AS LIGAÇÕES PERIGOSAS - CHODERLOS DE LACLOS

   Houve um tempo, entre 1969 - 1980, em que as editoras lançavam livros luxuosas em bancas de jornal. Se você é mais jovem, deve pensar que estou falando dessas edições muito ruins lançadas neste século, já na agonia das editoras. Eu falo dos livros de capa dura, com títulos em ouro, páginas macias e leves, fonte clara e de bom tamanho, livros dignos de seus autores. Foi uma época maravilhosa para começar a ler, e lembro de uma nota de jornal, em que numa visita ao Brasil, um famoso autor de língua inglesa ficara espantado com os autores que eram vendidos em banca de jornal.
  Minha edição de As Ligações Perigosas é de 1979. E é digna de um livro tão delicioso. Dizem que ainda hoje, toda a psicologia amorosa do livro é válida. Penso que sim. Os movimentos do coração aqui descritos são eternos.
  Laclos foi conhecido como nobre e militar, não como escritor. Venceu batalhas e escreveu sobre elas. Passou ileso pela revolução. E como todo grande homem, ela não pertence apenas a seu tempo.
  De todo modo, Laclos esperava passar à posteridade como diplomata e general, é lembrado duzentos e cinquenta anos depois como escritor. Mas por pouco tempo. Este livro caminha a largos passos para o esquecimento.
  Esta obra contém três fatos da vida real que se tornaram tabu nestes tempos de faz de conta: Valmont seduz uma menina de 15 anos. Pedofilia. Todas as cenas de sexo são um tipo de estupro. E as mulheres se dão como servas ao homem que as seduz. Todos esses pecados são fato. É claro que me incomodam. Mas não é por não se dever escrever sobre eles que magicamente eles deixam de existir. Mas quero dizer que uma leitura mais profunda revela algo mais complexo, e bem mais atual...
  Merteuil, uma mulher, é personagem atemporal. Moderna. É uma mulher que tem prazer na cama e faz o que quer quando quer e com quem quiser. Ela é castigada ao final, mas esse castigo não convence. Laclos ama Merteuil. E ele conduz Valmont, numa campanha que parece tática militar, à uma derrota absoluta. Ciumenta, ela exige que ele seja dela, mas ele se apaixona por uma bobalhona, e Merteuil o destrói.
  Valmont é o Casanova francês, conquista pelo prazer de vencer, de dominar, de possuir. O amor não entra nessa batalha. Cada mulher é uma tropa a ser tombada. Mas ele é pego pela única que resiste. E se apaixona sem ter consciência de sua paixão. É fantástico ler como sua mente cria desculpas para sua demora, para suas exitações, para seus cuidados. Ele a ama, e não sabe que aquilo é amor. Mas Merteuil sabe, e odeia isso em Valmont. Ela se divertia com cada nova sedução dele, mas não pode perdoar o fato de ele ter a traído. No mundo dos dois todos os crimes são perdoados, menos a humanidade.
  A psicologia do livro é brilhante, a mente de Valmont e de Merteuil está viva em cada página. Mas só dos dois. Os demais personagens são apenas tipos, são uma espécie de motivo que faz com que os dois reajam. Há já uma pitada de romantismo na seduzida-culpada-sofrida Tourvel, mas o livro transborda iluminismo. Tudo é conduzido de forma racional. Quando surge a irrazão, pronto, eles afundam.
  Escrito em forma de cartas, vemos também como vivia a elite francesa por volta de 1770. As cartas eram trocadas às vezes até 3 vezes no mesmo dia. Voce remetia uma de manhã, recebia a resposta às duas da tarde, mandava outra em seguida, e ainda era lido pelo seu confidente de noite. Ele escreveria a resposta, enviaria, e de manhã voce já poderia ler outra carta. Dizem que na Inglaterra o correio era ainda mais veloz.
 

