UMA EDUCAÇÃO OBJETIVA.

Perrenou. Nasceu na Suíça em 44. Sociólogo, ele diz que cabe ao sociólogo salvar a educação de sua mediocridade atual. Como? Fazendo com que o aluno seja formatado para aquilo que a sociedade do futuro irá pedir. E só o sociólogo pode antecipar esse saber.
Ao contrário do que dizia Hannah Arendt, ele nunca fala que a educação deve preservar a cultura, salvar o mundo. Para ele, a educação deve ser relevante ao mundo prático. Deve ensinar como economizar, como conseguir trabalho, evitar AIDS, arrumar uma casa. História, geografia ou biologia só importam se forem úteis. E as artes só terão valor se forem práticas, claras, se tiverem uma função.
 Para ele um poema só vale se explicar alguma coisa. Um filme deve ensinar algo de útil.
Essas teorias educacionais foram desconsideradas em todo o mundo. Menos no Brasil. O governo FHC convidou o sociólogo para elaborar as bases educacionais que originaram o ENEM. O PT mantém. Abrimos mão da cultura como valor e transformamos tudo numa questão de utilidade. O prazer não conta.
Perrenou é uma besta.

IRMAOS MARX/ DENNIS QUAID/ ERROLL FLYNN/ GABLE/ A MÚMIA/

SMART PEOPLE de Noam Murro com Dennis Quaid, Sarah Jessica Parker, Ellen Page, Thomas Haden Church.
Um professor viúvo cuida dos dois filhos teens. Seu irmão esquisito vem o visitar. É um filme bacana. O professor é um arrogante babaca, mas há beleza na sua relação com sua nova namorada. Quaid envelheceu. É um choque para quem o viu em 1979, estreando no filme dos gazeteiros. Ellen Page é bem interessante. A trilha sonora quase mata o filme. Nota 6.
CAPITÃO BLOOD de Michael Curtiz com Erroll Flynn, Olivia de Havilland, Basil Rathbone.
E do nada um australiano chamado Erroll Flynn protagoniza a mais marcante das estréias. Vindo do nada, este filme faz dele o paradigma do herói de aventuras. Belo, alegre, ágil, esperto. Blood é um médico que vira escravo e depois pirata. O filme é origem de toda uma linhagem que passa por  filmes de ficção, piratas, policiais e até da Marvel. Um clássico. Nota dez!
A MÚMIA de Karl Freund com Boris Karloff e Zita Johann.
De todos os clássicos de terror da Universal, é este meu favorito. As imagens são deslizantes, as cenas parecem de sonho. Karloff jamais esteve melhor. Karl Freund foi um grande fotografo, mas dirigia mal. Mesmo assim, é um grande filme. Nota dez!
TRÁGICA DECISÃO de Sam Wood com Clark Gable, Walter Pigeon e Van Johnson
Tirado de uma peça, é um filme estático. Mostra que o bom general é aquele que não exita em sacrificar seus homens. Duro de ver.
TRINTA SEGUNDOS SOBRE TOKYO de Mervyn Leroy com Van Johnson e John Garfield
Pilotos são treinados e enviados para o Japão. Se trata do primeiro ataque à capital. O filme é todo OK, mas a cena da entrada no Japão, o vôo rasante e as explosões lá em baixo são de uma beleza terrível. É inesquecível.
UMA NOITE EM CASABLANCA de Archie Mayo com Groucho, Chico e Harpo.
Eles aprontam em hotel no Marrocos. Não é dos melhores. A gente percebe que Groucho está no automático.
NO CIRCO de Edward Buzzell com Os Irmãos Marx
Este é bom. Como diz o titulo, eles ajudam um circo a se manter. Não é um de seus clássicos, mas é digno do nome dos três. Harpo rouba o filme.

