Guru Jazzmatazz "When You're Near"



leia e escreva já!

ADEUS ÀS AULAS TRISTES

   Foram meses estranhos. Muito estranhos. Logo na primeira aula eu já avisei a professora: Falar do movimento romântico era doloroso para mim. E eu preferia não ter de revisita-lo. Mas revisitei. E doeu.
   Estranha figura essa mestra. Eu a detesto. Porque ela é radicalmente contra toda forma de religião. É radicalmente de esquerda. E ultra-feminista. Mas também a admiro. Porque ela é romântica. Fala da maior revolução mental que o planeta viveu, a de 1780/ 1790, época do nascimento da coisa, pela primeira vez a razão é colocada em xeque, pela primeira vez cada homem se sente no direito de pensar por si-mesmo. Nasce o individualismo, a criatividade é colocada como dom soberano. Pela primeira vez a solidão não é vista como danação e vergonha, mas como privilégio e desejo.
   Rousseau anda em seu bosque e sente o que é Bom. Wordsworth anda pelos lagos ingleses e encontra o céu. Junto aos lagos Wordsworth se livra do peso da vida e reencontra sua infância. Vê sem julgar, observa como se nunca tivesse visto. Livre.
   Mas nas aulas o que temos é Alvares de Azevedo...o mito da mulher pura e inacessível, as loucuras nos cemitérios, as putas. Ah meu Deus, como dói lembrar!!!
   Porque eu fui um dos idiotas! Fui o tonto da familia, que andava no sitio, aos 18 anos, sózinho, botas na lama, tentando respirar de novo o ar dos meus livres 8 anos de idade. Fui o romântico ao extremo, que ficava doente na cama, com febre, e lia Hugo e Bronte sonhando com suas meninas pálidas e doentias, chorosas alucinações. Madrugadas solitárias e insones, a luz de velas, me sentindo o único romântico sobre a Terra. Eu disse que fui esse idiota!
   Conseguia esquecer o mundo e viver só para mim. Conseguia ignorar minha familia. Sonhar todo o tempo. Então eu sei o que foi esse romantismo. Conheço o prazer inenarrável do sofrimento procurado. Meu sangue sabe do sabor doce do êxtase do alivio. Nada nessas aulas são coisas novas para mim. Eu já sabia que a infância funda e cria a poesia. E que saber brincar é saber criar.
   Todos esses nomes me são conhecidos! Essas sensações provocadas me são passadas. Eu sei que a arte é a grande fonte de alivio. Um alivio de sacrificio. Já fui o inimigo.
   E se passaram esses quatro meses. Essas 32 aulas. Essas 96 horas.
   Adeus mestra, adeus romantismo, adeus lago, adeus criação.
   Ou não?