O DIA EM QUE STALIN REEDUCOU OS ROLLING STONES

   Amigos queridos e desqueridos, o mar não tá pra peixe. Acabo de ser testemunha de um dia inteiro de ofensas de esquerdistas e ditadores eugenistas de araque. Explico:
   Faço parte do facebook de um grupo de fãs dos Rolling Stones. Pois bem, esse grupo foi tomado por um bando de homens brancos esquerdistas que se auto proclamam donos da verdade e guardiães da alma pura da maior banda de rock do mundo. E sendo assim, se sentem no dever de humilhar e expulsar quem não seguir as normas stalinistas que eles imaginam ser a única verdade.
   Seria cômico, mas é bobo apenas.
  Desse modo, eles intuem que por eu ser de direita não compreendo a banda, não sei do que se trata e pior, NÃO TENHO O DIREITO DE FALAR DA BANDA. Sou um ignorante a priori. O objetivo deles é claro: fazer com que eu saia ou pior, peça desculpas por ser quem eu sou. A tara por expurgos do comunismo mais retrógrado chegou ao rocknroll.
   Quem quiser saber como é minha relação com a banda basta digitar Rolling Stones neste blog. São dezenas de escritos. Analiso meus discos favoritos. Musicalmente e filosoficamente. Mas para esses eugenistas isso pouco importa. Sou conservador e quem é conservador está proibido de ouvir Stones.
   Há neles algo de muito primitivo e perigoso, o desejo de pureza. O sonho deles é que todos na comunidade sejam idênticos. Mesmos gostos e mesmas fés. É um tipo de fascismo. Mais que estético, o fascismo que não suporta fazer parte de um grupo que tenha quem pensa diferente. Tive de ler aulas sobre o Banquete dos Mendigos! O que ele é e o que significa. Teses que provariam o petismo dos Stones. Traduções de letras que deixariam claro o amor de Mick Jagger pela luta do proletariado. Sim, é engraçado. E bastante ridículo. O rei do jet set mais snob como paladino da justiça social. Um idiota chega a dizer que eles são a segunda banda mais politizada do mundo ( hahahahahahahahah ). Estariam os Stones à frente de Clash e Gang of Four? Seriam mais à esquerda que Bob Dylan e Robert Wyatt? Pra eles sim. My God! O que o fanatismo não faz....
   Ah sim, a mais politizada para ele é Rage Against...isso mostra o que ele anda desouvindo.
   Mick Jagger é contra a queimada da floresta. Eu sou e voce é. Qualquer um que não seja uma besta será. E Mick não só é inteligente como tem um filme para vender. Os stalinistas pegam essa declaração óbvia e criam todo um discurso sobre o ódio de Mick à Moro. Pois é.....as aulas de leitura de texto andam bem mais fracas do que eu pensei.
   Para terminar, um delirante patrulheiro maoísta diz que Sweet Black Angel prova o esquerdismo radical de Mick. Angela Davis era uma comuna guerrilheira e Mick a homenageia. Não ocorre ao ser babante e baboso que Mick fala do absurdo de a terem prendido. E também não lhe ocorre que Mick se alinha assim ao Partido Democrata Americano, aquele de Kennedy e Roosevelt. ( Mick transou com Angela, mas isso não importa...ou importa? ).
   Reducionistas dos mais infantis, eles me recordam a idiotice dos patrulheiros ideológicos de 1979, que cobravam de cada artista brasileiro um claro e inequívoco compromisso com a esquerda. Ou voce é como nós ou será um pária social.
  Questão final: Mas não era apenas rocknroll?

VOCÊ É LIVRE. INFELIZMENTE.