MOZART, BREVE BIOGRAFIA, PETER GAY

Uma breve biografia de Mozart escrita por um bom escritor. Ele evita todo romantismo. Mozart foi um gênio inexplicável. Peter Gay nunca tenta explicar a genialidade. Ela existe. É um dom. E por ser um dom é inexplicável. Mozart assim não é visto como vitima, como um infeliz e muito menos como uma criança grande. O filme famoso de Milos Forman é bonito mas falso. Salieri era quase amigo. Mozart sabia que era um gênio. Gastava demais em roupas, viagens e no jogo. Tinha crises de melancolia. Que logo eram superadas pelo trabalho. Adorava sexo. E não suportava gente pobre.
Mozart compunha aos 4 anos. Uma sinfonia aos 8. Uma ópera aos onze anos. Famoso quando criança, excursionava com o pai. Era recebido por reis. Quando a infância acabou, a fama se foi. Mas não a memória. Mozart sabia ser digno de reis. Mas a música em seu tempo ainda não comportava personalidades imensas como Wagner ou Beethoven. Ele era um serviçal. Como um preceptor ou um camareiro. Dependia de favores, de mesadas, do bom humor de um mecenas. Isso o exasperava.
O pai era seu rival. O pai queria obediência absoluta, Mozart o amava, mas o pai o oprimia. Essa a questão central de sua vida. Lidar com a inveja que o pai, músico, sentia do filho, genial.
Peter Gay diz que quando Mozart morreu, aos trinta e cinco, de febre reumática, foi lamentado. Haydn sabia reconhecer seu gênio, outros também. Em vida ele teve êxito, apenas menor que seu talento merecia. O século seguinte o valorizou e o século XX o consagrou.
Mozart é, com Bach e Beethoven, o supremo deus musical. Dos três é meu favorito. Descobri seu concerto para piano número vinte em 1988, e desde então considero esse o melhor trabalho musical da história. Seja sinfonia, jazz, música popular, rock, nada se compara aos trinta minutos desse concerto. Do primeiro acorde, grave, baixo, soturno, ao último, alto, alegre, vivo, tudo é um milagre de beleza.
Mozart é inexplicável? Mais que isso, inesgotável.

O GATO FILÓSOFO, KWONG KUEN SHAN

Saiu agora este pequeno livro de uma jovem de Hong Kong. É feito por desenhos, lindos, de gatos, intercalados por ditos de filósofos da tradição chinesa.
Um belo presente.

EU

Depois do romantismo, já mais de duzentos anos, não conseguimos mais ver o mundo com isenção. Temos de marcar nosso eu em tudo. É até difícil tentar entender que até os românticos falar do eu era sinal de falta de imaginação. A sinceridade em arte era deselegante e falta de espírito. Ninguém queria ser sincero ou original. A ambição era fazer melhor aquilo que todos faziam. Seguir uma tradição, e dentro dela ser o mais perfeito.
Era assim que pensava Shakespeare, Cervantes, Racine ou Voltaire. Bach, Mozart e Haydn. Fazer o melhor. Refazer com genialidade. Copiar e aperfeiçoar.
Com Beethoven, Byron, Poe, Hugo, surge o desejo de ser Único. Sinceridade e originalidade, expressar um Eu Único. Ser diferente de todos.
Desde então passou a ser elogio dizer que um artista fala a verdade, ou que ele faz algo que ninguém mais faz.
Mas vive ao lado desse impulso o espirito clássico. O fazer bem feito, o não confessional, a habilidade, a preferência pela forma.
Li no site musical uma critica antiga sobre Paul. Lá se diz que Lennon pode errar, mas ele é sincero. Paul mente, inventa, é apenas um fazedor de canções.
Essa é a mais romântica das criticas. A sinceridade como valor artístico confunde moral com estética. E o dom do belo perde valor se não for vivido e portanto, sincero.
Neste século as coisas mudaram. Sinto que o valor do bem feito, do técnico, do aparente perfeito, aumentou. Mas seremos sempre românticos. Assinaremos nosso nome em tudo. O eu estará como marca principal. Deus se foi, o Eu veio tomar seu posto. E é para ele que trabalhamos. Eu.

O VENTRE DA BALEIA, JAVIER CERCAS.

Que Balela! Que baleia! Papo furado!
O perigo do livro umbigo: who Cares? Quem se importa com os problemas amorosos de um cara tão banal?
Um saco!
E a Espanha de hoje é só isso? Cerveja, ciesta e fiesta?

VAGUEZAS

Minha professora de literatura italiana diz que os livros hoje são tão detalhistas, longos e pouco filosóficos porquê o modernismo foi vago, ousado e filosófico demais. Daí o retorno do bom enredo e da biografia. Well...
Reli CIDADES INVISÍVEIS, do Ítalo Calvino. Um livro escrito em modo de tarot e que pode ser lido em qualquer ordem. Calvino descreve cidades e dá uma bela conclusão: as cidades modernas são um inferno, cabe àqueles que ainda percebem isso salvar e valorizar aquilo que não é inferno.
Andei lendo AS MEMÓRIAS DE SHERLOCK HOLMES. Leio e me acalmo. Incrível como Conan Doyle tem esse dom. Holmes é um doido, tenso, isolado, mas os contos têm algo de tranquilizador. Talvez o clima onde tudo se passa.
Estou lendo um livro espanhol escrito agora. Incrível como não engulo bem esse país. Quando terminar de ler eu conto.
Telmo Martino não deve ser esquecido.
Minhas aulas de Wittgenstein, Rousseau e Dewey serviram para perceber o quanto admiro Kant.
O Brasil, como se fosse um quarentão que se vê falido está caindo na real. Todas as nossas certezas se foram.
Um cão dá ao homem o que ele mais precisa, comunicação sem palavras. O entendimento do silêncio.
Oriente e ocidente, de novo, se olham olho no olho.