JIM CARREY/ HERZOG/ DENNIS QUAID/DUSTIN HOFFMAN/ TOM COURTNEY/ BRUCE WILLIS

   GRANDES ESPERANÇAS de Mike Newell com Ralph Fiennes e Helena Bonham-Carter
Pra que mais uma versão da obra de Dickens? Houve uma péssima em 1999 de Alfonso Arau com Ethan Hawke, e a versão genial de David Lean num preto e branco maravilhoso. Esta, feita em 2012, nada moderniza, ao contrário da medíocre obra de Arau. Mas é um filme frio, sem nenhum interesse. Nota 2.
   DURO DE MATAR I de John McTiernan com Bruce Willis e Alan Rickman
Caso dificil de ocorrer: um filme em que tudo está no lugar certo. Bruce nasceu para esse papel. John McLane, um tira fora de lugar e que não procura a ação, ela tomba sobre ele. Mais importante, ele se machuca, se cansa, sente dor. A ação não cessa, mas ao mesmo tempo temos bons diálogos e bons atores. É um filme que diverte e até empolga. Detalhe: é a sétima vez que o vejo. Sempre me pego envolvido. Nota? DEZ!
   DURO DE MATAR II de Renny Harlin com Bruce Willis e Franco Nero.
É aquele do aeroporto. Quase tão bom quanto o primeiro, não leva um dez porque não mais se trata de uma surpresa. Mas caramba, quanta diversão! E para quem o vê pela primeira vez ( te invejo ), há uma bela reviravolta. Relaxe e goze. Nota 8.
   VIAGEM INSÓLITA de Joe Dante com Dennis Quaid, Martin Short e Meg Ryan
Envelheceu bastante. Numa produção Spielberg, vemos a saga de um homem que é minituarizado e injetado dentro do corpo de um bobalhão. O jovem Dennis Quaid tinha uma alegria que contagia. É legal também ver a jovem Meg Ryan. Short, que vinha do SNL tem o filme para si. Nota 5.
    O INCRÍVEL BURT WONDERSTONE de Don Scandino com Steve Carell, Steve Buscemi, Olivia Wilde, Alan Arkin e Jim Carrey
Este filme sobre uma dupla de mágicos de Las Vegas é muito muito muito ruim. Odiável, ele pode ser considerado um dos piores filmes que já vi. Uma comédia podre, sem graça, chata. Jim Carrey está perdido, dá pena. Nota ZERAÇO.
   O ESPIÃO QUE ME AMAVA de Lewis Gilbert com Roger Moore, Barbara Bach e Curt Jurgens
Grande sucesso, música famosa com Carly Simon, resultado flácido. Barbara Bach, senhora Ringo Starr é a mais bela das Bond Girls. Mas o filme se ressente de um vilão melhor. Richard Kiel com seus dentes de aço tem várias cenas de humor. Moore está a vontade, é um Bond engraçado. Nota 6.
   O QUARTETO de Dustin Hoffman com Tom Courtney, Maggie Smith, Billy Connolly, Pauline Collins e Michael Gambon
Um filme belíssimo dirigido pelo grande Dustin Hoffman. Em tom leve e amargo, colorido e triste, se conta a vida de um bando de ex-estrelas da ópera que vivem num asilo de luxo. Eles montam um show e ao mesmo tempo vemos o reencontro de dois ex-amantes. O filme, com bela sensibilidade, mostra as dores, as fragilidades e a, porque não?, coragem da terceira idade. Os atores são todos brilhantes. E é emocionante ver Tom Courtney, ator dos mais emocionantes da velha tradição britãnica, compondo um músico melancólico e mesmo assim idealista. Uma aula de olhares, de gestual e de pequenos sentimentos. Dustin teve a sabedoria de deixar seus atores à vontade. Lindo filme! As fotos nos créditos finais chegam a provocar lágrimas. Nota 9.
   O ENIGMA DE KASPAR HAUSER de Werner Herzog
É uma obra-prima. Um bebê é abandonado em porão e lá mora por toda a vida. Sem conhecer gente ou aprender a falar, é resgatado já adulto. Herzog mostra a educação desse homem-besta e aproveita para criticar a sociedade, a ciência e a razão. Mas, sem ingenuidade, ele sabe que a saída não é a volta a natureza. O filme, cheio de cenas complexas, belas, ricas em símbolos, é marcante. Nota DEZ.

COMO SE NASCE PARA A VIDA ( IMPRESSÕES SOBRE AULAS BASEADAS EM KASPAR HAUSER )

   Iluminismo? Não me faça rir voce e seu iluminismo! A razão ao fim pode tudo, é nisso que crê a razão, essa a crença iluminista. Maravilhosa razão! O que ela nos deu? Onde nos levou?
   Nesta aula não me contenho e digo minha "loucura": Eis: A escola nos destrói. Ela nos castra, nos amordaça, mata tudo aquilo a que fomos destinados. Esquizo condição deste que vos fala: Trabalhar para algo que é condenável. Mas não há volta: A Escola nos destrói mas não existe alternativa a ela e é pior sem ela. Porque o homem natural está morto. Sem a escola não haverá a volta a pureza-verdade-natural.
   A natureza foi morta. Animais viraram máquinas ou palhaços. Não podemos ver uma árvore como ela é. O que vemos é a ideia do que seja uma árvore. Eis a maldição da escola e da razão: Não podemos ver o que é. Vemos aquilo que fomos ensinados a ver. Não amamos. Sentimos uma coisa que aprendemos a chamar de amor. Enquadrados, domesticados, vivemos racionalmente. Razão que não existe. Cremos no inexistente. O que chamamos de razão é costume, domesticidade, castração.
   Uma criança brinca. E para ela uma maçã é viva. Como viva é a pedra e a floresta que grita. Se a razão nos fala que uma pedra não pode ser viva, uma criança nos recorda que acreditar na vida pressupõe vê-la em tudo. Porque quem está vivo vê a vida ao ver-viver. E vê sem ler. Olha.
   Mas nós matamos essa vida e a enquadramos em linhas retas na página de papel. E tudo o que aquela criança via-antes morre nessa linha-agora. E toda a vida que ela brincava cessa ao aprender que a vida é uma coisa.
   Quanta coisa no mundo não tem nome!
   Quanta vida na vida sem razão!
   E o iluminista, vomitando regras e ditando verdades, tudo em nome da razão que ele confunde com liberdade ( que asneira! ), morre seco  em suas aspirações ao bom e ao belo.  Kant matou todos eles! A razão nada pode saber. Ela só entende aquilo que ela própria constrói. Coisas da razão. Brinquedos de adultos.
   O sublime aterroriza a razão e o iluminista. O infinito, o vasto, o desmedido. A morte.
   xxxxxxxxxx
  