   Leio a tal apostila que fala de gênero sexual para crianças. O texto é inofensivo e não faz mal algum. Uma criança que leia aquelas linhas mal entenderá do que trata. Como tem ocorrido tanto, muito barulho por nada.
  Mas há um problema adulto nesse fato. Lendo o texto, percebo que se faz uma força imensa para se negar o óbvio. Sofismo, dos mais baratos, para afirmar que sexo é ficção, construção social, escolha de cada um. Bem, isso não seria problema se não escondesse um problema maior, a infantilização dos adultos.
   Vivemos um tempo de supermercado. Tudo está a sua disposição, para seu conforto, e desde que voce possa pagar, tudo que se oferece é seu. Desse modo, vivemos a ilusão de que querer é poder. Uma fé muito de criança e nada adulta.
   Voltando ao texto. É claro, que é muito saudável, voce escolher se quer fazer amor com homens ou mulheres. Mas negar o fato de voce ser um homem que se sente mulher é um absurdo. Para que serve negar a biologia básica e real? A verdade e que é macho quem produz espermatozoides, é fêmea quem produz óvulos. Qual o pecado em se dizer: Sou uma mulher que tem personalidade de homem. Por que a necessidade de dizer que personalidade não é biologia, não é corpo, química, matéria? Se dá a prioridade à alma e se nega o corpo. Isso é perverso! Pior, é infantil. Basta querer ser mulher e pimba! Voce é mulher!
   Vivemos esse tempo: Achamos que amamos a ciência, mas o que amamos são seus frutos, não suas verdades. Se queremos crer em terra plana, vida de ETs ou na alma angelical de meu cão, não há problema, a ciência "prova" isso. Na verdade não prova e não é ciência. É desejo infantil.
   Por crescermos com pais que nos "amam" mas pouco nos educam, temos a fé de que o mundo é o que pensamos dele. Se a gente desejar com fé, tudo acontece. Mais, a verdade é relativa, ela inexiste de fato. Nada mais confortável que acreditar que a verdade não pode ser apreendida. Isso nos livra da necessidade de esforço para a alcançar. Basta pensar no que eu acho que desejo: eis a verdade automática.
   Se o gênero sexual é apenas uma construção mental, então posso modificar em 100% sua verdade. Basta pensar diferente e serei diferente. Eureka!!!! Mas há a maldita ciência biológica....
   Isso me leva a falar da liberdade. De todas as ilusões infantis, talvez a mais nociva seja crer na liberdade. Queremos crer que somos livres para fazer e ser o que nossa mente quiser. Podemos viajar, abortar, transar, se matar, falar, olhar, comer, se drogar, mudar o corpo, mutilar, tudo tudo tudo....mas existe a maldita biologia....e ela estraga essa tola liberdade...
   A biologia nos obriga a morrer. A ter fome mesmo não desejando comer. A ir ao banheiro mesmo em meio a uma viagem. A se coçar num jantar chique. A biologia nos fala que não somos livres. Somos limitados por nosso corpo.
  Então como crianças mimadas nós gritamos: o sexo é questão de escolha, obeso é feliz, o feio é relativo, se voce quiser que seja, a morte será uma good trip, posso reprogramar meu DNA, o câncer é emocional. Tudo remetendo para fora do corpo, tudo tentando em desespero nos dar a ilusão da liberdade de escolha. Em extremo eu escolho minha morte: morro onde e quando eu quiser.
  Nesse mundo tolo, não há possibilidade de felicidade mínima. Isso porque ser feliz é estar confortável dentro de algo. Se voce vive fora de família, regras, leis e até de seu corpo, tudo que voce saboreia é vazio. Voce está dentro de seu corpo, mas não crê nele. A felicidade é aceitar. E voce nada aceita, apenas quer.
  Eu comecei o texto com a intenção de dizer que em um mundo onde todos são artistas, obviamente a ciência é uma intrusa. Mas falo disso outro dia.
  Só para terminar, devo dizer que a religião também caiu nessa. É hoje um supermercado de pedidos a curto prazo. Ter fé é poder. E voce, tendo fé, pode fazer o que quiser. Liberdade pura não é?

LIBERDADE PRA QUÊ?