REX HARRISON/ MIKE LEIGH/ RUPERT EVERETT/ GRETA GARBO/ GUINESS

A CASA DA COLINA de Will Malone com Geoffrey Rush e Famke Janssen.
Grupo de pessoas ficam uma noite numa casa assombrada para ganhar um prêmio. William Castle fez esse filme em 1960. Já era ruim. Hoje é pior. Pra que refazer tanto filme? zero.
O VALENTE TREME TREME, de Norman Z. McLeod com Bob Hope e Jane Russell.
Um dentista medroso se casa com Calamity Jane e assim se envolve em missão junto aos índios. Hope é ótimo, mas é Jane quem domina o filme. Frank Tashlin escreveu o roteiro e detestou o resultado. Foi um big sucesso, visto hoje é apenas OK. Nota cinco.

GUN CRAZY de Joseph H. Lewis, com Peggy Cummins e John Dahl.
Rapaz que sempre foi boa pessoa, mas amante de armas, vira bandido ao conhecer uma garota de circo ambiciosa. O filme é um dos grandes cults da história. Muito adiante de seu tempo, quando lançado fracassou, mas era visto pelo pessoal do cinema com admiração. Tem duas cenas antológicas: o assalto visto de dentro do carro, com diálogos improvisados, e o final, no pântano. Um filme que lembra Godard. Ainda moderno. Nota 9.
THE LAST HOLIDAY de Henry Casa com Alec Guiness
Encantador. Um humano filme inglês sobre um homem simples que tem uma doença rara. Sabendo que vai morrer, gasta suas economias em hotel de luxo. Vários personagens bem desenvolvidos, bem humano sem ser meloso. E Guiness numa atuação mágica. Nota 7.
FARSA DIABÓLICA, de Bryan Forbes com Kim Stanley e Richard Attenborough.
Na época causou impressão. Forbes parecia um novo mestre. Mas em dez anos ele cairia na rotina. Mas este é um grande pequeno filme. Ele nos faz entrar na mente de uma mulher muito perturbada. Ela é uma vidente, o marido é um capacho. Sequestram uma menina. O casal é magnifico! O filme, lento e desagradável, feio de se olhar, é inesquecível. Nota 8.
TOPSY TURVY de Mike Leigh com Jim Broadbent, Allan Corduner, Timothy Spall.
Brilhante! Delicioso! Poucos filmes conseguiram retratar de forma tão perfeita a Londres vitoriana. Gilbert e Sullivan foram Lennon e MacCartney de 1880. Um era fechado e ponderado, o outro ambicioso e farrista. Os atores são tocantes. O filme, dirigido com amor, é quase perfeito. Delicioso. Nota Dez!
O MARIDO IDEAL de Oliver Parker com Rupert Everett, Julianne Moore, Cate Blanchett, Minnie Driver e Jeremy Northam.
Oscar Wilde no cinema é sempre um show. E Rupert nasceu para recitar as frases do irlandês. Mas...Julianne estraga as cenas. O rosto choroso dessa atriz melancólica não combina com o wit de Wilde. De todo modo, é OK. Nota 6.
WITHOUT RESERVATIONS de Mervyn LeRoy com Claudette Colbert e John Wayne.
Uma autora de de best seller cruza os EUA com dois soldados. Ela cai de amores por um deles. Hollywood hiper profissional. Eis o filme bem feito padrão de então. Nada tolo, fantasioso e com atores excelentes. Colbert está very hot, Wayne super boa gente. Bela diversão. Nota 7.
SUSAN LENOX, de Robert Z. Leonard, com Greta Garbo e Clark Gable.
Garbo nunca esteve tão frágil. Ela nos apaixona neste melodrama onde uma garota pobre e abusada em casa foge. Ela se envolve com vários homens, mas Gable é o cara. Os primeiros trinta minutos têm altura de obra prima. Expressionistas e belos. Depois cai um pouco, mas é um filme forte. Gable bem jovem, nota 7.
TODOS OS IRMÃOS ERAM VALENTES de Richard Thorpe com Robert Taylor e Stewart Granger.
Uma aventura perfeita. Tem rivalidade entre irmãos, caça à baleia, motim, romance, ilhas, reviravoltas. É diversão que nunca cessa. Excelente! Nota 9.
ODEIO-TE MEU AMOR de Preston Sturges com Rex Harrison e Linda Darnell.
Foi o primeiro fracadsofracasso de Sturges, hoje está reabilitado. Rex dá um show como o maestro que desconfia da esposa mais jovem. Escutar Rex atuar é um dos grandes prazeres do cinema. O filme é criativo e eu o adoro. Humor negro. Nota Dez.