   Foram aulas sobre esse filme sublime. Onde aprendi a raiz romântica de Herzog. E de Wenders e de Schlondorff.
   O ódio, sim, o ódio que eles têm da ordem, da regra, do comum, do burguês.
   Anões, anjos, bestas, doentes, velhos, macacos, o fora de lugar, o inutil, a criança. Isso que eles amaram.
   Kaspar nasce ao sair do porão. E indaga, brinca, incomoda, não aceita. Parte.
   Queres saber do sublime? Eis o filme.

VANDALISMO E HIPOCRISIA: NOSSA EDUCAÇÃO.

   Voces nunca deram a mínima pro vandalismo das salas de aula. O que se faz desde tanto tempo entre muros escolares se faz agora nas ruas. E eu não sei o que penso desses vândalos. Esse povinho falar em "manifestação ordeira" me lembra algo como "manifestação domesticada". Eu não sei.
    Engula PT. Será que voce caiu na real finalmente? Percebeu que hoje voce é situação? Que voce é o detestado poder? Imagino se o PSDB tivesse ganho a presidência....Impeachment nas ruas? Fora Serra? Porque não um Fora Dilma?
   E voces ó sindicatos? A quanto tempo voces viraram um troço jurássico? Sabem falar com as massas? Claro que não! A história os atropela.
   O que Zé Dirceu anda pensando? Inveja desses jovens? Rancor? Ou medo de perder suas coisinhas conseguidas com tanta luta em nome "do povo"? Fala Dirceu!
   Como cabeças coroadas ( o voto no Brasil faz do eleito um tipo de Luis XV de Joãozinho Trinta ), esse bando de "lideres" nada de relevante tem a dizer. A cara de todos é a de marido traído. Chifres.
   Um reles sinal de inflação bota um milhão na rua. Esqueceram que essa galéra de 20 anos não sabe o que é inflação? Graças ao Real, eles não conheceram o horror da inflação à Sarney. 100% por semana!!!!
   E agora? O Brasil viveu quinze anos de vacas gordas e tudo o que conseguiu fazer foi uma Copa e uma Olimpíada. E retroceder a ser um país vendedor de matérias primas. Ainda somos fornecedores de carne, grãos e minério. Exatamente como em 1800. Não aproveitamos para crescer em educação e justiça social.
   Vândalos foram criados. E que eles façam aquilo em que foram não-educados.
   É claro que detesto desordem. Sou pela moral e cívica, né? Mas eu os entendo. E os penso inevitáveis.
   Esperem pelo ano que vem!