   Leio a tal apostila que fala para as crianças sobre opção sexual. Como já esperava, ela é tola e inofensiva. Muito barulho por nada. O que discuto aqui é porque se escreve um texto tão burro.
   Vivemos um tempo infantil. Como crianças, cremos que querer é poder. É provável que isso aconteça não só por termos pais que nos amam e não nos educam, mas também porque viver se tornou relativamente fácil. Podemos passar anos e anos sem quase morrer e sem ver alguém morto. Antes os enterros e toda sua crua realidade eram parte da rotina do dia a dia.
   Continuando...A biologia nos diz, com imensa simplicidade, que produzir espermatozoides faz de mim um homem. E produzir óvulos faz de voce uma mulher. Só isso. Uma verdade sólida, real e comprovada. Isso não impede que voce queira ser trans. Isso não impede que voce queria amar gente de seu sexo. Isso não impede nem mesmo que voce seja assexuado em gostos e comportamento. Mas veja, gosto e comportamento, não realidade biológica.
   Mas vejamos, qual o problema em se falar: Sou um homem que se sente mulher. Sou um homem-mulher. Qual a necessidade do sofismo barato do texto da tal apostila, que faz um malabarismo vazio e tolo para afirmar ao final que a biologia é questão de querer? De escolha. De desejar ser. Ora, isso não é ciência, é brincadeira, jogo de crianças. Hoje quero ser o Homem Aranha, então sou o Homem Aranha. Sinto muito pequeno Paulinho, voce é uma criança que faz de conta ser o Homem Aranha.
   Nessa equação é lógico que entra o produto mais valorizado do supermercado mundial: a liberdade. Temos a fé, e ter fé é o que "conta", que somos livres. Podemos abortar. Nos drogar. Ir e vir. Falar o que quiser. E no extremo somos livres até para escolher nossa morte. Dentro desse mundo, eu escolho meu sexo. Se me sinto mulher, eu escolho ser mulher. Pouco importando se produzo espermatozoides. Isso é "apenas" um detalhe. Mas....surge a biologia...e com ela nosso corpo real. E por mais livres que nossa fé diga que somos, ainda assim nosso corpo nos obriga a comer mesmo quando não queremos, a defecar mesmo em meio a uma viagem, a envelhecer, mesmo com gastos altos em estética, a menstruar, a ejacular, a sentir dor, a ter dentes podres, a perder cabelo, a morrer. Nosso corpo nos grita todo o tempo que afinal não somos livres. Estamos presos a tempo e a necessidades.
   Daí nosso ódio à biologia e a tentativa de transformar tudo em escolhas. A transformar o real no irreal e a fé em verdade. Gordo é escolha, morrer é uma viagem ao mundo melhor, envelhecer é pra quem não sabe se manter jovem, e sexo é escolha. Somos um povo que ama os produtos da ciência, mas que a odeia enquanto fato real.
   Nesse tipo de mundo a verdade se torna sempre relativa. A verdade depende de seu gosto. A verdade não pode ser aceita pois ela nos prende à....verdade verdadeira e final. Ela nega a liberdade de crer no que se quiser crer.
   Nesse tipo de mundo, o mundo é plano ou é uma explosão, tanto faz, se voce tiver fé será válido. E a igreja, reino da fé, se torna um tipo de poço dos desejos. Tudo será concedido se voce crer, e nada lhe será exigido se voce assim o desejar.
   Felicidade nesse mundo infantil é impossível. Pois ser feliz é aceitar de forma profunda a imperfeição da vida e do mundo, sentir-se dentro da realidade e compartilhar essa verdade. No mundo do desejo mágico é cada um na sua, criando sem parar uma realidade individual feita de fé e de relatividade. Cada um na sua.
   Eu comecei o texto querendo falar de que em mundo onde tudo é arte e todos são artistas, a ciência se torna um tipo de primo mal vindo. Um estraga prazeres. Mas meu desejo me trouxe até este texto. Sim, sou livre para escrever aqui. E o que escrevo não é ciência, pois cientista não sou. Mas não penso magicamente que escrevo filosofia, ou arte, ou que ajudo alguém. Escrevo o que posso para ser lido por quase ninguém. É só isso.
  Todo o resto é magia.