NOVA ABORDAGEM AO CINEMA

WHIPLASH,é à isso que ficou confinado o jazz? Escolas de nerds e professores exibicionistas? Pobre Jelly Roll.
BIRDMAN, o que artistas fazem com um super herói.
INTERESTELAR, filosofia quântica para leigos. Ou, Vejam caipiras! Eu sou um gênio!
A TEORIA DE TUDO, que fofinho é o meu nerd...
CISNE NEGRO, ballet com neuras mais suspense, resultado: risos.
NOÉ, a Bíblia é Marvel!

O OLHAR DE BORGES, UMA BIOGRAFIA SENTIMENTAL. SOLANGE FERNÁNDEZ ORDONEZ.

Bem...um problema sério neste livro: a autora, psicóloga de crianças, é amiga e fã de Borges. Desse modo, chega a irritar a quantidade de elogios.
Mesmo assim tem muita coisa boa. Começa com uma cena linda: Borges criança jogando xadrez com o pai na biblioteca. Ele foi tão feliz nessa época que bibliotecas se tornaram para sempre seu mundo. Borges foi apegado e amigo do pai, da mãe e da irmã. Seu problema era na rua, onde parecia fraco, mimado e muito snob. Nunca foi, se sentia um estrangeiro. Amava os livros, a realidade era aquela, sua curiosidade o fazia ler tudo.
Foram para a Suíça, e lá ele sentiu saudades da Argentina. Voltou já adulto. Aos 40 anos fica famoso em seu país, dez anos depois é uma figura mundial. Morre aos 87 anos como um mito. Caminhava, de bengala, altivo, pelas ruas de Buenos Aires e todos o apontavam, lá vai Borges!
Nunca se casou, viveu com a mãe até a morte dela, aos 90 anos. Ela escrevia o que ele ditava e lia para ele: Stevenson, DeQuincey, Hume, Henry James, textos do inglês medieval, Cervantes. Borges amava a literatura inglesa, Keats, e pesquisava misticismo, religiões. Se considerava um judeu porquê o judaísmo é todo baseado em escrituras, no texto, na palavra. Achava o catolicismo infantil.
Felzmente a autoraautora evita psicologismos. Ela diz que um grande artista tem seu mundo, não pode ser reduzido.
Borges buscava mostrar que a realidade é mais irreal que o sonho. Seus contos confundem, desorientam. Místico verdadeiro, ele aceitava a incerteza. Abominava dogmas. Não gostava da literatura psicológica, jornalistica. Sabia que a verdade está na fantasia.

WHATS GOIN ON, MARVIN GAYE...NOBRE, MUITO NOBRE.

Uma sinfonia de dor e de ira sob controle, esta obra prima vem sendo considerada desde 1988 um dos cinco ou seis melhores discos de de todos os tempos. Why? Porquê ele é adulto, e nobre, de uma clareza e superioridade artística tão alta que apenas Astral Weeks e Low lá conseguiram estar.
Ouça este disco com as letras em mão, e o encare como sinfonia. As faixas devem ser sentidas como uma alma una. Rico em instrumentação, é surpreendente, rico, vasto e único.
Marvin, ídolo e rei desde 1962, arriscou tudo aqui. A Motown não queria o lançar. Marvin insistiu, foi sucesso pop e de arte. A critica percebeu que havia alta arte no soul. Foi o nocaute ao racismo. Marvin era maior que Dylan ou Lennon. Este disco foi admirado por Miles Davis.
Wholy Holy faz chorar. Em crise, Marvin pede ajuda à nós, mortais. Todas as faixas são superlativas, impossível tirar uma da obra, é um todo elevado, a epifania, dolorosa, se faz.
Atenção ao baixo de James Jamerson, segundo MacCartney e Jagger, é the best. Ele conduz com pulsação esta sinfonia de soul, jazz, ritmos latinos e dor. A voz de Marvin seduz, como sempre, mas tem algo mais, conhecimento. Este disco faz com que o rock pareça coisa de meninos.
Um marco, um graal para milhares de artistas, desde 1971.
Inquestionável. Grande.

ALL THINGS MUSIC PLUS

All things music plus, é um site que você pode entrar via facebook. Muito legal.
Traz dia a dia algo de importante que aconteceu no dia. Pode ser um aniversário, o lançamento de um disco. O mais fascinante é que eles republicam a critica da época do lançamento.
Duas coisas a gente constata. As criticas eram muito maiores e melhores. Li uma sobre o Lodger, de maio de 1979, em que Jon Landau explica o porque de Bowie não ser confiável. Há injustiças a rodo. RAM é chamado de medíocre, bobo, insuportável. Dá pra notar como a ROLLING STONE dos anos 70 era exigente, metida,elitista. É legal ler hoje, mesmo para discordar!
Entra lá e veja o que rolou em 21 de maio....