AN EXPERIMENTAL FUSION OF HIP-HOP AND JAZZ: JAZZMATAZZ

   Vindo do gueto e assimilado pelo branco-chic, o hip-hop fez o mesmo caminho que o jazz. Questão de ritmo, assim como Armstrong deu improviso e beat a melodia music-hall, o rap deu colagens, batidas e ginga ao velho pop mofado. E o improviso, em letras e em levadas. Substituíram as imensas lapelas dos paletós zoot pelos medalhões de metal. E o sapato bicolor virou tênis grandão. Mas o que é inevitável sempre acontece, o rap se uniu ao jazz, durou pouco o movimento, mas foi bom demais!
   Este disco, o primeiro de GURU mexeu com minha cabeça e com meus quadris. A trilha do final do século XX, a minha trilha, é essa. O disco faz uma mistura irresistível: é rua e gueto e ao mesmo tempo é chique e muuuuuuito metidão! As batidas são do hip-hop, a voz é do rap, os temas são revolucionários, mas tudo é temperado com solos, reviravoltas do mais puro jazz. Como resultado uma trilha contemporânea, trilha do mundo que une a mais abjeta bosta ao mais límpido estilo. Lixo clean, a combinação do mundo agora.
   Branford Marsalis toca aqui. Sola free. Donald Byrd também. O trompete cheio de bossa. E o vibrafone de Roy Ayers embeleza a melhor faixa. Há ainda Courtney Pine e Ronny Jordan. E N'Dea Davenport. Uma festa soturna, o ambiente do som é dark, sombrio e muito frio.
   Estamos em 2013. Reouvir Guru com o McSolaar continua a ser um instigante prazer. Sabe né: Le Bien et Le Mal.
   Bota pra tocar e escuta aí:

PRA GALERINHA IRADA E LINDA DAS RUAS...

   Alô Alô galerinha irada e extra-cool que tem ido a rua protestar. Antes tarde do que nunca, então ok, tudo certo, mas deixa eu dizer unas cositas:
   Onde voces estavam quando o governo resolveu dar de mão beijada às empreiteiras bilhões de dólares para fazer essa copa de novo rico? Londres fez a olimpíada mais barata possível, porque nós aceitamos caladões a copa mais cara imaginável? Voces não deram um pio e eu TINHA CERTEZA de que voces iam bradar e reclamar. O que houve?
   Meus mais próximos compadres de todo dia são todos da perifa. Perdem horas em condução. E a grande reclamação deles não são so vinte centavos. O que eles querem é que FUNCIONE. Voces podem me dizer como fazer funcionar? Estatizar? Mas a saúde e a educação estatal funcionam? Aliás, a policia é do estado né não? Quem como eu tem de ir quase semanalmente a delegacia sabe: a policia está no olho do kaos. E aí?
   Colegas da USP que são cabeças do movimento me dizem que os ônibus podiam rodar a dois e cinquenta. Mas me ignoram quando pergunto: a esse preço a coisa ia melhorar?
   Antes tarde do que nunca é bom ver o sono passar. Voces acordaram e saíram da frente dos video-games. Mas não se esqueçam deste que vos fala. Não deixem de lembrar das centenas que morrem nas mãos dos assaltantes e dos velhos nas filas do hospital. Isso me angustia.
   E dando voz a meus brothers e sisters do Capão e do Campo Limpo, falo: a grana da copa dava pro metrô, dava não? E o que eles querem é busão que os leve rápido ao trabalho.
   A questão moçadinha linda, não é o preço, a questão é: FUNCIONA?