MINHA VELHA VELHA ESCOLA

   É um final de tarde de primavera. O sol generoso parece fazer sorrir o chão e as fachadas dos edifícios anos 50 das ruas. Passo pelos portões e estou de volta após 40 anos distante.
  Não há emoção nos primeiros passos, mas após alguns segundos olho para o lado esquerdo e vejo uma alameda. Os pequenos prédios de tijolos marrons, as árvores com suas sombras calmas, as escadas que levam às portas de madeira escura, as janelas altas...meu coração se alarma. Sim, eu estou de volta ao lugar onde fui completamente infeliz. E o que sinto é apenas alegria.
  Lágrimas brotam nos meus olhos. Eu poderia me ajoelhar e chorar. Eu sorrio então. Minha alma sente-se em casa. Como posso sentir coisas boas se estou aqui?
  Lá está a construção onde eu estudava. Seu aspecto limpo e funcional. Uma fachada que sorri, aberta, clara, permitindo luz. Aqui a praça cercada, bancos, e depois os caminhos onde eu me escondia. E então a biblioteca. Alta, o aspecto de igreja sem Deus. Elegante e vitoriana. Escura, sombria, úmida, linda. Eu a beijaria se estivesse só. Nela tenho lugar. Ninho. Completamente em casa.
  Se lá fui tão infeliz, e sei que fui, e agora me sinto em casa, então a conclusão me vem: É porque a tristeza que eu sentia então, hoje me parece acolhedora. Naquela escola nasceu a pessoa que sou, e esse parto foi dolorido, sofrido, solitário, quase um trauma. Muito tempo se passou e agora, hoje, a alegria vem não só da vitória de ter sobrevivido e retornado, mas principalmente por conseguir reconhecer nos tijolos marrons e nas árvores escuras, um berço. Sim, aquele local maldito é minha pátria mãe.
  Tenho de sair de lá. Me conduzem para fora. Olho os muros que não mudaram. Os porões onde existiam os laboratórios. Me lembro da minha incapacidade para aprender. E do quanto era duro fazer um amigo. A timidez que me sufocava, o medo das meninas bonitas, a sensação de que eu sobrava. Mas houve um outro lado. O nascimento do que eu sou. A luta para ser. A vontade de sobreviver.
  Pego o metrô e volto para casa.
  Em todos esses anos sonhei muito com essa escola. Eu sonhava sempre estar nela e não conseguir voltar para casa. Estar fora dela, na rua, mas sem conseguir sair de onde me encontrava. Pois hoje entrei e saí. Estive e retornei. E sinto que mergulhei em mel.

EU E MEU AMIGO CHIQUE

   Saio com um velho amigo chique e ele me faz a pergunta já esperada: " Como pode você ser de direita? Você tem cultura, você é de esquerda, claro que é"
  Sim, essa pergunta foi feita, e como esse amigo é ultra civilizado, não discutimos, apenas conversamos. Lhe explico que assim como há direitistas que acham que todo esquerdista é comunista ( God!!!!! ), há esquerdistas que acham que todo direitista é igual. Na verdade não há esquerdista que ache isso...no Brasil TODO esquerdista pensa isso.
  Explico ser um conservador. E que na direita há sérias divergências. Englobamos desde o mais xiita nazi-fascista até o mais pacífico e culto conservador. Liberais, yuppies, reacionários, revolucionários de direita, neo liberais, proto conservadores, todos brigam entre si. Meu amigo não fazia a menor ideia disso.
  Entendo que um governo como o atual é muito necessário. Como Lula nos foi necessário. Bolsonaro irá errar, irá acertar, talvez nos leve ao buraco final, ou nos salve do buraco atual. Mas essa faxina é necessária. O fato de meu amigo pensar isso da direita, mesmo sendo culto e antenado, mostra como fomos podados de 50% da cultura real. Nos acostumamos a crer que todo valor artístico ou filosófico é natural monopólio da esquerda. É um monopólio, mas nunca foi natural. Foi imposto às mentes formadas entre 1980-2018. Trinta e oito anos de absoluta ditadura artística e educacional da esquerda. Donos da verdade, do bem e do saber. Nunca foram. Ser esquerdista é apenas um dos modos de se ver o mundo. Existem outros.
  Eu e meu amigo tomamos um cappuccino e terminamos falando de TV e de ópera.
  Sim my dear, ser conservador é mais que uma opção política. É um modo de sentir.

ENTRE ELES E NÓS ( DIFICIL SER BRASILEIRO )

