honrado, os irmãos, todos jogadores bons de bola, o casamento com a namorada da adolescência. Uma vida que parece abençoada, protegida, mágica.
  Ler a vida de Zico é ler uma vida boa e do bem.

BOTAFOGO- SÉRGIO AUGUSTO, MAIS QUE UM CLUBE

   Didi ganha um campeonato. Sai do estádio, e para cumprir a promessa feita, volta a pé para casa. Foram 132.000 pagantes, e em meio aos fãs, vemos fotos dele andando, terno e chapéu. São oito quilômetros entre risos, abraços, respeito. Isso é o Rio de 1959.
  O Botafogo foi dois, já nasceu esquisito. Havia o Botafogo de regatas, fundado no século XIX. Regata era o esporte número um da cidade. E depois, em 1903, um grupo de meninos, de 14 anos, fundou o Botafogo FC. Só nos anos 30 os dois se unem e surge o Botafogo de Futebol e Regatas. É o único clube fundado por adolescentes, na rua, no improviso. A estrela é símbolo da Estrela D'Alva, a primeira estrela que os remadores vêm quando treinam as 5 da manhã.
  A história do clube é história de enormes vitórias e imensas crises. Sempre foi assim. O grande rival é o Fluminense, o queridinho do poder. O Botafogo é o time dos intelectuais, dos artistas.
  ( Aqui um adendo. Um time deve manter seu caráter! O Flamengo é o time da massa, o Flu do poder, o Vasco dos portugueses e da ZN, sempre o mais odiado, o Bota dos esquisitos. Aqui em SP, vemos uma descaracterização de alguns clubes...O Santos se mantém como o primo pobre e chato, com seus sonhos de requinte; o Palmeiras continua o clube da italianada e da região da Barra Funda, mas o clube do Morumbi está perdido, assim como o Corinthians. Me parece que os dois estão trocando de papéis. )
  O Botafogo teve Heleno de Freitas. Didi. Garrincha. Nilton Santos. Gerson. Jairzinho. Paulo César Cajú. Desses eu vi jogar três. Gerson foi o maior passador de bola que já vi. Jair foi um artilheiro perfeito. E o PC tinha uma habilidade rara. Fazia o que queria com a bola grudada no pé.
  Mas a gente ainda pode falar de Mario Sergio. De Marinho Chagas. De Valdeir. Manga. E do Biriba. Biriba era um vira lata preto e branco que entrava com o clube nos jogos do Maracanã. Amuleto. O Botafogo foi o time do Zagalo né...e Amarildo. E do João Saldanha.
  Era um tempo de ingresso barato e de estádios lotados. Disso eu lembro também. De ir ao Morumbi e achar que o público estava fraco...só 80.000 pessoas...O Maraca com menos de 90.000 parecia vazio. A rotina era 110.000, 120.000 pessoas. Futebol era festa, muita festa e isso passava aos jogadores que então festejavam. Mais que um clube, ler sobre o Botafogo é ler sobre uma época morta, mas linda.
  Sérgio Augusto é um crítico de cinema que fez minha cabeça nos anos 80 e 90. Depois perdi sua pista. Escreve melhor que o Ruy Castro. Mesmo estilo, mais saboroso.
  Infelizmente não sou Botafogo. Não sou do Rio. Mas dá uma vontade danada de torcer pelo time da estrela solitária.

JOHANN CRUYFF...O MAIS NOVO DOS FUTEBOLISTAS.

   Ele só poderia ter existido no tempo em que existiu. Filho do mundo europeu pós-guerra, explodiu com a liberdade da Amsterdan de 1969. Ele mudou tudo. Tudo. Sem ele não haveria Telê. Nem Tite. Nem Barça, Milan de 89 ou Alemanha de agora. Cruyff fazia gols, corria, marcava, orientava, e se divertia.
   Eu vi a copa de 74 e lembro do choque. O futebol morria, o futebol de até então morria. Cronistas mais velhos chamavam aquilo de correria tola. Os mais novos sabiam: era uma revolução. Até hoje o melhor futebol que se joga é isso: rapidez, solidariedade, toque, simplicidade. Cruyff foi o cara.
  Por mais que se elogie seu legado será pouco.