UM ELOGIO A DIE HARD USANDO BEATLES E BEETHOVEN COMO EXEMPLO

   A menos nobre das artes: o cinema. Apesar da arquitetura, que tem feito uma força enorme para se auto- aniquilar. É a menos nobre por ser a mais vulgar, a mais popular, aquela que foi criada por circos e por cientistas, não por "artistas solitários".
   A música pode ser tão vulgar quanto o cinema. Mas ela tem Beethoven e Bach. Beatles e Bob Dylan. Duke Ellington e Count Basie. Cartola e Caymmi. Bartok e Debussy.
   Veja: Mozart é nota 10. E Louis Armstrong também pode ser nota 10. Há na música essa coisa maravilhosa que não há nas outras artes, a democracia do mérito. A música mais intelectualizada, Brahms por exemplo, pode ser colocada em pé de igualdade com música feita por analfabetos ou música popular, como a de Cole Porter ou a de Robert Johnson. Por ser a mais abstrata das artes, por independer de linguagem racional, a música tem essa democracia.
   Na literatura isso é impossível. Por mais que eu adore Conan Doyle ou Michael Chabon, não posso comparar eles a Stendhal ou a Sterne. A mais intelectual das artes, a mais artificial, não comporta essa democracia. Elogio Sherlock Holmes, mas sei que ele não é 10. Por isso que não pode haver nota para livros. Holmes é delicioso, a Cartuxa de Parma é uma obra-prima. É assim.
   O cinema nada tem da racionalidade da literatura. Por depender de um grupo e por depender de dinheiro, o acaso entra em sua formação. A partir do momento em que se termina o roteiro, começa a sorte a influir no filme. Achar o ator certo, a trilha certa, a locação exata, encontrar o diretor que entenda o roteiro. E editar com sabedoria. Tudo é tão lotérico como um casamento.
   Por isso é tolice imaginar o cinema como obra solitária de um gênio titanico. Isso não existe. O cinema nunca é nobre, é sempre burguês, pois é grupal e focado em público. Bergman é o ícone do "autor absoluto", mas ele, mesmo ele, dependia da TV suéca, de um grupo de atores perfeitos, de geniais diretores de fotografia e principalmente de um público bem formado. De um público de cinema "para filmes de Bergman". Nas décadas de 50 a 70 esse público existiu. Hoje Bergman não teria esse público. Esse público não mais existe. O suéco seria um escritor.
   Existe toda uma corrente de críticos, com Ebbert na dianteira, que tenta dar ao cinema aquilo que a música tem: a liberdade de opinar. Se Beethoven é um gênio, os Beatles, mesmo fazendo canções vulgares de 3 minutos, dirigidas a adolescentes semi-analfabetos, também o são. Porque Beethoven consegue o máximo em seus objetivos. E porque a banda de Paul também tirou o máximo daquilo a que se jogou. Desse modo, pode-se dizer que Leoncavallo, mesmo sendo um "clássico", é menor que o Jackson Five, porque Leoncavallo falhou em seu métier, e os Jacksons foram perfeitos naquilo que tentaram.
   Quando Bruce Willis amarra a mangueira de incêncio na cintura e salta do prédio que explode, temos o máximo cinema em sua máxima execução. Edição, fotografia, ator, roteiro e direção se unem e constroem todo um crescendo que consegue nunca parar de funcionar. Na época de herois indestrutíveis, vemos um heroi que geme, sente dor, sangra e cansa. Vemos frases que trazem humor e ironia e nos lançamos em cenas que apesar de impossíveis sempre parecem "críveis". O filme é absolutamente perfeito.   Pragmaticamente ele entrega em 100% aquilo que quer nos dar. E faz ainda mais, cria um novo estilo de ação. O heroi que não é heroi. E nem mesmo anti-heroi. Um simples azarado. Que tem sorte....
   Duro de Matar é Beatles em relação ao Haendel que é Wim Wenders. Paris-Texas e Die Hard são tão bons quanto. Ícones dos cinéfilos dos anos 80.
   PS: O que digo é mais fácil de compreender quando vemos filmes ruins. Um filme que tenta ser genial e raro e se mostra chato e óbvio, é tão ridiculo quanto uma comédia sem graça.

SOBRE OS PROTESTOS

   Conheço quem vá às manifestações de chauffeur. Eu juro que é verdade! Só não cito o nome. Assim como vários outros que nunca pegaram um busão na vida. OK, voce pode dizer, isso é uma bela solidariedade. Não é preciso ser gay para ser solidário com os gays e não é preciso ser pobre para pensar na pobreza. Sei não. Esses caras que conheço jamais moveram uma palha para ajudar um velho sem remédio ou protestaram contra a violência ou a roubalheira. Então o que rola? Bom, o mundo internético tá cheio de imagens de maio de 68 e dos protestos mundo afora. De repente a galerinha percebeu que faz parte de seu mundo ir à rua e botar a boca no trombone. É parte de ser jovem-antenado. Nada tenho contra. Não sou tão conservador e medroso assim. Mas falta uma coisa fundamental para esse povo: Imaginação.
   Vivemos um momento em que a imaginação mingua, consequência natural do excesso de informação. É óbvio, mente cheia de "coisas" e de "fatos" cria pouco. Criação depende de ócio e de vazio. Olhe a seu redor e repare que tudo é um mix de citações. Nesse caldo de "coisas pegadas aqui e ali", a politica se torna um nada absoluto, onde tudo se faz e nada se modifica. O protesto é isso: Se protesta contra o nada que se faz. Se propõe um nada que nunca se fará.
   Pequenos grupos organizados tomando um busão de assalto, na conversa e na boa, e levando os passageiros de graça para seu destino. Pintar os ônibus com frases de guerra. Cercar a prefeitura e acampar lá, ninguém sai, ninguém entra. Deitar no chão à aproximação da polícia, sem reagir. Ir aos locais da copa das confederações e não deixá-la acontecer. Fazer happenings hilários nas avenidas satirizando e esculachando os poderes. São ideias ruins? Provávelmente sim, mas são ideias para se discutir. Ir a rua e parar o trânsito apenas irrita o povão e se a policia fosse menos burra deixaria os manifestantes à vontade para fazer o que desejam. Pixar, gritar e chamar a atenção. Apenas isso. Deixe-os desfilar e eles perdem o motivo de lá estar. Precisam da policia para dar uma razão a coisa.
   Maio de 68 criou slogans. O melhor: A Imaginação no Poder. Diziam claramente o que desejavam. Mudar TUDO. E inventavam de invadir Tvs, rádios...agiram. Sem exitação. E sempre com humor e alegria, condimentos básicos da criatividade.
   Ah sim...e orgulhosamente mostravam a cara. Sem máscaras, please!
   Fogo na rua, pixar paredes e parar a Paulista. Caraca! Voces podem fazer melhor, podem não?