   Muita gente estranha eu dar apoio à uma figura como Bolsonaro. Waaaalll.....não apoio o presidente, dou suporte ao seu governo. Ele tem quatro ministros que são totalmente confiáveis e é à eles que apoio.
   Bolsonaro se conformou em fazer o papel de rainha. Ele é a imagem e o boi de piranha do governo. Delegou todo poder a esses quatro e eu apoio isso. De bobo ele nada tem.
   De qualquer modo, não é fácil ser brasileiro. Se voce é conservador como eu é obrigado a apoiar Bolsonaro. E se é de esquerda tem de se conformar com menu que vai de Boulos à Ciro, passando por um ladrão condenado e uma doida varrida. Pobres esquerdistas.
   Preciso ainda dizer que o Brasil repete, sem saber?, toda a agenda crítica dos USA. Os democratas acusam Trump exatamente das mesmas coisas que aqui os esquerdistas acusam Bolsonaro. Racismo, fascismo, machismo, etc etc etc. E a direita daqui se comporta como os republicanos de lá, tudo é comunismo fora de suas asas. Houve um tempo em que o modelo era a URSS. Melhor hoje.
  Trump será reeleito alegremente. Formadores de opinião tipo atores e jornalistas não influem em mais nada. A opinião do Caetano ou da Meryl Streep vale tanto quanto a sua. E o povo meu querido, ele é conservador, sonha em fazer amanhã o que faz agora. Ama sua casa, sua rua e sua igreja. Quer que seu mundo seja preservado. Revolução? Qual deu certo? A última foi a de 1776.

O FIM DO TRABALHO

   Leio uma matéria americana que diz : No futuro próximo, a maioria da população nascerá já sabendo que jamais irá trabalhar. Legal né? Não, não é. Ele explica que essa vasta quantidade de pessoas não trabalhará pelo fato de serem inúteis, e não por algum privilégio financeiro.
   O trabalho está se tornando hiper sofisticado, e a maior parte das pessoas simplesmente não terá a capacidade de ser util. A grande questão do futuro será o que fazer com esse povo. Como fazer com que eles vivam razoavelmente felizes SEM NADA PARA FAZER.
  O autor aposta na virtualidade. Talvez essas pessoas consigam gastar suas vidas em algum tipo de jogo interativo. O governo terá de lhes dar o básico, casa e comida, e elas viverão entretidas em sua vidinha virtual. Jogando e fazendo contatos. Uma vida assim precisará do mínimo de dinheiro.
  Digo que de forma perversa, o Brasil já é assim. A maior parte da população não tem a menor utilidade e vive de trabalhos informais, pouco relevantes, e não morrendo de tédio graças ao celular. O autor americano fala em 90% da população mundial. 90% nascendo sem nenhuma possibilidade de fazer parte do mundo do trabalho. Aqui não estamos longe disso.
  Ou voce acha que entregador de pizza e lava rápido é trabalho relevante?
  Estudei Letras e conheço bem uma carreira que já é irrelevante. O tipo da carreira virtual onde se finge viver e fazer alguma diferença. Jornalismo vai no mesmo caminho. Profissões extintas, ou pior, brincadeiras de faz de conta vivendo das glórias de um tempo cada vez mais distante.
  É por aí.

POBRE TEENAGER

   Na aula de filosofia voce ouve que Deus não existe e que a vida não se explica.
   Na aula de geografia se fala do índice de miséria do mundo e do futuro árido e cruel que nos espera.
   Em história se diz que todo o passado é um pesadelo, feito de escravidão e injustiças.
   Na aula de português se lê um texto sobre o massacre dos índios.
   Em sociologia se diz que todo país rico é um tipo de assassino.
   Tudo isso é verdade? Pode até ser PARTE da verdade.
   Mas não se fala dos grandes homens da história, aqueles que podem nos consolar ou inspirar.
   Não se fala dos filósofos que acreditam em valores morais.
   Por quê?
   O objetivo da educação é formar pessoas insatisfeitas. Contestadoras. Isso só se consegue jogando na cara delas as desgraças do mundo. Gente feliz não se revolta. E sem revolta o mundo "justo e democrático" não nascerá.
   Weeeeellll....Erraram na dose. Excesso de negativismo não causa revolução, causa depressão. E é por isso que tantos jovens se matam. Aprendem com adultos que a vida é uma merda.
   E gente feliz não faz revolução, sim, fato, faz reforma. E reformar é muito melhor que revolucionar.
   A agenda da educação moderna é trágica. Tenta formar revolucionários e forma deprimidos. Tenta mudar o mundo e engessa a apatia. Um lixo.

TCHEKOV. POR QUÊ A RUSSIA?