FUTEBOL BRASILEIRO, EUROPEU E A NFL. O ESPORTE ESCANCARA UMA NAÇÃO.

   São feios os estádios americanos. E modernos. E muito, muito grandes. O povo assiste do modo americano, consumindo. Bebem, comem, compram coisas. Durante o jogo. Ninguém pula, gritam muito. 
 São chamados de Arenas os campos europeus. Tentam ter uma estética, afinal, Europa é coisa fina. Mas costumam ser apenas empetecados. O povo assiste enrolado em écharpes e sentados com conforto. Os Hooligans mantém a tradição do velho esporte bretão. Aliás a FIFA é tão tradicionalista quanto a rainha Elizabeth. Nada muda nas regras, não se pode desvirtuar o esporte. Nasceu assim, morre assim. Coisa de sistema de classes.
 O Futebol Americano muda se precisar. Aliás lá tudo muda se for pra dar mais ibope. Tem um monte de juiz, um monte de tecnologia. A tradição que se dane. O que importa é o show.
 Os clubes de futebol têm donos na Europa. Mas são chamados de presidentes. Questão de semântica. E podem até falir, ou sumir aos poucos, mas não podem deixar de ser aquilo que são. Se nascem Hamburgo, morrem Hamburgo. E em Hamburgo. Mesmo que a cidade um dia os esqueça.
 Na América eles são franquias. Podem mudar de cidade e até de nome. O que importa é serem sempre competitivos. 
 A América quer que todos possam ser número um. E se enfraquecer, se reinventa. A Europa quer que todos sejam sempre o que sempre foram. Mesmo endereço, mesmas cores e mesma torcida.
 Um jogo de futebol americano tem, ao contrário do que dizia a Bandeirantes do Luciano do Valle, estrelas. O quaterback é 0 cérebro do time. Time bastante especializado. Um time de defensores, um time de atacantes e um time especial. O jogo tem pausas para se ir à geladeira, ao bar, para se comprar. E todos os atletas vieram de uma universidade. Não existe jogador analfabeto.
 Na Europa voce até pode ser analfabeto. Mas tem de saber usar gravata. Técnicos americanos usam moleton. Jogadores europeus usam terno. Técnicos se parecem com advogados. 
 O futebol americano tem violência organizada. E cada jogador sabe dezenas de jogadas ensaiadas e decoradas. O europeu finge ser educado, mas a violência existe. Ela é discreta. Como o doping. Eles gostam de pensar em talento individual. Mas a maioria é apenas um operário. Europeu. 
 O jogo dura 3 horas na América. E nunca termina OxO. O público paga pra ver gol. E o show oferece tudo o que pode.
 Na Europa se deve preservar a tal pureza do esporte. Ela ainda é o que era em 1865. Pode ter OxO e nada se fará contra isso. Sangue azul, entende?
 Cresci vendo futebol europeu. Sei o que significa o Liverpool, o Milan ou o Ajax. Sei de suas histórias, amo George Best, Pirlo e Crujff. 
  Sua tradição me encanta. Genes europeus em mim, saca?
 Mas ando vendo TODOS os jogos que a ESPN passa da NFL. Já sou um torcedor, sei todas as regras e sei o que significa um time como os Steelers, os Cowboys ou os Bears. E torço pelo Green Bay, por ser, claro, o time mais tradicional, e ser um pequeno ( a cidade tem apenas 200 mil habitantes ) que virou grande. ( Santos? ).
  Eu ia falar do futebol daqui. Brasil.
  A gente tenta, como em tudo, ser europeu. Mas nosso DNA está mais próximo da América, óbvio.
  Ficamos então num tipo de UEFA bagunçada ou NFL com medo de ousar.
  Nossa torcida vai ao estádio como índios pelados em pé de guerra. E nosso jogo é uma mistura de covardia com falta de inteligência. Nosso jogador cai ao chão e rola de dor. Um jogador da NFL sentiria vergonha em parecer tão frágil. Eles caem no chão, após uma hecatombe, e se erguem logo, para mostrar que nada sentiram. A gente chora. Eles mostram os dentes.
  Eita Brasil...
  O esporte mostra tudo aquilo que um país é.
  Comentarei brevemente a NBA comparada a Tour de France e a liga de Volley do Brasil.