O GÊNIO E A DEUSA- ALDOUS HUXLEY

   É tão bom tomar contato com a literatura inglesa! O bom-senso inglês, nunca tão Descartes-Racine como os franceses, nunca tão Kant-Schiller como os alemães. Há um momento neste livro em que Huxley fala disso. Da razão extremada dos franceses, razão que é uma abstração em si, pois a vida nada tem de racional; e a mania alemã de colocar a vida dentro de um romance, de a imaginar como fato com começo, meio e fim. Os ingleses se abstêm disso. Apenas escrevem aquilo que sentem e percebem. Jane Austen já era assim. E mesmo românticos como Wordsworth ou Keats mantinham a vida dentro dos limites de nossa percepção. Não é uma questão de realismo, pois o ingleses abominam o realismo crú, tampouco questão de materialismo, pois a Inglaterra é o país dos fantasmas e das bruxarias. É uma questão de não tentar falar "com certeza". Nada de correntes de "ismos". O único ismo inglês é o pragmatismo.
   Esta é uma novela de apenas 100 páginas e foi escrita no fim da vida de Huxley. Já quase cego ( como Joyce, como Borges ), Aldous viajava pelo mundo, vivia experiências psicodélicas e se preparava para morrer. A história começa com o encontro de dois velhos. Um deles conta uma experiência vivida na juventude. Ele foi trabalhar na casa de um velho gênio da física e lá se envolveu com a filha e a esposa desse gênio. Tudo termina em kaos.
   O livro basicamente fala da necessidade de "precisar se morrer para poder se viver plenamente". Seus temas são morte, sexo e razão. Tudo tratado de modo simples, objetivo, sem grandes vaidades. O velho gênio quase morre várias vezes, e continua sendo o duro e teimoso gênio de sempre. Sua esposa é a deusa que o faz renascer continuamente, mas como deusa, ela não sabe morrer. A filha é uma adolescente que descobre o sexo e é humilhada pelos adultos. E o narrador, um tateante novato na arte de viver.
   Novela que se lê numa tarde, longe das alturas dos textos mais ambiciosos de Huxley, serve para nos fazer lembrar do soberbo autor inglês, filho de uma familia cheia de intelectuais liberais, de suas ideias que admitem nada saber, mas que mesmo assim indagam e tentam apreender. Huxley abomina os "donos da verdade", os pregadores confiantes, os respondedores. Ele sabe que a vida é inapreensível pelo homem.
   As pessoas deveriam lê-lo muito mais.