   Curto e grosso: a Suíça não produz nada de literatura. Ok...você pode citar um Nobel, uns 3 escritores e é só. Jung não vale. Ele é ciência.
   A Russia entre 1840 e 1900 teve Turgueniev, Pushkin, Gogol, Dostoievski, Tolstoi, Tchekov. Apenas 60 anos. Não dá pra explicar isso.
   Comecei o texto tentando uma explicação clássica. A de que um país em confusão propicia o surgimento do gênio. Não cola. A Suíça nem é tão ruim. E vários países em crise não produzem nada. Arrisco uma hipótese que já antecipo ser cheia de falhas. Mas devo tentar.
   A Russia não era, e nunca foi, apenas um país em crise. O país foi sempre protagonista. Mesmo na miséria e em um atraso social absoluto, a nação produziu Pedro e Catarina, Boris Godunov e São Petersburgo. Fatalistas e pessimistas sempre, mas eternamente voltados à grandeza. A nação eslava é o nó que une ocidente e oriente. E portanto, cristianismo e paganismo. Dostoievski amava Cristo e seus escritos são sempre parábolas exacerbadas sobre culpa e remissão. Tolstoi era crente do Deus-Jeová e seguia o cristianismo primitivo. Nesses dois, pontos centrais do romance russo, há o encontro desses dois mundos, a primitiva Russia e a ocidentalizada cristã.
  Turgueniev e Pushkin eram muito mais teístas, e por isso o conflito se dá em um nível mais intelectual. O choque entre o romantismo alemão e o eslavismo sensual oriental. O caso Gogol é o mais enigmático. Ele odiava seu país. E era russo até o mais ínfimo ponto final. Talvez fosse o mais genial entre todos eles.
  Tchekov era moderno. O foco é sempre no ser humano. Médico, ele não julga e não catequiza, descreve. Tchekov não está interessado no sentido da vida, na alma ou no absurdo. Ele está encantado com cada detalhe, com o dia a dia, com o vulgar que se faz único. Ele realmente ama as pessoas, todas elas.
  Ando lendo seus contos. São modernos por serem não sensacionais. Não há heróis. Nem vilões. São pessoas comuns em momentos comuns. Nada de muito especial acontece. Mas por serem observados por um gênio, esses momentos se tornam gigantes. Lemos escutando a voz tranquila do médico Tchekov, homem que viu a miséria debaixo de seu nariz. Como todo homem que convive com a morte e a dor dos outros, ele é modesto. Sabe que nada dura. E essa é a chave de seu universo. Por saber que nada dura, ele tenta fazer durar aquilo que escreve. O autor e seu mundo.
  Tchekov conseguiu. Seu mundo está vivo em 2019.

LEVE E SOLTO

   Leve e solto?
  Minha bagagem de vida diminuiu. Me livrei de vários livros e de toneladas de discos em vinil. Só não me livrei dos meus dvds porque ninguém os compra. Sim, não doei, eu vendi. Tenho provado o sabor da pobreza. Mas não é apenas isso.
  Deixei de escrever por meses aqui por estar completamente apaixonado. Não, não precisa parar aqui. Não falarei sobre paixão e muito menos ficarei a choramingar um amor impossível. Pois ele não é impossível e não é feliz. Muito menos triste. É paixão.
  Nossa mente ou nosso coração tem um limite. E a paixão ocupa tudo. Por isso ela tem um risco alto. Se a aposta não der certo voce perde tudo. E se sobreviver, terá de reconquistar os outros amores, seja livro, disco ou seus amigos.
  Eu ia escrever que a alma também tem um limite. Mas não consegui. Acho que a alma é ilimitada. Nem mesmo a paixão a esgota. Mas não sei. Bom tema para outro post.
  Diria que amor pode ser apenas alma. Mas a paixão é corpo. Há algo de profundamente corporal na paixão. Ela é nervos, sangue, vísceras, músculos. Por isso é mortal. Como tudo que é sólido, ela uma dia se desmancha.
  Mas a paixão pode ser ou se tornar alma, e então será amor. Corpo e alma. Ou somente alma. Então não se destrói, se modifica. Vira outra ou outras coisas, pois é etérea.
  Não estou nem leve e nem solto. Antes pesado. A bagagem foi aliviada de livros e discos, mas o peso da paixão cresce. Uma contradição: Eu sou apaixonado por ela e amo minha paixão.
  Uma das curas da depressão é não lutar contra a melancolia. Melancolia foi a tempos idos uma qualidade invejável. Dom dos mais nobres. Hoje é um mal. Isso faz com que todo melancólico não aceite aquilo que ele é. Ele se deprime por ser melancólico. Aceite sua melancolia e seja feliz.
 O que quero propor é: O mundo de hoje, que abomina a melancolia, por ser ela pouco ativa, aceita a paixão? Nosso século aceita somente o que é ativo, produtivo e afirmativo. Dei a resposta?
 Ame seu trabalho, ame seus filhos, ame seu hobby, mas por favor, não vá ser imbecil a ponto de se apaixonar.
  Ando lendo as histórias de Arthur e de Camelot. Não, não há paixão lá. Há compromisso. Lealdade. Código moral. Tudo aquilo que o apaixonado não segue. Não liga e não quer.
  Mas o que deseja o apaixonado? Permanecer apaixonado. Apenas isso.
  Como um drogado, ele quer a substância que o faz ficar exaltado. Corpo é química, respondido?
  Claro que não. Pois isso não responde o por que de minha paixão. Fosse apenas química eu trocaria ela por uma mais forte. Ou tomaria overdose de paixão. Mas não é assim.
  Conclusão possível: Falar da paixão a empalidece, mas não purga seu veneno. Leve e solto? Outros que voem por aí. Eu quero é mais.

 

MINHA PRIMEIRA POSTAGEM DE 2019 FALA SOBRE ESSE POVO NASCIDO DE 1998 PARA CÁ.

   Leio matéria muito boa, gringa, sobre os hábitos de diversão dos millenials. Esse povinho deprimido nascido de 1998 pra cá. Sim, eles são down e sabem disso. Nasceram no fim dos anos 90, sem ilusões e sem sonhos. São filhos de pais que foram nos shows de Madonna e de Prince. Não têm contra o que se rebelar. Mas, como jovens que são, sentem o desejo de rebelião. Se rebelam contra a própria vida. A existência neste planeta.
   O foco da matéria é a noite. Pela primeira vez, desde antes de 1900, uma geração não sente a menor atração por vida boêmia. Não que eles sejam saudáveis, não são, mas noite pra eles só é legal se for numa série sobre vampiros. Ou numa boate de divas em 1920. Sair como o povo que hoje tem 30 saía não os interessa. Eles simplesmente não têm dinheiro pra beber a preços ridículos e passar mal em casa. Ou acordar ao lado de um corpo desconhecido.
   Eles bebem muito e fumam maconha. Mas isso tudo é feito na casa de amigos ou na rua. Eles amam a rua, andar por aí. E se reunir entre amigos para jogar games e ver séries. Nada de balcão de bar ou pista de dança. É uma geração que não sabe lidar com garçons e com passos de dança.
   Saio com uma amiga de vinte anos. E ela não vê nada de especial em ir num local para dançar ou pior, para ficar louco. São práticos: saem para fazer alguma coisa. Tipo comer. Ou ir ao cinema. Ou ver um show. Sair pra sair, não. Ela prefere programas diurnos. Ir onde nunca foi. Tirar fotos. Comprar coisas. Sair deve ter um objetivo. São práticos. Nasceram sabendo que desperdício é um pecado. Principalmente de tempo.
   É uma geração que faz sexo sem grandes dramas. E sem grandes prazeres também. Um beijo é gostoso. Uma transa é deliciosa. Mas o amor não se define nisso. Ele vive na conversa, nos gostos em comum, no fazer coisas juntos. Até nisso aparece a praticidade. O amor vem junto com objetivos. Não nasce numa noite de prazer.
   Nos anos 80 eu era uma anomalia. Preferia sair de dia. Adorava andar sem rumo. E não via o porque de ir numa balada. Só me apaixonava por amigas. E tinha de ser amigo, pois eu nunca soube paquerar. Nisso tudo fui precursor dos millenials. A diferença crucial é que beijo pra mim é ainda algo mágico, íntimo e muito importante. E uma noite de sexo é compromisso. Well...de qualquer modo eu os entendo bem e confesso adorar o modo como sentem a vida. Até sua depressão eu entendo, é a minha, uma revolta contra a condição biológica da vida, não contra "o patriarcado" ou "o feminismo".
   Estou de volta.