STEVE MCQUEEN/ MITCHUM/ MARK WATERS/ PAUL MACCARTNEY/ SCHWARZA/ VISCONTI

   LIVE AND LET DIE de Guy Hamilton com Roger Moore e Jane Seymour
Para o primeiro filme de Moore como Bond chamou-se Paul MacCartney para fazer a música de abertura. Obra-prima ( a canção ), uma brincadeira sem inspiração ( o filme ). Mesmo assim não é tão ruim como A Pistola de Ouro. As cenas de perseguição, onde se usam carros e lanchas, antecipam o futuro da série, ação sem fim e sem motivo. Mas são boas cenas. Vejo nos extras que a cena em que ele pisa nos jacarés é real ( os jacarés, Bond é um double ). Jane é a mais boazinha das Bondgirls. Destaque para a trilha sonora. John Barry sai e assume George Martin ( o próprio ). A trilha chega a constranger. Mas temos a canção de Paul para salvar as coisas. Roger Moore faz humor. Nota 4.
   HOW THE WEST WAS WON de John Ford, Henry Hathaway e George Marshall
Um filme com mais de 3 horas que em Cinerama ( tipo de tela gigante ), conta a conquista do oeste. Cada diretor pegou um segmento. O elenco é all star: James Stewart, Gregory Peck, John Wayne e vasto etc. A fotografia é deslumbrante. Há tanto para se olhar, tantos detalhes, tanta gente se movendo ao mesmo tempo, que ficamos zonzos. Nas salas de cinema devia ser uma experiência incrível. Assisti em 51 polegadas. OK. A melhor história é sobre os indios e os búfalos. Há outras sobre o rio Mississipi, a guerra civil e a ferrovia. Não é um filme ruim. Nota 5.
   A RAPOSA DO ESPAÇO de Dick Powell com Robert Mitchum, Robert Wagner e May Britt
Pilotos americanos na base do Japão durante a guerra da Coréia. Foi a primeira guerra a usar aviões a jato. Isso dá interesse ao enredo. Mas o filme se prende a caso de piloto veterano-cool com esposa de piloto problema. O primeiro arquiteto do ator cool moderno: Robert Mitchum, o cara nem aí pra nada. Ele salva o filme do melô. A sueca Britt era muito bonita mas não deu certo. A Fox não conseguiu fazer dela uma estrela. Cenas aéreas muito boas. Nota 6.
   O ÚLTIMO DESAFIO de Kim-Jee Woom com Arnold Schwarzenegger, Forrest Whitaker, Rodrigo Santoro e Luis Guzmán
É alguma coisa sobre um xerife de cidadezinha que está na rota de fuga de um traficante chicano. Arnold está lento, pesado e tenta ser um tipo de Clint Eastwood mais gordo. Não consegue. Se salvam ótimas cenas na estrada. O roteiro é previsível, banal, todo cheio de clichés sobre clichés.  Rodrigo faz um latino sexy. Rouba o filme. Nota 1.
   LUDWIG de Luchino Visconti
Em 1973 Visconti fez este absurdo. O que ele queria ao fazer esta coisa flácida, pretensiosa e morta? Visconti crê que Ludwig, rei da Baviera, era um tipo de ingênuo-romântico. Um chato. Fraco, e até meio burrinho. Nem mesmo a fotografia se salva. O filme não tem rumo e nunca diz o que quer. Vago. Visconto se perdeu entre 1964-1974, este filme o prova. Sem Nota.
   O AMANTE DA GUERRA de Philip Leacock com Steve McQueen e Robert Wagner
Um dos piores papéis da vida de McQueen. Deveria ser um tipo de hedonista-hiper-agressivo que se põe a prova na segunda-guerra mundial. Um ás da aviação, agressivo, destrutivo. Mas nada disso fica claro. Tudo é feito sem porque, de forma gratuita e a gente percebe que McQueen não tem material para dar alguma força ao personagem. O anti-herói se torna um tipo de chato-birrento. Visualmente é um bom filme, pena que tão mal escrito. É o único filme de McQueen em que não me senti fascinado por ele. Nota 3.
   MINHAS ADORÁVEIS EX-NAMORADAS de Mark Waters com Mathew McConaughey, Jennifer Garner e Michael Douglas
Um fotógrafo mulherengo vai ao casamento do irmão nerd. Lá ele recebe a visita do tio que fez dele o que é. Calcado no Conto de Natal de Dickens, o filme é a coisa mais pró-casamento imaginável. Quem não se casa é do mal, tem algum problema e queimará no inferno da solidão. São tempos repressivos, em 1973 o homem casado era o tolo da história. O conquistador solteiro era o anti-herói a ser admirado. Tiro pela culatra do filme: a única boa cena ( e que faz rir ) traz o excelente Michael Douglas dando conselhos a seu sobrinho sobre a forma de ganhar as mulheres. Waters já fez bons filmes. Este não é um deles. Jennifer tá magra demais!!!!!! Nota ZERO.